25 de outubro de 2021

Ensaio sobre a Cegueira - José Saramago


Literatura Portuguesa
Editora: Companhia das Letras
Edição de: 2001
Páginas: 312

30ª leitura de 2021 (23ª resenha do ano)

Sinopse: Um motorista, parado no sinal, subitamente se descobre cego. É o primeiro caso de uma "treva branca" que logo se espalha incontrolavelmente. Resguardados em quarentena, os cegos vão se descobrir reduzidos à essência humana, numa verdadeira viagem às trevas.

O Ensaio sobre a cegueira é a fantasia de um autor que nos faz lembrar "a responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam". José Saramago nos dá, aqui, uma imagem aterradora e comovente de tempos sombrios, à beira de um novo milênio, impondo-se à companhia dos maiores visionários modernos, como Franz Kafka e Elias Canetti. 

Cada leitor viverá uma experiência imaginativa única. Num ponto onde se cruzam literatura e sabedoria, José Saramago nos obriga a parar, fechar os olhos e ver. Recuperar a lucidez, resgatar o afeto: essas são as tarefas do escritor e de cada leitor, face à pressão dos tempos e ao que se perdeu - "uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos". 




Mergulhar nesta leitura foi como fazer uma viagem ao inferno... Me senti dentro de um pesadelo, de um filme de terror. Foi uma experiência angustiante, desesperadora. Quando cheguei ao capítulo onze, quando li todas aquelas atrocidades... o sentimento de desesperança em relação à humanidade se fez intenso. Ao mesmo tempo que me senti sem forças para prosseguir com a leitura, passei dias refletindo sobre a maldade humana, como somos capazes das coisas mais monstruosas... Como o ser humano consegue ser vil, abjeto, cruel! Como o próprio autor diz no livro através das palavras de um personagem:

"É desta massa que nós somos feitos, metade de indiferença e metade de ruindade."

Aqui temos a história de uma epidemia que foge completamente ao "normal": uma cegueira branca, que parece se espalhar com apenas uma troca de olhares entre alguém infectado e os outros. Do nada, um homem que estava dentro do seu carro, parado no sinal, começa a gritar em desespero ao se perceber cego. Mas ele não vê tudo escuro, ele vê uma luz, algo branco que o impede de enxergar tudo ao seu redor. Transtornado, é conduzido até sua casa por um "bom samaritano" que aproveita o seu momento de sofrimento para furtar seu carro e, logo em seguida, nem é capaz de desfrutar do seu crime, pois também é contaminado pela cegueira da qual ninguém nunca tinha ouvido falar e que não podiam fazer ideia de que era contagiosa. 

O primeiro cego, sentindo que a vida deixava de ter qualquer sentido, é consolado pela esposa e levado até uma clínica oftalmológica para que o estranho caso seja analisado por um médico. O oftalmologista nunca tinha se deparado com algo como aquilo antes... Nada nos olhos daquele homem indicava que ele estava cego e, no entanto, o homem via tudo branco. Decide passar alguns exames e voltar a vê-lo quando as análises estivessem prontas. Mas, após atender os demais pacientes do dia e ir para casa, não consegue tirar aquele caso de sua cabeça. Entra em contato com um colega e resolve consultar alguns livros... mas, de repente, também fica cego. 

"Nunca se pode saber de antemão de que são capazes as pessoas, é preciso esperar, dar tempo ao tempo, o tempo é que manda, o tempo é o parceiro que está a jogar do outro lado da mesa, e tem na mão todas as cartas do baralho [...]"

A partir daí, ao comunicar seus chefes do ocorrido e o Ministério da Saúde ser informado, o verdadeiro inferno começa. As pessoas "contaminadas" são retiradas de suas casas, sob a falsa promessa de que receberão todos os cuidados necessários e trancadas num antigo manicômio, tratadas de uma maneira que nem mesmo os animais devem ser tratados e tendo que lutar, dia após dia, contra a morte e a loucura, vítimas das mais bárbaras formas de violência. 

