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10 de fevereiro de 2018

Morte Invisível - Lene Kaaberbol e Agnete Friis

(Título Original: Et stille umaerkeligt drab
Titulo americano: Invisible Murder
Traduzido do inglês por: Marcelo Mendes
Editora: Arqueiro
Edição de: 2015)


Série Nina Borg - Livro 2


Em meio às ruínas de um hospital militar soviético no norte da Hungria, Pitkin e Tamás procuram antigos suprimentos e armas que possam vender no mercado negro, até que acabam encontrando algo mais valioso do que poderiam imaginar.

Ali está a esperança dos meninos ciganos de deixar a pobreza, de quitar as dívidas da família, quem sabe de se livrar um pouco do preconceito que sofre o seu povo. Porém, suas boas intenções podem provocar a morte de um número alarmante de pessoas.

Na Dinamarca, a enfermeira Nina Borg também se preocupa com o bem-estar dos desfavorecidos, e por isso colocará sua vida em risco mais uma vez. Chamada às pressas para cuidar de um grupo de ciganos húngaros, ela descobre uma doença misteriosa que se espalha de forma implacável. Ao investigar o caso, percebe que há algo de podre em toda aquela história, um segredo perigoso, guardado a sete chaves pelos imigrantes, que pode envolver terrorismo e fanatismo.

Nesta continuação de O menino da mala, Nina acabará colocando sua família na mira de criminosos e se verá diante de uma crise sem precedentes que mobilizará o país.



Palavras de uma leitora...



Ele só queria mudar de vida...

Ao invadir o que restou de um antigo hospital soviético, Tamás não sabia o que encontraria. Tinha esperança de achar algum objeto de valor, que pudesse vender e assim ter algum dinheiro para levar pra sua família. Tinha apenas 16 anos e embora pudesse ser considerado imaturo para a idade, conhecia muito bem a vida e suas injustiças. Sabia o que era não ter o que comer, passar anos num orfanato, separado de seus irmãos, pelo simples fato de sua mãe ter adoecido. Embora possuísse outros parentes que lutaram para não permitir que os levassem, o governo não quis saber. O sistema odiava os ciganos e aproveitaria qualquer oportunidade para tirar as crianças dessas famílias. 

Desta forma, ele cresceu rodeado pelo preconceito, os olhares de desprezo, a miséria tão arraigada nos ciganos que viviam naquele país. Encontrava nas traquinagens uma forma de fuga, de esquecer por alguns momentos aquela realidade, ao mesmo tempo que entrar naquele hospital o fazia ter esperanças de conseguir dinheiro. Assim, foi um choque e uma alegria enormes descobrir, numa parte isolada do hospital arruinado, algo capaz não só de fazê-lo conseguir alguns trocados, mas de tirar sua família de uma vez por todas daquela miséria. Com a fortuna trazida pela venda daquela coisa, eles nunca mais seriam marginalizados, tudo seria diferente. Os sonhos iam se atropelando em sua cabeça enquanto ele se aproximava de sua fonte de esperança, até agarrá-la e levá-la consigo. Sem saber... Sem ter a menor ideia da destruição que poderia provocar...


Ele só queria esquecer o passado...

Um brilhante estudante de Direito, Sandor preferia passar seus dias trancado no quarto estudando do que saindo com seus colegas de faculdade. Sabia o que era crescer na pobreza, sofrer privações e humilhações por ser metade cigano. Não importava para os outros que seu pai fosse húngaro, eles só enxergavam seus cabelos negros e seus traços mestiços. Fora levado pelo pai, afastado daquela realidade, mudara de nome, mas nada bastou. Ainda recebia olhares de desconfiança nas ruas, não podia sequer entrar num táxi sem que o motorista o visse como um criminoso. Era uma situação insuportável, mas ele encontrava consolo no Direito, no desejo de mudar alguma coisa, de defender as pessoas. Porém, todo o seu futuro vai por água abaixo quando seu irmão aparece em seu caminho, trazendo de volta o passado e a certeza de que não adiantava lutar, que não havia uma saída. 


Ela só queria ajudar as pessoas...

