11 de dezembro de 2020

A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata - Mary Ann Shaffer e Annie Barrows


Literatura norte-americana
Título Original: The Guernsey Literary and Potato Peel Pie Society 
Tradutora: Léa Viveiros de Castro
Editora: Rocco
Edição de: 2009
Páginas:304

 69ª leitura de 2020 (60ª resenha do ano)

Sinopse: Janeiro de 1946: enquanto Londres deixa para trás a sombria realidade da Segunda Guerra Mundial, a escritora Juliet Ashton busca um novo tema para seu próximo livro. Quem poderia imaginar que o encontraria na carta enviada por um homem desconhecido?


Morador da longínqua Guernsey, ilha britânica ocupada pelos nazistas durante a guerra, Dawsey Adams havia se deparado com o nome de Juliet na folha de rosto de Seleção de ensaios de Elia. Foi assim que decidiu corresponder-se com a autora. Talvez ela o ajudasse a encontrar mais livros do ensaísta romântico Charles Lamb. 


Tem início, assim, uma correspondência intensa: na troca de cartas, Juliet toma conhecimento da Sociedade Literária de Guernsey, formada por Dawsey e seus amigos. De criadores de porcos a frenólogos, eles decidiram que um clube de livro seria o melhor álibi para não serem capturados pelos alemães. 


Nas cartas que recebe de Dawsey e, depois, dos outros membros da sociedade, Juliet passa a conhecer a ilha, o gosto literário de cada um e uma famosa receita de torta de casca de batata, além do impacto transformador que a recente Ocupação alemã teve na vida de todos. Cativada por suas histórias, ela parte para Guernsey, e o que lá encontra irá transformá-la para sempre. 


Escrito com senso de humor e delicadeza, este romance epistolar é uma celebração da palavra escrita em todas as suas formas. 



É sempre mais difícil falar de um livro que se torna um favorito do nosso coração. Parece que as palavras simplesmente somem, escapam, e não sabemos como expressar o imenso amor que sentimos por uma história, a forma como ela nos atingiu e nos arrancou muitas lágrimas e sorrisos... assim, bem misturado mesmo. Em alguns momentos eu realmente ria e chorava ao mesmo tempo. 


Histórias que possuem como tema a Segunda Guerra Mundial sempre são dolorosas, ainda que o escritor tente contar as coisas de forma mais leve, apelando para o humor para tornar menos pesados certos acontecimentos. Ainda assim, essas histórias machucam. Abrem feridas não totalmente cicatrizadas dentro de nós que nunca esquecemos o passado podre da humanidade. É o mesmo que se passa com livros que falam da escravidão, das ditaduras e diversas outras barbaridades que mancham de sangue o nosso mundo, que nós seres humanos insistimos em destruir ao mesmo tempo que destruímos uns aos outros. A Mary Ann Shaffer tenta muito tornar sua história bem leve, com muito humor, e embora eu tenha rido bastante com algumas cenas, eu também chorei muito. E o que mais me marcou neste livro foi justamente isso: o sofrimento que os personagens, por mais otimistas e corajosos que fossem, jamais seriam capazes de esquecer. Como um trecho do livro bem diz: "A guerra agora faz parte da história de nossas vidas, e não há como esquecê-la." 


Eu não vou fazer um resumo muito grande do livro, pois a sinopse é bastante completa e te dá uma clara noção do que encontrará na história. Aqui temos um início bem parecido com o de Querida Sue (outro livro que me arrancou muitas lágrimas), quando há uma troca de cartas entre um leitor e uma escritora que nunca tinham se visto na vida, mas que se conectam através das palavras escritas como se fossem amigos de longa data. 


Juliet, uma jovem escritora e jornalista de trinta e dois anos, não sabia sobre o que escrever agora que a guerra havia acabado e ela estava cansada da série de histórias que a tinha tornado famosa, mas que não lhe dava tanto prazer assim. Queria falar de algo diferente, mais profundo. Sua vida estava um tanto bagunçada, pois pouco antes do fim da guerra, seu apartamento foi bombardeado e ela perdeu tudo o que ali tinha, incluindo os livros que tanto amava. Mas o que lhe acontecera não era nada comparado com o que milhões de pessoas enfrentaram durante aquela sangrenta e desesperadora guerra. 


"Mas a verdade é que estou deprimida - mais deprimida do que jamais estive durante a guerra. Tudo está tão destruído, Sophie: as ruas, os prédios, as pessoas. Particularmente as pessoas."