Eu não consigo chamar a realidade desesperadora na qual os personagens são jogados de outra coisa que não seja inferno. Assassinatos, doenças provocadas pelas condições insalubres nas quais são obrigadas a viver, fome, sede, estupros... as pessoas trancadas naquele manicômio mal eram alimentadas, pois  o que os soldados encarregados de "cuidar" delas mais queriam era que morressem, pois "morrendo o bicho acaba-se a peçonha". Tinham sede, não podiam tomar banho, pois a água que vinha das tubulações eram podres. Até mesmo para fazer as necessidades básicas do corpo se viam sem dignidade, pois não era fornecido papel em quantidade suficiente, o encanamento para que os dejetos fossem eliminados estavam entupidos... e as pessoas foram colocadas ali para viverem dessa forma até que não aguentassem e morressem, fosse pela fome, por doenças provocadas por aquelas condições de enorme insalubridade ou mesmo que se matassem entre si, pois estavam ali reunidas pessoas das mais diversas personalidades. Não existia só gente "boa", mas também criminosos e nenhum segurança. Sem contar os momentos nos quais os próprios soldados atiravam para matar. Como eu disse, aquilo era o inferno. 

"[...] ainda o que nos vale é sermos capazes de chorar, o choro muitas vezes é uma salvação, há ocasiões em que morreríamos se não chorássemos"

Existiram momentos nos quais me senti doente lendo sobre tanto sofrimento, tanta crueldade e falta de esperança. Por estarmos vivendo uma pandemia provocada pelo Covid-19 e milhões de pessoas terem morrido, muitas sem reverem seus familiares, sem poderem se despedir, sozinhas num leito de hospital, onde o medo é um dos mais terríveis companheiros, a leitura se tornou mais dolorosa. Por diversas vezes eu tinha que fechar o livro e "respirar", pois me sentia esgotada, sufocada e com muito medo. Medo da pandemia atual, medo de que outras doenças ainda podem surgir e quanto inferno nós seres humanos poderíamos suportar sem enlouquecer, sem perdermos nossos sentimentos, sem nos perdermos. Sem que nossa alma também se acabasse... 

Mas, diante de algumas cenas capazes de nos jogar no chão e nos manter lá em pedaços, sem forças para levantar... Eu refleti sobre coisas nas quais não gosto de pensar: que nós já estamos perdidos. Que a humanidade já está se destruindo e que não são guerras, catástrofes, pandemias que podem provocar a maldade no ser humano. Ela já existe latente, esperando apenas uma desculpa qualquer para se manifestar. Saramago conseguiu me abalar muito com Ensaio sobre a Cegueira. Se ele queria, como na passagem do primeiro livro de A Divina Comédia (intitulado Inferno), do escritor Dante Alighieri, que abandonássemos toda esperança ao passarmos pelas portas do livro, ele conseguiu. 

"[...] a cegueira também é isto, viver num mundo onde se tenha acabado a esperança."

Em muitos momentos, inclusive, lembrei bastante de Inferno de Dante. Não só da famosa passagem: "Deixai toda esperança, ó vós que entrais", mas do livro como um todo, que me marcou profundamente quando o li. Muitos e muitos versos de Inferno nos descrevem exatamente o que suportam e sofrem os personagens de Ensaio sobre a Cegueira, o que me faz pensar que o Saramago se inspirou bastante neste maravilhoso clássico para escrever sua impactante história. 

Todavia, por mais insuportáveis que muitas cenas presentes no livro sejam, tanto pela maldade quanto pelo sofrimento humano que desesperam nós leitores e nos fazem sentirmos impotentes, querendo fazer cessar toda aquela angústia vivida pelos personagens, mas sem nada poder fazer... Por mais dolorosos que tais momentos sejam e por mais pessimista e fatalista que o narrador se mostre, a esperança não é de todo perdida. Ele nos possibilita o alívio principalmente na figura da mulher do médico, mas também na de outros personagens. Mostrando que por mais que a maldade reine e se espalhe, sempre haverá quem dê tudo de si para ajudar os outros, quem escolherá fazer o bem, quem não pensará apenas em si mesmo. Há muitos exemplos da indiferença e ruindade que o autor menciona no livro, massa da qual ele diz que nós somos feitos. Mas também existem exemplos de bondade, solidariedade, compaixão... amor. E é isso que torna este um dos melhores livros que já li em minha vida. 

"Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos."

Busquei não dar spoilers em minha resenha, pois eu própria iniciei a leitura sem saber muito da história e isso tornou a experiência mais incrível. Mas, Luna, você mencionou assassinatos e estupros! Sim, mas não considero isso spoiler, mas sim informações necessárias a serem dadas, por conta dos intensos gatilhos que tais cenas representam. Por mais que tenha sido maravilhoso (e doloroso ao mesmo tempo) conhecer a história sem saber quase nada sobre ela, em relação às cenas de violação eu queria muito que alguém tivesse me avisado. Queria muito estar preparada para o que iria encontrar, pois foi um golpe terrível lê-las sem nenhum aviso. Foi de me fazer passar mal, literalmente. Por mais que seja impossível suportar tais cenas, com ou sem spoiler, eu preferia saber. Preferia ler ciente do que encontraria. 

São tantas as coisas que eu gostaria de falar sobre esta história e não posso para não estragar a experiência de leitura de vocês... Só digo que recomendo muito que deem uma chance ao livro! Mas que estejam preparados para sofrer porque não existe maneira de passar por esta leitura sem ficar destroçado, sem chorar, sem sentir uma espécie de dor não só emocional, mas física. Esta história é visceral. Este livro é uma alegoria sobre a vida e as relações humanas e nem sempre somos capazes de captar tudo o que está nas entrelinhas, todos os sentidos do texto e das cenas... Em alguns momentos me lembrou a Bíblia também e o autor até faz uma comparação irônica com algumas passagens das Escrituras Sagradas. É Saramago, então, quem conhece as obras do autor já sabe que ele gosta de fazer isso. 

"É um velho costume da humanidade, esse de passar ao lado dos mortos e não os ver"

Se estou preparada para ler Ensaio sobre a Lucidez ou algum outro livro do Saramago em breve?! Claro que não!rs Darei um tempo pelo bem da minha sanidade mental. Mas em algum momento dos próximos anos, estando viva, ainda pretendo ler outros livros do autor, que apesar das narrativas cruas e dolorosas, é, sem sombra de dúvidas, um grande escritor. Mesmo com as cenas mais pesadas, o leitor não consegue parar de ler, não consegue abandonar a leitura. Ao mergulharmos numa história dele sentimos a necessidade de chegar ao final, de saber como tudo termina. 


16 de outubro de 2021

Psicose - Robert Bloch


Literatura norte-americana
Título Original: Psycho
Tradutora: Anabela Paiva
Editora: DarkSide Books
Edição de: 2013
Páginas: 173 (e-book)

29ª leitura de 2021 (22ª resenha do ano)

Sinopse: Psicose, o clássico de Robert Bloch, foi publicado originalmente em 1959, livremente inspirado no caso do assassino de Wisconsin, Ed Gein. O protagonista Norman Bates, assim como Gein, era um assassino solitário que vivia em uma localidade rural isolada, teve uma mãe dominadora, construiu um santuário para ela em um quarto e se vestia com roupas femininas.

O livro teve dois lançamentos no Brasil, em 1959 e 1964. São, portanto, quase 50 anos sem uma edição no país, sem que a maioria das novas gerações pudesse ler a obra original que Hitchcock adaptou para o cinema em 1960.

Uma história curiosa envolvendo o livro é que Alfred Hitchcock adquiriu anonimamente os direitos de Psycho e depois comprou todas as cópias do livro disponíveis no mercado para que ninguém o lesse e, consequentemente, ele conseguisse manter a surpresa do final da obra.