Depois de todos os riscos que correu ao salvar um menino trancado dentro de uma mala, Nina sabia que deveria se afastar do seu trabalho clandestino, que não podia mais ajudar imigrantes ilegais. Deveria seguir em frente como enfermeira na clínica em que trabalhava e deixar para trás a Rede. Não podia arriscar seu casamento e seus filhos. Todavia, a humanidade que a fez entrar naquele esquema perigoso a fazia sempre atender o celular e ir correndo quando seus serviços se faziam necessários. Não podia sair. Porque eram poucos aqueles dispostos a socorrê-los, a ajudar aquelas pessoas que fugiam de seus países na esperança de encontrar uma chance. Que estavam assustadas e não podiam buscar atendimento num hospital. Elas precisavam de Nina e enquanto houvesse alguém que necessitasse de sua ajuda, ela continuaria. Por mais que estivesse colocando em risco tudo o que possuía, incluindo seu marido e filhos. 

Porém, daquela vez foi diferente. Ao receber a ligação de seu contato na Rede, Nina hesitou. Por mais que seu coração dissesse que ela deveria ir, um instinto mais forte a fazia perceber o perigo mais palpável do que em qualquer momento anterior. O mais sensato seria recusar, ir para o acampamento com seu filho pequeno e esquecer toda aquela história. Mas existiam crianças doentes e jamais se perdoaria se elas morressem porque ela se negou a ajudar. 

Ao chegar na oficina em que um grupo de ciganos se escondiam, vindos da Hungria para a Dinamarca, ela foi recebida com hostilidade e desconfiança. Já tivera problemas com pacientes ciganos no passado e não simpatizava muito com eles. Não eram capazes de receber socorro com gratidão, vendo sempre nos outros uma ameaça. Mesmo assim, pensando nas crianças, ela entrou. 

O quadro não parecia tão mal como seu chefe a fizera pensar. As crianças estavam doentes, isso era um fato, e existia um bebê que estava pior do que os demais, mas nada que pudesse ser considerado sério. Provavelmente elas tinham contraído uma virose estomacal que passaria sozinha após alguns dias. Necessitavam de hidratação e alimentos. Logo estariam bem. 

Todavia, os dias se passam e mais pessoas adoecem. O bebê não apresenta melhoras e o vômito começa a conter sangue. Que doença seria aquela? O que estaria acontecendo ali? Tudo se agrava quando a mãe do menino, também doente, lhe mostra o vômito que era puro sangue de alguém que não estava mais ali. Olhando para aquele líquido escuro, Nina poderia imaginar o que teria acontecido com aquela pessoa. Se ainda estivesse viva não seria por muito tempo. 

Após o contato direto com aqueles ciganos, sintomas semelhantes começam a aparecer em Nina. Ao perceber que provavelmente contraíra a mesma doença que eles, Nina toma a decisão de levar as crianças para um hospital, não importando o fato de serem ilegais no país. Algo sério estava se passando e já não era possível esperar. Mas ao tentar convencê-los da gravidade da situação, é ameaçada pelos ciganos e obrigada a fugir às pressas do local. 

Quando um corpo em péssimo estado é encontrado dentro de um tanque, o que era só um caso de imigrantes com uma doença misteriosa e contagiosa, se transforma em caso de Estado. O que quer que estivesse acontecendo colocava em risco a segurança nacional e a vida de milhares de pessoas. 

Doente, sendo interrogada por policiais e perseguida por criminosos, Nina necessitará de toda sua força de vontade para sobreviver e salvar sua família. 

"Se no mundo ainda houvesse quem se oferecesse para salvá-lo, ótimo. O mundo andava mesmo precisando de salvação."

- Após ler O menino da mala, eu fiquei com vontade de ler a continuação da série, embora o título me deixasse com um pé atrás.rsrs Morte Invisível somado à capa que contém objetos cirúrgicos e sangue não era lá muito animador. Por isso, evitei a história, pois temia o que pudesse encontrar. Mas a verdade é que o livro é bem diferente do que eu pensava. 

Eu simpatizei muito com a Nina quando a conheci no livro anterior. Me angustiava a maneira como a família dela a rejeitava só por ela ajudar outras pessoas. Reconheço que ela se arriscava, que não era um trabalho fácil, mas ela estava sendo humana. Socorrendo pessoas que necessitavam muito de ajuda e não tinham com quem contar. Como ela poderia simplesmente olhar para o ouro lado, fingir que não via? Quando seus conhecimentos de enfermagem poderiam salvar aquelas vidas!

