29 de junho de 2020

A Morte de Ivan Ilitch - Lev Tolstói


34ª leitura de 2020

Sinopse: Obra do escritor russo Liev Tolstói, publicada em 1886, retrata a história de um juiz de instrução bem posicionado socialmente que fica doente de uma hora para outra. Ao se confrontar com a morte, Ivan Ilitch começa a perceber o vazio de uma vida baseada em aparências. Sua percepção se amplia à medida que observa a reação à doença da família e dos colegas de trabalho, para quem ele havia se tornado um estorvo a ser evitado. A narrativa, célebre pela profundidade que atinge em menos de cem páginas, é um acerto de contas de Ivan Ilitch consigo mesmo, quando se vê na mais absoluta solidão. Considerada por muitos literatos a mais perfeita novela da literatura universal, A morte de Ivan Ilitch ganha versão em HQ pelas mãos do quadrinista Caeto (premiado por Memória de elefante), com base na tradução de Boris Schnaiderman.






Literatura Russa
Título Original: Smiert Ivana Ilitcha
Tradutor: Irineu Franco Perpetuo
Editora: Folha de São Paulo
Edição de: 2016
Páginas: 80
35ª leitura de 2020

Coleção Folha Grandes Nomes da Literatura #4

Sinopse: Célebre por romances monumentais como Anna Kariênina e Guerra e paz, o conde russo Lev Nikoláievitch Tolstói era também um mestre da narrativa curta, como fica evidente em A morte de Ivan Ilitch, que Paulo Rónai considerava "a mais perfeita e a mais vigorosa" de todas as novelas. Tolstói utiliza a agonia de um jurista bem-sucedido para refletir sobre questões filosóficas como o sentido da vida e a inevitabilidade da morte, e sua opção por uma linguagem simples e direta não deve ser confundida com falta de elaboração literária. Na opinião de Vladímir Nabókov, "ninguém na década de 1880 escrevia assim na Rússia", e a novela pode ser vista como precursora do modernismo russo, mesclando "toques de fábula", uma "entonação terna e poética" e um "tenso monólogo mental", no qual Tolstói aplica a técnica de fluxo de consciência. Despojamento vocabular e sofisticação estilística se unem em uma narrativa profunda e poderosa.





Como eu tinha que ler uma HQ para o Desafio Literário Livreando 2020 e escolhi A Morte de Ivan Ilitch, decidi que eu poderia ler também o texto integral, pois nunca dou preferência para uma adaptação. Sempre prefiro o texto completo e me sentiria muito incomodada se ficasse só com a HQ, até porque eu tenho o livro físico e é uma história com menos de 100 páginas.

Ironicamente, levei quatro dias para terminar a leitura da HQ e poucas horas para ler o texto integral.kkkkkk Isso provavelmente se deve ao fato de eu não ter o hábito de apostar em histórias em quadrinhos e a leitura me causou certa estranheza; eu queria voltar ao meu "normal" e ficava abandonando o livro o tempo todo. Só avancei na leitura da HQ quando peguei o texto integral para ler. Só assim é que deu certo.rs

"A história pregressa da vida de Ivan Ilitch era a mais simples e corriqueira, e a mais terrível."

O livro nos traz a história de Ivan Ilitch, um juiz de quarenta e cinco anos que se vê, de repente, diante da morte. Ele sempre manteve o total controle da própria vida, batalhando para chegar onde desejava, para se ver rodeado de pessoas importantes, para se sentir parte de um círculo social que ele tanto admirava. Mesmo com altos e baixos, tinha chegado a alcançar parte do que tanto sonhara e vivia a "fachada" ideal. Até que... um gosto "estranho" na boca e uma dor na lateral da barriga começa a incomodá-lo.

O que, inicialmente, ainda não era uma dor intensa nem nada, começa a se agravar. E com isso vem o mau humor. Tudo o irritava, tudo o tirava do sério. Não conseguia mais se concentrar direito no trabalho ao qual tanto se dedicara por quase duas décadas... nem mesmo seu jogo preferido era capaz de acalmá-lo. A dor estava ficando insuportável. E o médico que ele consultara não deixara claro se o que tinha era grave, se era possível levá-lo à morte. Só que ele estava ficando tão mais debilitado com o passar dos dias, que passou a te certeza da morte, mesmo que isso o levasse ao completo desespero.

