2 de março de 2014

Noiva da Traição - Blythe Gifford

(Título Original: The Harlot`s Daughter
Tradutora: Silvia Moreira
Editora: Harlequin
Edição de: 2012)


Ela foi prometida a um homem, mas terá de traí-lo. 

Os olhos de Solay encontraram os de um homem destituído de sentimentos. Ainda assim, ele teve o poder de fazê-la esquecer do mundo por breves instantes. Um erro, pois não havia tempo a perder com emoções quando tanta coisa dependia de seu prestígio na corte. No entanto, lorde Justin Lamont não podia ignorar a presença escandalosa da filha ilegítima do falecido rei. De cabeça erguida, ela caminhava como se a corte a adorasse. Ignorando a dor na alma dela, Justin cada vez mais se tornava arredio. Até que ponto ele seria capaz de se resguardar contra o charme fascinante de Solay?



Palavras de uma leitora...



" - Quando eu descobrir o que as estrelas reservam para mim, saberei o que quero - disse ela num familiar tom de brincadeira que escondia seus sentimentos. - Dessa forma, não me desiludirei. 

Aliviado por estar discutindo de novo, ele suspirou.

- Então você irá procurar a justiça nos céus, e eu, na terra."


- Ela faria o que fosse preciso para prover o sustento da sua família. Mesmo que isso significasse trair a si mesma...

Fazia dez anos que ela não colocava os pés na corte. Dez anos afastada de um mundo que era seu por direito de nascimento, mesmo que fosse um nascimento, para muitos, amaldiçoado. Mesmo que ela fosse filha do pecado. Tinha sido obrigada a fugir com sua mãe e irmã quando tinha apenas dez anos de idade, pois o rei, seu pai, havia morrido e o futuro delas tornara-se bastante incerto. Sua mãe, temendo pela segurança de suas filhas, fugiu na escuridão da noite e desde então nenhuma delas era vista na Corte. Até o retorno de Solay, agora com vinte anos e uma beleza capaz de fazer qualquer homem cair em tentação. Fingindo não notar o desprezo que todos ao seu redor sequer tratavam de esconder, Solay interpretava o seu papel, disposta a fazer o que fosse preciso para chamar a atenção do rei e fazê-lo ter misericórdia da sua família. Mas um homem, diferente de todos aqueles que ela já havia conhecido em sua vida, estava mais do que disposto a frustrar todos os seus planos e fazê-la ser mandada para o lugar de onde veio, sem arrancar sequer um centavo do rei. Um homem que parecia desprezá-la mais do que todos ali presentes, mas que ao mesmo tempo insistia em enxergar dentro dela o que ela própria não conseguia ver. Um homem que a deixava confusa e fraca, que a fazia sentir coisas que ela não queria sentir... Que ela não podia sentir.

Justin Lamont amava a verdade acima de tudo em sua vida. Para ele, a verdade era libertadora e com ela, era possível encontrar justiça no mundo. Havia conseguido tornar-se advogado mais cedo do que ninguém jamais conseguira e desde então trabalhava a serviço do Parlamento, tentando fazer com que o atual rei, jovem e inconsequente, não arruinasse o reino mais do que já fizera. Os cofres do país estavam profundamente ameaçados e no meio de uma crise fria, onde amigos e inimigos conviviam enquanto planejavam secretamente uma traição, ele não estava disposto a deixar que uma jovem de beleza angelical de cuja boca só saíam mentiras, caísse nas graças do rei para fazê-lo cometer mais excessos. Mas se Justin fosse ser bem sincero consigo mesmo, teria que admitir que o que mais lhe incomodava em Solay era o desejo que ela conseguia despertar nele. O desejo e algo mais... algo que o incomodava e o fazia lembrar-se de um passado sombrio que ele sempre tinha feito todo o possível para esquecer. Um passado que ainda era capaz de feri-lo e assombrá-lo. Enquanto Solay estivesse por perto, ele não encontraria a paz. Por isso era preciso livrar-se dela, mesmo que para isso ele precisasse jogar o seu jogo e tornar-se o que ele tanto abominava nas outras pessoas...

Solay não saberia dizer quem era. Ou o que esperava da vida. Desde pequena sua mãe lhe ensinara que tudo que deveria importar para ela, seria agradar os homens. Suas vontades, seus desejos, seus pensamentos ou sonhos não tinham a menor importância num mundo onde a mulher necessitava fazer o que fosse preciso para garantir a sua sobrevivência. E tudo sempre girava em torno dos homens. Uma mulher era incapaz de viver se não tivesse a proteção de um homem, se não fosse aquilo que um homem gostaria que ela fosse. Sendo assim, ela foi se perdendo, ano após ano, e chegara a um ponto no qual não era capaz sequer de dizer para si mesma quem era ou o que buscava. Sentia-se oca, sem vida, mas não era sequer capaz de lamentar por isso, pois seus sentimentos de mulher já não existiam mais. Ela... já não existia mais. 


