30 de setembro de 2020

Vidas Secas - Graciliano Ramos


Literatura Brasileira
Editora: Record
Edição de: 2020
Páginas: 176 

52ª leitura de 2020 (49ª resenha do ano)




Ano passado eu li O Quinze, da Rachel de Queiroz. Um livro que mexeu com minhas estruturas, que abalou minhas emoções e me deixou realmente muito mal. Com uma sensação de agonia. É, sem sombra de dúvidas, um livro que jamais esquecerei. Assim, quando a Kelly, do canal Aventuras na Leitura, colocou Vidas Secas, do Graciliano Ramos, entre os livros a serem lidos no clube de leitura que ela criou no Telegram, eu fquei dividida entre a grande vontade de ler a história e o medo enorme de ficar tão destroçada quanto fiquei com O Quinze

Todavia, Vidas Secas não me provocou o mesmo impacto. Sim, me fez sofrer. Sim, me fez pensar demais no desespero imenso das pessoas que passaram pela seca, das vidas que foram perdidas (tanto de pessoas quanto de animais) e toda a desigualdade social abordada no livro. Mas o estilo narrativo do autor e sua mania de repetição acabou por tornar o livro algo diferente do que eu esperava. Foi sim uma leitura importante e com cenas de abalar qualquer pessoa, mas eu não apreciei a escrita do autor e a forma como ele construiu a história e, sobretudo, os personagens. 

Em suas 124 páginas (minha edição tem 176, mas a história só vai até a página 124), o autor conta a história de Fabiano, sua esposa sinha Vitória, seus dois filhos e a cachorrinha Baleia. 

Descendente de uma família de vaqueiros, Fabiano não teve a oportunidade de estudar, repetindo o destino de seu avô e de seu pai. Vivendo em condições bastante humildes e sob a autoridade de patrões que exigiam tudo de suas forças, mas o enganavam na hora do pagamento, sempre pagando menos do que o devido e ele tendo que aceitar calado para não ser dispensado. 

"Era uma sorte ruim, mas Fabiano desejava brigar com ela, sentir-se com força para brigar com ela e vencê-la."

Sua esposa e seus filhos, bem como sua cachorrinha, tinham acabado de sobreviver a uma terrível seca. Passaram fome, caminhando até passar mal, em busca de algum lugar onde pudessem ter o mínimo para viver, onde ele conseguisse um emprego, um canto para dormir, uma esperança. Foi quando chegaram naquela fazenda e ele conseguiu convencer o dono a contratá-lo. O pior tinha passado, mas a ameaça de outra seca persistia. Era um destino cruel e tudo o que Fabiano gostaria era de poder lutar contra aquela realidade. Mas não tinha forças. Não tinha os meios necessários. Sem alternativas, precisava se submeter e ensinar seus filhos a aceitarem o mesmo. Um dia eles cresceriam e precisavam aprender a fazer o mesmo serviço que o pai, a aceitar a autoridade dos patrões e do governo, a se conformar. 

"Sabia perfeitamente que era assim, acostumara-se a todas as violências, a todas as injustiças."

E o livro vai girar em torno dessa família. Seu destino e seus questionamentos, a situação de miséria na qual vivem e a impossibilidade de mudarem de vida, por mais esperança que alguns deles tenham. Conhecemos um pouco de cada um deles, mas a história acaba por se concentrar mais no Fabiano, um personagem pelo qual até agora eu não sei o que sinto. Terminei a leitura no domingo, hoje já é quarta-feira, e sigo sem saber se gosto ou não do personagem. Acho que nunca saberei. 

A sinha Vitória, esposa dele, foi uma personagem pela qual senti uma mistura confusa de sentimentos. Existiram momentos nos quais admirei sua força, sua esperança, sua vontade de ter uma vida diferente e ir em busca disso. Mas em outros momentos eu senti raiva do seu comportamento, a falta de paciência com os filhos e com a cachorrinha. Ela chegava ao ponto de ser violenta tanto com os filhos quanto com a cachorrinha Baleia e isso me incomodava bastante. Não gosto desse tipo de cena. Eu entendo o contexto, a situação em que viviam e que nenhum ser humano é perfeito, que criar os filhos não é fácil, ainda mais numa realidade como aquela. Sei que ela amava as crianças e a cachorrinha, mas as cenas de agressões me incomodaram muito. E o Fabiano não agia diferente. Na verdade, o comportamento dele era ainda pior. Daí eu dizer que não sei o que sinto por ele, pois na maior parte do tempo ele me provocou raiva. 