Consultar outros especialistas se transformou em necessidade. Precisava de uma segunda, terceira, quarta... quantas opiniões fossem! Até mesmo buscara um homeopata. Mas todos os tratamentos sugeridos (cada médico dizia uma coisa e passava um tratamento diferente) não provocaram nenhuma melhora. Ele sentia a morte cada vez mais perto... até mesmo podia vê-la. Ela parecia determinada a levá-lo. Não importava quantos médicos buscasse ou quais tratamentos seguisse... a sua hora havia chegado.

"Não existirei, e o que existirá? Nada existirá. E para onde vou quando não existir mais?"

Quando a história começa, Ivan Ilitch já está morto. Isso não é spoiler para ninguém. Está na primeira página. Seus "amigos" ficam sabendo do ocorrido através do jornal. E o que eles sentem? Tristeza pela morte do amigo querido? Não mesmo! Eles ficam um tanto empolgados... porque a morte de Ivan Ilitch representaria transferências e promoções. Alguém ficaria com o cargo dele, agora desocupado. E aquele que ficasse no lugar dele também deixaria uma posição anterior vaga... Então, tudo gira em torno disso entre os amigos do falecido. Ninguém ali gostava dele de verdade.

Algo semelhante também ocorre em sua casa. Ele não se casara por amor. Passara boa parte da sua vida ao lado de uma mulher que desprezava e que parecia nutrir sentimentos semelhantes por ele. Um casamento de conveniência que se transformou em completa frieza com o passar dos anos. Nem mesmo se respeitavam. Assim, ela não lamentou com sinceridade a perda. Pensava apenas no que conseguiria tirar do governo em razão da morte de seu marido. Sua filha mais velha estava prestes a se casar e começar a própria família e seu filho caçula era o único que parecia sentir de verdade a sua morte.

Esta leitura nos provoca angústia por conta da agonia do protagonista. Embora o livro comece por sua morte, nós somos levados de volta ao seu passado e o narrador vai nos contando sobre o curso de Direito, os primeiros anos como funcionário público até que Ivan chegasse a juiz de instrução, se casasse, tivesse filhos (alguns deles tendo morrido ainda na infância), as dificuldades financeiras e os anos bons. Mas em todo tempo percebemos: tudo o que ele construiu foi uma fachada, uma vida de aparências. Ele ambicionava fazer parte dos círculos mais altos da sociedade e tudo o que construiu foi para aparentar algo que nunca existiu, foi para satisfazer seu orgulho. E no fim foi tudo tão... vazio. Simplesmente isso: puro vazio.

"Chorava devido ao desamparo, à terrível solidão, à crueldade das pessoas, à crueldade de Deus, à ausência de Deus." 

A HQ é bem fiel ao livro original. Ela mantém toda a essência da história e as ilustrações são muito boas, embora eu sinta uma estranheza por não estar acostumada a ler histórias em quadrinhos. É algo que ainda preciso aprender.rs Todo sofrimento físico e emocional do protagonista fica evidente nas imagens e as partes mais importantes do texto integral foram preservadas. Eu gostei das duas leituras. Não é uma história arrebatadora, mas mexe com a gente, nos faz refletir sobre a vida e a morte... sobre o sentido de existir e o destino de todos nós. Sentimos compaixão pelo protagonista, por sua dor... pelo tormento emocional que ele vive ao perceber que está mesmo morrendo, que nada o que fizesse impediria o inevitável fim.

É uma história que sim, vale a pena ler. Não se tornou inesquecível, mas foi uma boa leitura.



-> DLL 20: HQ



25 de junho de 2020

A Falência - Júlia Lopes de Almeida

Literatura Brasileira
Editora: Penguin & Companhia das Letras
Edição de: 2019
Páginas: 304

33ª leitura de 2020
Sinopse: Ícone do modernismo brasileiro, Júlia Lopes de Almeida consegue oferecer um notável panorama das repercussões do boom do café no final do século XIX na formação da nascente burguesia urbana, e também retratar, com impecável maestria, os meandros de uma sociedade machista e hipócrita, em que subsistem as relações escravocratas e aprofundam-se as desigualdades sociais. Rio de Janeiro, 1891. Francisco Teodoro, um bem-sucedido e ambicioso comerciante de café, conhece Camila. Em busca de um casamento que traga estabilidade, ele não vê melhor opção que desposar tal jovem, bela e de boa e humilde família. Os filhos Mário, Rachel, Lia e Ruth crescem a olhos vistos, enquanto a empresa do pai continua a prosperar.Nem só de flores, contudo, vivem os Teodoro. Francisco, cada vez mais ganancioso, vê outros comerciantes se arriscando no trato com o café e decide fazer o mesmo. Afinal, é preciso aumentar o patrimônio familiar que Mário insiste em dilapidar. Camila, alheia aos movimentos econômicos e cada vez mais absorta em sua relação com o médico Gervásio, nada opina. Em um revés do destino, a fortuna da família acaba. Francisco Teodoro se suicida e todos, mãe e filhos, precisam aprender a lidar com a nova situação social.