" - O que mais resta a uma mulher? As únicas mulheres que não servem os homens são aquelas tementes a Deus, e até ele requer um dote. - Ser esposa, freira ou meretriz; eram estas as escolhas. - Uma mulher deve mimar um homem ou vários."


- Eu estaria mentindo se dissesse que essa história não mexeu comigo. Apesar de ter muitas coisas que eu não gostei na história e de tê-la achado fraca, não posso negar que a história me fez refletir bastante. Não posso dizer que ela não me causou certo impacto. Causou, sim. Ela me perturbou. Me fez pensar numa época na qual eu nem sonhava em nascer... Numa época na qual a mulher nada significava. Na qual ela era obrigava a se perder para ter o que comer, vestir ou onde morar. E isso me abalou, confesso. Afinal de contas, sou mulher e não posso dizer que não compreendi a Solay, mesmo que as atitudes dela tenham me deixado chocada. Mesmo que os pensamentos dela tenham me causado certa revolta. 

- Estou acostumada com um tipo bem diferente de mocinha. Geralmente as mocinhas que conheço, por mais imperfeitas que sejam, sempre agem de uma maneira que julgamos "correta". Lembro de algumas mocinhas da Johanna Lindsey... A de Assim Fala o Coração em particular... Eu lembro do quanto ela sofreu por lutar por sua liberdade, por buscar uma vida diferente daquela que as mulheres da época viviam. Lembro que senti muita raiva porque o próprio mocinho a via como um objeto, como um ser cujos sentimentos deveriam ser ignorados. Na verdade, na mente dele ela sequer possuía sentimentos. A vida dela deveria ser voltada para ele, para servi-lo, para agradá-lo. Era o que ele estava acostumado a ver. Era assim que as coisas funcionavam. Uma mulher valia menos que um cavalo. Valia menos que qualquer coisa. Nenhuma mulher deveria ter vontade própria, pensamentos próprios. Qualquer tentativa de rebeldia, deveria ser imediatamente frustrada. E punida. Mas a mocinha da história... Ela lutava. Lutava contra aquela situação, lutava por seus direitos como mulher e como ser humano. Não queria ser propriedade de ninguém, escrava de homem algum. Em Noiva da Traição as coisas são bem diferentes. Penso que são mais reais. 

- Em Noiva da Traição não encontramos a mesma violência que costumamos encontrar nos livrinhos medievais da Johanna Lindsey, assim como também não encontramos mocinhas como as dela. Corajosas, dispostas a tudo por sua liberdade, por seus direitos. Nesta história, encontramos uma mocinha bastante conformada com seu papel como mulher. Uma mocinha que não tem a menor vontade de lutar por sua identidade, que não pensa em lutar contra os homens, mas sim fazer suas vontades. Porque ela sabe que é o que precisa fazer. Porque ela sabe que se não agradar os homens, sua mãe e sua irmã passarão fome e perderão o pouco que têm. Desde pequena ela aprendeu que uma mulher inteligente era capaz de conseguir muitas coisas. E que se não conseguisse os favores de apenas um homem, deveria então tratar de conseguir agradando quantos homens fosse preciso. E o que mais me incomodou foi saber que ela achava aquilo normal. Que tudo era natural. Que não passava pela sua mente uma outra solução. Para ela, não existia. Aquela era a realidade. E tudo que ela podia fazer era aceitar, sem questionar, sem reclamar. Sem achar injusto. Solay me perturbou muito por isso. Eu terminei a leitura desta história sem saber quem ela era. Em sua essência, sabe? Não sei. Não sei quem ela era em seu interior, pois por mais que o amor a tenha transformado, fiquei com a sensação de que ela estava tão acostumada a usar máscaras e mentir para agradar, que jamais conseguiria se livrar disso. Que sua vida seguiria sendo uma falsidade. Cheia de mentiras, cheia de tentativas de agradar para conseguir o que precisava para viver. 

" [...] Onde estava a justiça em perder tudo o que era seu por direito? O que era verdadeiro além da necessidade de comer, vestir e se abrigar?"

- Ao encontrar em seu caminho Justin, Solay sente-se profundamente perturbada. Não só pelas sensações que ele era capaz de despertar dentro dela, mas também pelas convicções que Justin carregava, as verdades que ele insistia em querer passar para ela. O fato de ele ser um homem "das leis" também a incomodava, pois para Solay não se podia confiar nas leis ou nos homens que trabalhavam para elas. Na opinião dela, as leis eram umas das coisas mais ruins que existiam no mundo. Mais perigosas. Eram capazes de fazer com que as maiores injustiças fossem cometidas e o fato de Justin ver as coisas de outra forma acabam por provocar a sua compaixão. Não existia pessoa mais digna de pena, na opinião dela,  do que aquela que tinha a ilusão de que se poderia fazer justiça através das leis.