Outra coisa que me desagradou na história foi a maneira como queriam condicionar as crianças a terem o mesmo destino, a seguir o mesmo caminho. Quem mais fazia isso era o Fabiano, a sinha Vitória até queria um futuro diferente para os filhos, mas ele parecia entender que deveria educar os meninos a serem como ele, a ter a mesma vida de sofrimentos e submissão. Mais uma vez eu digo que compreendo o contexto da história, mas eram situações que me incomodavam, pois se as crianças faziam perguntas, questionavam, eram silenciadas, os pais se sentiam irritados por elas quererem saber. No entanto, existiram momentos nos quais o próprio Fabiano, em seus pensamentos, desejou que os filhos pudessem ter a oportunidade de estudar. Ele não acreditava que isso fosse mesmo possível, mas desejava. 

"Os meninos eram uns brutos, como o pai. Quando crescessem, guardariam as reses de um patrão invisível, seriam pisados, maltratados, machucados por um soldado amarelo."

A história não aborda só a seca, a miséria, a fome e as gritantes desigualdades sociais, mas também a violência policial e a arbitrariedade do Estado através de cenas que nos provocam muita revolta. Ver pessoas serem tratadas como se fossem "nada" só porque não sabiam se defender, não tinham ninguém por elas, não possuíam estudos ou recursos, me fazia sentir uma imensa raiva e uma sensação de impotência. O tempo passa e nada muda realmente. Porque mesmo nos dias de hoje ainda vemos situações como as vividas neste livro.


"Muito bom uma criatura ser assim, ter recurso para se defender. Ele não tinha. Se tivesse, não viveria naquele estado."

O que mais mexeu com minhas emoções, mais me abalou, foi o que se passou com a cachorrinha Baleia. Não posso falar sobre o assunto para não dar spoilers, mas foi algo que me deixou em estado de choque. Se eu fosse falar tudo o que penso sobre aquilo não só soltaria vários spoilers, como acabaria usando várias palavras de baixo calão para expressar o ódio que senti com aquelas cenas. 

Apesar de ser um livro importante e de ter sim mexido bastante comigo, como eu disse antes, não apreciei a escrita do autor. Não gostei da construção dos personagens e da história e certamente passará um longo tempo até eu dar outra chance aos seus livros. 



-> DLL 20: Um livro nacional
 


28 de setembro de 2020

O Diário do Erasmo - Robson Cuer


Literatura Brasileira
Editora: Coerência
Edição de: 2016
Páginas: 208

51ª leitura de 2020 (48ª resenha do ano)

*Lido no Kindle Unlimited

Sinopse: Um cachorro abandonado que sonha em reencontrar a mãe. 

Erasmo é um cachorro de sorte. Junto com seus amigos vive aventuras e conhece o mundo com a curiosidade de uma criança, sem preconceitos e atento a tudo. Descobre um mundo mágico que por vezes não percebemos e emociona, ensina e diverte os leitores. 
Leve, poético e sensível, nos lembra que a vida é muito mágica e que a amizade é um lindo sentimento. 



Eu não tenho o hábito de ler histórias protagonizadas por animais porque sou uma manteiga derretida e geralmente choro com filmes ou livros envolvendo animais. 

Mas como O Diário do Erasmo é uma historinha voltada ao público infantil, eu imaginei que não teria nada que me fizesse chorar e serviria como mais uma leitura leve, numa fase da minha vida em que estou necessitando muito de histórias assim. 

Realmente é um livro bem levinho, que nos encanta e faz sorrir. Todavia, tem umas cenas que nos provocam lágrimas. Porque é impossível não se comover com certos acontecimentos que arrancaram um pedacinho do meu coração. :(

Erasmo é um cachorro ainda filhote, que foi separado de sua mamãe, abandonado na rua e depois colocado num Pet Shop para fazer parte de outra família. Só que vários cachorrinhos já tinham encontrado um novo lar e ele seguia ali, naquela gaiola sem que ninguém se interessasse por ele. Até que seu "papai" um dia apareceu e o levou. Foi aí que toda a aventura finalmente começou em sua vida. 