No fim do primeiro livro, as coisas não estão muito boas entre a Nina e o marido. Sabemos que só seria necessário um pretexto para o casamento desmoronar de uma vez por todas. Nossa protagonista também era consciente disso e ela realmente tenta se afastar da Rede, dedicar-se unicamente ao trabalho na clínica e à sua família. Mas tudo foge ao seu controle e, neste segundo livro, ela acaba envolvida em algo maior, muito mais sério e letal. E se o casamento estava em crise na história anterior dá para vocês terem uma ideia do que se passou nesta história. :(

- Não há muito que eu possa falar sobre o livro sem acabar revelando demais. As autoras nos trazem a realidade de minorias marginalizadas, abusadas de diversas formas, humilhadas por não serem de uma etnia "aceitável". Elas nos fazem encarar a situação desesperadora de ciganos húngaros, a enorme pobreza e desesperança, as escolhas ruins que se veem obrigados a fazer para tentar uma mudança. Também nos trazem de volta o abuso sexual que uma personagem suportava na primeira história só para não ser deportada. Nos mostram o desfecho da vida dessa personagem e nos fazem encarar que muitas vezes o sistema judiciário é parcial, funcionando para quem bem entende. 

Elas também falam de tráfico de pessoas e exploração sexual neste livro, mas o enredo gira em torno dos ciganos, da doença misteriosa, terrorismo e fanatismo religioso. E o final da história não é imprevisível. O livro contém suspense, claro, mas é muito fácil perceber a ligação entre os personagens e quando descobrimos do que se tratava a tal doença tudo se resolve perfeitamente em nossa mente. Muito antes das autoras revelarem nós já sabemos quem estava por trás de tudo aquilo e qual era o motivo. 

- Dei 4 estrelas ao livro no Skoob, mas a verdade é que tive muitas dúvidas. Não conseguia decidir se a história merecia 4 ou 3 estrelas.rsrs Não é de modo algum ruim. Admiro as autoras por terem tocado em temas que muitos escritores evitam. Elas costumam escrever sobre situações que se passam no país delas, na Dinamarca. Trazem para a ficção a realidade. Todavia, tive que tentar sair das primeiras páginas do livro umas três vezes antes de finalmente conseguir. O livro não te prende no início, ele demora muito para envolver. Além disso, não gostei muito da falta de profundidade que foi dada a certos personagens. Eles ficaram "rasos", tinham participação importante, mas foram pouco desenvolvidos. E isso acabou prejudicando o livro, na minha opinião. 

Isso não significa que pararei de ler a série. Sigo gostando muito da escrita dessas autoras e a protagonista Nina me encanta! Quero saber como se resolverão as coisas na vida dela nos próximos livros. 


Livro anterior:

O Menino da Mala

18 de novembro de 2016

O Menino da Mala - Lene Kaaberbol e Agnete Friis

(Título Original: Drengen I Kufferten
Tradutor: Marcelo Mendes
Editora: Arqueiro
Edição de: 2013)

Série Nina Borg - Livro 1


“Você adora salvar as pessoas, não é? Bem, aqui está a sua chance.” 

Mesmo sem entender o que sua amiga Karin quer dizer com isso, Nina atende seu pedido e vai até a estação ferroviária de Copenhague buscar uma mala no guarda-volumes. Dentro, encontra um menino de 3 anos nu e dopado, mas vivo. 

Chocada, Nina mal tem tempo de pensar no que fazer, pois um brutamontes furioso aparece atrás do garoto. Será que ela está diante de um caso de tráfico de crianças? Sem saber se deve confiar na polícia, ela foge com o menino e vai à procura de Karin, a única que pode esclarecer aquele absurdo.

Quando descobre que a amiga foi brutalmente assassinada, Nina se dá conta de que sua vida está ameaçada e que o garoto também precisa ser salvo. Mas, para isso, é necessário descobrir quem ele é, de onde veio e por que está sendo caçado.

Neste primeiro livro da série da enfermeira Nina Borg, vendido para 27 países, as autoras Lene Kaaberbøl e Agnete Friis apresentam uma heroína que luta contra seus demônios e busca fazer justiça em meio à crueldade e à indiferença do mundo.




Palavras de uma leitora...



"Do lado de fora, tudo continuava como antes. Do lado de dentro, o mundo havia se acabado."


Ainda que tivesse fugido, ela sentia que seu passado um dia bateria à porta, cobrando uma dívida que ela sabia que jamais conseguiria pagar... 

