30 de junho de 2017

A Cartomante - Machado de Assis (conto)


Contos Escolhidos - 6/30

Machado de Assis é um dos mais renomados contistas da literatura brasileira. Transitando entre os diversos tipos de contos - do tradicional ao moderno -, seus textos são originais e complexos. São contos cheios de acontecimentos intensos - quase sempre envolvidos num clima de tensão -, repletos de personagens polêmicos e ambíguos e de jogos e armadilhas textuais que induzem à dúvida, relativizando a maior parte das ideias e levando o leitor a refletir sobre suas "certezas". 





Palavras de uma leitora... 


- Eu achava que O Espelho era o conto mais forte que tinha lido do Machado de Assis. Todavia, A Cartomante conseguiu superá-lo. 

Quem aqui nunca encontrou um "vidente" em seu caminho? Alguém que lhe revelou algo sobre sua vida, seu futuro, que disse que você seria isso ou faria aquilo? Perdi a conta de quantas vezes isso aconteceu comigo.rsrs Já disseram que eu seria cantora, que casaria aos 18 anos, que teria determinada quantidade de filhos. Nada disso aconteceu, claro. Já chegaram até mesmo a "revelar" coisas bastante duras sobre o meu futuro. E se eu desse ouvidos a essas pessoas certamente já teria me trancado num hospício, escondendo-me do mundo. Eu acredito totalmente na existência do bem e do mal e que Deus pode sim usar alguém para te "contar" algo sobre sua vida, para te auxiliar numa direção, num caminho. Mas algo que venha dEle, que seja dito por Ele. Na maioria dos casos, as pessoas fazem "revelações" por conta própria. Inventam. E aí é que está o perigo. 

Em A Cartomante, Rita e Camilo se amam. Vivem um romance proibido, pois ela é casada com o melhor amigo dele. Apesar dos obstáculos e dos perigos, não conseguem manter-se separados. E quando Camilo resolve se afastar um pouco, deixando de frequentar a casa do amigo para não levantar suspeitas, Rita, desesperada, resolve procurar uma cartomante para entender o que se passava. Será que Camilo já não a amava mais? Será que a tinha esquecido? E nada poderia ter sido mais confortador que as palavras daquela sábia mulher, que lhe tiraram um peso do peito. 

"Apenas começou a botar as cartas, disse-me: 'A senhora gosta de uma pessoa...' Confessei que sim, e então ela continuou a botar as cartas, combinou-as, e no fim declarou-me que eu tinha medo de que você me esquecesse, mas que não era verdade..."

Camilo, por sua vez, não era uma pessoa supersticiosa, não acreditava em adivinhações e muito menos era alguém religioso. Tinha crescido com uma mãe que lhe passara várias crenças, mas ao chegar na vida adulta ele se tornou alguém incrédulo, com os dois pés no chão. Achava divertido que Rita acreditasse naquelas coisas, que tenha ido consultar alguém para ter respostas sobre o futuro e o afeto dele. E isso só aumenta o seu amor por ela e o torna mais e mais imprudente. 

"Camilo não acreditava em nada. Por quê? Não poderia dizê-lo, não possuía um só argumento; limitava-se a negar tudo."

- Foi fácil perceber como este conto terminaria. Por mais que eu quisesse que as coisas ocorressem de outra maneira, tudo caminhava para aquele final. Fiquei chocada com a facilidade com que os personagens se deixaram levar. Muitas vezes a gente quer ouvir determinada coisa e se alguém chega e lhe diz aquilo, você acredita que foi uma "confirmação" do que você deveria fazer, do que pensava em fazer. Mas na verdade não passava daquilo que você QUERIA que alguém lhe dissesse. Não era exatamente o conselho ideal, o sensato, o correto, não passava do que você desejava ouvir. E isso é extremamente perigoso. 

O tempo, as experiências, as leituras... tudo contribuiu para me tornar uma pessoa mais questionadora e cética. Não que eu seja como o personagem Camilo que "não acredita em nada". Eu acredito em Deus, como todos aqui sabem. Penso que o fato deste mundo existir e de nós seres humanos e todos os outros seres viventes existirmos é mais do que uma prova da própria existência do nosso Deus. Mas Deus nos deu um cérebro, a capacidade de pensar, de raciocinar. Não podemos dar como certo e verdadeiro tudo o que as pessoas nos contam. Isso é o mesmo que ter o cérebro como enfeite, caramba! Eu fico admirada com a maneira como as pessoas preferem acreditar em tudo que ouvem, chegando a repassar informações que elas nem sequer pararam para confirmar se eram verdadeiras ou não. Mas se fosse só isso! O que realmente me choca e angustia é que existem pessoas que se deixam levar totalmente pela conversa, pela lábia dos outros, tornando-se alienadas. Eu conheço pessoas assim. Que não pensam mais por elas mesmas, que tudo que dizem ou fazem parte da influência total das palavras de outra pessoa. Isso para mim é algo muito sério. 

Sim, este conto mexeu comigo.rsrs E penso que essa era justamente a intenção do autor. Tocar num determinado assunto, alfinetar aqueles que lessem a história. Já percebi que em todos os seus contos há sempre uma sutil (ou não tão sutil assim) crítica à sociedade. E gosto bastante disso! :)

- Infelizmente, este mês só consegui ler dois contos. Espero que no próximo consiga ler os quatro que pretendo! 


Contos anteriores:

Missa do Galo
Contos de Escola
Cantiga de Esponsais
Teoria do Medalhão
O Espelho

28 de junho de 2017

Cuco - Julia Crouch

(Título Original: Cuckoo
Tradutor: Tiago Novaes
Editora: Novo Conceito
Edição de: 2012 )

Cuco é um pássaro que rouba outros ninhos... 

Polly é a mais antiga amiga de Rose. Então quando ela liga para dar a notícia da morte de seu marido, Rose não pensa duas vezes ao convidá-la para ficar em sua casa. Ela faria qualquer coisa pela amiga; sempre foi assim.

Polly sempre foi singular - uma das qualidades que Rose mais admirava nela - e, desde o momento em que ela e seus dois filhos chegaram na porta de Rose, fica óbvio que ela não é uma típica viúva. Mas quanto mais Polly fica na casa, mais Rose se pergunta o quanto a conhece. Não consegue parar de pensar, também, se sua presença tem algo a ver com o fato de Rose estar perdendo o controle de sua família e sua casa.

Enquanto o mundo de Rose é meticulosamente destruído, uma coisa fica clara: tirar Polly da casa está cada vez mais difícil.

Brilhantemente sombrio e deliciosamente perturbador, Cuco é um romance que penetrará sob sua pele.



Palavras de uma leitora...



- Por onde começo? Estou tão perturbada ainda que não consegui organizar meus pensamentos. E não faço ideia do que de fato sinto por esta história. Tudo o que sinto, sabe. Porque o único sentimento que consigo nomear até agora é o da repulsa. 

Fazia tempo que não me arrependia tanto de ler um livro. Deveria ter dado ouvido aos meus instintos e simplesmente me desfeito deste livro anos antes. Sem lê-lo! Sem jamais saber o que estava escondido em suas páginas. Aquela enorme sujeira que está fazendo com que eu própria me sinta suja, nauseada, transtornada. É um livro que não me fez nenhum bem. E o final apenas conseguiu me deixar pior. 

Quero me livrar da energia negativa que esta história deixou. Tudo o que quero no momento é ler um livro que me faça esquecer tudo o que li em Cuco...

"No momento em que levava o cozido para a mesa, olhou para Polly, já sentada e aguardando que fosse servida. Lançava olhares para todos os objetos do ambiente, como se estivesse fazendo algum tipo de cálculo mental."

- O trecho acima já lhes diz algo, não é mesmo? Rose era a única que parecia não enxergar quem de fato era a pessoa que ela estava recebendo em sua casa, permitindo que invadisse o mundo que tão cuidadosamente criara. 

Rose finalmente estava vivendo o que sempre sonhara. Acabara de terminar de construir sua casa ao lado do marido, com o suor, o sangue e as lágrimas dos dois. Nada tinha sido fácil. Lutaram muito para terem o que agora estava ali de pé. E quando parecia que poderiam relaxar e simplesmente curtir a vida ao lado das duas filhas, uma única ligação ameaçou toda a tranquilidade e futuro de sua família. 

Christos, melhor amigo de Gareth (seu marido) e esposo de Polly, estava morto. E sua melhor amiga, desamparada com dois filhos para criar, estava saindo da Grécia de volta para a Inglaterra. Profundamente abalada pela notícia chocante, Rose imediatamente ofereceu a sua casa para abrigar a família despedaçada. E aquele foi o maior erro de sua vida. 

