31 de outubro de 2019

Contos de Terror, de Mistério e de Morte - Edgar Allan Poe

Literatura norte-americana
Título Original: Tales of mistery and terror
Tradutor: Oscar Mendes
Editora: Nova Fronteira
Edição de: 2017
Páginas: 240

Sinopse: Edgar Allan Poe é considerado um dos criadores do conto policial, além de ter contribuído para o desenvolvimento da ficção científica. Escritor, poeta e crítico literário, ficou especialmente conhecido por suas histórias macabras, tanto em prosa quanto em verso. Neste Contos de terror, de mistério e de morte estão reunidas algumas de suas melhores narrativas e, dialogando com elas, ao final do volume, o aclamado poema "O corvo", que se tornou emblemático da produção literária do autor norte-americano. Como resultado temos uma coletânea em que se associam medos reais a casos extraordinários, o espetacular e o surpreendente em concentradas doses do mais puro terror.





Quando comecei a ler este livro, em fevereiro, sabia que dificilmente conseguiria terminá-lo logo, vez que não me sinto confortável com o gênero terror. E, de fato, não terminei. Cheguei a ler dois outros contos em março, porém depois deixei o livro de lado e fui ler coisas mais leves.rsrs

Só agora em outubro retomei a leitura do livro, disposta a me desafiar neste mês do horror (por conta do Dia das Bruxas). Separei algumas histórias desconfortáveis que tenho aqui em casa e coloquei como metas do mês. Se lerei todas elas algum dia?! Só Deus sabe...rs

Antes de tudo, colocarei aqui os comentários que fiz sobre os três primeiros contos: 

Comecei por Berenice. Sei que em algum momento da minha vida eu assisti um filme inspirado numa obra do Edgar Allan Poe. Era um filme que tinha alguma coisa de corvo, mas não lembro bem da história. Enfim... Sabia que os contos dele eram assustadores, mas quando comecei a ler Berenice pensei que não tinha terror nenhum, era só conversa. E aí fui chegando perto do final e suspeitando de uma coisa. Mas pensei: "Não! Ele não faria isso!". Pois bem. O protagonista perturbado deste conto, obcecado pela prima Berenice, com a qual cresceu, fez exatamente o que eu temia que ele fizesse. E claro que a cena me deixou arrepiada dos pés à cabeça. Senti um frio dentro de mim. E fechei os olhos tentando me livrar da imagem daquela cena. O grande vilão deste conto é o próprio protagonista e é ele quem narra toda a história. Ele é um ser humano extremamente doentio. Alguém que eu jamais iria querer que cruzasse o meu caminho. 

28 de outubro de 2019

Ratos - Gordon Reece

Literatura Inglesa
Título Original: Mice
Tradutora: Carolina Caires Coelho
Editora: Intrínseca
Edição de: 2011
Páginas: 240

Sinopse: Shelley e a mãe foram maltratadas a vida inteira. Elas têm consciência disso, mas não sabem de que forma reagir — são como ratos, estão sempre entocadas e coagidas. Vítima de um longo período de bullying que culminou em um violento atentado, Shelley não frequenta mais a escola. Esteve perto da morte, e as cicatrizes em seu rosto a lembram disso. Ainda se refazendo do ataque e se recuperando do humilhante divórcio dos pais, ela e a mãe se refugiam em um chalé afastado da cidade. Confiantes de que o pesadelo acabou, elas enfim sentem-se confortáveis, entre livros, instrumentos musicais e canecas de chocolate quente junto à lareira. Na noite em que Shelley completa dezesseis anos, porém, um estranho interrompe a tranquilidade das duas, e um sentimento é despertado na menina. O que acontece em seguida instaura o caos em tudo o que pensam e sentem em relação a elas mesmas e ao mundo que sempre as castigou. Até mesmo os ratos têm um limite.