Na casa de seu novo tutor, Erasmo conhece o Jack, um cachorro que já morava ali há mais tempo e estava disposto a ser o "mestre" daquele pequeno curioso, que logo no primeiro dia já o encheu de perguntas.rsrs Ele também se encontrou com a gatinha Sidney que morava dentro da casa do seu papai e estava com filhotinhos na barriga. 

Com o passar dos dias e todas as coisas que vai aprendendo com o auxílio de Jack, Erasmo vai crescendo e se tornando um filhote muito esperto, bem como faz amizade com a Tata Barata Bailarina, as pulgas acrobatas, o senhor Lulo Borboleto e a senhora Lila Borboleta, entendendo o que significa ter uma família e que nem todos que parecem "legais" querem realmente o seu bem. 

"- Tristeza é uma coisa que a gente sente e que tira as cores de tudo. Ela dura enquanto a gente não consegue colorir a vida de novo."

Esta é uma história que conquista um espaço precioso em nossos corações, pois nos envolvemos profundamente não só com o Erasmo e todas as suas aventuras, mas também com outros animais que entram em cena e nos fazem amá-los. 

Erasmo é simplesmente um amor! Tão curioso e cheio de perguntas, não deixava o Jack em paz, pois queria aprender tudo sobre seu novo lar, sobre o dia e a noite, o tempo (que sempre passava sem que ele conseguisse conhecê-lo.rsrs), como os filhotes tinham ido parar na barriguinha da Sidney (algo que ele vai ficar sem entender) e muitas outras coisas. Eu amava a curiosidade dele, seus latidos de empolgação e sua correria pelo quintal. Tinha vontade de tirá-lo da história e ficar com ele para mim, para alegrar minha vida.rs

E como não falar do Jack, que rouba as cenas tantas vezes?! Ele arrebatou meu coração! Amei demais este cachorro tão esperto e carinhoso, tão protetor com o Erasmo e com seu papai. Não consigo falar dele sem sentir uma emoção muito forte. 

"- O que é esperança? É a certeza de que iremos conseguir algo, mesmo que demore muito."

Também amei o Batman (o cachorro que vivia na rua e fez amizade com o Erasmo através do portão), a Tata Barata Bailarina (me diverti demais com ela!), a gatinha Sidney (tão metida e vaidosa), o casal de borboletas e até mesmo as pulgas acrobatas. Todos eles me encantaram! 

Não falarei sobre o que me fez chorar para não dar spoilers. Mas posso dizer que é um livro que nos provoca diversos sentimentos diferentes. E que vale muito a pena! Tem muito o que ensinar para pessoas de todas as idades. 


 -> DLL 20: Um livro que tenha animais como protagonistas



18 de setembro de 2020

O Mágico de Oz - L. Frank Baum


Literatura norte-americana
Título Original: The Wonderful Wizard of Oz
Tradutor: Luis Reyes Gil
Editora: Autêntica
Edição de: 2017
Páginas: 226

50ª leitura de 2020 (47ª resenha do ano)

*Lido no Kindle Unlimited

Sinopse: O Mágico de Oz conta a história de Dorothy Gale, uma órfã que vivia com os tios numa fazenda do Kansas, nos Estados Unidos. Um dia, um ciclone arranca do chão a casa onde moravam. Os tios conseguem entrar no porão que usavam como abrigo para tempestades, mas Dorothy e seu cachorro, Totó, se atrasam e ficam na casa, que foi levada durante muito tempo pelos ares até chegar à Terra de Oz.

Lá, Glinda, a Bruxa Boa do Norte, explica a Dorothy que ela havia matado a Bruxa Malvada do Leste, pois a casa aterrissou em cima dela. Dorothy agora é, por direito, dona dos sapatos mágicos prateados da bruxa má. Além disso, Glinda lhe dá um beijo na testa, para ela ficar em segurança durante as aventuras que viveria a caminho da Cidade das Esmeraldas, onde vive o poderoso Mágico de Oz, o único que poderia ajudá-la a voltar para o Kansas.

Para chegar à Cidade das Esmeraldas, Dorothy tem que seguir por uma estrada de tijolos amarelos. Durante a caminhada, ela encontra o Espantalho, o Homem de Lata e o Leão Covarde. Os três se juntam a Dorothy, pois também querem encontrar Oz e pedir algo para ele: o Espantalho quer um cérebro para pensar como os homens; o Homem de Lata, um coração para amar como os homens, e o Leão Covarde quer coragem para ser o Rei dos Animais.

