Eu achava que 2019 tinha sido um ano extremamente difícil. E realmente foi. Mas acredito que muitos de nós estão sentindo falta dele, não é? :( Ninguém, ninguém mesmo, poderia imaginar que 2020 nos traria um pesadelo tão grande.
Só neste início de ano já tivemos chuvas fortíssimas, enchentes, desabamentos, mortes causadas por essas chuvas e agora esse vírus maldito, que está tirando a vida de milhares de pessoas pelo mundo. Eu estou completamente chocada e muito, muito angustiada. Minhas leituras, que já estavam afetadas por conta de tudo o que passei com as chuvas, ficou ainda mais prejudicada. Isso porque eu já sofro de ansiedade e essa grande quantidade de informações sobre o coronavírus me fez ter crises de ansiedade. E é uma luta para conseguir controlá-las e ficar bem.
Mas de nada nos adianta entrar em pânico. É momento de mantermos a calma e seguirmos as orientações do Ministério da Saúde e dos especialistas. Por isso, peço POR FAVOR, que todos que puderem ficar em casa, fiquem!!! Não saiam! Lavem as mãos com frequência (com água e sabão), passem álcool em gel a 70%, evitem aglomerações, evitem contatos físicos, tenham cuidado especial com idosos e pessoas com doenças crônicas e/ou que afetem a imunidade e tornem essas pessoas mais vulneráveis a complicações causadas pelo vírus. Vamos todos ter amor a nós mesmos e ao próximo!
Tentando manter a normalidade, na medida do possível, continuarei lendo (é momento para lermos ainda mais, pois os livros são ótima companhia para mantermos a sanidade mental durante a quarentena) e postando resenhas no blog. Talvez eu faça também um post com dicas especiais de leituras para aliviarmos nosso coração durante esse período.
"- Mesmo quando pessoas muito próximas nos machucam, não conseguimos extinguir os sentimentos que temos por elas."
Quando comecei a leitura deste livro não fazia ideia do que esperar. Imaginava que tinha um certo drama, algo envolvendo acontecimentos do passado da protagonista. Mas não sabia que o livro abordaria assuntos como relacionamentos familiares abusivos. E que a Vivian, mocinha da história, passaria por um trauma tão, mas tão grande.
Ela tinha apenas quinze anos quando o conheceu. Filha de uma mãe controladora e perfeccionista, não tinha contato com o mundo além de sua casa e o quintal da propriedade. A única outra pessoa que via além da mãe e da irmã mais nova (com Síndrome de Down), era a dona Célia, responsável por dar aulas às duas adolescentes diariamente, no interior da casa. Vivian passava cada dia sob o controle da tensão, pois antes de sair para trabalhar a mãe sempre deixava uma lista de afazeres, que a adolescente precisava cumprir com PERFEIÇÃO, caso contrário existiriam consequências. Ela precisava ter um comportamento perfeito e abrir a boca para dizer sempre o que agradasse à mãe. Sentia em seu coração muito medo de desafiar as regras impostas por ela. Não por si mesma, mas pelo que a mãe poderia fazer com Valéria, sua irmã mais nova. Vivian fazia tudo o que podia para protegê-la.
"Existem algumas passagens das nossas vidas que são complicadas de serem lembradas. Muito mais simples deixá-las trancafiadas no fundo de nossa memória."
Ela o conheceu numa tarde, durante os breves momentos em que sua mãe a deixava ir ao quintal "respirar" um pouco antes de ficar presa novamente em casa. Nunca o tinha visto por ali e ficou bastante surpresa, mas também de certa forma atraída. Tinham a mesma idade e Vivian ansiava por poder conversar com alguém além da irmã, da mãe e de dona Célia. Seria tão errado assim fazer amizade com outro adolescente?
Mesmo que sentisse que seu contato com Lucas não deveria provocar reprovações, sabia que precisava esconder aquela relação da mãe. Ela não era uma pessoa normal. Nunca se sabia como poderia reagir e Vivian faria todo o possível para ser amiga dele pelo máximo de tempo que conseguisse.
"Você já quis voltar no tempo e poder mudar alguma coisa?"
Ao lado de Lucas, ela vive os momentos mais lindos de sua vida. Ainda que se encontrassem escondidos e por poucos minutos, ainda que sentisse que tudo poderia acabar abruptamente, Vivian não desperdiçou nenhum instante que o destino lhe deu. Mas quando tudo chegou ao fim.... foi mais traumático do que qualquer pessoa poderia imaginar. Nada. Nada a preparou para um trauma tão grande.
Agora, aos vinte e sete anos, formada em biologia marinha e com um futuro promissor pela frente, o aparecimento de alguém de seu passado a força a revisitar antigos sofrimentos e encarar as feridas deixadas por toda aquela dor.
"Era tão complicado processar tudo, que, na maior parte do tempo, me recusei a pensar."
A história não é dividida em capítulos, mas em "semanas", conforme acompanhamos as sessões de tratamento da nossa protagonista que decide procurar ajuda psicológica para finalmente conseguir lidar com todas as marcas emocionais deixadas por seu passado (que é realmente muito doloroso). É através de cada consulta que conhecemos os acontecimentos de mais de dez anos atrás, ao passo que Vivian vai se abrindo e contando tudo o que aconteceu até que ela chegasse àquele ponto.
