18 de novembro de 2018

Perto do Coração Selvagem - Clarice Lispector


"Perto do Coração Selvagem", romance de estreia de Clarice Lispector, assombrou leitores e críticos logo após sua publicação, em 1943. Tendo uma voz narrativa que ora incorpora o mundo interior da protagonista Joana, ora a contempla de fora, o livro alterna dois tempos: a infância, na qual a personagem interroga seres e coisas, e um presente intemporal como a eternidade, em que as vicissitudes de um casamento que jamais representou uma ilusão resumem os outros pequenos desastres que reconduzem a personagem a sua inadequação primordial. Com uma escrita tateante, sonâmbula, Clarice Lispector não recapitula de modo linear as vivências de Joana (como a morte do pai ou a separação do marido, visto desde sempre como um estranho), mas flagra o instante em que cada experiência ou cada encontro eclode com seu enigmático significado, apresentando-se como via de acesso ao "selvagem coração da vida" - conforme a frase de Joyce que, por sugestão do escritor Lúcio Cardoso, Clarice Lispector utilizou na epígrafe e no título desse livro que inaugura uma das obras mais inovadoras da literatura brasileira. 



Palavras de uma leitora...


- A sinopse acima é bem completa resumindo de maneira perfeita esta história. Portanto, eu nem preciso escrever nada.rs E, definitivamente, sequer me sinto preparada para começar a falar deste livro tão diferente e... perturbador. Ainda me sinto confusa, um tanto quanto perdida. 

Quem nunca ouviu falar da Clarice Lispector na época do colégio? Eu passei por textos dela durante as aulas de Literatura, mas nunca senti um desejo grande de conhecer algum dos seus livros. Essa vontade só surgiu quando decidi apostar mais nos clássicos e de tanto o nome da autora aparecer nos sites de pesquisa resolvi colocá-la na minha lista. E não. Eu não estava enganada: sabia bem que a autora tinha uma escrita que incomodava e confundia os leitores. Que seus livros são densos, do tipo que você precisa ler quando realmente se sentir pronto. Eu não estava preparada e por isso caí de cabeça no chão.kkkkkk... 

Sério. Embora eu já tenha lido outras histórias que mexem com nosso psicológico e nos deixam com aquela energia pesada, como se estivéssemos com o peso do mundo sobre os ombros, nada poderia me preparar para a leitura de Perto do Coração Selvagem. E, conforme a sinopse, este foi o trabalho de estreia da autora. Imagine como não devem ser suas outras obras!rsrs 

"Nem o prazer me daria tanto prazer quanto o mal, pensava ela surpreendida. Sentia dentro de si um animal perfeito, cheio de inconsequências, de egoísmo e vitalidade."

- Este é apenas um trechinho do segundo capítulo do livro. Meu exemplar está todo marcado, pois eu destaquei muitos trechos ao longo da leitura, um mais impactante que outro. Ficava tão chocada com alguns que os relia várias vezes para ver se estava realmente lendo direito ou se minha vista estava me pregando peças.rsrs Me perdia em meus próprios pensamentos, tão transtornada com as ideias da protagonista, com suas experiências de vida e a grande confusão que havia dentro da mente dela. Cheguei a pensar que no final ela acabaria por se suicidar, de tão atormentada que parecia, tão fora de órbita. Não estou dando nenhum spoiler, estou só dizendo o que eu achei que aconteceria. Joana, a protagonista desta história, é uma mulher muito perturbada, do tipo que te provoca compaixão, medo, desprezo, choque e até mesmo uma espécie de empatia. E no final ficamos com a sensação de que corremos vários quilômetros para irmos parar no mesmíssimo lugar de partida. 

"[...] como ligar-se a um homem senão permitindo que ele a aprisione? como impedir que ele desenvolva sobre seu corpo e sua alma suas quatro paredes? E havia um meio de ter as coisas sem que as coisas a possuíssem?"

- A história não segue uma linha do tempo muito certa, bem como não se passa sempre no mundo exterior. Como a sinopse bem ressalta o livro se divide entre os acontecimentos no exterior e interior de Joana. De repente estamos dentro da cabeça dela (desejando desesperadamente sair dali), obrigados a ler o que ela pensa, o labirinto que é aquela mente e só queremos fugir, porque é demais para nossa própria cabeça, uma confusão tão grande que nos esgota física e emocionalmente e aí precisamos interromper a leitura ou não conseguiremos lidar com as responsabilidades do dia, de tão transtornados que ficamos com as coisas que se passam no interior da protagonista. E quando menos imaginamos somos levados para o que está acontecendo do lado de fora, o casamento em crise, fadado ao fracasso desde que ambos disseram "sim", o convívio dela com outros membros da família e aí vamos do passado ao presente e vice-versa sem nenhum aviso, o que nos faz ter que prestar mais atenção na leitura para não nos perdermos. 

"Ando sobre trilhos invisíveis. Prisão, liberdade. São essas as palavras que me ocorrem. No entanto não são as verdadeiras, únicas e insubstituíveis, sinto-o. Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome."

- Joana é uma personagem que era bem diferente das outras pessoas ainda quando criança. Sempre muito questionadora, não aceitava respostas prontas. Ela sempre buscava mais, queria entender até mesmo o que não possuísse explicação, algo que testava a paciência daqueles que conviviam com ela, embora pelo que podemos perceber seu pai tentasse ter uma relação boa com ela, que não tinha mãe e era criada apenas por ele. Ao mesmo tempo que ela nos parece ter sido uma criança insensível, incapaz de sentir empatia por alguém, também parecia extremamente sensível, necessitada de amor e sem saber como buscá-lo, como provocá-lo nas pessoas. E isso nos angustia e confunde. Há um episódio no livro, pouco antes de ela ser enviada para um internato, no qual o comportamento da menina, que sabia que suas atitudes tinham consequência, mas não se importava com isso, acaba por assustar muito sua tia. Joana tinha perdido o pai e foi enviada para ser criada por essa tia, que era casada e tinha sua própria filha já crescida. Embora a mulher tenha tentado estabelecer uma conexão com a menina passou a se sentir cada vez mais incomodada em sua presença, de tão profundos e e perturbadores que eram os olhares de Joana. Ela despertava medo nos próprios familiares e depois de um episódio em particular a tia decidiu que já não a queria mais em sua casa e decidiu por mandá-la para um internato, para se livrar "daquele problema". Confesso que eu própria senti medo da protagonista.kkkkkkkk... Não dela quando criança, mas da mulher adulta. Da que tinha pensamentos tão... nem sei como explicar. 