A partir daí, os quatro encaram perigos, vivem histórias fantásticas e aprendem a enfrentar os próprios medos.




Acho que é quase impossível alguém ter passado pela vida sem ter ouvido falar desta história.rs Eu não consigo me lembrar bem como foi que a conheci, se através de algum desenho, filme ou outra adaptação, só o que sei é que ainda não tinha lido o livro, mas sabia tudo o que iria acontecer ao longo da narrativa. Conhecia bem os personagens e todas as suas aventuras para conquistar o que tanto sonhavam...

Nesta obra voltada para o público infantojuvenil (mas capaz de encantar pessoas de todas as idades!) conhecemos a pequena Dorothy, uma menina órfã criada pelos tios, que eram pessoas humildes que não encontravam na vida motivos para sorrir, ao contrário dela que sempre estava brincando e rindo com seu cãozinho Totó. Embora viver no Kansas não fosse muito agradável, pois tudo parecia cinzento e triste, Dorothy amava os tios e não imaginava a vida longe deles. 

"Era Totó que fazia Dorothy rir, e foi quem evitou qu ela crescesse tão triste quanto todo o resto que a rodeava."

Todavia, num dia em que uma terrível tempestade rapidamente começou, ela não teve tempo para entrar no buraco que tinha no chão e servia como abrigo contra esse tipo de dificuldade. Sua casa foi arrancada por um ciclone e a pequena foi junto, tendo apenas Totó como companhia. E foi assim que ela acabou parando na Terra de Oz e matando a cruel Bruxa do Leste, já que a casa aterrissou em cima da malvada. 

Um tanto confusa por ser considerada uma heroína (quando ela era incapaz de matar até mesmo uma formiga), tudo o que Dorothy mais desejava era regressar ao Kansas, para junto dos seus tios. E toda a sua aventura pelos esquisitos e fascinantes países daquele mundo tão extraordinário será voltada para a realização deste que é o seu maior desejo. 

"Não podemos machucar essa garotinha - avisou aos demais -, pois ela é protegida pelo Poder do Bem, que é maior que o Poder do Mal."

Tudo o que eu precisava no momento era ler uma história que fosse leve e divertida, que me provocasse um quentinho no coração e me fizesse esquecer um pouco a vida real. E O Mágico de Oz me proporcionou uma leitura maravilhosa, cheia de magia, amor e amizade, do tipo que nos faz sorrir e sonhar.

Como Dorothy desejava voltar para sua casa e ninguém sabia ao certo qual era o caminho, ela acaba sendo orientada a procurar pelo misterioso (e considerado terrível) Mágico de Oz, um dos mágicos mais poderosos já existentes e o único capaz de fazê-la regressar para junto dos seus tão amados tios. 

No meio dessa aventura, a menina conhece três personagens que simplesmente roubam nosso coração! O Espantalho, que tinha sido criado a pouco tempo e sonhava em ter um cérebro para ser um homem como qualquer outro. O Homem de Lata, nosso amado lenhador, que um dia tinha sido humano, mas ficou naquelas condições por causa de uma bruxa muito ruim. Tudo o que ele mais desejava era ter de novo um coração e assim poder amar. E temos também o famoso Leão Covarde, que sonhava em ser corajoso para poder ser de verdade o rei dos animais. 

"Não existe criatura viva que não sinta medo diante do perigo. A verdadeira coragem está em enfrentar o perigo mesmo quando você tem medo [...]"

A amizade entre todos eles é quase imediata e juntos enfrentam todos os perigos que aparecem ao longo do caminho. Eles acompanham Dorothy, pois também desejam pedir ao Mágico de Oz que realize os seus sonhos. 

Este livro nos aparesenta um mundo encantador, do qual não queremos sair ao final da leitura. Eu queria continuar lá!kkkkkkkkkk... E foi por isso que acabei não dando 5 estrelas, pois considerei o final abrupto, muito rápido. Dava para ter desenvolvido melhor aquele final, o que seria mais justo com uma história tão linda. 

A forma como esses personagens se tornam tão amigos me emocionou muito. Era tão bonita a amizade entre eles, a cumplicidade, o fato de um nunca abandonar o outro pelo caminho, não importava o que acontecesse e como parecesse impossível seguirem todos juntos. Este foi o ponto alto da história, o que ela teve de mais especial: essa amizade tão linda e emocionante entre Dorothy, o Espantalho, o Homem de Lata e o Leão Covarde. Vou levar esses personagens para sempre comigo!