 

A vida sem perspectiva de Juliet muda quando ela começa a se corresponder com Dawsey Adams, um morador das Ilhas do Canal, local invadido e ocupado pelos nazistas durante a guerra, cujos habitantes sentiram de perto o terror de conviver com os inimigos. Dawsey havia encontrado um antigo livro que tinha pertencido a Juliet (seu nome e seu antigo endereço estavam na contracapa), então ele lhe escreve para lhe pedir o favor de indicar alguma livraria em Londres, que pudesse lhe enviar mais livros do autor, pois embora os nazistas tivessem partido, já não existiam mais livrarias em Guernsey.


Através da troca de cartas, Juliet fica sabendo sobre a Sociedade Literária e Torta de Casca de Batata de Guernsey e a forma como ela surgiu. Assim, acaba decidindo escrever sobre os membros daquela sociedade e como a literatura desempenhou um papel importante para tornar mais suportável os cinco anos em que estiveram sob o domínio do exército nazista. As cartas que antes trocava apenas com Dawsey, se tornam ainda mais significativas quando diversos outros moradores de Guernsey passam a lhe escrever e compartilhar suas experiências de leitura e de vida. Não demora para que ela se sinta parte daquele lugar e deseje conhecer pessoalmente aquelas pessoas que já sentia serem suas amigas. 


E é assim que a narrativa é construída: por meio de cartas. Trata-se, portanto, de um romance epistolar, no qual a autora (e sua sobrinha Annie Barrows, que foi quem finalizou o livro, pois a tia adoeceu pouco antes de concluí-lo) mostra todo o seu talento. Sempre considerei a narrativa epistolar algo sensacional e muito difícil de funcionar se o autor não souber o que está fazendo. Tem que ter talento e tomar muito cuidado para não se perder e tornar a história algo sem nexo. Felizmente, as autoras fizeram um excelente trabalho, nos proporcionando uma leitura emocionante, fazendo com que nós leitores também nos sentíssemos parte de Guernsey e da vida dos personagens. Eu desejei muito me mudar para lá.rs Mas só se pudesse conhecer Dawsey, Amelia, Isola, Eli e seu avô, e a pequena Kit, o que é impossível, já que são todos fictícios (esta é a parte ruim da leitura, querermos que os personagens sejam reais). 


Os membros da sociedade literária de Guernsey são muito diferentes uns dos outros e a maioria não tinha o hábito de ler. Eles tinham se reunido uma noite para comer um porco que tinham conseguido esconder dos nazistas. Era um período muito difícil, em que havia pouco o comer, em que tudo faltava. Acontece que após o excelente e raro jantar, alguns deles acabaram sendo parados pelos soldados inimigos (tinham violado o toque de recolher) e Elizabeth, com bastante coragem, inventou a mentira sobre uma reunião literária e que tão distraídos com os livros acabaram não percebendo o tempo passar. Era uma mentira difícil de "colar", mas contra todas as probabilidades funcionou. Então, Elizabeth resolveu tornar a mentira real e fundou a sociedade literária. Algo que se tornou um refúgio para aquelas pessoas, que viram na literatura uma chance de escapar, mesmo que por poucas horas, do horror da guerra.


"Nós nos agarramos aos livros e aos nossos amigos; eles nos faziam lembrar que havia um outro lado em nós. Elizabeth costumava recitar um poema. Não me lembro dele todo, mas começava assim: 'Será algo tão insignificante ter apreciado o sol, ter se alegrado na primavera, ter amado, ter pensado, ter feito, ter cultivado amizades verdadeiras?' Não é. Eu espero que, onde quer que esteja, ela se lembre disso."

 

Eu não consigo falar da Elizabeth sem chorar. E não posso dar spoiler. Portanto, não me verão mencionando muito sobre ela. Só digo que é a personagem que mais me marcou neste livro. Aquela que tornou a leitura tão especial, tão emocionante. 


Como eu disse, o livro tem uma narrativa leve, divertida, que nos arranca sorrisos e até gargalhadas. Mas também não nos poupa das realidades brutais da guerra e é impossível segurar as lágrimas diante de certas lembranças dos personagens. Sentimos dor e sentimos ódio. Uma vontade enorme de matar aquelas pessoas cruéis, dignas de serem chamadas de monstros e que destruíram tantas vidas. 


O livro fala de literatura, amizade, recomeço, fé, esperança... bondade. Amor em suas mais diversas formas. Mas também fala de fome, perdas, tortura, desaparecimentos e assassinatos. Não dá para falar de Segunda Guerra Mundial sem mencionar toda essa dor. 