Em Psicose, Bloch antecipou e prenunciou a explosão do fenômeno serial killer do final dos anos 1980 e começo dos 1990. O livro, junto com o filme de Hitchcock, tornou-se um ícone do horror, inspirando um número sem fim de imitações inferiores, assim como a criação de Bloch, o esquizofrênico violento e travestido Bates, tornou-se um arquétipo do horror incorporado a cultura pop.




Psicose é uma história que eu conhecia muito antes de ler. Não, não assisti o clássico filme de Hitchcock, mas recebi vários spoilers sobre o livro/filme ao longo da minha vida.kkkkkkk Sabia que tinha servido de inspiração para vários outros livros e filmes do gênero e sempre ouvi falar da tal cena do chuveiro, tanto que era a cena que eu mais aguardava na história, de tão curiosa para saber o que tinha de tão especial nela para ser tão marcante.rs

Vocês sabem que amo um suspense psicológico e embora Psicose, na minha opinião, não se encaixe exatamente neste gênero, nós acabamos entrando na mente do serial killer e é uma "viagem" bem perturbadora. 

Aqui temos como vilões Norman Bates e sua mãe, que dirigem juntos um decadente motel, que fica praticamente no meio do nada desde que a estrada nova foi construída e já não apareciam hóspedes como no passado. O caminho de Mary Crane se cruza com o dos dois numa noite chuvosa, após ela se perder e já ser tarde demais para encontrar a casa do noivo, para onde tencionava ir. Ao avistar o motel, ela decide se hospedar nele só por aquela noite e na manhã seguinte prosseguir com a viagem. O que não poderia imaginar é que os donos do local não eram as pessoas mais normais do mundo e que passar uma noite ali... poderia ser fatal. 

"Estava sozinha na escuridão. O dinheiro não a ajudaria e Sam não a ajudaria, porque ela errara o caminho e estava numa estrada desconhecida." 

Norman Bates já não era um menino, mas o peso de anos sob o domínio da mãe deixaram suas marcas. Por mais que tentasse enfrentá-la e se impor, agora que ela estava tão doente e já não deveria representar nenhuma ameaça nem para ele nem para ninguém, não conseguia reunir as forças necessárias para se libertar e sempre acabava abatido, cedendo às suas críticas, às suas vontades... à sua loucura. 

Quando aquela jovem apareceu, num sábado à noite, a única hóspede que chegara em todo o dia, ele ficou nervoso. Ela era atraente e estava sozinha. A convidou para jantar em sua casa, pois ela precisava de uma refeição e o restaurante mais próximo ficava longe demais para ir debaixo de chuva. Por isso, ela aceitou o convite. Norman sabia que deveria tomar todo o cuidado para não permitir que a mãe percebesse a presença de Mary... pois as consequências poderiam ser as piores possíveis...

"Eu acho que todos nós somos um pouco loucos de vez em quando."

Ao receber a notícia de que a irmã largara o emprego e fugira com uma imensa quantia que não lhe pertencia, Lila ficou chocada. Mas o choque se transformou em desespero quando uma semana se passou sem que recebesse qualquer telefonema ou carta de Mary. Sentia em seu coração que algo estava errado, que alguma coisa muito ruim tinha acontecido. E movida pela vontade de descobrir o que se passara e, talvez, ainda salvar a irmã, ela decide ir até a casa do noivo dela, na remota esperança de encontrá-la lá. Mas, como já pressentia, Sam também não tinha qualquer notícia sobre a noiva. Angustiados, os dois resolvem fazer de tudo para descobrir o paradeiro de Mary e suas investigações não demorarão a conduzi-los ao motel da família Bates... Sairão eles com vida de lá?!

"Nós não somos tão lúcidos quanto fingimos ser."