Lembro com clareza do momento em que desejei este livro pela primeira vez. Foi no início de maio de 2016. Eu estava passeando pelo site da Saraiva quando me interessei por alguns livros que estavam com uma baita promoção, um deles foi A Lista do Nunca, de Koethi Zan, que estava custando menos de dez reais na época (sim!!!!) e tinha uma sinopse de causar arrepios. Então, quando coloquei este livro no carrinho apareceu como sugestão Ratos, de Gordon Reece. A sinopse me deixou LOUCA! Eu queria muito esse livro, mas o preço não estava muito bom. Decidi que poderia aguardar uma promoção... aí quando resolvi comprá-lo apareceu como esgotado

Foi somente no ano passado que uma moça anunciou que estava vendendo alguns de seus livros no Facebook e eu o vi entre eles. Claro que não poderia deixar a oportunidade única passar e o adquiri por um preço que valeu a pena. Quis lê-lo imediatamente, mas as outras metas literárias me impediram. O que não foi tão ruim assim, pois acho que alguns livros acabam sendo lidos nos momentos certos...

"Não procurávamos um lar. Procurávamos um lugar onde pudéssemos nos esconder."

Shelley, uma adolescente de quinze anos, sabe o real significado da palavra sofrimento. Enquanto era obrigada a lidar com o pesadelo do divórcio dos seus pais e da briga dele por sua guarda, como forma de mostrar a sua mãe que podia vencê-la em tudo, ainda precisava esconder da mãe o terror que vivia todos os dias no colégio, vítima de agressões praticadas por aquelas que durante anos frequentaram sua casa, que foram suas "melhores amigas", com quem dividira segredos, com quem acreditara que sempre poderia contar. 

"Eu não imaginava o quanto os sentimentos delas por mim se tornaram nocivos. E não imaginava o perigo que corria."

No começo toda aquela violência a chocou muito mais do que feriu. Ela não conseguia entender o que fizera para despertar tanto ódio, como elas podiam fazer aquilo com ela. Mas com o tempo tudo foi piorando. Não se tratava mais de uma violência, de uma agressão verbal ou de vandalizarem seus objetos escolares. Não. Tudo se transformou em ataques diretos ao seu corpo. Não se contentavam mais em assustá-la, queriam machucá-la, fazê-la gritar de dor, fazê-la chorar. E então... o pior aconteceu e as cicatrizes em seu rosto e pescoço ainda contavam a história do dia em que Shelley quase morreu. 

Seu pai já tinha ido embora fazia algum tempo e nem se preocupara em ligar para saber se ela estava se recuperando. Tudo o que o interessava, desde que trocara dezoito anos de casado por uma qualquer, era agradar sua amante e lhe agradava muito ver Shelley fora de suas vidas. Ele já tinha arrancado delas todo o dinheiro que podia e até a casa na qual a filha crescera, tornando o que antes era seu lar em motivo de briga no divórcio. E no momento em que percebeu que não podia tirar a menina da mãe, mesmo com toda a sua experiência profissional (era um brilhante advogado), resolveu que castigaria a filha com sua ausência, fazendo de conta que ela estava morta. 

"Quando ele a abandonou, ela estava com quarenta e seis anos. Seu conhecimento jurídico estava completamente desatualizado - abandonado como uma fruta que apodrece no pé. Seu registro profissional não era renovado havia quatorze anos."

Ela sabia que seus pais haviam se conhecido na mesma firma de advocacia. Sua mãe era uma jovem profissional brilhante, com todo um futuro de sucesso pela frente. Mas o pai de Shelley surgiu em sua vida e em pouco tempo já estavam noivos. Embora fosse muitíssimo inteligente, Elizabeth não tinha forças para desagradar as pessoas. Não sabia dizer "não" e foi assim que, prestes a ser transformada em sócia na firma, ela se deixou convencer pelo marido a abandonar a profissão. A filha precisava dela em casa, ele disse. Podia sustentá-las. Ela não precisava trabalhar. Não passava de uma manobra para impedi-la de crescer profissionalmente, pois invejava o seu talento, invejava a sua inteligência. E conseguira sufocá-la, matar cada um dos seus sonhos. 

Ao ser abandonada pelo marido com não muito dinheiro após todos os anos de dedicação, Elizabeth não fez mais que se conformar. Ao longo do tempo se acostumara a aceitar tudo o que a vida tivesse a oferecer, sem nunca levantar a voz, sem se revoltar, sem dizer "já chega!". Assim, pegou a filha que se recuperava do bullying que quase a matou e foi em busca de uma nova casa onde pudessem morar... longe de todos. Bem longe da realidade cruel do mundo. Não queria enfrentar a vida. Não tinha forças para isso. Só queria fugir. Se esconder. 