"Rose editara seu passado meticulosamente para o consumo público. Teve de fazê-lo. Apenas Polly, que jurara segredo, sabia de tudo. Haveria perigo naquele olhar?"

- Antes mesmo de Polly descer do avião, o mundo de Rose já começara a sofrer os primeiros abalos. Gareth não estava contente com a vinda de Polly, não a queria em sua casa, contaminando tudo com a sua presença. Ele parecia enxergar o que Rose não queria, mas a insistência da esposa não lhe deu outra alternativa senão aceitar, de maneira bastante relutante, a vinda daquela mulher. 

- Não demora nada para que Polly comece a demonstrar para que veio... Sutilmente, ela começa a tomar conta de tudo, destruindo a influência que Rose tinha sobre sua própria família e colocando todos os que ela amava em perigo. Seria tarde demais quando ela finalmente abrisse os olhos? Quanto já teria perdido? O que ainda poderia salvar?

"Para você é fácil, Rose, com tudo isso, com sua bela casa, seu belo marido, com a porcaria de suas belas crianças...
- Polly...
- Para você tudo deu certo, não foi?
- Isso não é justo.
- Não é justo mesmo."

- Estou até agora tentando entender de onde a Rose tirou a ideia de que aquela vadia maldita era sua amiga. Como ela pôde um dia acreditar em tal coisa? Será que era simplesmente cega, masoquista ou mesmo uma completa imbecil? Que ela tenha encontrado refúgio em Polly quando eram crianças, eu até entendo. Mas com base no pouco que é revelado sobre a adolescência das duas, Rose tinha bastante ideia do verdadeiro caráter daquela mulher, de como ela sempre tinha feito de tudo para arruinar a sua vida. Mas ela não conseguia, não era capaz de tirar Polly de sua vida, de acabar de uma vez por todas com a influência que aquela cobra exercia sobre ela. E por esse motivo mergulha num verdadeiro inferno, vendo todos os seus sonhos, sua família, tudo o que ela amava sendo calculadamente destruídos. 

"- Rose?
Sentiu a mão de Gareth deslizando suavemente sobre seu ombro e virou-se para olhá-lo.
- Sim?
- Eu te amo tanto - falou ele.
E se beijaram sob a fulgurante luz do sol."

- Ainda que eu não tivesse lido a sinopse, teria percebido o que a Polly estava planejando. Ela dá todos os sinais desde o princípio. Suas palavras, seus olhares, seus sorrisos frios, suas atitudes, tudo revelava a inveja e o ódio que ela sentia da Rose, da vida que ela tinha conquistado e que era bem diferente da que Polly tinha. Estava mais do que na cara que ela queria arruinar tudo aquilo. Que tinha voltado, com seus dois pequenos filhos como desculpa, para poder tirar de Rose o que ela tinha, para poder realmente destruí-la. Bela amiga, não acham?!

Rose, presa ao passado que dividira com aquela mulher, e pela piedade que sentia por ela ter perdido o marido que amava e estar desnorteada com duas crianças pequenas para criar, ignorou todos os sinais. Simplesmente a acolheu, disposta a cuidar dela, a fazer sua amiga se sentir em casa, protegida, para ter o apoio necessário para recomeçar. Mas com o tempo ela começa a perceber que sua própria vida está saindo dos trilhos, que suas crianças já não são as mesmas e seu marido, que rejeitava completamente a presença de Polly antes, agora estava bastante próximo dela e mais e mais distante de Rose. O que estava acontecendo? Como ela poderia estar perdendo o controle de tudo daquela maneira? E por que se sentia às vezes tão cansada e zonza, como se estivesse longe do mundo? 

"As palavras de Gareth foram tão súbitas, tão acabadas, que ela não conseguia deixar de pensar no que Polly havia feito para mudá-lo."

- Não sei se rio ou se choro com o trecho acima. Sério que ela não sabia o que Polly tinha feito para transformar de maneira tão drástica o seu marido? O que mais me surpreende é que Rose conhecia aquela rameira dos infernos. Tinha passado muitos anos de sua vida ao lado dela. Conhecia seus segredos, suas sujeiras, a maneira como ela não dava a mínima para os sentimentos de ninguém e simplesmente pegava o que queria. E ainda assim ela se recusava a ver! Polly destruiu a vida da protagonista, não tenho dúvidas disso, mas Rose permitiu que ela fizesse isso. É tão culpada quanto a maldita por tudo o que aconteceu. Talvez seja ainda mais culpada que ela, pois deixou sua família nas mãos dessa desgraçada. 

"[...] Você precisa tirar ela de sua casa. Estão armando uma tragédia para você, Rose. Ela é perigosa."

- Conforme as coisas vão dando errado no lar da Rose, com seus animais queridos aparecendo misteriosamente mortos e sua bebê ficando internada entre a vida e a morte num hospital, até mesmo as pessoas de fora começam a perceber o que estava acontecendo. Não demora para que a alertem do perigo que estava ali dentro, que a incentivem a mandar Polly embora, mas Rose se recusa a lhes dar ouvidos. Primeiro, porque quer acreditar que tudo foi acidente e depois... porque sua "melhor amiga" começa a não deixar dúvidas de que revelaria seus segredos se fosse obrigada a partir. Que iria embora, mas não sem antes trazer à tona o passado. 

Presa numa armadilha, ela já não fazia ideia de como consertar tudo. Como fazer com que o tempo voltasse e jamais tivesse recebido Polly em sua casa. Todavia, quando ela finalmente abre os olhos e busca uma saída, já é tarde demais. Já não seria possível salvar sua família. Não seria mesmo.

"Aqui começa a última etapa do jogo, pensou. Testemunharei o final disso tudo."

- Foi com muito sofrimento que terminei a leitura deste livro. Tudo o que eu desejava era fechar as páginas e mandá-lo para bem longe de mim. Não suportava mais ver o que estava acontecendo naquela casa, não aguentava imaginar como tudo terminaria, a destruição que tomaria conta de tudo. Eu sentia raiva, tristeza, desprezo, nojo, repulsa... tinha vontade de arrancar a Polly dali com minhas próprias mãos, de mandá-la para o inferno do qual ela com certeza saiu e impedir que ela conseguisse o que desejava. Mas eu não podia fazer nada senão ver o que aconteceria. Me sentia impotente, desesperada e sem nenhuma esperança de um final feliz. 

Até porque não é um romance, gente. Não tenham a ilusão de que tudo vai dar certo no fim. Não. Este livro é um thriller psicológico que te garante desde a sinopse que a vida da protagonista vai se transformar num completo inferno. Que seu mundo vai ser destruído. E o livro cumpre o que a sinopse promete. Não estou dando nenhum spoiler. Na verdade, evitei bastante spoilers nesta resenha. Tudo o que contei não vai além do que a contracapa e a orelha do livro revelam. Não é nada comparado ao que vocês encontrarão ao ler esta história. Nada do que eu disse aqui pode prepará-los para o que acontece. Muito menos para o final.

"Seguiu a trajetória do olhar de Polly e viu Gareth fora da casa, no gramado dos fundos da casa, ajoelhado sobre um pequeno corpo prostrado. Ao seu lado, jazia uma arma. [...] 

[...] Virou-se para a casa atrás dela. Polly retomara a sua posição sob o batente da porta. Rose quase tropeçou quando viu a expressão em seu rosto. Demonstrava mais que prazer. Era uma espécie de êxtase petulante. [...]"

- Como disse antes, me arrependo amargamente de ter lido esta história. Eu própria gostaria de voltar no tempo e me impedir de lê-la. Ela simplesmente não me fez bem. Muito pelo contrário! Me deixou destroçada, ansiando por uma justiça que jamais chegou. Tenho a sensação de que o mundo virou de ponta à cabeça, que tudo saiu do lugar, que nada está certo. Por que, me expliquem, como algo pode terminar assim? Não posso aceitar. Não consigo. 

E sim, já estou em lágrimas. Mesmo profundamente angustiada, eu não chorei durante a leitura. Não tinha forças sequer para isso. Mas agora que tudo terminou, sinto aquele nó doloroso na garganta... e uma raiva tão grande que vocês não podem imaginar. 

Sabe o que é pior? Saber que não se trata de pura ficção. Embora seja um thriller psicológico, uma obra de ficção, é impossível não perceber que existem diversos casos assim espalhados por aí. Confiar pode ser o pior erro de uma pessoa, pode ser a arma que usarão para destruir a sua vida. Já disse antes aqui e repito: cuidado, gente! Muito cuidado com as pessoas que estão ao seu redor, com quem você permite que entre na sua casa, que esteja perto de sua família. Existem pessoas que não precisam pegar uma arma ou qualquer outro objeto mortal para acabar com a vida de alguém. Existe uma coisa chamada influência e outra chamada inveja. Minha avó sempre disse que não existe nada mais destruidor que a inveja de alguém. Eu acredito nisso. Por isso, hoje em dia não confio facilmente. Muito pelo contrário, sempre que confio é desconfiando. Eu aconselharia vocês a fazerem o mesmo. É terrível demais ver alguém ser destruído por confiar em alguém, por acreditar numa pessoa e permitir que ela invada sua vida. Isso é simplesmente desesperador. 