A Falência é um livro sobre o qual ouvi falar pela primeira vez poucos anos atrás, quando começaram a surgir mais resenhas sobre a história por conta da cobrança do livro num determinado vestibular. É uma história que tinha "caído no esquecimento", apesar da autora ser considerada muito importante para a literatura brasileira.

Júlia Lopes de Almeida foi uma das idealizadoras da Academia Brasileira de Letras e seu nome deveria constar entre os fundadores. Todavia, um pequeno (grande) detalhe a deixou de fora: o machismo da época. Pelo simples fato de ser mulher, seu nome foi excluído, pois os membros (todos homens) decidiram manter a Academia exclusivamente masculina. E no lugar de Júlia colocaram o marido dela. Revoltante, não é mesmo?!

Por conta de toda essa injustiça, que se tornou de conhecimento de boa parte dos leitores somente poucos anos atrás, é que desejei conhecer suas obras e quando a Jaqueline do canal Estante Alada propôs a leitura coletiva de A Falência, eu nem precisei pensar duas vezes. O livro simplesmente passou a frente de vários outros.rs

Talvez por isso eu tenha ficado um tanto decepcionada com a história. Gostei da leitura como um todo, mas senti falta de um "algo mais". Esperei muito do livro e como ele não conseguiu satisfazer todas as minhas expectativas, eu acabei me sentindo um pouco frustrada.

23 de junho de 2020

Antologia Poética - Florbela Espanca

Literatura Portuguesa
Editora: Martin Claret
Edição de: 2015
Páginas: 298

32ª leitura de 2020 
(releitura)

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada.. a dolorida... (...)
Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...
Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver
E que nunca na vida me encontrou!...




Este é um livro que eu já tinha lido e relido algumas vezes. Tenho uma grande conexão com os poemas da Florbela, como não acontece quando leio nenhum outro poeta. Então, sempre que me sinto bem triste ou ansiosa tenho dois refúgios: o livro O Morro dos Ventos Uivantes (meu preferido da vida!), da autora Emily Brontë e os poemas da Flor.

Foi o que aconteceu em abril deste ano. Com essa pandemia provocando tantas tragédias e mexendo profundamente com nossas vidas e emoções, eu precisei mais do que nunca recorrer aos escritos da Florbela, aos seus versos tão tocantes, seus sonetos que me arrebatam. Precisei tocar, abraçar o livro, ler cada soneto em voz alta, na tentativa de calar o mundo por uns momentos. De esquecer a realidade.

Em abril eu li até a metade e depois fui lendo um poema vez ou outra, sempre quando me sentia "sufocada", angustiada. Mas agora em junho eu peguei o livro novamente e o li por inteiro. Porque se em abril estava desesperada, agora em junho, quando o Brasil ultrapassou mais de um milhão de pessoas infectadas pelo coronavírus e mais de 50 mil mortes, "desespero" seria um eufemismo. Estou para além disso... me sinto destroçada. Nem sei expressar o que sinto. Lamento muito por cada vida perdida, cada família que está atravessando esse luto tão insuportável. Só posso pedir que Deus conforte cada coração. E que tenha misericórdia de todos nós.

Me refugiar nos poemas da Flor era uma das melhores coisas que poderia fazer para não afundar numa crise de ansiedade. Vocês sabem que já falei desta minha querida poetisa aqui no blog outras vezes. Falei especificamente sobre ela no post Minha poetisa querida: Florbela Espanca, falei do soneto A Um Livro e ainda fiz resenha sobre um de seus livros, o meu preferido Livro de Mágoas. Mas esta é a primeira vez que falarei da Antologia Poética completa, que reúne seis livros da autora.

A Antologia Poética é o trabalho mais caprichado que já vi uma editora fazer dos livros da minha poetisa amada. Publicada pela editora Martin Claret, ela é em capa dura, com detalhes delicados, com uma página em azul abrindo cada um dos livros presentes na antologia. Reúne todos os livros de poemas publicados pela Flor em vida, bem como aqueles que só se tornaram de conhecimento dos leitores após sua morte.