"Docilmente, aceitamos, submetemo-nos, calamo-nos, não dissemos nada, não fizemos nada, porque a mansa submissão é tudo o que os ratos conhecem."

Quando a polícia não fez nada contra as agressoras e o colégio também se isentou de quaisquer responsabilidades, ela apenas abaixou a cabeça e aceitou tudo em silêncio, mesmo sendo uma advogada. Foi Shelley quem precisou sair do colégio, foi ela quem pagou pelos crimes das outras garotas, tendo que viver isolada de tudo e de todos, sendo visitada apenas por dois professores que deveriam prepará-la para os exames finais. Mas Shelley não se revoltava contra nada daquilo, contra toda aquela injustiça. Sabia que era um rato como sua mãe e ratos nunca enfrentam seus opressores... Ou será que sim? Será que até mesmo os ratos possuem um limite?!

"Quando um gato invade a toca de um rato, ele não vai embora sem fazer mal nenhum. Eu sabia como aquela história terminaria. Ele me estupraria. Ele estupraria minha mãe. E nos mataria."

Quando aquele homem invadiu sua casa, na madrugada de seu aniversário de dezesseis anos, Shelley soube que era o fim. Não adiantava fugirem da violência do mundo, pois até mesmo ali, naquele lugar tão afastado de todos, o mal conseguira atingi-las. Onde estava a justiça? Onde estava Deus?

"Percebi que não tremia de frio. Eu tremia de medo."

Embora não tenha superado minhas expectativas, este é sem sombra de dúvidas um thriller psicológico que vale muito a pena ler. Eu já tinha uma ideia do que aconteceria, pois a própria sinopse nos entrega muita coisa, mas o desenrolar dos acontecimentos é que torna a história tão fascinante. É impossível não sentirmos compaixão da Shelley e da mãe dela... ao mesmo tempo em que sentimos medo dessa personagem adolescente, dessa menina que após ser vítima de tantas violências se tornou capaz de qualquer coisa. Mas como culpá-la?! Como dizer que ela não tinha o direito de dizer: "Chega! Agora não vou mais aguentar tudo em silêncio. Eu vou me defender!" 

"Eu já não seria vítima de ninguém. Nunca mais."

Não diria que no lugar das protagonistas desta história eu teria agido diferente. Até porque era uma questão de defesa pessoal, de sobrevivência. Eu já estava cansada de vê-las permitindo que as pessoas as machucassem, que todo mundo se aproveitasse da vulnerabilidade delas. Entendo porque a Shelley as considerava "ratos". Elas estavam sempre ocupando a posição de vítimas, se escondendo em vez de enfrentar seus agressores, aceitando todas as injustiças, as perseguições, o abuso de patrões que pagavam o mínimo possível por um trabalho que a mãe da Shelley sabia que valia mais (ela recebia menos que as secretárias e fazia todo o trabalho de uma advogada). Então, quando elas finalmente agiram, quando resolveram se defender, pela primeira vez na vida, eu fiquei, de certa forma, feliz. Não foi uma felicidade completa, pois infelizmente os acontecimentos daquela madrugada marcariam suas vidas para sempre. E não de um modo bom, apesar de tudo. 

"A realidade era exatamente o oposto da ordem e da beleza; era o caos e o sofrimento, a crueldade e o horror."

Se você acha que pelo que falei já sabe tudo o que acontecerá no livro está muito enganado. A história tomará determinados rumos e quando você acreditar que nada mais poderá acontecer, que o autor só falará de "grandes nadas" até as páginas finais acabará se surpreendendo muito, pois antes do final o livro dará uma baita reviravolta! Eu definitivamente não esperava por nada daquilo. 

Elizabeth e Shelley são duas personagens que nos comovem. Embora queiramos sacudi-las por aceitarem tanta maldade também sentimos vontade de protegê-las durante boa parte do livro... mesmo após os acontecimentos da madrugada do aniversário da menina. Elas crescem bastante ao longo da história, aprendem a se impor, a não aceitar mais tudo caladas, mas ainda assim eu quis protegê-las, mesmo sentindo certo medo da Shelley.rs A verdade é que essa menina não passa de o resultado de tanta violência, de ter sido vítima de muitas crueldades. Não a culpo pelas escolhas dela e nem posso falar tudo o que gostaria para não dar spoilers importantes, mas apesar de compreender a personagem, penso que ela acaba se tornando um perigo para si mesma. 