Enfim... É uma história que recomendo para todos que desejam sonhar! :)


-> DLL 20: Um livro de cor amarela


9 de setembro de 2020

A Abadia de Northanger - Jane Austen


Literatura Inglesa
Título Original: Northanger Abbey
Tradutor: Rodrigo Breunig
Editora: L&PM Pocket
Edição de: 2011
Páginas: 272

49ª leitura de 2020 (46ª resenha do ano)

Sinopse: Catherine Morland, dezessete anos, coração puro, é uma mocinha ingênua, viciada em livros repletos de desventuras horripilantes e amores trágicos. Sabendo sobre a vida apenas o que leu nos romances, ela sai de seu obscuro vilarejo natal para passar uma temporada em Bath, estação balneária frequentada pela aristocracia inglesa, onde conhece bailes excitantes, uma amiga amabilíssima, um cavalheiro encantador e outro insuportável. E sai de Bath para ser hóspede, como num sonho, de uma abadia. A antiga construção, porém, revelará sinais misteriosos, indícios de que foi cenário, no passado, de um crime medonho. Exatamente como ela lera nos livros...



Estou passando por dias um tanto ruins na minha vida e confesso que não me sinto capaz de escrever esta resenha. Mas este é um livro que me encantou tanto que eu resolvi pelo menos tentar falar sobre ele. 

Persuasão era até agora o meu livro preferido da Jane Austen. Todavia, depois da maravilhosa experiência de ler A Abadia de Northanger, eu já não sei mais o que fazer.rsrs Acho que vou deixar os dois ocuparem o primeiro lugar entre os mais amados da autora...

Quando iniciei esta leitura eu não sabia bem o que esperar. Não é um dos romances mais famosos dela, poucas vezes li resenhas sobre ele (na verdade, no momento, sequer consigo lembrar de nenhuma resenha que tenha lido!) e, no fundo, acreditava que não chegaria aos pés das outras histórias. Só que logo no início, a ironia da autora, bem mais explícita neste romance do que em qualquer outra história que já li dela, já me fascinou e eu ria tanto com a maneira como ela debochava dos costumes e das relações de "amizade" existentes entre alguns personagens, que consegui perceber que este livro me preparava grandes surpresas...

Nele temos uma heroína que não possui muitas características dignas de uma heroína (segundo a autora, que o tempo inteiro "se mete" na história.rsrsrs), que tudo o que conhece da vida é o que leu em seus amados livros (vários deles de terror) e a pouca experiência que tinha em se relacionar com outras pessoas, vez que vivia num vilarejo de onde jamais tinha saído. Ela tinha apenas dezessete anos e era bastante ingênua, inclusive para a idade. 

Um dia, o senhor e a senhora Allen, que não tinham filhos e viam em Catherine sua protegida, resolveram levá-la para uma temporada em Bath, algo que a empolgou bastante. Era sua primeira chance de conhecer outros lugares, outros tipos de pessoas e possivelmente um "mocinho" adequado. Lá, Catherine acaba desenvolvendo amizade com Isabella Thorpe, que lhe jura fidelidade eterna e não consegue passar sequer um dia longe de sua "amada amiga". Isabella possuía um irmão, John Thorpe, que por coincidência era o melhor amigo do irmão da nossa mocinha. 

Além desses personagens, que serão significativos na vida de nossa heroína, ela também conhece Henry Tilney, por quem sente uma "inexplicável" atração. Só com ele queria realmente dançar. Só com ele era interessante conversar e o mais fascinante é que Henry não via os romances com desprezo, como outras pessoas, e não é nada mau se interessar por alguém que aprecia os livros, certo? Só que existia John Thorpe, o desagradável e "chiclete" irmão de sua amiga. Alguém que amava muitíssimo a si mesmo (e ninguém mais) e estava determinado a conquistar Catherine e atrapalhar sua amizade com os Tilney.

E como se não bastasse os grandes desafios que Catherine terá que enfrentar ao lidar pela primeira vez com a hipocrisia de outras pessoas, sua imaginação tão fértil conseguirá colocá-la numa certa confusão... em uma determinada abadia.  

Mas se tem uma coisa garantida nesta divertida e envolvente história é o final feliz! Dele, Jane Austen não abre mão. Para a alegria de nós leitores, claro!

" - A pessoa que não sente prazer com um bom romance, seja cavalheiro ou dama, só pode ser intoleravelmente estúpida."