- Polly é o próprio mal. Lembro claramente que quando ela chegou, quando desceu daquele avião, eu tive a sensação de que ela começava a espalhar uma nuvem negra sobre a vida da protagonista apenas com sua presença. Ela possuía uma energia tão negativa que eu me arrepiava e chegava mesmo a sentir medo. Parecia que ela saía das páginas do livro... seus olhares... seus sorriso... era tudo tão venenoso e calculado, tão maligno que eu sentia pavor. Verdadeiro pavor. Ainda não me recuperei. Continuo aterrorizada por esta história. E por esse demônio em forma de gente.

"[...] Mas você é quem faz tudo isso existir - falou, abrindo os braços para a casa. - Sem você, tudo isso aqui não seria nada. Sem você, eu não seria nada. [...]"

- Nunca irei perdoar a Rose. Isto está fora de cogitação. Não sei quem eu desprezo mais. Se a Polly ou ela. Sim, Polly é o coisa ruim em pessoa, mas Rose deu poder a ela, permitiu que ela entrasse em sua casa, que se aproximasse de sua família. Todo o poder que aquele troço ruim tinha era porque Rose tinha permitido. Não posso ter pena de uma protagonista tão imbecil, tão passiva, tão irresponsável com a própria família. Ela conhecia a peste que estava entrando em seu lar. Era sua obrigação impedi-la. Mas não! Não tinha coragem! Era uma covarde estúpida que não era capaz de se livrar da influência daquela praga! Polly conhecia seus segredos e daí? Ela não era nenhuma criança. Se esta era a ameaça que a víbora usava, então estava na hora de tirar dela a chance de cumprir o que prometia. Rose poderia simplesmente ter aberto o jogo. Contado tudo. Ela optou por não fazê-lo e as consequências foram graves.

- E aquele final... Respira fundo, Luna! Sinto náuseas só de lembrar. Talvez exista quem considere um ótimo final. Não contarei o que acontece, claro. Mas eu achei uma porcaria completa. Tenho total certeza de que nunca mais lerei nada desta autora. Deus me livre!

- Já li livros pesados, gente. Histórias terríveis como Corações Feridos, A Lista do Nunca, Viva para Contar, Restos Humanos, No Escuro e muitas outras. Estou acostumada com esse tipo de história. Mas Cuco tem algo além... Algo que me dá arrepios, que me faz querer distância de outros livros dela. Não sei se a Julia Crouch voltou a escrever algo depois deste livro e nem quero saber. Simplesmente quero distância. 

Não estou dizendo que ela não seja uma ótima escritora. Na verdade, é uma escritora maravilhosa, que te envolve por completo! Não dá para largar o livro por mais que você queira. A narrativa é incrível, tudo se entrelaça, tudo se constrói de uma maneira impressionante. Ela tem talento, criatividade e sua história é uma das melhores que li, se eu for considerar a originalidade e a maneira como ela é desenvolvida. Todavia, por causa dos sentimentos que ela me provocou, por causa da estupidez da protagonista e as consequências disto, eu não suportaria ler outra história dela no mesmo estilo. Não aguentaria. 

- Uma coisa que preciso comentar é que ninguém é santo nesta história. Claro, como seres humanos somos todos imperfeitos. Cometemos erros, temos passado, isso é natural. Mas não estou falando disso. Estou dizendo que todos (exceto as crianças, é claro) tinham algo a ocultar. Não simples erros, mas coisas que iam além disso. Rose, que como protagonista deveria ser diferente, está realmente bem longe de ser um anjinho. As coisas que ela fez... se eu não tivesse detestado ela por ser tão estúpida, de qualquer forma não a teria perdoado. Ela tinha grande parcela de culpa pelo que estava acontecendo. Ela me dá nojo. 

Claro que ela também tem qualidades. Nunca diria que ela não amava profundamente as suas filhas, que não se importava com os filhos da Polly, que não se arrependia de suas escolhas do passado. E ela sofreu muito. No lugar dela, não sei o que teria feito (estou me referindo ao passado dela). Ela era só uma menina perdida, necessitando de carinho, de apoio, de ajuda. Isso eu posso compreender. E ela era uma mãe muito amorosa, até mesmo com os filhos dos outros. Isso eu não nego. Mas... ela faz algumas coisas desprezíveis... que me provocaram asco. Não tenho força de vontade para perdoá-la. 

"Pela primeira vez reparou que Polly estava ali, sentada, meio coberta pelo canto da poltrona. Seu rosto era sério, mas Rose tinha certeza de que podia ver uma ponta de triunfo em seus olhos."

- Bem... É isso. Recomendo a história? Não! Mas sei que existem pessoas que amaram este livro. E gosto é algo muito pessoal. O livro é muitíssimo bem desenvolvido, a autora é realmente maravilhosa e talvez quem ama suspenses, dramas, histórias mais fortes, goste muito deste livro. Tudo bem que eu adoro suspenses e me arrependo de ter lido este.kkkkkk... Mas isso não significa que vocês também irão se arrepender. Então, deem uma chance ao livro se sentirem vontade! Talvez amem, talvez odeiem a história. Quem sabe?rsrs 




Cuco foi minha escolha para o tema deste mês do Desafio 12 Meses Literários. Em junho eu deveria ler "Um livro com mais de 300 páginas". Este livro tem 461 páginas, então eu cumpri bem a meta.rsrs Infelizmente, foi uma leitura que eu preferia não ter feito. :(

26 de junho de 2017

Minha poetisa querida: Florbela Espanca

Google Imagens


VAIDADE

"Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe, 
Que tem a inspiração pura e perfeita, 
Que reúne num verso a imensidade!

Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!

Sonho que sou Alguém cá neste mundo...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a Terra anda curvada!

E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho... E não sou nada!..."


- Sei que em algum momento devo ter comentado com vocês o quanto admiro e amo esta autora. O quanto ela é importante para mim, sobretudo em momentos em que estou triste e quero ler algo que me faça sentir que alguém mais me compreende.rs 

Se não me engano, a primeira vez que ouvi falar da Florbela, foi através da minha amiga Carla. E apenas aquele primeiro contato já bastou para que eu desejasse muito ter um livro da Florbela em minhas mãos. Não queria ler seus sonetos tão incríveis apenas na internet. Eu os queria comigo. Para que eu pudesse abrir o livro, folhear as páginas, cheirá-las, sentir que aqueles versos estavam mais perto de mim. Que estavam em mim, sabe? Porém, demorou muito para que realizasse meu sonho...

"E as lágrimas que choro, branca e calma, 
 Ninguém as vê brotar dentro da alma! 
Ninguém as vê cair dentro de mim!" 
[Trecho de: Lágrimas Ocultas]


- Três anos atrás, no dia do meu aniversário, peguei o ônibus e saltei perto da biblioteca mais próxima da minha cidade. Ela está em péssimas condições, não possui muitos livros interessantes, mesmo assim eu quis ir lá. Tinha uma tênue esperança de encontrar algo da Florbela. E encontrei. Um livro de sonetos antigo. Fiquei tão feliz com isso!rsrs Em apenas um dia li todos os sonetos que existiam nele. E uma tristeza grande me invadiu quando tive que voltar àquela biblioteca para devolver o livro. Eu queria tanto tê-lo comigo! Mas, de qualquer forma, aquela não era a versão que eu queria. Desejava algo que estivesse à altura da autora.


"No silêncio de cinzas do meu Ser
Agita-se uma sombra de cipreste,
Sombra roubada ao livro que ando a ler, 
A esse livro de mágoas que me deste."
[Trecho de: A Um Livro]


- Então... Uns dias atrás, fui até uma livraria. Eu queria me dar um presente de aniversário antecipado. Algo que fosse muito especial. Perguntei ao atendente se ele tinha algum livro "lindo" da Florbela Espanca. Ele procurou no computador, mas todos os que tinha não eram o que eu desejava. Perguntei: "Tem certeza que só tem esses?" E ele disse que sim. E eu já estava saindo da livraria, muito decepcionada... quando comecei a olhar para uma prateleira na minha frente. Nela estavam livros da Martin Claret em edições de luxo e aí... meu coração quase parou quando eu vi. Era a edição dos meus sonhos, gente! Era perfeita. 