Construíra um mundo ao redor do seu pequeno Mikas,o filho de três anos que lhe dava motivos para levantar todos os dias e procurar ser tudo aquilo que ele necessitava, mas aquele vazio amargo não a abandonou e nem o passar dos anos puderam tornar a dor mais suportável. Agora, vivendo o pior pesadelo de sua vida, ela não podia deixar de se perguntar se finalmente não estava pagando por seu pecado. Um preço alto demais

"Sentia-se à beira de um abismo, mas não esperava de modo algum que Deus viesse em seu socorro. Pelo contrário. Não acreditava mais em nada daquilo."

Tudo o que ela lembrava era que estava no parquinho com o filho quando uma moça se aproximou e lhe entregou um chocolate. Sabia que havia se levantado e ido para perto de seu bebê, pedindo à mulher que não voltasse a dar doces a ele e então voltara para o mesmo lugar em que estava, com o filho a poucos metros brincando, enquanto ela bebia seu café. E então... a escuridão. 

Quando acordou, estava num hospital, confusa e ferida, com enfermeiras hostis lhe dando ordens e lançando olhares de desprezo, como se ela tivesse cometido algum crime. Só tempos depois lhe contaram que ela tinha sofrido uma queda provocada pelo grande teor de álcool em sua corrente sanguínea. Chocada com o que ouvia, Sigita tentou se defender, mas tudo foi ofuscado pelo pavor que a sufocou ao perceber que Mikas não estava ao seu lado. Que ninguém sabia onde ele estava. 

"Meu coração não está pesado, pensou Sigita. Está no fundo do mar, perdido na escuridão."

- Com a polícia duvidando dela, o marido em outro país agindo como se tudo fosse mais importante que seu filho e a sensação de culpa que insistia em invadir seu coração, ela sabia que estava por conta própria e que precisaria correr contra o tempo e o que quer que fosse para trazer seu filho de volta. Com vida. Seu pecado poderia ser grande, mas não permitiria que seu filho pagasse o preço por ele. Quem quer que tivesse levado seu bebê, teria que devolvê-lo. Não poderia imaginar outra possibilidade. Não poderia viver se não conseguisse recuperar seu filho. 

Com seu mundo indo abaixo e várias perguntas sem respostas, ela ainda está longe de saber tudo o que se esconde por trás do sequestro do filho...


"Como era possível que eles tivessem chegado àquele ponto?"


Tudo que ele mais desejava era dar um lar seguro e feliz à sua esposa...

Fazia mais de dez anos que estavam juntos. Ainda era capaz de lembrar com clareza o dia em que a conheceu e como ela se tornou todo o seu mundo, a realização de um sonho. Faria qualquer coisa para que ela não conhecesse a dor ou a tristeza, para protegê-la de tudo de ruim que existisse fora das paredes da linda casa que partilhavam. Porque quando se ama... qualquer princípio perde importância. E só queremos cuidar de quem amamos... acima de tudo.

Fez a ligação necessária. E pegou o passaporte que o levaria ao seu destino. Naquele momento... não poderia imaginar que algo poderia dar errado. E ameaçar o mundo de conto de fadas que construíra. Não só ameaçar... como destruir por completo. 

Só muito depois perceberia quão frágil sempre foi sua felicidade e como certas escolhas podem afetar diversas vidas. Seria capaz de consertar o estrago? Ou... seria tarde demais?


"Foi preciso que o menino entreabrisse os lábios para que ela se desse conta de que ele ainda estava vivo."

- Ela havia chegado à conclusão que nada mais seria capaz de surpreendê-la. Eram anos de experiência, lidando com refugiados e outras vítimas da violência espalhada pelo mundo. Antes mesmo de se tornar enfermeira, já não possuía nenhuma ilusão em relação às pessoas. Sabia do que o ser humano era capaz. Como vidas podiam ser brutalmente destruídas pela maldade de alguém. E, enquanto muitos preferiam viver a própria vida e ignorar todo o terror que tantas e tantas vítimas viviam diariamente, Nina sabia que jamais encontraria a paz se simplesmente virasse as costas. Não conseguia. A indiferença não fazia parte do seu sangue. 

Ela tinha uma família. Dois filhos que amava mais que tudo na vida, um marido carinhoso que estava sempre ali quando ela mais precisava e um trabalho estável e que, embora não pudesse torná-la rica, permitia que tivessem uma vida confortável e agradável. Mas aquilo nunca lhe bastou. Por isso, agora seu casamento estava em crise e seus filhos mal a viam em casa. Porque ela não podia ser feliz sabendo que do lado de fora existiam pessoas suplicando por ajuda. Uma ajuda que muitas vezes não chegava...