Eu amei cada momento da leitura e só queria devorar as páginas para saber como terminava. É uma história na qual a autora usa e abusa da ironia como nunca a vi fazer (geralmente nos outros livros, ela é mais implícita) e isso foi o que mais me agradou. Me proporcionou muitas risadas e a maneira como ela se metia na história, conversando com nós leitores, também foi um espetáculo. Era como se ela realmente estivesse falando diretamente com a gente e isso foi incrível. Amei demais este livro! 

Impossível não mencionar o talento da autora para expor certas amizades falsas escondidas sob um verniz de grande carinho, bem como a hipocrisia daqueles que só se aproximam de outros por interesse e os tratam como os mais "preciosos do mundo", de acordo com o status e a riqueza deles. Vários personagens eram tratados de acordo com sua fortuna, as pessoas valiam apenas o que tinham... algo não muito diferente do que ainda acontece nos dias de hoje. 

Além disso, de maneira um tanto mais implícita, ela também menciona a realidade de filhos submetidos a pais controladores e abusivos, que precisam "pisar em ovos" todos os dias para lidar com alguém de quem não podiam se libertar pelos laços de sangue e de afeto. Uma das coisas que mais me enfurecia neste aspecto, era a maneira como aquele pai sempre falava pela filha, anulando suas vontades, anulando sua voz. E como, inclusive, a envergonhava na frente de outras pessoas. O tempo inteiro ela tinha que agir com cautela, tentando lidar com uma situação com a qual não teve outra escolha senão se acostumar... até ter a oportunidade de escapar daquilo pelo casamento. Tudo isso é mostrado de forma mais implícita, como eu disse, mas está ali para o leitor perceber. 

A relação entre Catherine e Henry é bem fofa, mas até nisso a autora teve que ser única.rsrs Só lendo para vocês entenderem. Gostei demais dos dois juntos e torci muito por seu final feliz. 

A história de alguns personagens não "fechou" como eu gostaria, mas a autora fez de propósito para que nossa imaginação fizesse sua parte. E como não falar da paixão da protagonista pelos livros???? É tão maravilhoso encontrar um personagem que seja leitor! Infelizmente, não aprecio o mesmo gênero literário que ela, mas só o fato de ela ser leitora já me deixou com um sorriso no rosto. E era bem divertido ler sobre as loucuras que a mente dela aprontava influenciada pelos livros lidos.kkkkkk... Ela é bem doidinha!

Enfim... É isto, queridos! Sei que esta resenha não é digna da história, mas fico feliz por passar pelo menos um pouquinho do meu amor pelo livro. Espero que tenham gostado! :)


-> DLL 20: Um livro lançado antes de 2016



5 de setembro de 2020

Livros lidos e não resenhados (julho/agosto de 2020)

Olá, queridos!

Às vezes acontece de eu ler um livro e, por um motivo ou outro, não conseguir fazer a resenha. Felizmente, isso aconteceu muito pouco ao longo dos mais de dez anos do blog. Mas 2020 está sendo atípico. Um ano digno de ser considerado um pesadelo. E claro que isso afetou as minhas leituras. Existem momentos nos quais não sinto vontade de ler, passo dias sem tocar em livro algum (lembrando que a leitura é minha maior paixão) ou não sinto vontade de fazer resenhas. E tudo bem. Porque ler e/ou resenhar não é para ser uma obrigação, mas sim um prazer. 

Todavia, não é só por isso que alguns livros não serão resenhados de agora em diante. Toda vez que eu não fizer a resenha de alguma história que tiver lido, irei explicar os respectivos motivos. 


Literatura norte-americana
Título Original: The good daughter
Tradutor: Zé Oliboni
Editora: HarperCollins
Edição de: 2018
Páginas: 464

40ª leitura de 2020 

Sinopse: Charlotte e Samantha eram apenas adolescentes quando invadiram sua casa em Pikeville à procura de seu pai Rusty, um advogado de defesa odiado por algumas pessoas da cidade que o viam como "a mão direita do Satanás" por defender todo tipo de criminosos.

Ele estava no fórum quando dois homens descontaram seu ódio na família - matando sua esposa, atirando na cabeça de Samantha, deixando-a à beira da morte, e aterrorizando Charlotte.