- A capa nesta foto não vai conseguir mostrar pra vocês a beleza desta edição. Somente quando você a tem nas mãos consegue entender. Possui capa dura e deliciosa ao toque, as folhas iniciais são azuis (minha cor preferida), com detalhes fofos e preciosos. Trata-se na verdade de uma Antologia Poética, reunindo os principais livros da Florbela, como por exemplo: "Livro de Mágoas", "Charneca em Flor" e "Trocando Olhares", só para citar alguns. É claro que fiquei perdidamente apaixonada por este livro! E furiosa com o atendente, pois se meus olhos não tivessem "batido" no livro, eu simplesmente teria saído da livraria sem ele, triste por mais uma vez não ter encontrado a edição perfeita que sonhava. 

- É claro que trouxe o livro para casa e desde então não há um só dia em que não o "namore", folheie suas páginas, leia e releia sonetos queridos. Ainda não li todos. Quero passar um longo tempo com eles. Lendo bem aos poucos, relendo bastante aqueles que mais me apaixonam. Sem qualquer pressa. 


"Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida!
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão do meu viver, 
Pois que tu és já toda a minha vida"
[Trecho de: Fanatismo]


Quem é Florbela Espanca? 

- Não me perderei numa longa biografia da autora. O que sim vou dizer é que ela foi uma alma incompreendida, intensa, que desejava algo que este mundo muito provavelmente jamais seria capaz de lhe dar. Nasceu em 08 de dezembro de 1894, numa época ainda bem difícil para as mulheres (mesmo nos dias de hoje as coisas ainda não são fáceis). Era filha ilegítima de um pai que somente a reconheceu legalmente como filha cerca de vinte anos depois da morte dela. O que me deixa com o coração partido. Não que as pessoas não soubessem que ele era seu pai. Na verdade, ele a recebeu em sua casa, a criou ali, juntamente com o irmão dela que também era seu filho. Pelo pouco que percebi do que li, a amava (da maneira dele, claro) e em muitos momentos a ajudou. A esposa dele era madrinha da Florbela, uma vez que ela foi concebida porque a mulher dele era estéril e lhe deu permissão para ter filhos com uma outra mulher. Enfim... 

Florbela era muitíssimo inteligente. Interessava-se por livros e queria estudar. E lutou por isso. Começou a escrever seus textos, poemas, contos, ainda bem nova. E ainda bem jovem também enfrentou sofrimentos terríveis que acabaram por contribuir para a sua morte prematura, aos 36 anos de idade. :( Acredito que as maiores tristezas de sua vida foram o aborto involuntário que ela sofreu e a perda do irmão, num trágico acidente. E foi justamente após a morte do irmão que a minha autora querida tentou suicídio pela primeira vez. 

E sim, ela acaba por conseguir partir na terceira tentativa. Sei que existem pessoas que consideram "covardes" aqueles que se suicidam. Que eles foram fracos e optaram pelo caminho mais fácil. Sério, gente? É tão fácil julgar os outros! Sobretudo quando não estamos no lugar deles, sentindo o que eles estão sentindo, sofrendo o que estão sofrendo. É impossível para mim dizer que suicidar-se é o caminho mais fácil. Na verdade, o que penso é que é bem difícil e doloroso para um ser humano tomar tal decisão. É preciso que a pessoa esteja sofrendo demais, um sofrimento que vá muito além do suportável. Me dói muitíssimo que a Florbela tenha estado em tal situação... que ela tenha sofrido tanto e não tenha encontrado outra saída. Queria que alguém a tivesse confortado, estendido a mão e a levantado do poço no qual ela se encontrava. Que alguém tivesse dito: "Estou aqui com você e não irei te soltar." O mundo inteiro perdeu uma joia preciosa quando essa escritora brilhante fechou os olhos pela última vez. 

Somente dois dos seus livros foram publicados enquanto ela era viva: Livro de Mágoas e Livro de Sóror Saudade. Os outros foram publicados apenas depois de sua morte. 


"Dou-te, comigo, o mundo que Deus fez!
- Eu sou Aquela de quem tens saudade, 
A princesa do conto: 'Era uma vez...'" 
[Trecho de: Conto de Fadas]


- Eu queria falar mais... Colocar em palavras o carinho enorme que sinto por esta poetisa que tinha o dom de encantar, emocionar e transbordar sentimentos em suas palavras. Muitas foram as vezes em que li seus sonetos e senti como se ela tivesse escrito exatamente o que eu estava sentindo, aquilo que eu própria não seria capaz de escrever. Ela era pura vida, escrevia com a alma... colocava a si mesma no papel. Acredito que nunca amarei nenhum poeta como à ela. Penso que seria impossível. 


"Batida por furiosos vendavais!
- Eu fui na vida a irmã de um só Irmão,
E já não sou a irmã de ninguém mais!"
[Trecho de: In Memoriam]


- Às vezes eu fico pensando... No quanto as pessoas simplesmente desperdiçam a oportunidade única que têm de viver. Se concentram em brigas, desentendimentos idiotas, se afastam de quem amam, passam a preocupar-se apenas com elas mesmas... jogando o tempo fora. Jogando todas as chances no lixo. Têm vezes que observo as pessoas e vejo com tristeza quantos valores se perderam. E o principal: quanto amor se perdeu. Vejo uma mãe que fez tudo por seus filhos, que sacrificou a si mesma e hoje depende do auxílio de estranhos, pois seus próprios filhos lhe viraram as costas. Vejo irmãos que não se suportam, amigos que se traem... e tudo que posso fazer é lamentar por essas pessoas que estão pegando a própria vida e jogando fora. 

A Florbela, pelo que posso observar de seus sonetos e do que li sobre sua vida, era alguém que amava muito a vida, a natureza, as pessoas e, acima de tudo, a sua família. Principalmente o irmão. E ela não suportou perdê-lo. Foi o golpe mais doloroso que sofreu. Algo que ela não conseguiu superar. E somente quem perde alguém querido consegue entender tal dor. 

"Mas se eu pudesse a mágoa que em mim chora
Contar, não a chorava como agora,
Irmãos, não a sentia como a sinto!..." 
[Trecho de: O Meu Impossível]



- Bem.. É isso. Espero que um dia vocês deem uma chance aos sonetos da Florbela. Que leiam cada verso com o coração. Ela foi uma artista única. Talentosa como poucos. E inesquecível. 

"Eu, doce e humilde escrava, te saúdo,
E, de mãos postas, em sentida prece, 
Canto teus olhos de oiro e de veludo.

Ah! esse verso imenso de ansiedade,
Esse verso de amor que te fizesse
Ser eterno por toda a Eternidade!..."
[Trecho de: Escrava]

23 de junho de 2017

Final de Semana Ensolarado (Escrevendo sem Medo)


Considerações Sobre um Fim de Semana Ensolarado

"Observe a imagem abaixo. Imagine que aquela pessoa é você. Imagine uma estória para essa imagem. O que você fez até tirar essa foto? Como se sentiu? O que aconteceu nesse fim de semana ensolarado?"



Era sábado. O dia amanheceu lindo. As nuvens e o cinza do dia anterior agora eram apenas lembranças. Eu queria sair. Apenas caminhar. E foi o que fiz. Calcei meus tênis, coloquei meu livro preferido na mochila e tranquei a porta. Não sabia bem para onde ia. Não fazia ideia. 

Há quanto tempo não fazia trilha? Mal era capaz de recordar. Me habituara a olhar para o mundo da janela do meu quarto. Não me atrevendo mais a arriscar. Não tendo coragem. Foi então que decidi. 

Meus pés pareciam ter vontade própria. Escolhendo por mim o meu destino. Não demorou para que o cheiro da natureza invadisse meu espaço, provocando a sensação de paz que não sentia desde... Não sei. Realmente não sei quando foi a última vez que me sentira assim. 

A urbanização ficou para trás. As ruas asfaltadas, o barulho dos carros, a correria diária. Era tão sossegado ali! O verde, o frescor... tudo me chamava, me incentivando a ir em frente, adentrando cada vez mais aquela floresta. 

Se me perguntassem, não saberia dizer como fui parar ali. No alto. Tentei fazer meus pés saírem correndo, de volta à segurança. Tenho medo de altura, quis gritar. Mas não era capaz de me mover. Durante vários minutos, mantive os olhos fechados. Acreditando que quando os abrisse estaria de novo no meu quarto. É apenas um sonho, disse para mim mesma. Mas o leve vento que passava por mim, bagunçando meus cabelos, assim como aquele cheiro maravilhoso de liberdade, me fizeram abrir os olhos. Devagar. Então, olhei para a frente. 

Nunca me senti tão viva como naquele momento. Onde está o medo?, me perguntei. Era para eu estar tremendo, gelada, encolhida, temendo que a qualquer momento fosse cair. Mas não. Só me sentia... livre. 

