(Tradutora: Maria Luiza X. de A. Borges
Editora: Zahar
Edição de: 2010)
Obras-primas de Lewis Carroll, Alice no País das Maravilhas e Através do Espelho há mais de um século encantam crianças e adultos. Instigante, divertida, inusitada, profunda, a saga de Alice é inesgotavelmente interpretada, parodiada, filmada, citada... e, claro, lida.
Esta charmosa edição de bolso contendo os dois clássicos, inédita no mercado brasileiro, traz os textos na íntegra e mais de 40 ilustrações originais de John Tenniel. Imperdível!
Tradução vencedora do Prêmio Jabuti.
Palavras de uma leitora...
- Uma das minhas metas deste ano que já está chegando ao fim (por incrível que pareça!) foi adquirir e ler mais livros clássicos. Uma meta que deu super certo mesmo nos meses mais difíceis. Na verdade, eu comecei a investir mais em clássicos ainda no ano passado e quando tive a oportunidade de trazer Alice para casa nem hesitei. Queria muito descobrir o que a história tinha de tão especial para encantar tantas pessoas de todas as idades. E confesso que não consigo compreender.rsrs Terminei a leitura sem saber por que este livro é considerado um clássico da literatura.
Claro que quando eu era bem novinha tinha um interesse grande pela história. Lembro de uma ocasião em que, com uns oito anos de idade mais ou menos, eu fiquei muito ansiosa porque ia passar o filme no Sbt (acho que era nesse canal). Passei o dia inteiro naquela agonia, desejando que as horas passassem logo, pois eu nunca tinha tido a oportunidade de assistir e já acreditava que AMAVA.kkkkkk... Fiquei tão, mas tão obcecada que o resultado foi bem óbvio: passei mal. Vomitei, queimei de febre e tive que ir pro hospital. No final das contas não vi o filme e chorei muito por causa disso.rs
No início da adolescência, quando já era uma leitora, fiz minha primeira tentativa de ler Alice no País das Maravilhas. Peguei o livro emprestado na biblioteca do meu colégio e lá mesmo comecei a leitura, o que acabou não funcionando. Logo na primeira página eu já fiquei entediada. Não sei o que se passou. Realmente tentei seguir em frente, mas não me envolvia e larguei. Pelo que lembro, eu nem trouxe o livro para casa. Devolvi no mesmo dia.
- Agora, tantos anos mais tarde, tentei pela segunda vez. E embora não tenha ficado nem um pouco entediada e até tenha me divertido em alguns momentos, sou incapaz de entender o motivo de tanto alvoroço por esta história. Existem livros infantis muito mais interessantes e envolventes que a história de Alice no País das Maravilhas ou sua segunda aventura ao viajar Através do Espelho. O livro é muito bom, não nego. Tem ritmo, as coisas acontecem rapidamente e é impossível interromper a leitura, mas no final das contas cheguei à conclusão que a personagem era apenas maluca e ninguém tinha coragem de lhe contar.rsrs Exceto o gato, claro. Como gatos costumam ser criaturas muito sinceras, ele não mede as palavras ao dizer que ela é doida.
"Como sabe que sou louca?" perguntou Alice.
"Só pode ser", respondeu o Gato, "ou não teria vindo parar aqui."
- Claro que eu concordo completamente com o Gato, embora seu eterno sorriso me provocasse calafrios, bem como sua mania de não aparecer com o corpo inteiro, às vezes só a cabeça.rsrs Sim, o mundo no qual a Alice entra é bem perturbado, mas com o tempo a gente até se acostuma.
A história Aventuras de Alice no País das Maravilhas começa quando a protagonista, muito entediada por não ter nada para fazer a não ser ler um livro desinteressante (por não ter figuras nem diálogos) fica fascinada quando, de repente, passa por ela um coelho muito "esquisito". Afinal de contas, desde quando coelhos usam roupas e relógio? Além disso até onde conseguia se lembrar eles também não falavam. Como a curiosidade era mais forte que tudo, ela achou perfeitamente normal entrar na toca atrás do coelho e assim mergulhou no tal país das maravilhas, onde as coisas mais impossíveis aconteciam. É neste mundo paralelo que conhece a Rainha de Copas, com sua famosa frase "Cortem-lhe a cabeça!" (que sempre me fazia pensar no Rei Henrique VIII da Inglaterra, bem como em Revolução Francesa), o Gato, tem uma conversa breve com o Coelho que a motivou a segui-lo, encontra a Duquesa (uma personagem tão estranha quanto os outros), recebe ordens de um rato e vive diversas aventuras extraordinárias.
Sobre esta primeira parte do livro eu posso dizer que foi a mais doida de todas, não que a segunda parte não seja perturbada, mas achei aquele negócio da Alice crescer ou diminuir, conforme comia o que não devia, muito sem noção.rsrs Me deixava tonta!kkkkk... Num instante a personagem crescia até ficar maior que tudo ao seu redor e depois diminuía até quase desaparecer... me dava nos nervos. E suas conversas com os personagens... eu estava quase me internando num hospício. Tudo bem que quando criança eu conversava com a minha Minnie (minha amiga de pelúcia que era quase do meu tamanho) como se ela de fato falasse e pudesse me entender, bem como tinha amigos imaginários, mas o caso da Alice é mais grave.kkkk
Esta fase do livro termina de forma um tanto abrupta, no momento mais interessante.rsrs E aí percebemos que tudo não passou de um sonho (será?). Que ela simplesmente adormeceu enquanto estava na ribanceira com a irmã.