"Porque ela nascera para o essencial, para viver ou morrer. E o intermediário era-lhe o sofrimento."

- Como eu disse, o livro não segue uma linha do tempo e nem intercala presente e passado de uma maneira marcada. Não. Uma hora estamos no presente e no trecho seguinte poderemos estar no passado de Joana e é realmente necessário estar atento para não se perder. Além de sermos levados à infância da protagonista também acompanhamos um pouco de seu relacionamento com seu marido Otávio, personagem que também nos causa certo incômodo ao longo da leitura. E ainda tem Lídia, a amante de Otávio, que apesar de não aparecer tanto também deixa sua marca na história. Basicamente o livro acaba por se concentrar nesses três personagens, embora eu ache que a segunda personagem principal seja a mente de Joana.rsrs 

"Viver sobre si mesmo, sobre seu passado, sobre as pequenas vilezas que cometera covardemente e a que covardemente continuava unido. Otávio pensava que ao lado de Joana poderia continuar a pecar."

O interessante de se comentar sobre o Otávio, além do fato de ele ser vil, é que fica nítido que ele decidiu se casar com Joana, abandonando a mulher de quem estava noivo, porque ela era forte. Porque existia alguma coisa nela que ele sentia que sempre tinha buscado em sua vida. Todavia, logo no início do casamento ele se sente preso, não porque estivesse enganado sobre ela ao se casar, mas porque a mesma personalidade que o atraía e lhe dava o que ele desejava também o sufocava, lhe roubando a vontade de viver. Porque a força de Joana era sombria, ele se sentia controlado por ela e com desejos de escapar. No entanto, também queria permanecer. 

"Certamente você estava esperando de mim grandes bondades, apesar do que disse agora sobre minha maldade. Mas a bondade me dá realmente ânsias de vomitar."

- Joana é uma personagem que nos provoca muitos sentimentos contraditórios. Ela é bipolar, sendo levada da alegria incontrolável à tristeza profunda em questão de instantes, com pensamentos tão tumultuados, passando tantos momentos perdida em seu interior, que cheguei a considerar que ela passou boa parte de sua existência vivendo o que se passava em seu interior do que levando uma vida normal do lado de fora. E o que mais me assustava na personagem era a sua maldade latente. Como se a qualquer momento ela pudesse fazer algo terrível, como se a crueldade que ela carregava pudesse explodir de repente. Eu senti muito medo dela. Ela não era normal. E definitivamente não era boa. Joana não sentia piedade de ninguém (talvez um pouco apenas dos animais). Nem amor. Ela queria ser amada, mas existiam momentos nos quais ela também não queria isso. 

Não posso, todavia, negar que Joana nos impressiona com sua força e sua introspecção. Boa parte do livro se passa dentro da personagem e apesar de isso nos sufocar (quase literalmente) também nos faz refletir sobre a maneira como ela enxergava as coisas. É perturbador, sem sombra de dúvidas, mas também é fascinante.rs

- Dei 4 estrelas ao livro, por ser uma obra incrível e conseguir nos atingir de maneira tão forte. Pretendo sim continuar lendo as obras da autora, mas da próxima vez escolherei bem o momento.kkkkkk... Porque é aquele tipo de narrativa que nos desgasta. Que nos rouba a energia e por isso é preciso estar preparada. 

"De súbito recordou-se: ainda agora pensara-o, talvez antes de encostar o braço no de Otávio, talvez naquele momento em que tivera vontade de gritar... Cada vez mais tudo era passado... E o passado tão misterioso como o futuro."

11 de novembro de 2018

Pôr do Sol no Central Park - Sarah Morgan

(Título Original: Sunset in Central Park
Tradutor: William Zeytoulian
Editora: Harlequin
Edição de: outubro/2018)


Para Nova York, Com Amor - Livro 2


O amor da sua vida pode ser difícil de encontrar. Até mesmo quando está bem na sua frente. 

Após o grande sucesso do livro Amor em Manhattan, Sarah Morgan retorna às livrarias brasileiras com este romance que vai aquecer seu coração. 

Frankie Cole e suas duas melhores amigas inauguraram um negócio em Manhattan que está sendo um sucesso. Frankie é designer e ama trabalhar com paisagismo de jardins suspensos nos telhados dos arranha-céus da cidade. Entre amizades verdadeiras e um trabalho gratificante, ela tem tudo para ser feliz. 

Com o conturbado divórcio de seus pais e problemas com os relacionamentos da mãe, Frankie nunca deu muita atenção às relações românticas, preferindo focar em si e no trabalho. Ela conhece Matt, o irmão de sua melhor amiga, há anos, mas eles nunca tiveram nada além de amizade. Até que Matt descobre novas coisas sobre a mulher que pensou conhecer tão bem , e não quer passar mais nenhum dia longe dela. 

Matt sabe que Frankie se mantém segura por trás de sua barreira emocional, mas fará de tudo para superar os bloqueios e conquistá-la. 



Palavras de uma leitora...



"Algumas pessoas gostam de olhar para pinturas. Eu gosto de olhar para livros."

- Quem acompanha o blog talvez se lembre que em março deste ano o livro Amor em Manhattan me arrancou de uma baita depressão literária (existe isso?!) e se tornou um dos meus livros preferidos não só do ano, mas da vida. Eu estava muito triste, sem conseguir ler nada há dias e a história de Paige e Jake me arrebatou, me emocionando e me fazendo dar muitas risadas também. Sem mencionar a linda amizade existente entre Paige, Frankie, Eva e Matt. E que eu suspeitava que num dos livros que continuaria a série teríamos a história de amor entre Frankie e Matt, casal pelo qual eu já torcia muito, bem antes de eles perceberem seus sentimentos (Ok. O Matt já tinha percebido, só a Frankie que não.rsrs). Mas quando recebi Pôr do Sol no Central Park não poderia sequer ter imaginado o quanto este livro se tornaria especial para mim. Ainda mais querido que o primeiro! Suspiros...