Como quem já leu o livro pode perceber, tentei ao máximo não dar spoilers na resenha, embora até a sinopse do livro revele mais do que o necessário. Mas, gente, se trata de um livro de 1959, um clássico extremamente conhecido, então, de qualquer forma vocês já devem conhecer o grande segredo do final... Ainda assim, não contarei.rs

Posso dizer que apreciei bastante esta leitura, embora não tenha me surpreendido com nenhum acontecimento ou revelação. Eu quis ler Psicose por curiosidade, sem grandes expectativas, e ele se mostrou um livro rápido, que flui muito bem e envolve por completo o leitor. Senti um pouquinho de medo sim porque já sou medrosa por natureza.kkkkkkk E fiquei perturbada com a mente transtornada do Norman, sem mencionar a mãe dele que é completamente louca, capaz de matar com uma frieza como se estivesse fazendo algo do cotidiano, algo "normal", sabe? Ela mata sem dar à vítima qualquer chance de defesa, mas depois deixa que o Norman se livre do corpo e limpe a cena do crime, além de ter que lidar com todas as demais consequências. Embora se sinta "em paz" por não ser ele a matar com as próprias mãos, sabe bem que é tão culpado quanto ela, pois é cúmplice e encobre todas as loucuras da mãe. A relação dos dois é um prato cheio para os estudiosos da mente humana, dos relacionamentos tóxicos que existem em algumas famílias, entre pais e filhos e o quanto isso pode afetar o futuro da pessoa e a maneira como ela lida com o mundo e as demais pessoas. 

"Não, garoto: não sou eu quem deixa você doente. É você mesmo

Este livro me lembrou muito uma história que li vários anos atrás, do meu amado Sidney Sheldon. Mas apenas mencionar o título do livro já seria um grande spoiler de Psicose para quem já tenha lido o tal livro do qual me lembrei.rs Só fico me perguntando se o SS não terá se inspirado nesta história aqui para criar seus personagens e toda trama presente naquele que considero um dos melhores livros que já li do autor. 




8 de outubro de 2021

O Vilarejo - Raphael Montes



Contos
Literatura Brasileira
Editora: Suma de Letras
Edição de: 2015
Páginas: 109

 28ª leitura de 2021 (21ª resenha do ano)

Sinopse: Em 1589, o padre e demonologista Peter Binsfeld fez a ligação de cada um dos pecados capitais a um demônio, supostamente responsável por invocar o mal nas pessoas. É a partir daí que Raphael Montes cria sete histórias situadas em um vilarejo isolado, apresentando a lenta degradação dos moradores do lugar, e pouco a pouco o próprio vilarejo vai sendo dizimado, maculado pela neve e pela fome. As histórias podem ser lidas em qualquer ordem, sem prejuízo de sua compreensão, mas se relacionam de maneira complexa, de modo que ao término da leitura as narrativas convergem para uma única e surpreendente conclusão.




Esta foi minha primeira experiência com uma obra do Raphael Montes. Na verdade, como a série da Netflix "Bom dia, Verônica" é baseada no thriller homônimo escrito por ele e pela Ilana Casoy e a própria série tem o roteiro assinado pelos dois, não é bem minha primeira experiência... Eu já sabia que era um escritor que aposta em histórias pesadas, do tipo que você deve ler apenas se tiver o estômago forte. Eu não tenho, mas me iludi acreditando que um livro de cerca de 100 páginas, com apenas sete contos não poderia ser muito assustador.rs Me iludi bonito!

Assim que li o prefácio de O Vilarejo e descobri poucas páginas depois que cada capítulo teria em seu título o nome de um demônio, percebi que estava com problemas.kkkkkk Eu não conseguia nem ler tais nomes e ao mergulhar no primeiro conto me senti tão aterorrizada, chocada e enojada que até agora não sei como consegui prosseguir com a leitura. 

No conto, cujo subtítulo é Banquete para Anatole (o título é o nome do demônio associado à gula, mas não vou escrever na resenha o nome de nenhum deles, então só colocarei os subtítulos de cada conto), temos uma importante ligação com os outros seis contos. O autor faz a escolha de começar pelo final... ou por parte do final. Nós sabemos logo de cara o que vai acontecer com os demais moradores do vilarejo e nos contos seguintes ficamos sabendo o que se passou na vida deles antes daquele macabro fim. 