Quando finalmente voltei para casa, um sorriso bobo brincava em meus lábios. Aquele era apenas o início da minha vida...



- Este é meu sexto texto para o Projeto Escrevendo sem Medo. Não fazia ideia do que escrever.rsrs Eu estava no meu trabalho, tinha terminado a resenha de Doce Amor e não tinha mais o que fazer. Pensei em ler um pouco até que desse a hora de ir embora, mas então resolvi olhar para a imagem do tema deste mês e comecei... Quando vi, já estava pronto. :D

Foi desafiador, sem sombra de dúvidas! Não gosto de escrever tendo eu própria como a personagem da história. Mas como tinha que imaginar que eu era a pessoa na foto, não tive escolha!kkkkkkk... 

Escrevi na quinta-feira (hoje), mas vocês só poderão ler meu texto a partir do dia 23/06 (amanhã). Espero que gostem! :)

Este projeto foi criado pela Thamiris do blog Historiar. Clique aqui para conhecê-lo melhor.  

22 de junho de 2017

Doce Amor - Carole Mortimer

(Título Original: Pregnant By The Millionaire
Tradutor: Paulo Pozonoff Jr.
Editora: Harlequin
Edição de: 2017)

Encantada pelo chefe!

Hebe mal pôde acreditar que foi para a cama com seu sensual chefe, mas Nick Cavendish só precisava de alguém com quem passar a noite do aniversário da morte de seu filho. Na manhã seguinte, ele tentou descartá-la como fizera com todas as outras amantes. Contudo, livrar-se de Hebe não seria tão fácil. Afinal, ela está sentindo enjoos matinais... Nick fica feliz por ter uma segunda chance de ser pai. Porém, Hebe está com o coração partido. Ela não quer se casar apenas por obrigação. Será que Nick conseguirá convencê-la de que realmente deseja um futuro a seu lado?



Palavras de uma leitora...


- Será que o problema sou eu, gente?! Será que quase arremessei este livro pela janela porque estou muito estressada e não tive um pingo de paciência com este casal, sobretudo com o imbecil do Nick? Ou o problema é mesmo o livro?

Esta resenha era para ter sido feita ontem. Todavia, eu estava sem internet. Quando saí de casa hoje, a internet ainda não tinha voltado. Desta forma, estou fazendo a resenha no meu momento livre no trabalho. E sim, isso é motivo suficiente para eu estar estressada! 

"O que ela esperava, caramba?! Que ele faria declarações de amor eterno? Que ele diria que não poderia viver sem ela e a convidaria para acompanhá-lo a Nova York?
Droga, isso é a vida real, não um conto de fadas."

- Protagonizando um antigo clichê em que chefe e funcionária se envolvem, Hebe e Nick passam uma noite juntos. Nada indicava que algo assim ocorreria, mas o mocinho estava deprimido e como Hebe estava bem ali na sua frente, ele achou que não existia nada de mais em jantar com ela para depois levá-la ao seu apartamento para uma noite de sexo. Na manhã seguinte: bye bye querida! Sem pensar duas vezes, sem qualquer remorso.

Após quebrar as próprias regras e ir para a cama com seu chefe, Hebe não poderia se sentir pior do que já estava. Teve a ilusão de que ele se interessara por ela como pessoa, mas a atitude de Nick na manhã seguinte só provava que ela tinha sido idiota, que se entregara a alguém que apenas a usou para aplacar o próprio sofrimento. Envergonhada e com o coração em pedaços, ela foi embora sendo tonta o suficiente para ainda acreditar que ele ligaria. Mas Nick não ligou. 

Assim, seis semanas se passam... Ele retorna à Londres no intuito de obter a ajuda de sua sensual funcionária para atrair um artista recluso que ele tinha total certeza que Hebe conhecia. Afinal de contas, tinha provas inequívocas de que ambos tinham sido amantes. Quem melhor do que ela, então, para encontrá-lo? Mas ao rever Hebe... as coisas acabam por seguir um caminho totalmente diferente. Os desmaios e enjoos só poderiam significar uma coisa... E por mais estranho que pudesse parecer, Nick estava disposto a fazer o que fosse preciso para ser pai novamente. Mesmo que para isso tivesse que se casar com alguém em quem não confiava. 

" - Por que você está colocando toda a culpa em mim? Você também não usou proteção alguma!
- Ninguém me disse que eu deveria usar!"

- Sério, gente! Esse foi o pior momento do livro para mim. Foi aí que quase joguei o livro o mais longe possível e estava apenas na página 57. Fiquei tão furiosa! Me perguntei se estava no século XXI ou no século III! Porque o inocente, pobre ingênuo do Nick não sabia que necessitava se proteger ao ter relações sexuais com uma mulher, coitado! Ninguém disse isso para ele, pobrecito! Dá até dó dele, não é mesmo? Utilizando-se de um argumento totalmente estúpido e irritante, o filho da p... jogou toda a culpa da gravidez para cima da Hebe, pois ela era quem deveria se proteger, ele não precisava fazer nada para evitar uma gravidez. Tive realmente vontade de açoitá-lo em praça pública nesse momento. É claro que a mocinha também foi irresponsável, mas ela não engravidou sozinha (eu iria usar uma frase aqui, mas ela é muito inapropriada.rsrs). Ele também era responsável e sua infantilidade em eximir-se da culpa me deixou mais que revoltada. Não tenho nem sequer 1% de paciência com atitudes assim. 

- Mas nosso "querido" mocinho depois aceita muito bem a gravidez. Não que aceitasse a mãe do bebê, mas queria ser pai. Mais do que tudo. Queria ter a chance de criar uma criança novamente, pois tinha sofrido uma perda terrível no passado e viu naquele novo bebê uma oportunidade de recomeçar. Tudo bem. Eu me comovi, senti compaixão pela perda dele, mas nada me fez simpatizar com a criatura que é esse suposto mocinho. Porque ele faz a Hebe se sentir mal desde o instante em que conta para ela que a mocinha está grávida. Sim, é ele quem dá a notícia. Como já tinha convivido com uma mulher grávida antes e Hebe era totalmente ingênua em relação a isso, ele percebeu os sintomas primeiro. No dia em que a reencontrou, após seis semanas fingindo que ela não existia. E então... ele se comporta como um canalha, ora a acusando das coisas que ele imaginava ora querendo forçá-la a se tornar sua esposa. E depois ameaçando tirar a criança dela se ela não fizesse exatamente o que ele queria. Não dá para tolerar isso! Antes mesmo da metade do livro eu já estava cansada até mesmo de ouvir o nome "Nick". Só isso já fazia meu sangue esquentar.

- Pouco me importam seus motivos! Ele fez a garota ficar atormentada desde o primeiro dia. Ficou pressionando, infernizando, ignorando totalmente o fato de que a usou como se ela não valesse nada e depois se valendo do sexo para, triunfante, fazê-la enxergar que eles tinham tudo para dar certo juntos. Fala sério! Se ser bom na cama era a única qualidade que ele possuía, a Hebe tinha tudo para escolher como marido alguém muito melhor. Ele era totalmente dispensável. Mas não! Se sentia a última coca-cola do deserto e ficava furioso porque a Hebe, sendo a golpista que ele acreditava que ela era, não queria facilitar as coisas. É claro que ela só poderia querer mais dinheiro, segundo os pensamentos da mente distorcida dele. Não tive paciência. Foi impossível!

E não pensem que o Nick foi meu único problema. Também desejei sacudir a mocinha da história, por ser tão passiva, por não colocá-lo em seu devido lugar. Ela reclamava um pouco, mas acabava fazendo tudo o que ele queria. Não tinha personalidade. Ou melhor, se anulava totalmente quando estava perto dele. No fim das contas, merecia o Nick. Foram feitos um para o outro. 

- Não estou dizendo que o livro é ruim. Os livros da Carole Mortimer nunca são, pois ela é uma autora maravilhosa, mesmo quando seus personagens nos tiram do sério. O que estragou o livro para mim foram os protagonistas desta história. O Nick é tão idiota e cretino que seu arrependimento, quase no final do livro, não me provocou nada. Pelo contrário, fiquei ainda mais furiosa!kkkkkkkkkk... 

Uma coisa que eu sim gostei foi do romance entre dois personagens que na verdade quase não aparecem, mas têm grande importância. Na verdade, a Claudia sequer aparece no livro, infelizmente. Eu queria ter conhecido mais profundamente a sua história. :( 

E algo bastante divertido é que também tenho dúvidas da existência da tal colega de apartamento da Hebe.rsrs A mocinha falava dela, mas a garota nunca apareceu. 