Afetadas pelo trauma, as irmãs precisam se reencontrar após um crime hediondo em uma escola. Charlotte é a primeira a chegar ao local do crime e revive a violência de seu próprio passado. Após tantos anos de segredos e silêncio, a família é obrigada a lidar com o caso em uma história de intrigas e reviravoltas que mostra que nem tudo é o que parece.




A Boa Filha foi minha penúltima leitura de julho e a 40ª do ano. Um livro que li numa leitura coletiva e amei cada momento (menos o final da história). É um livro que nos envolve desde o prólogo, quando sofremos um choque muito grande com a violência presente nas cenas, a crueldade enorme de que Samantha, Charlotte e a mãe delas são vítimas. É um início que nos rouba o fôlego e viramos as páginas com ansiedade, desejando saber tudo o que ocorreu depois, como conseguiram superar e seguir em frente. 

Eu tinha que terminar a leitura do livro Para Sempre para um desafio e terminei de ler os dois quase ao mesmo tempo, dando prioridade para a resenha da outra história, o que acabou prejudicando esta, vez que o mês de julho terminou sem que eu tivesse conseguido começar a resenha de A Boa Filha. Assim, ao iniciar as leituras de agosto já não havia tempo para me dedicar como sempre me dedico na hora de escrever sobre um livro. Vários dias já tinham se passado. :(

Esta não é uma leitura fácil, mas depois de Flores Partidas (outra história da mesma autora), eu já estava preparada para tudo. Acho que nenhum livro conseguiria ser mais pesado que aquele. 

Durante a leitura coletiva foram realizados dois debates e ambos foram maravilhosos! Como vocês já sabem, amo ler em conjunto, pois é possível conversar e desabafar sem medo de estragar a leitura de ninguém com spoilers.rsrs

É um livro que recomendo muito, mas para quem já conhece os livros da autora ou está acostumado a ler livros fortes. 




Literatura Irlandesa 
Título Original: The picture of Dorian Gray 
Tradutor: Jorio Dauster
Editora: Folha de São Paulo
Edição de: 2016
Páginas: 176
43ª leitura de 2020

Coleção Folha Grandes Nomes da Literatura #6

Sinopse: Escrito em 1890, este romance de Oscar Wilde talvez seja até mais atual do que em seu lançamento. O culto à aparência física e à eterna juventude deixou de ocupar apenas alguns estetas e aristocratas, como ocorria no fim do século XIX, para se transformar em fenômeno de massa. 

No esplendor da juventude, Dorian Gray posa para um quadro, e lamenta que, com o passar dos anos, perderá a beleza ali retratada. Ou será que não? Um pacto diabólico está em curso. 




Este é um livro que resolvi não resenhar por um simples motivo: já tem resenha dele no blog. Sim. Porque o li pela primeira vez em 2018 e vocês podem ter acesso à resenha clicando aqui

Na época, eu jurei que nunca iria reler esta história. Que nunca mais permitiria que o livro me causasse todo aquele tormento, aquele desgaste emocional tão grande. Lendo a resenha vocês poderão entender um pouco do que estou falando. O Retrato de Dorian Gray é um livro completamente digno de 5 estrelas, mas é uma história que tem como personagens principais dois homens podres, cruéis. Que sentem prazer na maldade. É uma história que faz com que nos sintamos mal. Pelo menos, foi assim que me senti da primeira vez que li. E o sentimento permaneceu na releitura. 

Mas por que decidi reler? Porque, através do projeto de leitura coletiva da Mell do canal Literature-se, eu fiquei sabendo que a versão que li em 2018 é a autocensurada pelo próprio autor e contendo 7 capítulos a mais que a versão original. Isso acontece porque este livro do Oscar Wilde causou muitos problemas ao autor em sua época. O livro sofreu censura pelo próprio editor dele, pelo que entendi, e mesmo assim recebeu duras críticas. O autor, então, autocensurou o próprio texto e acrescentou mais sete capítulos. Todavia, de nada adiantou. O livro chegou a ser usado como prova contra o autor, que foi condenado a dois anos de prisão e trabalhos forçados por ter tido relações com rapazes, ou seja, por ser homossexual. Isso era considerado crime. E o livro foi usado como prova contra o autor! Sim! Inacreditável!

Este foi meu motivo para reler. Já que eu tinha lido a versão censurada e contendo 20 capítulos, quis ler a versão original, sem censura e com seus 13 capítulos. Confesso que não notei grandes diferenças. Cheguei a comparar em vários momentos as duas versões, mas as diferenças são mínimas, pelo que pude perceber. A maior diferença é que uma versão tem 20 capítulos e a outra tem 13. 