Pense num livro delicioso, gente! Do tipo que te arranca risadas e te deixa com um quentinho no coração, uma sensação tão boa que você chega a se sentir leve e com imensa vontade de dançar. Sim!kkkkkk... Estou me sentindo assim. E é maravilhoso! Estava mesmo precisando de uma história tão linda como esta, que me fizesse acreditar. Simplesmente acreditar. 

- Frankie só tinha certeza de duas coisas em sua vida: que sempre poderia contar com suas melhores amigas e que nunca entregaria seu coração de bandeja para ser feito em pedaços. Relacionamentos lhe provocavam alergia. Os evitava como o diabo fugia da cruz e estava muito bem assim. Afinal de contas, uma pessoa não precisava de outra para ser feliz. A ideia de outra metade, alma gêmea era coisa para sua amiga Eva. Ela não acreditava em nada do tipo. Sabia que o fracasso do relacionamento de seus pais e todo o escândalo que sua mãe provocou na ilha em que viviam a tinham vacinado contra tolices como o amor. Isso até Matt decidir pôr em risco a sólida amizade que construíram.  

"Não acredito em contos de fadas. Sei que o Príncipe Encantado não existe. E só para deixarmos as coisas ainda mais claras, não acredito em amor verdadeiro, em felizes para sempre e em nenhuma dessas porcarias."

Fazia anos que ele se contentava em ser apenas o irmão da melhor amiga de Frankie. Um amigo sempre presente e nada mais. Mesmo que a amasse e quisesse construir uma vida ao seu lado. Conhecia a fobia que ela tinha de relacionamentos e não se sentia preparado para colocar em risco o pouco que tinha confessando o que realmente desejava. Porém, até mesmo a paciência dele possuía limites e estava cansado de ter apenas as migalhas do que ela poderia oferecer. Estava na hora de apostar, de mostrar a ela que nem todos os homens são iguais e que ele se importava. Que a queria. Não só para um caso passageiro, mas para ser a mulher da sua vida. 

- Tudo neste livro nos envolve. Você pode até acreditar que é mais um livro sobre romance entre amigos, mas é melhor pensar outra vez. Nada neste livro é semelhante a outros do gênero. Dá para percebermos ainda na primeira história quando temos a oportunidade de conhecer um pouco da Frankie e da amizade tão bonita que existe entre as três meninas. Ela tem um passado bem conturbado, do tipo que também te faria não confiar nos homens e em suas promessas. Tudo o que ela passou em casa e as consequências que isso provocou realmente são capazes de marcar a vida de uma pessoa. E o mais incrível é a força que esta protagonista tem. Ela não é uma pessoa amarga nem nada. É reservada, gosta de ter sua própria casa, seu espaço que ninguém que ame a própria vida gostaria de invadir (vez que ela é faixa preta em caratê) e é uma amiga maravilhosa, mesmo que não seja dada a sentimentalismo.rsrs É muito fácil gostarmos dela, sobretudo por ela ser tão louca por livros quanto nós (embora seu gênero favorito seja o terror, algo que não suporto.kkkkkkk). Frankie levava a própria vida muito bem, menos quando a questão era relacionamento amoroso. 

"Nunca em um milhão de anos ela entenderia os homens." 

Eu me sensibilizei muito com os problemas dela. Ainda que seja um livro leve e divertido, do tipo que nos provoca gargalhadas, ele não deixa de tocar em temas sérios e profundos, nos envolvendo por inteiro. A Frankie tinha inseguranças que trancava a sete chaves dentro de seu peito, tinha medos e segredos que nunca tinha dividido com ninguém. E vê-la confiando pouco a pouco no Matt é emocionante. Ela não era vulnerável, era forte como uma rocha, mas ainda assim queria se sentir amada, protegida, como qualquer ser humano. Saber que poderia confiar em outra pessoa, sem temer que esse alguém a decepcionasse e destruísse seu mundo. A Paige sempre terá um lugar especial no meu coração, mas a Frankie e a história dela me arrebataram. Se tornou minha preferida. :)

"As pessoas assumiam o risco continuamente. Saltavam mesmo sabendo que poderiam cair."

E isso antes de eu falar do Matt... Que homem, meu Deus do céu! Alguém como este mocinho é espécie ameaçada de extinção. Queria eu encontrar um homem assim no meu caminho!kkkkkk... Não teria a metade da resistência da Frankie, isso eu garanto!rsrs Protetor, compreensivo, divertido, do tipo que te escuta e te enxerga como pessoa e vê muito além do que você está preparada para mostrar. Além de ser extremamente sexy e charmoso. Ele é um pacote completo! Um homem que só uma pessoa surtada deixaria escapar, claro.rs A gente percebe o homem incrível que ele é ainda na história da Paige, com todo o amor que ele sentia pela irmã e como a protegia, estendendo seu carinho às amigas dela, sem segundas intenções, sem esperar receber algo em troca. Seu interesse pela Frankie é sincero, daquele tipo sólido, seguro, sabe? Ele estava ali para amá-la e respeitá-la, para ajudá-la no que ela precisasse, nunca desejando anulá-la e sim incentivando-a sempre a ir em frente. Isso é algo admirável não só nele, mas também no protagonista do primeiro livro: a forma como ambos os mocinhos respeitam muito as mulheres, sejam as protagonistas ou as outras personagens dos livros. Eles as enxergam. Acreditam nelas. Em seu potencial. Isso é algo tão bonito de ver nos livros quando estamos acostumadas a comportamentos tão cafajestes de alguns ditos mocinhos. Matt é maravilhoso. Seu amor pela Frankie toca um lugar sensível do nosso coração e nos faz acreditar até mesmo nos nossos queridos contos de fadas. Eu me senti muito bem com esse livro. De ficar com os olhos cheios de lágrimas de felicidade. Não queria que acabasse. O livro poderia ter o dobro de páginas que eu não me importaria. Devoraria as páginas com um sorriso no rosto. 

"Disse a si mesmo que, se fosse paciente, ela perceberia que não precisa de um lugar para onde fugir, pois nada a mantinha presa."