A história termina de forma engraçada e bonita, mas considerei um final tão abrupto! Eu cheguei a dar um grito aqui, chocada. Falei: "Não! Não acredito que elas terminaram o livro assim!"kkkkkk Fiquei frustrada?! Com certeza! Esperava um final diferente. Mesmo assim, isso em nada diminuiu o imenso amor que sinto por esta história. É uma querida do meu coração. 


P.S.: Eu pensei em assistir o filme baseado no livro, mas antes resolvi ver o trailer. Resultado: não gostei. Pelo trailer já percebi que fizeram várias mudanças, inclusive na personalidade dos personagens. E isso me fez tomar a decisão de não ver o filme. 



4 de dezembro de 2020

A Soma de Todos os Beijos - Julia Quinn


Literatura norte-americana
Título Original: The Sum of All Kisses
Tradutoras: Ana Rodrigues e Maria Clara de Biase
Editora: Arqueiro
Edição de: 2017
Páginas: 272
Quarteto Smythe-Smith - Livro 3

68ª leitura de 2020 (59ª resenha do ano)

Sinopse: Um brilhante matemático pode controlar tudo… A não ser que um dia exagere na bebida a ponto de desafiar o amigo para um duelo. Desde que quebrou essa regra de ouro, Hugh Prentice vive com as consequências daquela noite: uma perna aleijada e os olhares de reprovação de toda a sociedade. Não que ele se importe com o que pensam dele. Ou pelo menos com o que a maioria pensa, porque a bela Sarah Pleinsworth está começando a incomodá-lo. 


Lady Sarah nunca foi descrita como uma pessoa contida… Na verdade, a palavra que mais usam em relação a ela é “dramática” – seguida de perto por “teimosa”. Mas Sarah faz tudo guiada pelo bom coração. Até mesmo deixar bem claro para Hugh Prentice que ele quase destruiu sua família naquele bendito duelo e que ela jamais poderá perdoá-lo. 


Mas, ao serem forçados a passar uma semana na companhia um do outro, eles percebem que nem sempre convém confiar em primeiras impressões. E, quando um beijo leva a outro, e mais outro, e ainda outro, o matemático pode perder a conta e a donzela pode, pela primeira vez, ficar sem palavras. 

 


Mais de um ano se passou desde que li o segundo livro desta série. Com tantos livros para ler e tantos desafios dos quais resolvi participar (risos), algumas séries acabaram ficando incompletas e estou considerando ter como meta principal finalizá-las nos próximos meses. Vamos ver se consigo!rsrs

Em Uma Noite Como Esta, segundo livro do Quarteto Smythe-Smith, conhecemos a apaixonante história de Anne e Daniel e até agora segue sendo minha história preferida da série! Nela ficamos sabendo da grande besteira que Daniel e seu amigo Hugh fizeram, ao brigarem durante um jogo (quando ambos tinham bebido demais) e resolvido duelar. Nenhum dos dois tinha intenção de realmente atirar no outro, mas Hugh se distraiu e a arma disparou, atingindo o ombro de Daniel. Este, por sua vez, em choque, também deixou a arma disparar, mas o resultado foi mais dramático: o tiro atingiu a perna de Hugh, deixando-o à beira da morte por hemorragia e danificando para sempre a perna lesionada. 

Como Daniel teve o azar do pai do Hugh ser um homem completamente desequilibrado, teve que fugir do país, pois o indivíduo jurou que não descansaria enquanto não o matasse. Mesmo longe da Inglaterra e de sua família amada, Daniel vivia constantemente em perigo, pois o pai de Hugh era tão louco que mandou assassinos atrás dele. Sim, o mocinho da história anterior viveu grandes aventuras.rs

Uma Noite como Esta inicia com o retorno de Daniel, depois que Hugh vai atrás dele e diz que já não há necessidade para ele seguir fugindo, que conseguiu convencer o pai a parar com a perseguição. É quando ele conhece Anne, que também possuía seu próprio passado dramático e também estava fugindo. O amor surge de forma intensa e incontrolável. Só sabiam que precisavam ficar juntos, não importando diferença de classe social (Anne era governanta das primas de Daniel) ou os perigos que os ameaçavam. A história é linda, linda, linda! Minha preferida sem pensar duas vezes!

