Literatura Inglesa
Título Original: One Tiny Miracle
Tradutora: Fabia Vitiello
Editora: Harlequin
Edição de: 2014
23ª leitura de 2020
Sinopse: O renascer da alma. Passaram-se quatro anos desde que o médico Ben Richardson perdera sua esposa grávida. Mas ele ainda não conseguira superar a dor. A fim de buscar um recomeço, aceitou trabalhar na emergência. Um dia, durante uma caminhada pela praia, ficou estarrecido ao ver uma bela grávida. Logo descobre que ela se chama Celeste, e que é enfermeira no hospital onde Ben trabalha. Ficar perto dela era uma constante lembrança de todo o sofrimento que passara. Por isso, decidiu manter-se distante. Entretanto, Celeste enfrentava sozinha uma gravidez de risco, e Ben sabia que precisava ajudá-la. Presenciar o milagre do nascimento da filhinha de Celeste o faz perceber que ele ainda pode ser feliz... se estiver preparado para entregar o seu coração.
Recentemente eu fiz a resenha de
Amar Outra Vez, minha primeira experiência com um livro da Carol Marinelli. Claro que depois de ter amado tanto aquele livro eu não demoraria muito em mergulhar em outra história da autora! :)
Ler Um Pequeno Milagre foi conforto e dor, uma mescla confusa dessas duas sensações, pois é uma história com uma carga emocional tão forte quanto a de Amar Outra Vez. Enquanto no livro anterior o casal protagonista passou por uma dor insuportável que destruiu seu casamento e os manteve separados por DEZ anos... Aqui nesta história temos um mocinho completamente destroçado pela morte da mulher que ele amava. Ela estava grávida, perto de dar à luz, quando uma dor de cabeça, aparentemente sem importância, a matou em minutos. É desesperador ler a cena na qual ele relembra o momento em que chegou em casa, após um plantão no hospital, e a encontrou já sem vida. Ambos eram médicos e aquela gravidez foi cuidadosamente planejada, era o sonho de suas vidas, tudo o que mais queriam. Mas além de perder a mulher que jamais deixaria de amar... perdeu também a sua filhinha, que ele nunca sequer teve o direito de pegar em seus braços.
"Ele ainda queria correr, mas não havia praia longa o bastante, nem um universo que pudesse conter a dor que o dividia no meio."
Ao longo dos quase quatro anos após aquele dia tão traumático, Ben praticamente não viveu. Apenas sobrevivia e cumpria as suas obrigações. Seus familiares e amigos queriam que ele retomasse o seu ânimo de antes, que voltasse a ser a mesma pessoa.... Mas como passar por duas perdas tão grandes e simplesmente voltar a sorrir? Como deixar Jen e sua filhinha descansarem? Ele não conseguia dizer adeus.
Mas um dia, aparentemente igual a todos os outros, Ben sentiu algo diferente. O mundo parecia ter cores novamente. Os pássaros, o mar... tudo parecia conspirar para que ele voltasse à vida. E foi o que ele fez... até certo ponto, é claro. Se mudou, alugou um apartamento e assumiu a posição de médico da emergência de outro hospital, distante do seu antigo ambiente. Agora aguardava o leilão da casa que tanto desejava comprar, seu novo sonho... Tudo estava "perfeito". Ele tinha recomeçado... Não era verdade?
Foi passeando pela praia, próximo à sua futura nova casa, que ele a viu pela primeira vez. Ela era tão linda, tão cheia de vida, mas poucos instantes depois ele percebeu que algo estava errado. Ao vê-la de frente não só percebeu que ela estava bem grávida, como também estava sentindo dor. Aquele foi o início de um verdadeiro recomeço... Algo que Ben ainda não fazia a menor ideia...
E ele lutaria... Com todas as suas forças. Celeste podia ser linda e estar claramente precisando de apoio. E sim, ele estava disposto a ser seu amigo e ajudá-la em tudo o que fosse possível. Mas não podia amá-la. Não iria amá-la... Não podia substituir a mulher e a filha que perdeu. Não podia....
"Ele queria arrancá-la dali, salvá-la da maré que avançava, mas estava com medo demais. Medo de amá-la. Só que, de certa forma, ele já a amava."
Mas às vezes... Não se trata de substituir... Simplesmente é preciso deixar ir quem se ama e guardar todos os momentos bons no coração... Porque ao continuar a viver finalmente daria ao ente querido a oportunidade de descansar... Ben nunca deixaria de amar Jen e a filha que se foram de maneira tão triste. Seriam sempre seu primeiro amor. Mas merecia se dar o direito de ter um novo amor... Ele só precisava entender isso...