"Acreditamos ter todo o controle, mas, na verdade, não temos nenhum."

Recomendo este livro para quem gosta de thrillers. Apesar de não ser tão pesado quanto A Lista do Nunca, por exemplo, possui algumas cenas fortes. 

16 de outubro de 2019

Preciso de um tempo...


Já faz nove anos que divido com vocês o meu amor pela literatura. Resenhas cheias de emoções, na maioria das vezes. Afinal de contas, o nome do blog não é Emoções à Flor da Pele à toa.rs

Este cantinho tão amado fez parte da minha vida em muitos momentos bons e ruins... Teve altos e baixos como numa montanha-russa bem louca. Esteve comigo no final do ensino médio, no curso de espanhol, no curso de enfermagem, na faculdade, na colação de grau, no início da vida profissional. Nos momentos de depressão. Nas crises de ansiedade. Nas situações de angústia e desespero. Nas lágrimas. Nos risos. Nas conquistas e nas perdas. Foram tantos anos, tantos momentos... tanta vida! 

Os livros são presentes de Deus na minha vida. Sempre me ajudaram nos momentos que mais necessitei. Conversar com vocês sobre os livros, sobre literatura... um privilégio enorme! Algo que sempre me fez muito bem. E continua fazendo. Quando sento para escrever uma resenha eu viajo! Claro que é cansativo, pois geralmente passo horas escrevendo, mas me dá uma sensação tão grande de paz, de alegria! Amo demais fazer resenhas dos livros que li e amei (e até dos que detestei.rsrs). É algo que espero fazer por muitos e muitos anos mais. 

Não saio de casa sem um livro. Não vou para lugar nenhum (nem mesmo para uma festa ou para a Igreja) sem um livro na bolsa (claro!). Já me disseram: "Isso é doença! Ler demais não é bom!", mas se amassem a literatura entenderiam como é confortador mergulhar numa história, sair da sua própria vida e entrar no mundo dos personagens... mesmo quando leio um livro mais forte e doloroso. Porque os livros nos confortam, nos ensinam, nos fazem companhia. Às vezes sinto até que me abraçam e conversam comigo (talvez eu seja realmente doida.rsrs). Minha estante fica ao lado da minha cama e acordar e olhar para os livros... não tem preço. É mágico. É um sonho. Muitas vezes durmo até mesmo com um livro do meu lado ou debaixo do travesseiro. Não preciso sequer abri-lo. Só tê-lo por perto já me basta para me sentir melhor. 

Todavia, hoje estou vivendo uma fase não tão boa. E percebo que não conseguirei dar ao blog toda a atenção que ele merece. Estou num período difícil. E para melhorar preciso de um tempo. De um tempo para mim, para minhas emoções. Preciso olhar para o meu interior. Repensar minha própria vida. Reorganizá-la. Preciso me afastar mesmo amando intensamente o meu cantinho querido e todos vocês que sempre me deram tanto carinho. 

Eu espero voltar em breve. Que o tempo que necessito não seja longo. Quem sabe na próxima semana já estarei aqui, com resenhas de livros queridos?!!! :D Espero de verdade voltar correndo! Porque já sinto saudades. 

Até breve, meus queridos!

Amo o Emoções à Flor da Pele! E amo vocês! :)

Continuarei lendo, embora não no ritmo que gostaria. Muitas das minhas leituras atrasaram, mas assim que tudo estiver bem outra vez recuperarei o ritmo normal e trarei um monte de resenhas apaixonadas!

Bjs!



11 de outubro de 2019

Escândalos na Primavera - Lisa Kleypas

Literatura norte-americana
Título Original: Scandal in spring
Tradutora: Maria Clara de Biase
Editora: Arqueiro
Edição de: 2017
Páginas: 224
Série As Quatro Estações do Amor - Livro 4