Como abertura do livro, temos as duas únicas coletâneas de poemas publicadas enquanto a autora era viva: Livro de Mágoas, que eu considero o mais profundo, aquele que me toca como nenhum outro; e Livro de Sóror Saudade, que também traz sonetos que falam com a gente, como se a autora dissesse que sentia exatamente o que sentimos, que compreende nosso coração. Sim, quando falo de poesia eu sou assim sentimental mesmo! E com orgulho!rs

Dos 33 poemas presentes em Livro de Mágoas, dezessete são meus preferidos. Entre eles:

"Este livro é de mágoas. Desgraçados
Que no mundo passais, chorai ao lê-lo!
Somente a vossa dor de Torturados
Pode, talvez, senti-lo... e compreendê-lo."

[Trecho do soneto Este Livro...; página 17]


Já o Livro de Sóror Saudade possui 37 poemas e entre eles tenho como um dos mais queridos:

"A luz desmaia num fulgor d' aurora, 
Diz-nos adeus religiosamente...
E eu que não creio em nada, sou mais crente
Do que em menina, um dia, o fui... outrora...

[Trecho do soneto Anoitecer; página 69]


Os quatro outros livros que fazem parte da antologia só vieram a ser publicados postumamente. Muitos dos poemas que fazem parte deles foram escritos pela autora vários anos antes de ela falecer, mas que por um motivo ou outro acabaram não sendo lançados. Charneca em Flor, por exemplo, ela estava tentando publicar quando sua vida chegou ao fim. Ela morreu aos 36 anos, exatamente no dia do seu aniversário. Charneca em Flor foi publicado meses depois. Ele possui 47 poemas, entre eles tenho como um dos meus favoritos:

"Quem me dirá se, lá no alto, o céu
Também é para o mau, para o perjúrio?
Para onde vai a alma, que morreu?
Queria encontrar Deus! Tanto o procuro!"

[Trecho do soneto Quem Sabe?; página 131]


Os outros livros de poemas da autora, presentes nesta antologia da Martin Claret são: Reliquiae (com 34 poemas); Trocando Olhares que possui 53 poemas e a curiosidade é que muitos deles não são sonetos (regra geral, a autora seguia a estrutura dos sonetos); e O Livro D'Ele, com 31 poemas. De todos os seis, o único que posso dizer que não gosto tanto assim é justamente este último. Do Livro D'Ele eu só tenho um poema que amei, mas ironicamente é um dos meus preferidos de toda a obra poética da autora:

"Versos! Versos! Sei lá o que são versos...
Pedaços de sorriso, branca espuma, 
Gargalhadas de luz, cantos dispersos.
Ou pétalas que caem uma a uma..."

[Trecho do soneto Versos; página 298]


Eu recomendo muito, muito, muito esta antologia! Porém, os poemas da Flor são quase sempre melancólicos, carregados de sentimentos intensos, de dor, de angústia... são como montanha-russa, ora você encontra versos cheios de alegria, ora cheios de lágrimas (na maior parte das vezes falam de sofrimento ou saudade). Como sinto uma forte conexão com a escrita da autora, com a maioria dos seus versos, eles acabam provocando sentimentos positivos em mim, me consolam, me acalmam... Mas não posso afirmar que você sentirá o mesmo ao lê-los, claro.

O que quero muito é conhecer os contos da autora. Sim! Ela não escreveu apenas poesia. Ficou mais conhecida por conta delas, mas também é autora de contos. E ainda não li nenhum. Preciso corrigir isso logo! :D



-> DLL 20: Um livro de autor português



17 de junho de 2020

Me Chame pelo Seu Nome - André Aciman

Título Original: Call Me By Your Name
Tradutora: Alessandra Esteche
Editora: Intrínseca
Edição de: 2018
Páginas: 288

31ª leitura de 2020

Sinopse: É verão na Riviera Italiana. Como todos os anos, o pai de Elio recebe na casa da família um jovem acadêmico para ajudá-lo com suas pesquisas universitárias. O escolhido dessa temporada é Oliver, um americano tão atraente quando evasivo, que aproveita o clima ensolarado do Mediterrâneo para trabalhar e, claro, se divertir nas horas vagas. Aos poucos, entre banhos de piscina, discussões sobre arte e literatura, passeios de bicicleta, festas no vilarejo e ausências repentinas, um romance intenso como o verão floresce entre Elio e o visitante. Conforme tateiam o instável e desconhecido terreno que os separa, aquilo que inicialmente parecia uma relação de indiferença supera o medo e a obsessão para culminar em uma troca tão íntima que marcará os dois pela vida inteira. Com rara sensibilidade, André Aciman destrincha as facetas do desejo, da descoberta da sexualidade e do início da vida adulta, fazendo de Me chame pelo seu nome uma crua e memorável elegia à paixão.