E estou mais do que ansiosa pela terceira história, quando finalmente leremos o romance entre a Eva e alguém (acho que é o tal Lucas Blade, autor dos livros que a Frankie lê). Ela é a mais sensível, romântica e sonhadora entre as três amigas. Enquanto a Paige é mais independente e focada no trabalho, e a Frankie é mais reservada e racional, Eva é a manteiga derretida. Que chora com tudo, que distribui carinhos e oferece sempre seu ombro para os amigos chorarem e desabafarem seus problemas. É uma mocinha do tipo que todos querem proteger e a única que acredita em contos de fadas. Ela sonha com um grande amor e merece muito isso. Só espero que o personagem do terceiro livro a valorize. Que seja tão homem de verdade como o Jake e o Matt. Porque se tem uma mocinha que merece um felizes para sempre essa é a Eva. 

"Você destruiu todos os obstáculos que ergui. Estar com você é estimulante, divertido. E tranquilizante, porque, pela primeira vez na vida, eu não estou guardando segredos."


*Este livro foi recebido em parceria com a editora Harlequin. E foi um dos melhores que recebi este ano!

4 de novembro de 2018

LEITURA COLETIVA: O Conto da Aia, de Margaret Atwood





Olá, meus queridos!!! :D 

Estou muito feliz em poder dizer que nosso projeto de #LeituraColetiva está dando super certo e já estamos dando início a terceira edição. Convidamos vocês para lerem conosco o livro O Conto da Aia, de Margaret Atwood!

E, por incrível que pareça, a escolha do livro foi feita meses atrás, mas convenhamos... é tão pertinente, considerando os últimos acontecimentos em nosso país, né?!

Confiram abaixo as regras de participação, os blogs participantes e o prêmio (porque sempre tem um prêmio).

Para participar é bem simples: 
> Possuir (ou pegar emprestado na biblioteca, com um amigo, etc) um exemplar de "O Conto da Aia";
> Entrar NESTE grupo no Facebook (onde ocorrerão discussões semanais);
> Participar das discussões semanais sobre a leitura (para poder participar do sorteio de um livro).

BLOGS PARTICIPANTES:
Emoções à Flor da Pele 
Autora Duda Razzera (@dudarazzeraauthor)

INFORMAÇÕES IMPORTANTES:
> A entrada no grupo será permitida até o final da leitura coletiva (09/12);
> A participação nas discussões não é obrigatória, mas o sorteio será realizado apenas dentre os leitores que participarem;
> Cada discussão garante uma entrada no sorteio, então se o leitor participar de apenas uma das discussões, terá uma entrada no sorteio; se participar de duas, terá duas entradas e assim por diante;
> O livro sorteado será Jane Eyre, de Charlotte Brontë, título escolhido para nossa próxima leitura coletiva (um único sorteio, logo um único ganhador);
> A leitura terá duração de TRÊS SEMANAS: na primeira semana serão lidos 16 capítulos, e nas duas semanas seguintes serão lidos 15 capítulos por semana;
> A cada domingo (após a leitura dos capítulos estipulados por semana) será realizado um post de discussão no grupo do Facebook, em que todos poderão opinar, discutir, tirar dúvidas, criar teorias, etc.
> Cada tópico de discussão ficará aberto por uma semana, por exemplo, a primeira discussão, referente aos primeiros 16 capítulos, começa no dia 25/11 e termina no domingo seguinte, 02/12, quando a segunda discussão tem início.
> Ao final das três semanas, será realizado o SORTEIO entre os leitores participantes.

DATAS IMPORTANTES:
18/11 – Início da leitura
25/11 – Discussão 1 (grupo no Facebook)
02/12 – Discussão 2 (grupo no Facebook)
09/12 – Discussão 3 (grupo no Facebook)
16/12 – Sorteio (grupo no Facebook)

CRONOGRAMA DE LEITURA:
Semana 1 (de 18/11 a 25/11): caps. 1 a 16 (16 caps)
Semana 2 (de 25/11 a 02/12): caps. 17 a 31 (15 caps)
Semana 3 (de 02/12 a 09/12): caps. 32 a 46 (15 caps)

***
Contamos com a participação de vocês!

Muitos Beijos!!

3 de novembro de 2018

Apaixonado por Grace - Stella Bagwell

(Título Original: Falling for Grace
Tradutora: Nancy de Pieri Mielli
Editora: Nova Cultural
Edição de: 2001)

Fora de alcance...

No momento em que viu a nova vizinha, Jack Barrett ficou impressionado. Grace Holliday era uma jovem doce como não encontrava havia muito tempo em sua carreira de advogado. O problema era que Grace era nova demais... e estava grávida! 
Algo, porém, o atraía cada vez mais a essa adorável criatura. Antes que se desse conta, estava totalmente envolvido por seu encanto. Mas com Grace era tudo ou nada e ele não tinha planos de enveredar para um segundo casamento... mesmo que o filho que ela estava esperando fosse de seu sobrinho... 



Palavras de uma leitora...



- O mês de outubro foi péssimo para mim. Sobretudo por conta das eleições. Pela primeira vez na vida, as eleições para presidente conseguiram destruir meu psicológico. Fiquei muito alterada, temendo pelo futuro do país e das pessoas que aqui vivem. E, no final das contas, acabou ganhando quem eu não queria. O que posso fazer além de aceitar já que vivemos num país democrático e valorizo muito a democracia? Só espero que tudo dê certo. 

Mas por conta de todo esse estresse minha leitura também sofreu. E muito. Só consegui ler três livros e uns quatro ficaram pendentes, como este que resenharei agora. Assim, resolvi aproveitar o feriado e o final de semana para fazer uma maratona e tentar colocar minha leitura em dia. Veremos se conseguirei!rsrs

- Apaixonado por Grace é um livro muito curtinho, com um pouco mais de 100 páginas. Dá para ler em poucas horas tranquilamente e ficar com aquela sensação boa, de quando lemos uma história leve e fofa, que nos arranca um pouco da fossa na qual um livro pesado nos jogou. Eu achei a história deliciosa e valeu muito a pena apostar nela!