Sinopse: Daisy Bowman sempre preferiu um bom livro a qualquer baile. Talvez por isso já esteja na terceira temporada de eventos sociais em Londres sem encontrar um marido. Cansado da solteirice da filha, Thomas Bowman lhe dá um ultimato: se não conseguir arranjar logo um pretendente adequado, ela será forçada a se casar com Matthew Swift, seu braço direito na empresa.
Daisy está horrorizada com a possibilidade de viver para sempre com alguém tão sério e controlador, tão parecido com seu pai. Mas não admitirá a derrota. Com a ajuda de suas amigas, está decidida a se casar com qualquer um, menos o Sr. Swift.
Ela só não contava com o charme inesperado de Matthew nem com a ardente atração que nasce entre os dois. Será que o homem ganancioso de quem se lembrava era apenas fachada e ele na verdade é tão romântico quanto os heróis dos livros que ela lê? Ou, como sua irmã Lillian suspeita, o Sr. Swift é apenas um interesseiro com algum segredo escandaloso muito bem guardado?
Fechando com chave de ouro a série As Quatro Estações do Amor, Escândalos na primavera é um presente para os leitores de Lisa Kleypas, que podem ter certeza de uma coisa: embora as estações do ano sempre terminem, a amizade desse quarteto de amigas é eterna.



Estou muito feliz por ter me deliciado com este livro, mas ao mesmo tempo estou triste por ele ter recebido 4 estrelas. Será que estou ainda mais exigente do que já me considerava?rs É que todos os três livros anteriores da série, sem exceção, receberam 5 estrelas e os favoritei, mas com Escândalos na Primavera foi diferente. :(

Eu amei o livro! Mesmo! Me acabei de rir com algumas cenas, me emocionei muito com o final (e até chorei), mas ainda assim não o considerei digno de 5 estrelas. Quatro estrelas são ótimas, mas... entendem que me sinto culpada por ter amado o livro, porém pensado que faltou "algo mais" para receber as cinco estrelas? Enfim... Sou doida. 

"Irritava Bowman ver a filha segurando um livro no colo com um dedo marcando a página. Obviamente ela mal podia esperar que ele terminasse de falar para que pudesse retomar a leitura."

Daisy já me provocava um carinho enorme nos livros anteriores, pois era a louca por livros, a amiga confiável que fazia a Evie não gaguejar tanto, porque se sentia segura perto dela. Daisy era calmaria e sonhos, romântica como nenhuma de suas amigas jamais seria. Ela merecia viver seu próprio conto de fadas. 

8 de outubro de 2019

Caim - José Saramago

Literatura Portuguesa
Editora: Companhia das Letras
Edição de: 2009
Páginas: 172

Sinopse: Se, em O Evangelho segundo Jesus Cristo, José Saramago nos deu sua visão do Novo Testamento, neste Caim ele se volta aos primeiros livros da Bíblia, do Éden ao dilúvio, imprimindo ao Antigo Testamento a música e o humor refinado que marcam sua obra. Num itinerário heterodoxo, Saramago percorre cidades decadentes e estábulos, palácios de tiranos e campos de batalha, conforme o leitor acompanha uma guerra secular, e de certo modo involuntária, entre criador e criatura. 
Para atravessar esse caminho árido, um deus às turras com a própria administração colocará Caim, assassino do irmão Abel e primogênito de Adão e Eva, num altivo jegue, e caberá à dupla encontrar o rumo entre as armadilhas do tempo que insistem em atraí-los. A Caim, que leva a marca do senhor na testa e portanto está protegido das iniquidades do homem, resta aceitar o destino amargo e compactuar com o criador, a quem não reserva o melhor dos julgamentos. Tal como o diabo de O Evangelho, o deus que o leitor encontra aqui não é o habitual dos sermões: ao reinventar o Antigo Testamento, Saramago recria também seus principais protagonistas, dando a eles uma roupagem ao mesmo tempo complexa e irônica, cujo tom de farsa da narrativa só faz por acentuar.




Esta é a primeira vez que me desafio a ler Saramago, um autor muitíssimo querido por milhares de leitores, mas também desprezado por outros.rs Afinal de contas, não é possível agradar todo mundo.

Eu acreditei, sinceramente, que teria sérios problemas com o autor. Tanto por ele tocar em temas bíblicos utilizando de muito sarcasmo quanto por sua escrita peculiar (sem travessão, com vírgula no lugar de ponto final, com perguntas sem ponto de interrogação, com nomes próprios com letra minúscula, com trechos que se confundem com fluxo de consciência, e por aí vai...), mas a verdade é que foi bem tranquilo ler Caim.