- Na resenha de Vingança Arriscada, disse que leria um lançamento da Carole Mortimer. Porém, embora Doce Amor seja um dos lançamentos de 2017 da Harlequin, ele na verdade é uma reedição de uma história já publicada em 2009 aqui no Brasil. Só que eu ainda não tinha lido. 

Bem... Agora irei ler Cuco, da autora Julia Crouch, minha escolha para o tema deste mês do Desafio 12 Meses Literários. Me desejem sorte! Vou precisar!kkkkkkkkk... 

19 de junho de 2017

Vingança Arriscada - Sara Craven


Ela queria vingança, mas rendeu-se ao desejo.

Para Tarn Desmond família é o mais importante. Por isso, quando o magnata Gaspar Brandon quase destrói a vida de sua irmã, ela decide se vingar. Infiltrada na empresa dele, Tarn consegue se aproximar de seu alvo. Gaz fica encantado pela nova funcionária, principalmente depois que ela resiste às suas investidas. Determinado, o sedutor magnata não poupará esforços para conquistá-la. Tarn achou que conseguiria manter-se fria e focada no plano, mas acabou possuída pelo desejo.



Palavras de uma leitora...


- A sinopse te surpreendeu? Pode imaginar que o mesmo se passou comigo! Afinal de contas, estamos mais do que acostumados com o completo inverso: é o mocinho quem sempre quer vingança. É ele quem vai atrás da mocinha na intenção (apenas uma desculpa, é claro) de retaliação, de um acerto de contas com o passado. As mocinhas que são as vítimas, as injustiçadas nessas histórias. Acontece que a Sara Craven estava num dia muito bom quando decidiu criar a trama deste livro, brincando com uma inversão de posições. Desta vez, temos uma vingadora. E só o prólogo já nos faz ter pena do mocinho.rsrs

"Você acha que o passado morreu?, disse baixinho. Não, sr. Brandon, está bem aqui à sua espera. E eu sou seu pesadelo inesperado."

Tarn Desmond estava levando sua vida tranquilamente, dedicando-se à carreira como escritora-fantasma de biografias de celebridades. Amava escrever e seu trabalho peculiar lhe proporcionava o conforto que ela desejava, embora não pudesse preencher o vazio que carregava em seu interior... 

Abandonada pelos pais, tinha sido adotada por uma família que não acreditava que pudesse ter filhos biológicos e o amor que inicialmente sentiram por ela quase que desapareceu no instante em que Evie nasceu. Todavia, por ter se apegado à menina desamparada, seu tio Frank, como ela aprendera a chamá-lo, não quis devolvê-la, resolvendo criar as duas crianças como irmãs... E embora não tivesse crescido totalmente carente de amor, Tarn muito cedo percebeu que apenas ele a queria, que sua esposa daria tudo para vê-la pelas costas. 

Com a morte de seu protetor e seu pedido para que Tarn cuidasse da tia e da "irmã", nossa mocinha não teve outra alternativa senão se preocupar com pessoas que não a queriam por perto, que jamais a amaram. Mas ela acreditava que estava bem, vivendo nos Estados Unidos, longe fisicamente do carinho fingido delas e da certeza de que era uma estranha no ninho. Porém, sua vida sofre uma reviravolta inesperada quando Evie é internada numa clínica psiquiátrica após tentar acabar com a própria vida. 

Chocada e angustiada pelo estado da irmã que sempre tinha sido cheia de vida e sorrisos, Tarn não conseguia entender o que tinha acontecido. As cartas que a irmã lhe mandava indicavam que ela tinha todos os motivos do mundo para estar no paraíso. Estava apaixonada e noiva de um magnata editorial que a adorava e prestes a ser casar com o mesmo. O que então a levara a uma tentativa de suicídio? O que Tarn não havia percebido? 

Ao descobrir toda a verdade, um ódio profundo toma conta dela... e o desejo de vingança não demora a surgir. Como poderia deixá-lo escapar impune? Como não fazê-lo pagar pela destruição que ele causou na vida de sua irmã? Custasse o que custasse, ela o faria provar do próprio veneno...

Mas... qual seria o preço a pagar? Estaria ela preparada para as consequências de um jogo tão perigoso como a vingança?

"As mãos dele pousaram gentis em seus ombros, trazendo-a para perto, e então os lábios dele tocaram os seus roçando-os rápida e suavemente em uma carícia tão fugaz quanto um suspiro."

- São por histórias assim que não desisto das minhas autoras queridas, não importa o quanto elas às vezes me decepcionem e irritem.rs 

Eu conheci a Sara Craven mais de sete anos atrás, quando estava apenas conhecendo o mundo literário. Era toda uma novata e tinha o hábito de escolher minhas próximas leituras por títulos que tivessem palavras como "amor", "casamento", "coração"...kkkkkk... Era bem assim! E conforme fui conhecendo diversas autoras diferentes, comecei a escolher por autoras também. Mas confesso que nunca entendi por que seguia lendo a Sara Craven se tinha sérios problemas com seus mocinhos, se costumava considerá-los homens sem coração, grosseiros, cruéis e estúpidos. Até mesmo nas minhas histórias preferidas dela existiam momentos tensos, em que o mocinho "quase" me tirava do sério. Como a Charlotte Lamb, a Carole Mortimer, Anne Hampson (só para citar algumas), essa autora tem dois estilos muito diferentes de escrever: ela sabe criar um mocinho adorável quando quer... Todavia, em momentos surtados, cria verdadeiros cavalos insuportáveis, que mereciam terminar sozinhos em vez de "felizes para sempre" ao lado das mocinhas. Mas lhes adianto que este não é o caso do meu querido Gaz. Não mesmo!

"Meu Deus... De todos os homens no mundo, por que logo você, Gaz Brandon, tem de ser o único a me fazer sentir assim? Quando é você que tem de ficar louco de desejo?
E soube que, para derrotá-lo, enfrentaria a luta de sua vida."

- A Tarn fica muito transtornada quando a Evie tenta suicídio. Embora não pudesse dizer que conhecia profundamente a irmã, jamais imaginou que ela seria capaz de algo tão drástico muito menos naquele momento de sua vida. Como uma noiva feliz e realizada de um dia para o outro tentaria pôr fim à própria vida? Além de não conseguir assimilar o ocorrido, Tarn não consegue se livrar de uma sensação de culpa. Porque ela estava longe enquanto sua irmã precisava dela. Porque ela não conseguiu prever o que aconteceria. Claro que nossa mocinha não tem culpa de absolutamente nada, mas compreendo os sentimentos que tomaram conta dela. Não sei como eu reagiria em seu lugar. É bem provável que também desejasse vingança. 

Então, quando sua tia (mãe adotiva) lhe conta que o noivo de Evie apenas tinha brincado com ela, iludindo-a e levando-a além de todo limite, Tarn descobre o que deveria fazer... e sua determinação apenas aumenta depois de visitar a irmã e ver o estado no qual ela estava. O que Gaz tinha feito com Evie era imperdoável. E se a lei não poderia puni-lo, ela o faria pagar... do seu jeito. 

"Ah, meu Deus, pensou em desespero. O que foi que eu fiz? O que estou fazendo? Acho que já não sei mais. 
Pior de tudo, não tenho certeza se sei quem sou. E isso me assusta."

- Ao dar os passos iniciais para conseguir o que desejava, Tarn não poderia contar com os caminhos que o destino era capaz de escolher... Ela tinha tudo perfeitamente planejado. Sabia como as coisas deveriam acontecer. Todavia, ao se ver cara a cara com Gaz pela primeira vez, tudo começa a fugir do seu controle. E um medo profundo de ser apenas mais uma vítima de seu sorriso irresistível e palavras sedutoras acompanha cada nova investida. Seria realmente capaz de levar tudo até o fim? Conseguiria não se deixar envolver pela imagem que ele apresentava, por aquele olhar que parecia tão sincero e carinhoso? Quem, afinal de contas, era Gaz Brandon? Um mulherengo destruidor de corações? Ou... o homem que lhe oferecia o mundo como se de fato a amasse? 

"Ela parecia incapaz de se mover ou pensar com coerência enquanto ficava ali encolhida, seu corpo tremendo descontroladamente. 
Eu o quero. Eu o amo. Deus, me perdoe, eu o amo tanto..."

- Esta é, sem sombra de dúvidas, a minha história preferida da autora. Dá para perceber em cada página o cuidado e carinho com o qual a Sara Craven a escreveu. Desde a primeira linha do prólogo nós ficamos presos, encantados e angustiados por aquele início tão diferente e tenso. Antes mesmo de eu conhecer o Gaz, meu coração já se partiu por ele. Porque a dor daquele prólogo não nos deixa indiferentes. Nós sentimos o desespero dele, o inferno que ele estava vivendo. Eu não sabia se ele merecia ou não tudo aquilo. Não fazia ideia! Mas, mesmo assim, senti pena. Foi inevitável.