Tudo começa quando Jack Barrett, um advogado de trinta e nove anos, é obrigado pelo médico a tirar férias, por ser obcecado por trabalho e isso estar acabando com sua saúde física e mental. Mesmo a contragosto, Jack aceita visitar pela primeira vez uma propriedade que comprara anos antes, um bangalô simples e charmoso, que ficava próximo ao mar, numa região na qual poderia descansar e esquecer todos os problemas. Só que não é bem assim que as coisas acontecem, pois logo em sua primeira noite na casa a vê sendo invadida por uma jovenzinha grávida, chamando pelo seu sobrinho. Embora tenha ficado irritado com o aparecimento inesperado daquela mulher não pode evitar se sentir atraído, ainda que mulheres grávidas nunca tivessem feito o seu tipo. Pelo contrário, ele fugia de toda e qualquer complicação feminina. Mas quando percebe que Trent, seu sobrinho, poderia ser o pai da criança que ela esperava, as coisas tomam um rumo indesejado e Jack decide aproximar-se da sua vizinha atraente no intuito de descobrir se ela pretendia dar o golpe do baú num membro de sua família. Algo que ele jamais permitiria

Quando Grace viu luz no bangalô vizinho se permitiu ter esperanças. Por mais remota que fosse a possibilidade acreditou que Trent tinha mudado de ideia, que resolvera assumir o filho que conceberam durante as férias dele naquele lugar. Grace jamais tinha deixado um homem chegar tão perto como ele. Se apaixonara e acreditara em todas as suas promessas, pensara que realmente poderia construir uma família ao seu lado e ter o lar que tanto desejava. Mas tudo ruiu no momento em que ela confessou que estava grávida e Trent decidiu que resolveriam o problema com um aborto. Chocada e com o coração destruído pela frieza dele, ela percebeu que todas as palavras que tinham saído da boca dele enquanto tentava conquistá-la e durante o tempo que passaram juntos não foram mais que uma coleção de mentiras. Forte como aprendera a ser com os golpes da vida, ela o dispensou de toda e qualquer responsabilidade, decidindo assumir seu bebê sozinha, por mais que mal tivesse condições de se sustentar. Mas seria uma boa mãe e seu filho não sentiria a ausência do pai. 

Todavia, após seu encontro inusitado com o novo vizinho, ela sentiu que outra vez alguém tentaria bagunçar sua vida e a segurança que ela lutava para manter. Porém, dessa vez seria diferente. Não deixaria homem algum voltar a magoá-la. Ninguém invadiria seu espaço e roubaria sua tranquilidade para depois ir embora, deixando-a para trás, como se não fosse nada mais que uma aventura. 

Mas conforme os dias se passam as primeiras impressões vão se mostrando equivocadas e a luta de ambos para não se deixarem envolver se torna inútil. Era como se aquele encontro precisasse acontecer. Como se, em algum lugar, estivesse escrito que seus caminhos se cruzariam... e nada mais seria igual. 

- Como eu disse, é uma história deliciosa, do tipo que nos faz suspirar. Um livrinho doce que nos emociona com sua simplicidade. Os personagens são incríveis, sobretudo a Grace, que é uma moça de apenas 23 anos, que não tem absolutamente ninguém no mundo e precisa se virar para concluir a faculdade e levar em frente sua gravidez. Ela enfrenta uma longa distância três vezes por semana para continuar cursando Música e vir a ser a professora que sonhava. E nos outros dias dava aulas particulares para crianças, tentando manter alguma renda. Sua força é impressionante e sua independência é uma motivação para nós leitores. Mesmo com tudo o que tinha passado, a decepção e o medo de não conseguir sustentar seu filho, ela segue em frente e acredita que tudo pode dar certo se ela se esforçar. E que mesmo em momentos de maiores dificuldades ela jamais esperaria pela ajuda de um homem. Porque eles sempre querem algo em troca. É por isso que, numa cena em que o Jack conserta seu ar condicionado (pois estava um calor insuportável e ela estava dormindo naquelas condições prestes a dar à luz), Grace quase tem um troço. Ela fica furiosa, pois não lhe pedira nada e ele nem sequer tinha direito de entrar em sua casa sem sua permissão. E mesmo não tendo condições de pagar pelo serviço dele nossa mocinha insiste nisso, porque de modo algum aceitaria sua ajuda. Estava cansada de se decepcionar e Jack precisava entender que não havia espaço para ele em sua vida. 

- O mocinho, por outro lado, mesmo que tivesse motivos escusos para se aproximar dela (por acreditar que ela só estava interessada no dinheiro de seu sobrinho), acaba se mostrando um homem incrível, do tipo que nos faz suspirar.kkkkkkk... Ele se considerava insensível, antissocial e desconfiado por natureza, além de imune a qualquer truque feminino, vez que tinha passado por um casamento que o deixou calejado. Todavia, quanto mais conhecia Grace mais percebia que ela era muito diferente da mulher que ele imaginava. E a preocupação que inicialmente sentiu pela própria família começa a perder importância, sendo substituída pela ansiedade sobre o futuro dela e daquele bebê. Como viveriam? Quem os ajudaria? Ele começa a pensar cada vez mais nela, mesmo desejando se afastar, ir embora daquele lugar e esquecer que a conhecera. Não queria tomar para si uma responsabilidade que não lhe pertencia, mas estava se apaixonando por Grace, mesmo contra sua vontade. Mas como construir um relacionamento se não se sentia preparado? E, o que era pior, como contar a ela toda a verdade? Porque mentira. Desde o princípio. A deixou acreditar que comprara o bangalô de Trent, através de um corretor, quando na verdade ele era dono do imóvel e Trent apenas o pegara emprestado... por ser seu sobrinho. Um laço de sangue que Jack escondia dela. Porque não queria ver a mágoa em seu olhar. Não queria ser o causador de mais uma decepção. Uma hora ou outra teria que lhe confessar que era tio de Trent e não suportava pensar em como ela reagiria. 

- O livro é realmente muito lindo, gente! E recomendo, é claro! Para aqueles que precisam ler uma história leve e sobretudo para os apaixonados por romances de banca! Vale muito a pena! :D É fácil amarmos tanto a Grace quanto o Jack e torcer para que tenham um futuro juntos. Porque ambos mereciam. E aquele bebezinho que ela esperava precisava de um pai de verdade e não um encosto como o Trent.rs E não havia pai melhor para o bebê que nosso Jack. :) Alguém que amaria a criança e a futura mamãe, que jamais os desampararia e tornaria os sonhos dela uma realidade. 