"A história dos homens é a história dos seus desentendimentos com deus, nem ele nos entende a nós, nem nós o entendemos a ele."

Este é um livro que precisei ler com a Bíblia do lado. Sério! Como o autor resolveu dar um passeio pelo Antigo Testamento (conjunto de livros bíblicos com os quais SEMPRE tive sérios problemas, mesmo sendo cristã desde a infância), fazendo uma releitura de vários acontecimentos, eu precisei da Bíblia para comparar. Já li os livros que o autor mencionou implícita e explicitamente, mas não tenho uma memória perfeita, capaz de lembrar de tudo o que li. Por isso, foi necessário pegar minha Bíblia para ver até que ponto as falas e cenas eram "reais", ou seja, estavam realmente nos livros sagrados.

"Ao contrário do que costuma dizer-se, o futuro já está escrito, o que nós não sabemos é ler-lhe a página"

Antes de iniciar a leitura, eu pensava que a história se concentraria apenas no livro de Gênesis, que é quando ocorre o primeiro homicídio registrado na Bíblia: o assassinato de Abel, pelas mãos de seu próprio irmão, Caim. Mas as coisas não são bem assim. O autor passa por outros livros da Bíblia, como Êxodo, Josué, Jó e por aí vai. Nós fazemos uma viagem por vários momentos terríveis, de grande violência e destruição. E fazemos essa viagem dolorosa ao lado de Caim, quem nutre, ao longo de todo o livro, um ódio profundo por Deus.

4 de outubro de 2019

O Sal das Lágrimas - Ruta Sepetys

Literatura norte-americana
Título Original: Salt to the sea
Tradutora: Vera Ribeiro
Editora: Arqueiro
Edição de: 2019
Páginas: 320
Ficção histórica/Romance histórico

Sinopse: Inverno de 1945, Segunda Guerra Mundial. Quatro refugiados, quatro histórias. Joana, Emilia, Florian, Alfred. Cada um de um país diferente. Cada um caçado e assombrado pela tragédia, pelas mentiras e pela guerra. Enquanto milhares fogem do avanço do exército soviético na costa da Prússia, os caminhos desses quatro jovens se cruzam pouco antes de embarcarem em um navio que promete segurança e liberdade. Mas nem sempre as promessas podem ser cumpridas... Profundamente comovente, O sal das lágrimas se baseia em um acontecimento real. O navio alemão Wilhelm Gustloff foi afundado pelos russos no início de 1945, tirando a vida de mais de 9 mil refugiados civis, entre eles milhares de crianças. É o pior desastre marítimo da história, com seis vezes mais mortos que o Titanic. Ruta Sepetys, a premiada autora de Cinzas na neve (publicado anteriormente como A vida em tons de cinza), reconta brilhantemente essa passagem por meio de personagens complexos e inesquecíveis.



Estou aqui tentando recuperar o controle, tentando falar deste livro extremamente marcante sem desmoronar, sem cair em prantos outra vez. Mas toda vez que lembro de tudo o que li em O sal das lágrimas, o nó na garganta volta e as lágrimas também. Esta história me marcou demais. Se cravou no meu coração e ao mesmo tempo arrancou um pedaço dele. Nunca poderei esquecê-la.

Em 30 de janeiro de 1945, o navio alemão Wilhelm Gustloff tentava levar em segurança, para longe das tropas e fúria soviéticas, milhares de refugiados civis, entre eles, estima-se que haviam cerca de 5 mil crianças. Na noite do mesmo dia, três torpedos, lançados de um submarino soviético, atingiram o navio. Em menos de duas horas, mais de 9 mil pessoas perderam suas vidas. O navio tinha capacidade para transportar cerca de 1.800 pessoas, mas estava levando mais de dez mil. É considerado o pior desastre marítimo da História. Muito pior que o do Titanic. Todavia, até ler este livro eu NUNCA sequer tinha ouvido falar sobre ele. Nem mesmo nos livros acadêmicos que li sobre a Segunda Guerra Mundial.

Não dá para colocar em palavras o quanto este livro me abalou. Como me apeguei aos personagens que a autora criou para contar esta história baseada em acontecimentos reais. Como os amei mesmo sabendo que poderiam não chegar vivos ao final da história, que poderiam fazer parte das mais de 9 mil pessoas que afundaram junto com o navio.
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