"Então se deu conta de que naquele momento só havia uma coisa a fazer: tirar aquele garoto dali o quanto antes."

Porém, toda a crueldade que ela já presenciara não foi suficiente para prepará-la para aquilo... Quando Karin, a amiga com a qual não tinha nenhum contato há um longo tempo, ligou desesperada, pedindo para que ela buscasse algo no guarda-volume de uma estação ferroviária, Nina soube que ela só podia estar metida em alguma encrenca. Ainda assim, guiada por aquela necessidade de socorrer as pessoas, fizera o que a amiga pediu, encontrando dentro de uma mala comum o corpo desnudo de um bebezinho de aparentemente três ou quatro anos. No início, ele parecia não respirar, mas logo ela percebeu que ele estava vivo, embora inconsciente por causa dos efeitos de alguma droga que utilizaram nele. Chocada e furiosa, sua primeira reação foi chamar a polícia. Mas um instinto mais forte lhe disse que não poderia confiar em ninguém... não enquanto não soubesse o que estava acontecendo. 

E então... um homem cruza seu caminho, não deixando dúvidas de que mataria para ter de volta o que era seu...

Quem seria aquela criança? Possuiria uma família em algum lugar? Seria vítima de tráfico de crianças? Mesmo enquanto formulava todas aquelas perguntas, Nina já sabia que algo bem mais profundo se escondia por trás daquele menino na mala e o desaparecimento e posterior assassinato de sua amiga. Sabia também que sua própria vida estava em perigo. Mas nada no mundo a faria abandonar aquele bebê. No momento, ela era tudo o que ele tinha de seguro...


"Mas a gente não vê muitos finais felizes por aí, né?, perguntava seu lado cético. As coisas raramente terminam do jeito que queremos."


- Fazia mais de dois anos que este livro estava na estante, aguardando eu criar coragem para lê-lo.rs Ele foi presente de aniversário que ganhei da minha tia, que sabe bem como amo ler e sou atraída pelos livros de suspense. Fiquei muito feliz ao tê-lo em minhas mãos e a sinopse me deixou desesperada para lê-lo. Só que o medo foi tão intenso quanto o desejo de lê-lo.kkkkkk... Eu sabia que não era uma história fácil. Ainda mais envolvendo crianças. E não me sentia preparada para encarar um livro assim. Só que na quarta-feira... simplesmente peguei o livro, dizendo para mim mesma que estava na hora de parar de fugir. E quando li as primeiras páginas... o mundo, por várias horas, se resumiu às páginas desta história, ao mundo criado por estas autoras. 

- Já li tantos livros nesta vida... Muitos romances apaixonantes e inesquecíveis, mas também encontrei no meu caminho histórias brutais, amargas e que arrancaram muitas partes do meu coração. Que deixaram uma sensação de impotência e me arremessaram à vida real, me provocando angústias, lágrimas e uma vontade de gritar e derrubar coisas. Identidade Roubada, No Escuro, Restos Humanos, Se Houver Amanhã, Não Conte à Ninguém e tantas outras histórias que não pintam um mundo colorido... que simplesmente mostram a vida real como ela é, que nos fazem encarar coisas que não queremos ver. Quantas vezes já fingimos não ver... não escutar? Quantas vezes olhamos para o outro lado, desejando apenas viver nossa própria vida e ignorar o que quer de ruim que se esconda por trás de uma porta trancada ou num olhar suplicando por socorro. Somos humanos. Falhamos. Mas ao ver uma notícia cruel na televisão e perceber que existiam pessoas que poderiam ter evitado aquela tragédia e simplesmente viraram para o outro lado e fingiram não ver, não deixo de me perguntar se essas pessoas pelo menos se colocaram no lugar dessas vítimas as quais não socorreram. Se por um momento se colocaram na pele delas, imaginando o que era estar sofrendo enquanto esperavam, ansiavam por uma ajuda que alguém poderia dar e preferiu não fazê-lo. 