O tema de outubro da Maratona Romances de Banca era: Gravidez/bebês/crianças; ou seja, consistia em ler um romance (de banca, claro) que tivesse alguma criança como personagem ou que a mocinha estivesse grávida. Escolhi este livro sem saber praticamente nada sobre ele e se mostrou uma escolha perfeita. :)

1 de novembro de 2018

Ladrão de Almas - Alma Katsu

(Título Original: The taker
Tradutora: Ana Paula Doherty
Editora: Novo Conceito
Edição de: 2012)


No turno da noite de um hospital no estado do Maine, o Dr. Luke Findley espera ter outra noite tranquila com lesões causadas pelo frio extremo e ocasionais brigas domésticas. Mas, no momento em que Lanore Mcllvrae - Lanny - entra no pronto-socorro, muda a vida dele para sempre. Uma mulher com passado e segredos misteriosos, Lanny não é como as outras pessoas que Luke conheceu. E Luke fica, inexplicavelmente, atraído por ela... mesmo sendo suspeita de assassinato. E conforme Lanny conta sua história, uma história de amor e uma traição consumada que ultrapassam tempo e mortalidade, Luke se vê totalmente seduzido. 

Seu relato começa na virada do século 19 na mesma cidadezinha de St. Andrew, quando ainda era um templo puritano. Consumida, quando criança, pelo amor que sentia pelo filho do fundador da cidade, Jonathan, Lanny fará qualquer coisa para ficar com ele para sempre. Mas o preço que ela tem de pagar é alto - um laço imortal que a prende a um terrível destino por toda a eternidade. E agora, dois séculos depois, a chave para sua cura e salvação depende totalmente de seu passado. 

De um lado um romance histórico, de outro uma narrativa sobrenatural, Ladrão de Almas é uma história inesquecível sobre o poder do amor incondicional, não apenas para elevá-lo e sustentá-lo, mas também para cegar e destruir. E revela como cada um de nós é responsável por encontrar o próprio caminho para a redenção. 



Palavras de uma leitora... 



- Ontem foi o Dia das Bruxas e fazia parte dos meus planos publicar a resenha antes da meia-noite, mas só terminei a leitura bem tarde e tive que adiar a resenha para hoje. Todavia, a verdade é que gostaria de não escrever nada. Do mesmo modo que queria não ter lido este livro macabro. 

Não tenho estômago para este tipo de história: tão perversa... tão insuportável. É uma história que só me fez mal e já adianto que nem quero saber de sua continuação! Embora, até onde sei, seja uma trilogia, me basta o primeiro livro. Dispenso o resto. 

- Ganhei este livro no final de 2012, num amigo oculto. Ele veio com aquela etiqueta da Saraiva que permitia a troca por outro no prazo de 30 dias. Percebo agora que deveria ter trocado!rs Mas na época, embora tenha ficado com medo do ar sombrio da capa e título resolvi guardá-lo até ter coragem de lê-lo. E, seis anos mais tarde, achei que tinha chegado o momento e o enfiei na lista do Desafio 12 Meses Literários. Programei a leitura para o mês das bruxas mesmo sem saber o que de sobrenatural existia na história. Tudo o que eu sabia é que tinha imortalidade, mas não sabia se os personagens eram vampiros, lobisomens, bruxos etc. 

Se vocês iniciarem a leitura deste livro acreditando que trata-se de um romance histórico e sobrenatural irão se decepcionar terrivelmente. É uma história meio de época sim (sendo intercalados acontecimentos do presente com cenas do século XIX, bem como do século XIV) e a alquimia, bem como a magia negra se fazem muito presentes. E tem essa questão da imortalidade, que dá o tom sobrenatural ao livro. Mas o romance? Aquele romance de amor? Esqueçam! Todo o amor presente nesta história é doentio. Abusivo. Repugnante. Letal. Jamais em suas vidas queiram ser o objeto de amor de um demônio. Este livro mostra o lado mais perverso da natureza humana e como um sentimento aparentemente capaz de despertar apenas o bem pode ter um lado sombrio... um lado destruidor. Mas a verdade é que não considerei o sentimento que tomava conta dos personagens como amor. Era a mais completa obsessão, isso sim. 

Só para deixar registrado: esta resenha poderá conter spoilers. É uma grande possibilidade. 

- A história começa no século XXI quando um médico é surpreendido por algo fora do comum, naquela pequena cidade do interior: uma moça foi levada até o hospital para que ele verificasse se ela estava ferida. Nada tão absurdo assim se não fosse pelo fato de ela ser suspeita de um assassinato brutal, que confessara. Sua roupa ainda estava suja com o sangue de sua vítima e algo assim jamais tinha acontecido naquele lugar. E o que já era ruim piora quando ele é deixado a sós com a prisioneira, para os procedimentos de praxe. Se não bastasse todo o estresse que estava passando em sua própria vida, com a morte dos pais, o divórcio e a ida de suas filhas com a mãe para longe, ainda existia aquela sensação... de conhecer a jovem assassina de algum lugar, embora não soubesse de onde. 

Lanore, ou simplesmente Lanny como era chamada pelo homem a quem acreditava amar, passou a vida quase toda sem confiar em ninguém. Sem poder dividir seu grande segredo com qualquer outra pessoa até conhecer Luke, o médico que a atendia. Sem pensar muito a respeito ela resolveu confessar a ele toda a verdade e buscar a sua ajuda para fugir do país. Precisava fazê-lo entender que Jonathan desejara a morte... que as sucessivas facadas eram a maneira que ela tinha para se redimir... para consertar um erro muito antigo. Com a morte liberava Jonathan de uma eternidade de sofrimento. De uma eternidade de... vazio e arrependimento. 

No início, Luke não acreditara em nada do que Lanny dizia. Era muito conveniente dizer que o homem cujo corpo estava abandonado na floresta desejara morrer, que foi uma espécie de suicídio. Mas alguém que quisesse se matar escolheria outros métodos. Não iria querer ser esfaqueado até a morte. Mas quando Lanny corta a si mesma na frente de Luke, na tentativa de lhe provar o impossível, ele finalmente é forçado a enxergar que existiam coisas no mundo que nem a ciência poderia explicar. Que existia muito mais entre o Céu e o inferno do que algum ser humano um dia seria capaz de entender. E uma delas era o fato de Lanny poder provocar ferimentos sérios em si mesma e tê-los cicatrizados em instantes. Porque a mortalidade há muito deixara de ser uma preocupação. No dia em que foi transformada e perdeu sua alma para sempre. 