Este é um romance que teve um período de grande sucesso no Brasil e em todo canto eu ouvia falar dele. Li muitas resenhas na época, que me passaram a ideia de que encontraria no livro uma grande e arrebatadora história de amor. E como eu sou uma apaixonada por romances, logo procurei adquirir o livro e colocá-lo como prioridade na minha lista de leituras, passando a frente de livros que estavam há muito mais tempo na minha estante. 

E quando finalmente pude iniciar a leitura, estava cheia de expectativas. Nem me liguei no quanto a sinopse era clara, falando de "paixão" e não amor. Eu acreditava que encontraria um amor profundo, que me emocionaria muito, que me conquistaria. Por isso, foi grande a minha decepção ao encontrar um protagonista tão imaturo, obcecado, capaz de fazer uma tolice atrás da outra, que mais me irritava do que qualquer outra coisa. 

Luna, ele só tem 17 anos! Dá um desconto. Sim, esse foi meu principal motivo para continuar lendo. Tentava me lembrar de como eu própria era tola na adolescência, de como já tinha lido outros romances com personagens bem imaturos e os tinha tolerado.rs Acho que estou numa fase de pouca paciência para personagem imaturo e o Elio deu o azar de eu ler a história dele justamente nesta fase.

14 de junho de 2020

Crime e Castigo - Fiódor Dostoiévski

Literatura Russa
Título Original: Prestuplênie i nakazánie
Tradutor: Oleg Almeida
Editora: Martin Claret
Edição de: 2016
Páginas: 681

30ª leitura de 2020

Sinopse: Crime e castigo é um daqueles romances universais que, concebidos no decorrer do romântico século XIX, abriram caminhos ao trágico realismo literário dos tempos modernos. Contando nele a soturna história de um assassino em busca de redenção e ressurreição espiritual, Dostoiévski chegou a explorar, como nenhum outro escritor de sua época, as mais diversas facetas da psicologia humana sujeita a abalos e distorções e, desse modo, criou uma obra de imenso valor artístico, merecidamente cultuada em todas as partes do mundo. O fascinante efeito que produz a leitura de Crime e castigo - angústia, revolta e compaixão renovadas a cada página com um desenlace aliviador - poderia ser comparado à catarse dos monumentais dramas gregos. 



É óbvio que esta resenha não será digna do livro. Será impossível transmitir um pouquinho que seja da riqueza desta história, que provoca tantas reflexões, que mexe com nossos sentimentos e envolve por inteiro. Faz alguns dias que terminei a leitura, mas não conseguia escrever sobre ela. O que se passou comigo ao ler Fahrenheit 451 também ocorreu com Crime e Castigo.

"Não refletia em nada, nem sequer conseguia refletir, mas de repente sentiu, com todo o seu ser, que não tinha mais liberdade espiritual nem força de vontade, e que tudo já estava decidido em definitivo."

O livro nos traz a história de Raskólnikov, um jovem muito pobre que sai de sua cidade e vai para São Petersburgo na tentativa de melhorar de vida, cursando Direito. Só que as coisas não são como ele imaginava. O dinheiro que sua mãe mandava, com tanto sacrifício, não era suficiente para ajudá-lo nem com o aluguel de um quartinho humilde, e mal tinha dinheiro para comer. Não demorou para ele ter que abandonar os estudos e os planos de vir a ter uma vida diferente, o que afetou de maneira drástica a sua mente que já era um tanto inquieta. Sabia que era inteligente, que tinha potencial para ser o que quisesse, mas a sua situação, sua falta de recursos era um obstáculo praticamente intransponível para a realização dos seus sonhos. O que era extremamente injusto.