Foi, para mim, a história mais assustadora de todas. Embora todos os sete contos sejam terríveis, de nos arrepiar de horror e causar náuseas e revolta, Banquete para Anatole ficou em minha mente. Me pego lembrando de todo aquele pesadelo, da crueldade, do terror... do medo e do choque que tomaram conta de mim. 

Os subtítulos dos demais contos são: As irmãs Valia, Velma e Vonda; O negro caolho; A doce Jekaterina; A verdadeira história de Ivan, o ferreiro; O porquinho de porcelana da Sra. Branka; Um homem de muitos nomes. E eu não sei dizer qual deles é o mais assustador. Todos possuem histórias que nos mostram o pior dos seres humanos. Como somos capazes de qualquer coisa... Como há tanta crueldade neste mundo... "Os seres humanos me assombram" (concordo com a Morte, narradora de A menina que roubava livros). Não importa quantas notícias eu leia ou assista todos os dias, quantos livros narrem a podridão da humanidade, nunca deixarei de ficar chocada. Eu não consigo compreender como alguém seja capaz de tanta violência, seja tão ruim... 

O último conto presente no livro liga de maneira impressionante todos os contos, nos revelando algo que até já poderíamos imaginar, mas a maneira como o autor conduz a última história é fascinante e foi o que me fez dar 4 estrelas ao livro, quando eu daria 3. Foi O homem de muitos nomes que fez a leitura inteira ser mais do que simplesmente "boa" e merecer 4 estrelas. Lembrando sempre que minhas resenhas são pessoais e que esta, obviamente, é uma opinião pessoal. 

Ao mesmo tempo que ao fim da leitura eu desejei conhecer outras obras do autor, também sei que meu medo me impedirá de ler outros dos seus livros por muitos anos.kkkkkk


5 de outubro de 2021

Encanto da Luz - Nora Roberts


Literatura norte-americana
Título Original: One Man's Art
Tradutora: Daniela Rigon
Editora: Harlequin
Edição de: 2018
Páginas: 192
Série Os MacGregors - Livro 4

27ª leitura de 2021 (20ª resenha do ano)

Sinopse: UMA ARTISTA BRILHANTE QUE ESTÁ TENTANDO SE AFASTAR DO MUNDO PARA SE RECUPERAR DE UM TRAUMA FAMILIAR. UM HOMEM SOLITÁRIO E CÍNICO QUE MANTÉM TODOS A DISTÂNCIA. UMA ATRAÇÃO IMPOSSÍVEL DE RESISTIR VAI UNI-LOS E AJUDÁ-LOS A ENCONTRAR O AMOR. 

Gennie Grandeau é uma pintora de sucesso e muito reconhecida pelo país. Ela sempre gostou de estar entre as pessoas, mas um ano depois da morte de sua irmã, Gennie precisa se afastar da família e do reconhecimento para poder curar suas feridas. Ela só não esperava encontrar Grant Campbell e ter sua tranquilidade abalada. Ele é um ermitão vivendo em um farol afastado de tudo e todos. Grant não gosta de estar perto de pessoas, apesar de seu trabalho retratar o relacionamento e a interação entre elas. Depois do trauma da morte do pai, Grant se isolou de tudo para se preservar de um novo sofrimento. Mas somente a persistente Gennie é capaz de invadir suas terras, seu farol e até mesmo seu coração. 

Continuando com a série sobre a família MacGregor, Encanto da Luz apresenta uma nova história de membros da família que acham que estão no topo do mundo e que vivem entre o poder e a glória. Até que os seus corações sejam roubados.


 



Sim, já faz uns três anos que não leio nenhum livro da série. Na verdade, este é o único (dos livros da série relançados em formato de livraria) que eu ainda não tinha lido. Não me perguntem o motivo, pois não lembro.kkkkkk É provável que, na época, eu não tenha lido por não tê-lo. Eu ganhei a minha edição de Encanto da Luz de presente de uma amiga, em maio de 2018... Sim, de qualquer forma, demorei três anos para ler.kkkkkkk Sou um caso perdido!