A segunda parte, intitulada Através do Espelho e o que Alice encontrou por lá, não é muito conhecida pelos fãs da história. As pessoas, em sua maioria, leram apenas Alice no País das Maravilhas, enquanto sua continuação ficou esquecida. Já que eu mergulhei na fantasia do primeiro livro e que os dois fazem parte da edição que eu tenho da editora Zahar resolvi ler o outro em seguida e posso dizer que é o que prefiro. A continuação é mil vezes mais envolvente que sua primeira parte, ainda que os personagens sigam doidos demais para minha saúde mental.rsrs
Através do Espelho começa após a Alice ter uma discussão com a filha de sua gatinha Dinah. A pequena tinha sido malcriada e a protagonista a estava repreendendo, como se ela tudo pudesse entender (eu também faço isso com a minha gata, então a Alice e eu podemos ir juntas para o hospício.rs). No meio disso tudo ela começa a falar de um mundo existente do lado de lá do espelho, um mundo que era o contrário do dela. No meio de sua imaginação sobre o lugar ela acaba por atravessar o espelho e mergulhar numa aventura toda nova, onde muitos dos personagens eram peças de um jogo de xadrez (eu disse que esta parte era mais interessante). O que achei muito curioso era o certo conhecimento que Alice tinha deste jogo, algo que eu própria não tenho. E, claro, que eu não poderia deixar de lembrar de Harry Potter e o jogo "vivo" que o Rony enfrentou na reta final do primeiro livro da série. Inesquecível!
A personagem mais interessante desta segunda parte foi a Rainha Branca e suas memórias do futuro.kkkkkkkk... Foram os momentos protagonizados por ela que me fizeram rir com vontade.rsrs
"Viver às avessas!" Alice repetiu em grande assombro. "Nunca ouvi falar de tal coisa!"
"... mas há uma grande vantagem nisso: a nossa memória funciona nos dois sentidos."
"Tenho certeza de que a minha só funciona em um", Alice observou. "Não posso lembrar coisas antes que elas aconteçam".
"É uma mísera memória, essa sua, que só funciona para trás", a Rainha observou."
- E o que a Rainha Branca mais lembra são das coisas futuras.rsrs Vocês não têm noção do quanto ri quando a rainha começou a gritar porque espetaria o dedo. Ela gritou e sentiu a dor antecipadamente, prevendo que dali a minutos espetaria o dedo quando tentasse prender o xale. Aí, quando finalmente o previsto aconteceu (algo que poderia ser evitado já que ela sabia que aconteceria.rs) ela nem sentiu nada. Porque já tinha sentido tudo antes e no momento em que a dor realmente deveria ter vindo não tinha mais graça. Que coisa maluca!rsrs
Em resumo posso dizer que mesmo sendo histórias totalmente doidas vale sim muito a pena ler. Sobretudo para as crianças, nossos filhos, sobrinhos, afilhados etc. Embora eu não veja o livro como um clássico reconheço seu valor e importância para os pequenos. São histórias recheadas de fantasia, do tipo que realmente é capaz de fascinar as crianças, de fazê-las mergulhar no mundo da imaginação e viver aventuras incríveis.
Ter infância é algo valioso. Viver essa fase tão bonita e inocente, tão cheia de sonhos e ilusões não tem preço. É um direito e, infelizmente, muitas crianças neste mundo são privadas de sua infância e são obrigadas a crescer cedo demais. O livro Alice nos faz pensar nisso. Embora eu tenha dito que a personagem era "maluca" deu para vocês perceberem que eu não falava a sério. Alice era simplesmente uma menininha de menos de oito anos, gente. Sendo criança! Vivendo um mundo de imaginação, criando e recriando, curtindo sua melhor fase.
Num país onde incentivar a leitura, onde dizer "mais livros e menos armas" é visto como algo absurdo, como uma manifestação contra um determinado candidato, a desesperança aumenta. Temos uma real noção de quanta falta fazem os livros na vida das pessoas. Não apenas falta de leitura dos mesmos, mas de compreensão. Porque de nada adianta lermos se não somos capazes de entender nada.
No que depender de mim sempre levarei livros às crianças e às outras pessoas. Porque a leitura nos faz seres humanos livres, abre nossa mente contra a manipulação. E eu quero saber que fiz todo o possível para que as crianças da minha família e as outras que conheço tivessem conhecimento. Pudessem mergulhar em histórias que não só as encantariam, mas que abririam portas para a absorvição de conhecimento.
No início do ano eu escolhi Alice como minha leitura de outubro de propósito. Por ser o mês das crianças. :) Infelizmente, não consegui lê-lo até o dia 12, mas pelo menos foi dentro do mês.kkkkk...
Enfim... Recomendo muito o livro!