Tudo é contado bem aos poucos, ao longo de
trinta e uma semanas. Então, quando a protagonista chega à cena mais dolorosa, não é só a psicóloga que sofre um grande golpe (pois ela também era humana), mas também nós leitores, que ficamos chocados e precisamos interromper por uns minutos a leitura, tentando entender como aquilo poderia ter acontecido. Eu me senti sem chão. Naquele momento a autora conseguiu me fazer chorar, sentir muitíssimo por tudo o que a Vivian passou, sendo apenas uma adolescente.
"Eu me sinto como se estivesse quebrada, sabe? Falta alguma coisa..."
Eu detestei profundamente a mãe da Vivian. Mulher desequilibrada, doentia. Tratava as filhas como prisioneiras, como se fossem propriedades dela, como se não tivessem sentimento nem nada. Fica mais que evidente, em diversos momentos das lembranças da protagonista, que ela vivia presa a um relacionamento abusivo com a mãe. Não são só companheiros (as), namorados (as), maridos/esposas, que podem prender uns aos outros numa relação tóxica, abusiva. Familiares também podem ser tóxicos. Uma mãe ou um pai pode sim exercer tal controle físico e emocional sobre os filhos ao ponto de se tornar uma relação nociva, doentia.
Conforme Vivian vai lembrando do dia a dia, do medo terrível que sentia, imaginando sempre que a mãe poderia ser capaz de fazer algo muito ruim, nós vamos nos sentindo "sufocados", como se estivéssemos dentro daquela casa com ela, como se passássemos pelas mesmas coisas. É horrível. E aí começam os meus motivos para ter dado 3 estrelas ao livro e não 5 ou 4.
A história da mocinha me atingiu profundamente. É comovente, dolorosa, nos provoca empatia, nos faz sofrer com ela. E torcer para que ela consiga se recuperar e ter o seu sonhado "felizes para sempre". E eu não gostei da maneira como certas coisas foram conduzidas.
Sei que é uma história de perdão e recomeço. De livrar-se de um passado que influenciava toda a vida da protagonista. De conseguir se libertar para ser feliz. Ainda assim, não havia, na minha opinião, necessidade de construir certas cenas. Algo que não posso explicar direito, pois precisaria dar spoilers. Mas o que posso dizer é que senti que todos os personagens (tirando os amigos da Vivian e uma outra personagem)
jogavam com ela. O tempo todo. Manipulando, fazendo da vida dela o que bem entendiam. E ela permitia isso. Aquilo não era cura, era se deixar fazer de idiota. Desculpa, mas é assim que penso.
Primeiro, o suposto amor do Lucas pela Vivian não me convenceu. Nem por um instante. Se ele realmente a amava, não sabia como de verdade se ama alguém. O que já me fez tirar uma estrela do livro, pois eu enxergava algo de errado naquela relação. Algo que não era muito saudável (lembrando que é apenas a minha opinião). Mesmo assim, como era acima de tudo a história da Vivian e da sua superação, eu ainda pretendia dar quatro estrelas. Eu já tinha lido 90% do livro e seguia confiante de que daria quatro estrelas.
E aí veio a revelação bombástica do livro. Algo que me pegou completamente de surpresa. E a história desandou.
Por quê? Porque foi aí que vi o quanto os personagens jogaram com a Vivian. O quanto brincaram com ela, manipularam, fizeram o que bem entenderam, sem se importar com sua dor, com seus sentimentos. Não se faz algo como aquilo. Nunca. É muito grave. Se eu já não acreditava no amor de certos personagens, depois daquilo se tornou impossível qualquer tentativa de eles me convencerem do contrário. Não tinha mais retorno, sobretudo, porque o livro chega ao fim poucas páginas depois, com a Vivian aceitando como "normal" e "justificável" o grande mal que aquelas pessoas lhe fizeram. Como assim, pelo amor de Deus?! Isso foi surreal para mim.
"Pretendo deixar para trás tudo o que vivemos de ruim. Sei que não posso fugir de quem sou e do que passei, porém, posso escolher ao que me apegar."
Isso não significa que acho a história ruim. Na verdade, de modo geral, é muito boa. Extremamente envolvente, faz com que nos apeguemos à protagonista. Sofremos com ela, torcemos para que seja muito feliz. E é provavelmente por isso que me revoltei tanto. Que não aceitei o que fizeram com ela. Seria impossível. Eu queria era socá-los.
Fiquei com raiva da Vivian por permitir que aquela gente fizesse parte de sua vida, quando não eram dignos disso. Fiquei com muita raiva. Mas ao mesmo tempo reconheci que não sou ninguém para julgá-la pelas decisões que ela tomou diante de tudo o que passou, de tudo o que teve que enfrentar. Se era assim que ela conseguiria recomeçar, se era desse jeito que ela encontraria a felicidade, eu precisava aceitar, mesmo desejando esganar aqueles infelizes. Ela era livre para fazer as escolhas que considerasse as melhores para a própria vida. Era um direito dela.
Eu amei a escrita da autora e a admiro por ter conseguido construir toda a história através de semanas de tratamento psicológico da protagonista. É uma maneira diferente de narrar, de conduzir uma história, algo que eu já vi parecido apenas nos suspenses psicológicos da Chevy Stevens (e mesmo assim é um tanto diferente). É muito fácil ler o livro, a narrativa é deliciosa e fiquei com muita vontade de conhecer outras histórias dela.
-> DLL 20: Um livro de autora brasileira