- Não há muito o que eu possa dizer sem revelar segredos do livro. A autora construiu a trama de maneira brilhante, não deixando nenhuma ponta solta, nos envolvendo e confundindo.rsrs Até quase o final do livro, eu não tinha certeza de nada.kkkkkkkk... Conhecia o Gaz, o amava, mas não sabia como tinha sido o seu passado. O que de fato ele tinha feito. Se era realmente culpado ou inocente. Não dava para saber. E a verdade é que tudo indicava que sim, ele tinha alguma responsabilidade. Mas, ao mesmo tempo, a autora criava pistas em outras direções... somente nos fazendo conhecer o passado de Gaz e Evie no final da história. E como aquele final foi impactante! Eu fiquei com os olhos cheios de lágrimas. Não fazia ideia de por quem sofria mais. 

"Quem foi que disse que a vingança era doce? Porque estavam errados. Era selvagem e amarga, e ninguém saía imune de seus efeitos. Muito menos a pessoa que arquitetou tudo."

- Sim, a vingança tem sempre um preço. Que costuma ser muito alto. A novela Ezel que o diga! Mas este livro aqui se trata de um romance, de uma autora que sempre escreve finais felizes (não importa que a gente não considere todos esses finais tão felizes assim) e claro que os personagens irão encontrar o caminho para solucionar todos os problemas. Porém... dói. Eles vão sofrer. E a gente acaba por sofrer junto. 

- Eu amei tanto esta história! A devorei em pouquíssimas horas, desejando que ela tivesse mais páginas, louca para passar mais tempo com o casal! Fiquei profundamente envolvida, esquecendo o mundo inteiro durante o tempo que estive com eles. Foi triste quando chegou ao fim.kkkkk... Eu queria muito mais! E espero conhecer outras histórias tão maravilhosas como esta, escritas pela Sara Craven! 

Acho que agora, contagiada por esta leitura, vou pegar um lançamento recente da Carole Mortimer para ler. :D Outra autora que não leio há séculos! Bateu saudades!rsrs

Bjs e até breve! 

16 de junho de 2017

A Força do Destino - Charlotte Lamb


Só um destino muito cruel faria com que Joanne se apaixonasse tão perdidamente por Ben Norris. Primeiro, porque ele nem notava que Joanne existia, empenhado apenas em conquistar sua mãe, Clea, a grande estrela de cinema. Depois, porque Clea era uma mulher vaidosa, que tinha horror a parecer velha, e mantinha a filha à sua sombra. Joanne quase não podia sair de casa, tinha de se vestir e se comportar como uma menina, proibida de crescer. Onde Joanne encontraria forças para rebelar-se contra Clea, assumindo a mulher que despontava dentro dela? Onde buscar coragem para roubar o namorado da própria mãe?



Palavras de uma leitora... 



- Alguém aqui está preparado para um pouco de loucura nesta sexta-feira? Até o dia está um tanto perturbado, pois não decide se fará frio ou calor. Ora uma coisa, ora outra!rs

Confesso que já me diverti muito com o livro que estou prestes a resenhar. A história é tão absurda que houve momentos que eu ria de choque. Só mesmo a Charlotte Lamb para criar algo assim! E por falar nela... Acreditam que fazia mais de quatro anos que eu não lia nada da autora?! Nem eu acredito! Mas, apesar de ser fã dela, evitava seus romances por medo... tive tantas experiências brutais com seus livros que passei a fugir deles. Para o bem da minha saúde mental, é claro!

Ler A Força do Destino não estava em meus planos. Não havia nenhum livro da Charlotte em minha meta de leituras deste ano. Porém, uma leitora muito querida, a Beatriz Solano, me pediu para lê-lo, pois ela terminou a leitura sem entender nada. E como eu a compreendo!kkkkkk... Beatriz, o livro é realmente louco, querida! Mas valeu muito a pena a leitura, pois ri bastante com ele! A autora estava num dia muito criativo, pois desenvolveu diversas personalidades perturbadas nesta história. Dando espaço para cada uma delas nos mostrar "seu valor".rs

- A história começa com uma festa. A mocinha está incorporando o papel do patinho feio que vive à sombra de sua mãe, um belíssimo cisne pelo qual todos os homens morrem de amores. De início, eu já não sabia se simpatizava ou não com a Joanne, nossa protagonista. Apesar do livro ser escrito em terceira pessoa, em vários momentos tive a sensação de que conhecia os outros personagens através dos pensamentos dela, da opinião que ela tinha deles. Que era bastante contraditória, sinceramente. Ela não decidia se invejava ou não a mãe. Se a amava, odiava, se ela tinha sido uma boa ou uma péssima mãe. Até agora não sei ao certo o que a mocinha sentia pela Clea, o tal cisne que ela chamava pelo nome, uma vez que a mãe teria um troço se fosse chamada de outra maneira. No fundo, a própria Joanne não sabia o que sentia. 

- Ela tinha crescido num lar bastante desajustado, ao lado de pessoas que não entendiam que ela não passava de uma criança que necessitava de afeto. Queriam que ela se virasse sozinha, que encarasse as situações como uma adulta, pois a pessoa que merecia todas as atenções ali era Clea. E Joanne tinha a obrigação de viver ao redor da mãe, fosse apenas uma menina ou não! Seu pai se cansara do caos que era a vida familiar quando ela tinha apenas cinco anos. Ele partiu, reconstruindo a própria vida e deixando-a sob a responsabilidade de uma mãe que nada tinha de responsável ou de maternal. Não que Clea fosse agressiva com a filha ou algo do gênero. Ela simplesmente a deixava a cargo de outras pessoas, competindo com a menina por atenção. Porque os outros tinham que cuidar de sua filha, mas ela era quem vinha em primeiro lugar. Sempre! Se qualquer um olhasse com mais atenção para a menina, Clea fazia todo o necessário para voltar a ser o centro do mundo de todos e assim Joanne ia sendo esquecida. 

Naquela festa, apagada como de costume, Joanne tentava se convencer de que estava satisfeita com a vida que levava, embora seus próprios pensamentos nos gritassem que não, que ela já não aguentava mais. Que queria respirar, viver a própria vida e ser vista pelos outros também. Que a enxergassem como ser humano... como mulher. E tais sentimentos apenas se intensificam quando um homem misterioso e irresistível aparece, despertando algo novo em seu interior, mas mal notando sua existência. Porque enquanto ela não era capaz de tirar os olhos dele... ele só tinha olhos para sua mãe. 

E é aí que a história começa... 

Ben Norris tinha contas do passado para acertar... Cerca de vinte anos atrás, sua infância e seu lar tinham sido destruídos por uma mulher sedutora e ardilosa que enredou seu pai, transformando o casamento dele num inferno, apenas para fugir com outro depois... deixando para trás pura destruição. Ben tivera que ver, dia após dia, sua mãe afundar-se cada vez mais no álcool e seu pai viver pelas lembranças da atriz que havia amado e perdido. E, com a morte da mãe, ele jurou que iria vingar-se da mulher que acabara com sua vida: Clea Thorpe, a famosa atriz... a mulher da qual ele não conseguia tirar os olhos naquele momento. Todavia, não se deixaria levar por sua beleza e feitiço... Tinha seus próprios planos para ela... E no meio de tanto ódio e vingança quem ele estaria disposto a destruir no processo? Até onde ele estaria disposto a ir para conseguir o que desejava?

- Nem sei bem por onde começar...rsrs Não quero contar o livro inteiro, mas é bem provável que tenha que revelar certas coisas para fazer vocês entenderem a loucura desta história. 

Como eu disse antes, Joanne estava cansada de viver à sombra da mãe. E é algo bastante compreensível, pois no lugar dela eu já teria dado bye, bye  há muito tempo. Quanto mais eu conhecia a Clea mais repulsa ela me causava. Com uma mãe como aquela nossa mocinha não necessitava de inimigo algum. E se ela demorasse tempo demais para acordar acabaria tendo a vida destruída pela mulher que deveria protegê-la e amá-la, mas que estava apenas preocupada em vencer a filha em tudo. Em ser sempre mais que ela e impedir que qualquer homem a enxergasse. 