Como eu disse, meus sentimentos pela história permanecem os mesmos. Sigo detestando profundamente o Dorian. Sigo sentindo asco do Henry. Eles são ainda mais cruéis do que eu me lembrava!


Literatura Brasileira
Editora: Companhia das Letras
Edição de: 2009
Páginas: 280

48ª leitura de 2020 

Sinopse: Clássico absoluto dos livros sobre a infância abandonada, Capitães da Areia assombrou e encantou gerações de leitores e permanece hoje tão atual quanto na época em que foi escrito. A história crua, comovente, dos meninos que moram num trapiche abandonado e vivem de pequenos furtos e golpes causou impacto desde o lançamento, em 1937, quando a polícia do Estado Novo apreendeu e queimou inúmeros exemplares do livro. Longe de manifestar piedade por suas pequenas criaturas, Jorge Amado as retrata como seres dotados de energia, inteligência e vontade, ainda que cerceados pelas condições sociais hostis em que estão inseridos. Com sua prosa repleta de verve e humor, o escritor baiano nos torna íntimos de cada um desses personagens e nos contagia com sua obstinada gana de viver. 




Eu demorei a publicar este post (pretendia publicá-lo no dia 31 de agosto) porque passei todos estes dias sem decidir se iria ou não fazer a resenha de Capitães da Areia, um livro que bagunçou minhas emoções, me provocou uma angústia enorme e se tornou um dos meus preferidos da vida. 

Acontece que não consegui, simplesmente não consegui escrever a resenha. Não sou capaz de falar sobre este livro, de expressar sequer um terço de tudo o que sinto, de como ele se cravou profundamente em meu coração.

Como falar dessas crianças abandonadas, morando nas ruas e sobrevivendo de furtos para ter o que comer e o mínimo para vestir (muitas vezes vestindo farrapos)? Como expressar a dor que me consumiu ao conhecer a história de cada uma delas, sem poder fazer nada para salvá-las, para tirá-las daquelas condições antes que fosse tarde demais?!! Eu ficava "sufocada" durante a leitura, imaginando o terror que era viver daquela maneira, sendo desprezadas pela sociedade e pelo Estado que eram os verdadeiros culpados por elas estarem ali, naquelas condições miseráveis. Um Estado que "lavava as mãos" e empurrava aquelas crianças e adolescentes para um destino aparentemente sem volta. Uma sociedade hipócrita que queria torná-las invisíveis. Eu senti tanta raiva, tanta revolta! E muito desespero. 

"No reino do céu seriam iguais. Mas já tinham sido desiguais na terra, a balança pendia sempre para um lado."

A maneira como essa crianças eram tratadas me fazia desejar entrar no livro e espancar aqueles seres que não mereciam ser considerados humanos! Até mesmo quando tentavam vender algumas coisinhas ou fazer desenhos para conseguir algum dinheiro para comer, as crianças eram humilhadas e agredidas! Como não se revoltar?! Como não alimentar o ódio no coração se por todos os lados tentavam impedi-las de sobreviver?! 

Não desprezei nem julguei nenhuma daquelas crianças e adolescentes, pois eram o que o Estado as tornou, o que os privilegiados poderiam ter evitado, mas nada fizeram, pois pensavam apenas no próprio umbigo. E eu me pergunto: o que mudou? Hoje em dia temos o Estatuto da Criança e do Adolescente, a proteção integral da infância, algo que não existia quando Capitães da Areia foi escrito. Todavia, realmente mudou alguma coisa? Nenhuma criança está desamparada pelas ruas, tendo sua infância arrancada e um destino de sofrimento? Eu reconheço a importância enorme do ECA, ele representou um marco, um reconhecimento verdadeiro dos direitos humanos das crianças e adolescentes, mas muita coisa ainda precisa ser feita. Capitães da Areia segue sendo um livro muito atual. Existem muitas crianças desamparadas ainda nos dias atuais, existem muitas infâncias sendo perdidas, das mais diferentes formas. 

Este foi um livro lido para o Clube de Leitura - Clássicos da Literatura Nacional criado pela Kelly, do canal Aventuras na Leitura. Para saber como participar basta clicar AQUI. Agora em setembro leremos Vidas Secas, do Graciliano Ramos. 



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