" - Ainda estou procurando minhas respostas, lorde Justin. E o senhor, encontrou as suas nas leis?

Ele se virou de costas e permaneceu num silêncio mortal, maculado apenas pelas águas do rio batendo nos muros do castelo.

- Eu procurava por justiça - ele finalmente respondeu.

- Na Terra? - Solay sentiu certa compaixão por ele. A vida daquele homem devia ser muito decepcionante. - É melhor olhar para as estrelas."


- E o que posso falar de Justin? Pelo pouco que a autora me deixou ver, eu diria que Justin era alguém realmente muito ingênuo. E inflexível. Até mesmo com ele próprio. Para ele, a verdade deveria ser sempre dita e qualquer pessoa que faltasse com a verdade, não possuía caráter algum. Para ele, as leis deveriam ser seguidas ao pé da letra, não importando tudo que estivesse por trás dos atos de uma pessoa ou da injustiça que pudesse ser cometida graças às leis. Mas, ao mesmo tempo, ele acreditava na justiça e buscava por ela. Seu verdadeiro motivo para ter se tornado advogado era justamente esse: fazer justiça. Mas ao longo da história, ele acaba por perceber o quanto estava iludido. O quanto a justiça ainda era uma utopia. Um sonho distante. E chega um momento no qual o defensor da verdade, alguém que só diz a verdade e exige o mesmo das outras pessoas, percebe que a verdade pode lhe tirar quem ele mais ama. Que é preciso mentir, para garantir a sobrevivência dela. 


"Solay não pensou duas vezes antes de dar um tapa no rosto dele, deixando a marca de seus dedos em vermelho na pele morena.

- Você não merece o amor que desperdicei com você. - Ela respirou fundo. - Vendi minha alma por sua vida. Você me deve a cortesia de, pelo menos por hoje, salvá-la."


- Ao término da leitura desta história, não fiquei com a sensação de que a história tenha sido ruim. Não foi. De certa forma, valeu a pena lê-la. Mas poderia ter sido uma história melhor. Poderia ter sido mais do que uma história apenas "boa". Se a autora não tivesse focado tanto no rei, nas intrigas e traições que fazem parte da corte, se ela não tivesse corrido tanto com várias cenas da história, se tivesse se concentrado mais nos protagonistas e permitido que nós realmente chegássemos a conhecê-los, a história teria sido muito melhor. Em vários momentos durante a leitura fiquei com a sensação de que a história estava "correndo". Como assim? A autora não ficava um tempo normal numa cena. Ela rapidamente pulava para a cena seguinte e eu achei que esse ritmo só fazia por onde estragar a história. A autora não necessitava correr tanto.rs... Era necessário um ritmo mais tranquilo para permitir que nós conhecêssemos seus protagonistas, era necessário um maior foco nos protagonistas para que eu pudesse realmente acreditar no romance, no amor que supostamente existia entre eles. Durante boa parte da história, não acreditei em tal amor. E para ser bem sincera, terminei a leitura ainda com essa dúvida. Será que eles realmente se amam? Ou sentem algo que confundem com amor? Geralmente não tenho essa dúvida, gente. Mas foi inevitável. Porque a autora não permitiu que eles se envolvessem como poderiam ter se envolvido. Tudo estava sempre girando em volta daquele tal rei e o fato da mocinha ter sido escolhida para trair o Justin, como um favor ao rei (que ela deveria colocar até mesmo acima de Deus, segundo a mãe dela), só dificultou as coisas. A mocinha fez tantas coisas reprováveis e que poderiam prejudicar seriamente o Justin, que foi difícil acreditar que ela o amava. Assim como o próprio Justin fez coisas que um mocinho apaixonado geralmente não faz. Coisas que poderiam ter consequências sérias e ele próprio sabia. Enfim... Além dessas coisas, existiram certos diálogos tanto entre o Justin e a Solay quanto entre outros personagens, que eu julguei totalmente sem sentido. Que, na minha opinião, não faziam sentido algum. Eram diálogos estúpidos. Eu cheguei a ler mais de uma vez certos diálogos para entender a utilidade deles, o sentido deles e não encontrei. 

Em resumo, posso dizer que a história não é ruim, mas que eu não recomendo.rsrs... Não me arrisco a recomendar essa história. Apesar de certas coisas terem mexido comigo e de eu achar a história "boa" (apenas boa, nada mais), não recomendo.rs...

Bjs!
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