Mesmo achando que tinha enlouquecido, que existia algo de muito errado com sua cabeça, Luke acaba ajudando a prisioneira a fugir e durante sua viagem até o Canadá conhece, através das memórias dela, um passado de muito sofrimento e depravação. Um passado de decadência e mortes... de tortura... de pesadelos que jamais a abandonariam. Eles voltam, pelas lembranças dela, ao século XIX quando tudo começou... embora a pessoa responsável pela sua grande ruína já existisse desde o século XIV, apenas aguardando, pacientemente, o momento em que seus caminhos se cruzariam. O demônio existia. Belo e sedutor e mais cruel do que qualquer ser humano poderia ser capaz de imaginar...

- Quando a história começou eu não fazia muita ideia do que realmente se tratava. Do "alto" do meu conhecimento de histórias sobrenaturais (algumas poucas experiências com romances sobre vampiros, lobisomens, bruxos e alguns outros livrinhos fora do comum) acreditava que era um romance. Que ainda que existisse crueldade e obstáculos no caminho dos protagonistas, existiria amor. Que mesmo um personagem anti-herói seria capaz de encontrar seu lado bom e proteger a amada de tudo e todos, mas não. O livro passa bem longe disso. Como eu disse, todo e qualquer "amor" nesta história é doentio. De uma forma... ainda sinto náuseas. Aquela sensação sufocante de quando estava lendo. 

Comecemos pela história entre a Lanore e o Jonathan que se tornaram inseparáveis quando ela estava com doze e ele com quatorze anos. Embora ela pertencesse a uma família humilde e ele fosse o filho do homem mais importante da pequena cidade onde nasceram, se deixava iludir, acreditando que um dia Jonathan perceberia que tinham nascido um para o outro, que sempre estariam juntos. Conforme nós leitores conhecíamos o caráter desprezível do personagem percebíamos que a mocinha estava apenas se enganando. E que pagaria caro por confiar tão cegamente no amor de alguém que sabia que era fraco e jamais na vida consideraria largar a vida boa por ela. Deveria ter servido como exemplo a história dele com Sophia, uma jovenzinha casada que se apaixonou por ele e engravidou, sendo abandonada quando mais precisava daquele que dizia amá-la. Sabendo que estava perdida por ter engravidado de outro numa cidade tão pequena e puritana e estando com o coração partido por Jonathan não ter ficado ao seu lado, a moça se suicidou. Uma cena bem chocante, sobretudo porque a protagonista do livro teve uma participação indireta nisso. Quando falo de obsessão... não estou brincando. Tudo começou ali, ainda na pequena cidade, quando Lanore deixou-se tomar tão completamente pelo suposto amor por aquele homem, cometendo o pecado que uma amiga tinha dito para ela nunca cometer: trair outra mulher por causa de um homem. Que homem algum merecia algo assim, que as mulheres deveriam estar unidas e não trair umas às outras. Mas Lanore não quis ouvir. Cega por sua raiva, por seu ciúme, participou indiretamente da morte de Sophia e ali começou a perder sua alma. Bem antes de Adair aparecer em sua vida. 

Mas o castigo não demorou a vir... do mesmo modo que ocorreu com Sophia, Lanore se viu de repente grávida e abandonada por ele... que no mesmo dia em que ela revelou sua gravidez ele contou que estava noivo de outra e diante dela beijou a escolhida de seus pais, anunciando para a cidade o feliz acontecimento. Destroçada, sem saber o que fazer e tendo Sophia todo tempo invadindo sua mente, a mocinha chegou a considerar acabar com tudo da mesma forma, mas não tinha a mesma força... não conseguiria fazer algo assim. Ainda mais porque, independente de qualquer traição da parte dele, o bebê que carregava em seu ventre era tudo o que lhe restaria de sua história com Jonathan. Porém, ao contar a verdade aos pais, se viu ainda mais desamparada. Expulsa por eles, foi enviada para Boston, onde deveria permanecer presa num convento até o nascimento da criança... que seria arrancada de seus braços e entregue a alguma família católica, para "remissão" dos pecados da mãe. 

Sozinha num lugar desconhecido, pois nunca tinha saído de sua cidade natal, a única certeza que Lanore tinha é que não poderia permitir que a levassem para aquele convento, que lhe arrancassem seu filho. Por isso, decidiu abandonar o navio no qual aguardava aqueles que a aprisionariam e caminhou pelas ruas de Boston, disposta a encontrar um lugar para ficar, embora não fizesse ideia de como sobreviveria, do que faria de sua vida. Foi quando eles apareceram... tão elegantes, tão simpáticos. Os heróis dispostos a resgatarem uma mocinha perdida e assustada. E por que não confiar neles se pareciam tão bondosos? Além disso, aqueles dois jovens estavam acompanhados por uma mulher. Não deveria existir perigo. Poderia passar apenas uma noite hospedada na casa deles ou do anfitrião que daria a festa para a qual eles se dirigiam quando a encontraram. Tudo estaria bem, tentou acreditar. Mas no fundo do seu coração sabia que algo muito ruim aconteceria. Que nada jamais seria igual. 

- O que vocês acham que é o inferno? Eu não sei bem. Imagino que seja um lugar de muita dor, onde nossos piores medos estão vivos e nos atormentam pela eternidade. Mas de uma coisa eu sempre tive certeza: o inferno pode ser vivido aqui, na Terra. E muitas pessoas passam por ele. Uma mãe que perde um filho, uma pessoa que é sequestrada e separada de todos que ama, alguém que é vítima das piores violências... existem diferentes tipos de inferno. E Lanore passa por muitos deles. 

Dá para terem uma noção do que acontece com a Lanore quando ela se deixa conduzir por aqueles estranhos "bondosos", certo? Ao chegar na propriedade e desejar partir, é logo impedida... justamente pela mulher na qual ela achava que poderia confiar. Levada até o dono da casa é observada por ele e dispensada para ser preparada para os acontecimentos. Não demora nada para ela ser drogada e acordar com um homem em cima dela... um de vários que a usariam naquela noite, enquanto Adair, o tal anfitrião, se deliciava observando seu sofrimento, ouvindo seus gritos e seu desespero. Quando tudo termina, ela está a apenas alguns poucos dias da morte. Além de estar com o corpo extremamente dolorido e com marcas por todas as partes, uma perfuração no intestino estava lhe arrancando a vida. Desejando apenas sobreviver até poder dar à luz ao seu filho, ela implora por um médico, mas Adair se nega. Resolve ele próprio curá-la com seus conhecimentos de alquimia, mas quando tudo falha e Lanore começa a agonizar, ele decide que quer muito mais do que obteve... que não estava satisfeito com tudo o que aquela menina tinha passado nas mãos dele e de outros (a mando dele). Por que se privar de ter mais? Por que não dar a ela a vida eterna? Uma vida de escravidão e submissão a ele. Porque no momento que ele a transformasse ela estaria vinculada para sempre. Ele seria seu deus. Seu único senhor. Toda dor deixaria de existir para ela. Nunca morreria... a não ser que ele quisesse. Porque ele seria o único capaz de feri-la ou matá-la. Por suas mãos e intenção