Foi doloroso, mas também lindo acompanhar esta história. Ben e Celeste são dois personagens tão humanos, que realmente sentimos que são pessoas que poderíamos encontrar pela vida. Com seus erros, seus acertos, suas tentativas. Pessoas como qualquer de nós, que tentamos todos os dias fazer o nosso melhor, viver a vida da melhor maneira possível. E choramos, sofremos, caímos e levantamos. Sonhamos... Mesmo quando a vida se mostra dura demais. A humanidade desses personagens foi o que mais me fascinou no livro. Eles não eram idealizados, não eram perfeitinhos. Eram como nós.
Eu sofri com a dor do Ben. Nossa! Não dá nem para imaginar o tamanho da dor que ele sentiu ao ver a esposa ajoelhada no chão, sem vida, sem que ele pudesse fazer nada. Saber que sua filhinha não teria nem o direito de nascer. Ele perdeu as duas ao mesmo tempo e desistiu de ter uma família. Ele tinha pavor de passar pela mesma dor. Relacionamentos estavam fora dos seus planos. E podem imaginar a angústia que sentiu quando conheceu Celeste. Sobretudo por ela estar grávida...
"Ele abaixou a cabeça e encostou os lábios nos dela, e se homens de verdade não choram, então, o grupo excluía Ben, porque ela sentiu a umidade dos cílios dele em seu rosto quando ele a beijou."
É bastante natural a luta dele para manter-se distante. Mesmo que sentisse atração por ela, que gostasse de sua companhia e a amizade tivesse se construído de maneira fácil e verdadeira, ele não queria ter contato com a gravidez dela, pois cada vez que via as roupinhas de bebê, as coisinhas sendo preparadas para a chegada daquela menininha, era como uma facada em seu coração. Não era justo. Não era certo estar próximo de tudo aquilo e saber que sua filha, o seu bebê, não teve nada daquilo. Que ela não teve nem o direito de nascer. Isso o matava todos os dias. Não o deixava ter paz.
A maneira como a autora trabalha a dor e o recomeço do Ben é simplesmente incrível. Já sou fã dessa escritora maravilhosa, sensível, que cria histórias tão humanas, focadas nos sentimentos dos personagens e não em futilidades. Os dramas são convincentes e ela desenvolve a narrativa de uma forma que não torna tudo pesado. Tudo é devidamente equilibrado na história e sentimos um quentinho delicioso no coração no final e aquela sensação boa de que "sempre se pode ter esperança".
"Ele estava lhe oferecendo esperança; oferecendo esperança a eles... de que o impossível pudesse acontecer."
A Celeste também é uma mocinha que nos conquista por completo. Ela passou pelo que muitas mulheres acabam passando em algum momento de suas vidas: se apaixonou e acreditou na pessoa amada. Confiou e pagou caro por isso. Ela não teve a sorte de se apaixonar pela pessoa certa, não estava "escrito na testa" que aquele ser era um lixo. De um momento para o outro se viu sozinha, grávida, com seus próprios pais lhe virando as costas e tendo que se sustentar mesmo sem saber como. Estava na graduação de enfermagem e não recebia tão bem assim pelos plantões na emergência. Precisava trabalhar e estudar até o último instante possível, pois o aluguel não se pagaria sozinho, sua bebê precisaria de berço, de roupas, de tudo o que um recém-nascido necessita....
"O pavor absoluto estava sempre à espreita dela. O que ela teria que enfrentar no futuro?"
E tanta angústia em ter que lidar com todo aquele peso sem ter em quem se apoiar acaba tornando a gravidez mais delicada... Ver a Celeste passando por tudo isso nos faz desejar ajudá-la, ser sua amiga, fazer um chá de bebê para alegrá-la, reunir pessoas que pudessem fazer doações... Enfim... Sentimos muita empatia, conseguimos nos colocar no lugar dela e nos perguntar o que faríamos, como aguentaríamos tantas responsabilidades sem um amigo sequer, sem ninguém. Era só ela e ela mesma.
Quando o Ben se aproxima, mesmo tendo pavor da gravidez dela, ela finalmente tem um amigo. Alguém para escutá-la, para abraçá-la quando ela chorava... É lindo ver que antes de surgir o amor profundo que um dia sentiriam um pelo outro, primeiro veio a amizade. Eu gostei muito disso. O Ben foi lindo com ela, até quando a situação era desgastante para o emocional dele. Quando ele doou o bercinho para a filha dela?! E justamente "naquele dia". Ele foi incrível. Este casal é APAIXONANTE.
"O amor cresce, se você deixar."
Eu poderia continuar falando e falando sobre esta história. Mas simplesmente recomendo que leiam! Deem uma chance e depois me digam se não é uma história lindíssima!