Enquanto o desespero tomava cada vez mais posse de sua mente, a depressão o debilitava e não conseguia mais se relacionar de maneira saudável com ninguém, afastando-se até de quem queria ajudá-lo; uma idosa calculista enriquecia às custas das desgraças dos outros que precisavam empenhar tudo o que tinham para pagar um aluguel ou smplesmente para ter algum dinheiro para se alimentar e à sua família. Além disso, aquela mulher também escravizava a própria irmã, submetendo-a a diversos maus-tratos. Assim, com a mente já transtornada e tendo como incentivo um artigo que ele próprio escrevera algum tempo antes, Raskólnikov decide que a resposta para todos os seus problemas se encontrava no assassinato daquela mulher... Os fins justificam os meios... Certo?!

"A sensação de infinito asco, que começara a apertar e enfastiar o seu coração ainda quando ia visitar a velha, tornou-se agora tão grande e explícita que o moço não sabia mais onde se esconder da sua angústia."

Acontece que após cometer o crime, Raskólnikov não sente a paz, o alívio que esperava. Não fica tranquilo com sua decisão, com suas mãos sujas de sangue. A febre que o alucinava, a angústia que jamais o deixava... tudo se intensifica. Se vivia num inferno antes de se transformar num assassino, as coisas apenas pioram depois.

10 de junho de 2020

Fahrenheit 451 - Ray Bradbury

Literatura norte-americana
Título Original: Fahrenheit 451
Tradutor: Cid Knipel
Editora: Biblioteca Azul (Editora Globo)
Edição de: 2012
Páginas: 216

29ª leitura de 2020

Sinopse: Ray Bradbury (1920-2012) renovou a literatura quando, em plena Guerra Fria, escreveu Fahrenheit 451, um marco da ficção científica. Se fosse realmente ficção científica. Fahrenheit 451 é, na verdade, uma obra política, uma distopia - ou antiutopia. "Ficção científica é uma ótima maneira de fingir que você está falando do futuro quando, na realidade, está atacando o passado recente e o presente", afirmou o escritor. Fahrenheit 451 foi considerado um grande crítica aos regimes políticos opressores do século XX e previu transformações sociais simbolizadas atualmente pela influência da TV. Publicado originalmente em 1953, é uma obra atemporal, redescoberta a cada nova geração. 


Sabe quando você ama tanto um livro, mas tanto mesmo, que não consegue falar sobre ele?! Estou assim desde que concluí a leitura de Fahrenheit 451. Eu tinha muitas expectativas, mas o livro conseguiu superar todas elas! Desde então estou "travada", sem conseguir explicar nem mesmo para mim a forma como a história me marcou. Eu sei o que sinto, mas não consigo me expressar. Só sei que amo, amo, AMO e amo!

"[...] o que aconteceria se os livros fossem incinerados, varridos da face da Terra até o ponto em que o único vestígio de milênios de tradição humanista estivesse alojada na memória de alguns poucos sobreviventes? Qual seria o próximo passo da barbárie? Queimar os próprios homens, para apagar de vez a memória dos livros? [Trecho do Prefácio]"

Imagine o quanto é desesperador para nós leitores, amantes incondicionais dos livros, lermos uma história que fala sobre a queima dos livros. Não simplesmente da censura, mas da completa destruição do conhecimento, do senso crítico, de milhares e milhares de anos de História. Em Fahrenheit 451, os livros se tornam proibidos. Ninguém pode tê-los, ninguém pode lê-los. Quem ousasse ir contra a maioria esmagadora da população e contra o Estado, correria três riscos: ir para um hospício, ser preso ou... assassinado (com uma injeção letal ou queimado junto com os livros).

Nesta história, a maioria das pessoas vive feliz... ou tomada pela ilusão de felicidade. As pessoas têm tudo o que desejam e todo o entretenimento necessário para nem sequer saber o que é tristeza. Os televisores estão em cada uma das paredes de suas salas, interagindo com os moradores; os carros só podem ser dirigidos em altíssima velocidade (para que ninguém tenha o desprazer de PENSAR enquanto dirige) e quem se atreve a descumprir essa regra pode ser seriamente punido. As famílias não conversam, não alimentam mais quaisquer afetos uns pelos outros e isso as deixa felizes. Mal se dão conta da presença daqueles que deveriam amar, passam todo o tempo absorvidas, alienadas pela mídia, pelos programas feitos especialmente para manipulá-las a não pensar. Recebem as informações "maquiadas" pelo Estado e nem sequer passa por suas cabeças duvidar daquilo que lhes é mostrado. Todos os cidadãos perderam por completo a capacidade de agirem por si mesmos. São aquilo que o Estado deseja. E acreditam numa felicidade inexistente.
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