Esta é uma série com livros independentes. Apesar de ter ligação entre eles por conta do parentesco ou proximidade com algum dos MacGregor, cada livro conta a história de um casal diferente. Assim, é perfeitamente possível lê-los fora de ordem, embora, regra geral, eu prefira seguir a ordem... o que nem sempre consigo.rs

Aqui conhecemos Gennie e Grant, um casal bastante improvável de dar certo, mas que acaba combinando justamente por suas diferenças. Gennie é uma artista reconhecida e bem-sucedida, que decide abandonar a cidade grande por um tempo para buscar descanso e inspiração numa região bem diferente da que ela costumava frequentar... onde tudo era mais simples, tranquilo e natural... 

E é justamente durante o seu "retiro" que ela conhece o mocinho... no meio de uma tempestade terrível, quando tudo o que precisava era de alguém que abrisse as portas para abrigá-la do frio e oferecesse uma refeição quente e uma cama por apenas uma noite, pois ela tinha se perdido e era impossível no meio daquela tormenta encontrar o chalé que tinha alugado. Mas é claro que não recebe a hospitalidade que tanto precisava... uma vez que foi parar no farol onde Grant morava e tudo o que ele menos suportava era ter a sua paz interrompida, não importando se era na forma de uma bela mulher, que com apenas um olhar ameaçava todo o seu autocontrole. 

Embora não a tenha jogado para o lado de fora com tempestade e tudo, Grant foi o mais grosseiro possível, deixando claro o quanto ela estava incomodando.kkkkkkk Como Gennie não era do tipo que leva desaforo para casa, os dois trocam várias farpas, mesmo que a química entre eles fosse evidente. E iniciam um jogo onde era fato que, mais cedo ou mais tarde, se queimariam...

Gostei muito desta história! É aquele tipo de romance para relaxar, para esquecer dos problemas e das leituras mais pesadas... Para sair de uma ressaca literária... Enfim... Uma história que nos provoca prazer, que nos diverte e apaixona. Eu me diverti demais com o casal, sorri muito por causa dele, torci para que parassem de levantar defesas um contra o outro e se entregassem ao que estavam sentindo. A vida é curta demais para ficar deixando de viver por medo da dor. E era isso que o Grant fazia ao se esconder do mundo naquele farol: por ter perdido o pai ainda adolescente e de forma tão brutal, ele tinha medo do amor. Tinha medo de amar alguém e perder essa pessoa. Entendo perfeitamente o sentimento. Mas muitas vezes ao fugirmos da vida por medo da dor acabamos na verdade provocando muita dor dentro de nós, sem mencionar o arrependimento por cada momento não vivido, por cada oportunidade que se escapou. 

Gennie também tinha perdido alguém muito querido, num acidente que ainda lhe provocava pesadelos. E ela passa uma boa parte da história se culpando pela morte dessa pessoa, por ser ela quem estava dirigindo. Mas diferente do Grant, ela não permite que a dor e a culpa a impeçam de sorrir, de apreciar os momentos bons e de se entregar às oportunidades. Ela ama a vida! Acredita no amor e nunca permitiria que ele simplesmente fugisse de tudo o que existia entre os dois.rs Amei muito a personalidade dela e a maneira como ele ficava perdido quando essa doidinha entrava em ação.rs

Como eu disse, é um ótimo livro para passar o tempo! A história nos encanta! Todavia, quem acompanha o blog provavelmente sabe que amo muito esta série e tenho que admitir que Encanto da Luz, por mais envolvente que seja, não supera nem se compara com nenhum dos outros livros que li do Clã MaGregor


Segundo a internet, os livros que fazem parte da série Os MaGregors são:

4- Encanto da Luz
5- Hoje e Sempre (flashback do romance entre Daniel e Anna)
6- Rebelde/Um Mundo Novo (de época!)
7- Instinto do Amor
8- Beijos que Conquistam
9- Amor Nunca é Demais
10- Um Vizinho Perfeito




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