É assim que, utilizando de um conhecimento obtido muitos séculos antes, Adair traz Lanore de volta à vida. Ela morre por conta da infecção causada pela perfuração no intestino (resultado dos estupros violentos), mas volta a respirar chamada pelos feitiços dele. Não era mais humana. Embora se sentisse uma pessoa, tudo nela pertencia a ele. O que quer que ele fosse era impossível lutar. E o suicídio não era uma opção, porque não tinha mais a escolha de morrer. Ainda que tentasse não aconteceria. Somente ele poderia matá-la. Somente ele poderia feri-la. E como ele queria lhe causar dor! 

- Se vocês pensam que isso é tudo de cruel que se passa na história podem pensar de novo! Não, gente. Isso é só um pouquinho. O livro é recheado de violência, de estupros por todo lado, das crueldades mais inimagináveis. Torturas e assassinatos que te causam verdadeiro pânico. Lembro que quando eu estava lendo e comentei num grupo de leitura que jamais perdoaria o Adair pelo que ele tinha feito com a Lanore, que ele era a própria personificação do diabo uma leitora disse que eu mudaria de ideia, que conheceria o passado dele e entenderia por que ele era assim. E que ele mudaria. Bem... Sobre o fato de ele ter um passado traumático eu disse para ela e é o que sigo pensando: nada justifica. Muitos psicopatas possuem um passado de sofrimento, mas isso não os isenta de culpa alguma. Suas vítimas não têm culpa do que alguém no passado deles lhes fez. E quando eu conheci o passado do diabo do Adair realmente fiquei bem chocada. Tudo o que acontece com ele é brutal, monstruoso. Eu iria preferir a morte. Mesmo assim é impossível perdoá-lo. Porque ele se torna uma pessoa mil vezes pior que seu algoz. Ele desconta em todos que aparecem em sua vida as dores que ele passou. E faz tudo ser ainda mais terrível para suas vítimas. E quando ele escolhe não matar uma das vítimas e transforma alguém... cria seres para serem como ele: vazios de qualquer sentimento que não seja o ódio. E como ele é o "tomador", o "ladrão" de suas almas elas ficam presas a ele. Homens e mulheres (Donatello, Alejandro, Tilde, Uzra e... Lanore). E ele pode fazer o que bem quiser e exigir o que desejar. Como obrigá-los a obterem novas vítimas para ele se saciar. E fazê-las participarem ainda por cima. Quando Lanore decide salvar uma menina, uma jovenzinha de quatorze anos que foi levada até a propriedade dele para ser o novo "brinquedo" nas mãos dele e de outros, quando ela ajuda a garota a escapar e resolve fugir... Nossa! É horrível. Ele a encontra fácil, fácil. E quando a leva de volta... Vocês não querem saber o que ele faz com ela. E isso porque ele a ama!kkkkkkk... Ele realmente acredita que se importa com ela como nunca se importou com ninguém e por isso ela é sua e lhe daria o que ela quisesse. Como eu disse antes: nunca queiram ser o objeto de amor de um demônio. Porque o amor dele é pior que o ódio. Adair tortura a Lanore como nunca tinha feito antes. Tudo o que ela sofria nas mãos dele (os estupros naquela primeira noite que a sentenciou à morte, as surras...) nada se compara com o que ele faz com ela no dia que ela salva a garota e tenta fugir. Até mesmo seus outros transformados entram em pânico, porque a crueldade dele assusta a todos. Ela se recupera fisicamente, claro. Porque ao menos que ele a matasse ela não podia morrer. Então qualquer dano físico tinha recuperação. Mas aquele dia a marca profundamente... porque nunca tinha sentido tanto pânico e tanta certeza de que não podia se livrar dele. Que estaria eternamente presa a uma vida no inferno. 

- Mesmo com todos os spoilers vocês ainda não sabem metade do que acontece nesse livro. E não pensem que a Lanore é sempre vítima. Tudo o que aconteceu com ela foi horrível. Insuportável. E eu sofri com tudo aquilo. Desejei poder ajudá-la, quis matar o Adair com minhas próprias mãos (mesmo sabendo que ele era imortal), mas a mocinha dessa história não é uma personagem boa, queridos. Vocês podem ter uma noção disso pelo que ela faz com a Sophia. Embora ela não fosse do tipo que queria gratuitamente ver a desgraça de alguém e se importasse sim com algumas outras pessoas, ela possui um lado bem obscuro, um lado que se deixa seduzir pela perversidade do Adair e do mundo que ele lhe apresenta. Ela era vítima, mas também participava da desgraça de outras pessoas. Não só porque ele a obrigava, mas porque existia um lado dela que gostava daquilo. Um lado podre e que a satisfazia e assustava ao mesmo tempo. Ela era sim prisioneira do Adair e sofria os tormentos do inferno nas mãos dele, mas ao mesmo tempo que queria fugir, ir para o mais longe possível dele... não era só o medo que a impedia de tentar de novo. Mas um desejo perverso de seguir sendo o objeto de veneração dele, por mais tóxico e perigoso que isso fosse para ela. Entendem? O quanto a história é macabra? 

E paro por aqui. Já falei muito. E não desejo seguir pensando nesta história. Quero esquecer que li. Me libertar de toda essa degradação. De todo o pesadelo que esse livro é. A narrativa da autora é muito envolvente. Ela é muito talentosa, mas este tipo de história é para quem curte livros de terror ou romances pesados, do tipo obsessivo e letal. 

P.S.: Quem leu o livro talvez perceba que eu mantive o principal segredo do livro. Que não revelei o segredo mais chocante de todos.rsrs Claro que não! Porque quem decidir se aventurar nessa leitura tem o direito de ficar de queixo caído como eu fiquei quando a verdade foi revelada. 



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