Então... Em A Soma de Todos os Beijos, conhecemos mais profundamente o Hugh, que marcou presença no livro anterior, e Sarah, prima de Daniel e de Honoria (esta aqui é a protagonista do primeiro livro). Os acontecimentos da outra história repercutem nesta, pois o pai do protagonista segue vivo e sendo louco, bem como Hugh ainda não conseguiu se perdoar por ter dado início a toda essa perturbação na vida do amigo... Do mesmo modo, Sarah, que é muito próxima dos primos e também foi atingida pelas consequências do duelo, não está disposta a facilitar a vida dele, pois jurou que jamais o perdoaria e faria questão de fazê-lo sentir todo o remorso merecido pela m*rda que vez. 

Sabe aquela coisa de inimigos que se apaixonam?!rsrs Sarah e Hugh não são exatamente inimigos, mas quase isso.kkkkk... Dramática como as mocinhas das minhas amadas novelas mexicanas (eu ri tanto com ela!), no seu primeiro encontro com o Hugh após o duelo, ela deixou mais do que claro o quanto a existência dele era um prejuízo para todo ser humano. E como ele tinha destruído a vida dela. É um encontro muito engraçado e depois disso, ambos chegaram à conclusão de que se odiavam profundamente. E preferiam ignorar a existência um do outro. 

Ocorre que com a volta de Daniel e seu iminente casamento com Anne, Sarah é obrigada a estabelecer uma relação "agradável" (ou fingir) com Hugh, pois seu primo e ele recuperaram a amizade perdida e todos querem que o mocinho se sinta bem durante os eventos que antecedem o casamento dos protagonistas do segundo livro. Honoria, então, encarrega Sarah de fazer companhia para o Hugh.kkkkkkkkkk Claro que ela não sabia que os dois quase tinham se matado meses antes, mas... Enfim...rs É óbvio que isso não dará muito certo.... Os dois correrão sérios riscos de se apaixonar! :D

Eu confesso que estava com muitas saudades das histórias da Julia Quinn! Porque mesmo contendo alguns dramas, são histórias leves, divertidas, do tipo que nos deixam sorrindo. Eu estava irritada com o fato da Arqueiro publicar um livro da autora atrás do outro (ainda estou irritada), pois isso acaba provocando uma overdose de histórias dela, o que pode fazer o leitor enjoar e isso não é desejado. Mas o que decidi é que eu própria vou controlar as doses que leio dos livros dela.kkkkkkkk... Depois deste aqui vou ler o quarto (e último) da série, mas darei um intervalo de alguns meses antes de finalizar a leitura de uma outra série dela que está em aberto no blog: a série Os Rokesbys (li os dois primeiros e preciso ler os demais). Justamente porque amo a autora e não quero de modo algum enjoar dos livros dela. Por isso, é saudável dar um tempo entre as histórias. 

Mas voltemos à Sarah e ao Hugh, os inimigos que irão se apaixonar.rs Eu me diverti muito com esses dois, em alguns momentos chegava a gargalhar e isso me fez bem. Todavia, nem tudo são rosas... existem os espinhos, claro. Que se manifestam na culpa que o Hugh sente, a tristeza por não ser mais o mesmo homem de antes (não pode andar normalmente e sim mancando, não pode dançar, cavalgar, carregar uma mulher no colo etc) e ainda o psicopata do pai dele, que deveria estar na prisão e não circulando normalmente entre as pessoas. 

O casal terá que enfrentar alguns problemas para ficarem juntos, mas queridos, este é um livro da Julia Quinn! Final feliz garantido! Não importa o que aconteça, o casal sempre é feliz no final. A autora ama os seus leitores.rs Não quer que fiquemos em lágrimas ao fechar um livro dela. 

Eu não tenho nada a criticar no livro. Mas existiu sim uma coisa que me impediu de dar cinco estrelas e favoritá-lo. Achei que demorou muito para o casal ter uma conexão maior, que a história ficou tempo demais girando em torno do passado e das reservas deles e foram poucas páginas de real aproximação. O final é maravilhoso, mas o fato de tantas páginas terem sido perdidas na história sem que fossem dedicadas a momentos deles dois juntos, me fez tirar uma estrela. :( O que de modo algum torna a história ruim. É linda e divertida. Sarah e Hugh nos conquistam por completo e torcemos muito pelos dois. 

Foi muito bom reencontrar a Honoria e o Marcus, bem como meu casal querido: Anne e Daniel. Esta série é preciosa e já sinto uma certa tristeza, pois o próximo livro é o último.


-> DLL 20: Um livro de capa azul


Quarteto Smythe-Smith

1- Simplesmente o Paraíso (Honoria e Marcus)
2- Uma Noite como Esta (Anne e Daniel)
3- A Soma de Todos os Beijos (Sarah e Hugh)
4- Os Mistérios de Sir Richard (Iris e Richard)


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