- Eram coisas que passavam pela cabeça de Nina. Que a impediam de viver uma vida normal. Não conseguia não se envolver. Enquanto o mundo virava as costas, ela se importava e as pessoas não eram capazes de entender isso. Nem seu marido e muito menos seus filhos, que sentiam a ausência da mãe e nunca sabiam quanto tempo ela passaria fora, socorrendo vítimas de estupro, agressão, bombas ou qualquer outro inferno. Naquele momento, ela fazia parte de um grupo que prestava auxílio aos imigrantes ilegais, que se encontravam num estado de extrema vulnerabilidade, fugindo de uma vida terrível e caindo num país que nem sempre era um refúgio. Mas aquela pequena criança não era um desses casos. Ela não fazia nenhuma ideia de que caso seria... Mesmo assim, ela não o largou onde o achou ou o entregou a alguma autoridade quando todos os seus instintos lhe gritavam para não largar o menino. Cada momento envolvida na história daquela criança destruía mais seu casamento, aumentava a distância entre ela e os próprios filhos, ameaçava sua carreira, liberdade e até mesmo sua própria vida. Mas abandoná-lo estava totalmente fora de questão. Como não admirar alguém assim? Como não amar esta protagonista? :)

- Nina é exatamente o tipo de pessoa que faz tanta falta neste mundo. Alguém com uma força e coragem impressionantes, com qualidades e defeitos como qualquer ser humano, mas que tem consciência dos vários tipos de crueldades presentes no mundo e que tenta fazer sua parte. Ela se envolve de corpo e alma naquilo que acredita, mesmo que isso dificulte tanto sua própria vida e seu relacionamento com a família. E como qualquer outra pessoa, ela também possui seus próprios fantasmas. 

- Este é um livro que mexe com a gente. O suspense nos faz virar cada página temendo o que ainda vai vir e as histórias dos personagens nos fazem refletir e nos questionar sobre o que faríamos se estivéssemos no lugar deles. Eu senti verdadeiro ódio por alguns, compaixão e carinho por outros e uma dolorosa sensação de pena por aqueles outros que tiveram suas vidas destruídas por escolhas equivocadas não só deles, mas também de pessoas que provocaram uma reação em cadeia, derrubando não só a elas mesmas, mas levando com elas aqueles que nada tinham a ver com suas vidas. 

- A história não é imprevisível. Na verdade, antes mesmo da metade conseguimos ter uma grande ideia do que motivou o desaparecimento de um menino, o surgimento de uma criança numa mala numa determinada estação ferroviária, a morte da amiga da Nina e o fato de um assassino frio estar atrás dela e da criança. É fácil juntar as peças e montar o quebra-cabeça. Mas isso não prejudica em nada a leitura. Pelo contrário, quando percebemos o que está se passando, o choque nos faz duvidar daquela explicação ao mesmo tempo que levanta perguntas que poderiam ter diversas respostas diferentes e nenhuma delas seria justa. Mas desde quando a vida é justa, não é?

- Como fã de Lei e Ordem - Unidade de Vítimas Especiais, eu já vi diversas realidades diferentes. A série já está em sua 18ª temporada e eu já vi todos os episódios de todas as temporadas anteriores e estou acompanhando a temporada atual. Nada me surpreende. As pessoas são simplesmente capazes de fazer qualquer coisa. Até mesmo a mais aparentemente boa pode cometer um enorme pecado, um crime em nome do ódio... ou do amor. 

"O homem a fitara com um olhar já distante e opaco. Como se alguém tivesse fechado uma cortina sobre as pupilas. Nina conhecia aquele olhar. Claro que conhecia. Enfermeiras viam pessoas morrendo a toda hora.
 Mas ali era diferente."

- Apesar de ser uma história forte, de várias vidas afetadas e conectadas por escolhas e erros... de vidas destruídas pelos mesmos motivos, a história não é tão pesada quanto poderia ser. E isso é um alívio.rs Comparada com Não Conte a Ninguém, Confie em Mim ou A Lista do Nunca, é bem leve.kkkk Mesmo assim nos causa um impacto e tanto, marcando, nos impedindo de esquecê-la. 

- Nem precisei pensar antes de dar 5 estrelas ao livro e passagem direta para os favoritos! No entanto, não me atrevo a recomendá-lo. Histórias assim... prefiro que vocês simplesmente escolham ler. Não é um livro fácil. Não é mesmo. 

- Eu já tenho o 2º livro da série, que contará histórias diferentes das do primeiro livro, mas envolvendo a enfermeira Nina, que é a protagonista da série. Desejo com todo o meu coração que ela tenha conseguido manter seu casamento. Que a família dela aprenda a entendê-la e apoiá-la ao invés de condená-la por simplesmente se importar. 
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