Na festa em questão, que dá início aos dramas e reviravoltas desta história, Joanne estava presente apenas como uma empregada, alguém que deveria garantir que tudo corresse bem, que os convidados fossem bem servidos e se sentissem confortáveis. Sua mãe era quem escolhia suas roupas e maquiagem, não admitindo que Joanne se vestisse como a mulher que era aos vinte anos. Ela deveria sempre aparentar ser uma menina, impedida de crescer. E, para não desagradar a mãe, a mocinha fazia todas as suas vontades. Porém, quando Ben cruza seu caminho e a faz sentir coisas que ela jamais tinha sentido antes, ela começa a se revoltar mais e mais com aquela situação, desejando ser vista por ele... querendo que ele a notasse e desejasse. Que a amasse. Por isso, lhe dói muito quando ele também se sente enfeitiçado pela mãe dela, sendo outro de seus tantos admiradores e sequer percebendo que Joanne estava ali, bem perto dele. Será que ela não tinha o direito de gostar de ninguém na vida e ter tal sentimento retribuído? Será que todos os homens pelos quais ela se interessasse sempre iriam preferir a sua mãe? 

A partir daquele dia, Ben se torna presença constante em sua casa, pois sua mãe, interessada no dinheiro que ele poderia investir em seu novo filme, o instiga cada vez mais, disposta a fazer o que fosse necessário para tê-lo aos seus pés. E ela era bastante esperta, não dá para negar. De todas as personagens desta história, Clea é a mais marcante. Ela conseguia fazer um ótimo papel de vítima, sendo sedutora quando queria, mas também sabendo ser uma menina inocente, uma mulher frágil, uma mãe dedicada.... tudo o que o momento pedisse. Não tenho dúvidas de que ela era uma ótima atriz!rsrs E se o Ben não a odiasse tanto, acredito que ele teria ficado preso em sua armadilha, sendo mais um que ela usaria da forma que quisesse. 

Mas a mocinha da história também acontece. Como nosso mocinho atormentado tinha fortes motivos para odiar a Clea, isso faz que em algum momento ele acabe por notar a Joanne, o que o surpreende e perturba, claro. De início, ele a via como uma menina, sentindo pena por ela ter crescido num ambiente como aquele, mas não perdendo seu tempo em lançar-lhe um segundo olhar. Todavia, seus caminhos acabam por viver se cruzando por conta da aproximação dele com sua mãe. E assim, ele tem a oportunidade de ver que ela era bem mais do que mostrava... e que começava a incendiá-lo por dentro. Amar não estava em seus planos. Muito menos a filha de Clea. Desta forma, ele encontra na atração que começa a sentir por Joanne um plano B, caso o primeiro não desse certo. 

Estão conseguindo acompanhar ou já se sentem perdidos?kkkkkk... Eu própria tenho que tentar manter os pensamentos organizados para não me perder!kkkkk.... Ben vai atrás de Clea por vingança. Na tentativa de destruir a vida dela como ela tinha destruído o seu lar e a vida de sua mãe. Clea decide usar o Ben para conseguir o que ela desejava. Joanne se sente muito atraída por Ben, ele é o primeiro homem a provocar seus sentimentos, a fazê-la desejar ser mulher e não apenas uma menina. E, embora ela não tivesse nada a ver com o que os dois pretendiam, acaba por ser a mais atingida. 

Vocês lembram que tudo começa por causa do pai do Ben? Por que Clea e ele viveram um romance no passado? Pois bem. Quando descobre que o filho foi atrás da mulher que ele nunca conseguiu esquecer (a vida dela era pública, então tudo era publicado nos jornais), Jeb decide aparecer e o plano A do nosso mocinho vai para o espaço!kkkkkk... Jeb conhecia o filho que tinha e os rancores que ele guardava. Assim, resolve aparecer para impedi-lo de machucar sua querida e, ao mesmo tempo, aproveita a chance para tentar reconquistá-la. Algo que ele vai conseguir fácil, fácil, é óbvio! 

- Furioso pela intromissão do pai, Ben sente-se no direito de descontar toda sua frustração na Joanne, não apenas porque ela era seu plano B, como também porque estava atraído por ela e revoltado por ela ter percebido que era mulher e passado a se comportar como tal, não mais se escondendo na imagem de menina.kkkkkkk... Sim, todos eles necessitam de um tempo no manicômio!kkkkkkkk... 

E aí aumenta o drama e sofrimento na vida da nossa mocinha. Aproveitando uma oportunidade de ouro e a ingenuidade da Joanne, ele a atrai para um "passeio" de lancha, convidando-a para um chá com um amigo dele. Sério, eu fiquei impressionada com a inocência estúpida desta mocinha! Ela era a única pessoa que o conhecia de verdade. A única para quem ele tinha confessado suas intenções, o ódio violento que sentia da mãe dela e dito com todas as letras o quanto desprezava as duas e queria destruí-las. Mas como ele meio que pediu "desculpas", ela achou que não teria nada de mau em ir passear com ele. Existe alguém mais imbecil?! 

Ela resiste um pouco, mas acaba se deixando levar por ele... quando dá por si, está trancada no "quarto" dele num iate. Sim, literalmente trancada, pois ele passou a chave na porta. Claro que ele estava dentro do quarto também. Vocês já podem imaginar o que ele pretendia. Quem conhece a autora já está até acostumada com coisas assim. Joanne resolve gritar por socorro, mas só falava inglês e francês e a única pessoa presente no iate, além dos dois, era um empregado que só falava grego e que mesmo que a entendesse não a ajudaria. 

Bancando uma daquelas vítimas de filmes de terror ou suspense, que ficam tentando fazer o maníaco ficar falando enquanto pensam num jeito de escapar ou fazê-lo mudar de ideia, Joanne deixa o Ben desabafar toda sua revolta, seus planos e blá blá blá.rsrs Eu não sabia se sentia pena dela ou se ria, para ser sincera. Era tudo tão patético e absurdo que eu própria já estava perturbada!kkkkkkkk... Os argumentos do Ben para estar se comportamento daquela maneira eram muito estúpidos. Cheguei à conclusão que ele tinha nascido com todos os parafusos fora de lugar.

Depois pensei: vamos ter aqui um revival de Paixão Diabólica ou Noites de Tortura (dois "romances" da mesma autora). Mas a autora conseguiu me surpreender! O que foi bom! Sinceramente, não estava preparada para tal estresse. Até aquele momento eu ainda não tinha odiado o Ben, apesar de ter desejado atacar algo em sua cabeça em algumas ocasiões. Eu não queria começar a desprezá-lo de verdade. Mas eu só não odiei o Ben por causa da Joanne, porque pela primeira vez na vida ela usou o cérebro para uma atitude que me fez dar gargalhadas aqui. Não contarei o que ela faz, é claro. Já falei demais!rsrs

- O livro, tendo como ponto de partida aquela situação no iate, dá uma reviravolta e tanto, seguindo por um novo rumo. E aí eu confesso que já não sabia o que pensar. Não tinha mais ideia de como a história terminaria. Lembrei do livro Fascinação e comecei a ficar nervosa, temendo que o livro tivesse o mesmo final. Não que em Fascinação o fim não tenha sido justo. Mas eu não queria algo como aquela história. 

- Se vocês pensam que toda a confusão e loucura do livro param por ali, estão muito enganados! Muitos outros absurdos acontecem e acabamos por nos sentir bem tontos, como se alguém tivesse nos girado e girado. Ainda me sinto meio tonta, gente!rs

- Não consegui acreditar numa cena em particular protagonizada pelos pais da Joanne e seus respectivos companheiros. Não sei se já conseguiram perceber que a Clea é uma sedutora, uma vadia qualquer que gosta que TODOS os homens a amem e desejem. Ela quer sempre se sentir a poderosa. Assim, durante uma reunião familiar, quando estava acompanhada pelo Jeb (que naquela altura já tinha se casado com ela), ela decidiu flertar abertamente com seu ex-marido, que estava acompanhado pela esposa. Além do Jeb ter se feito de idiota, como se não estivesse vendo o que a Clea fazia, a esposa do pai da Joanne, ficou calada, aguentando toda a situação. Mas isso não é o pior! O mais chocante é que depois que o momento passa, ela e a Clea viram "amiguinhas". Ela simplesmente se aproxima da Clea e ambas começam a conversar sobre moda e a Ângela percebe que JULGOU DE MANEIRA EQUIVOCADA a Clea, que ela não era a pessoa que imaginava. Isso só pode ser brincadeira, certo? A vagabunda tenta seduzir o marido dela, na frente de todos, e ela acredita que a julgou mal! Que ela era uma boa pessoa, apenas incompreendida! Fala sério! Eu já estava quase me internando num hospício! 

- Mas, acreditem, coisas mais loucas acontecem! Como a relação destrutiva entre a Clea e a Joanne. Numa altura do livro, mesmo tendo percebido que a filha estava interessada no Ben e já estando casada com o pai dele, a Clea tenta seduzir o Ben! Isso mesmo que vocês entenderam. Fazendo papel de mulher frágil e desamparada, ela tenta levá-lo para a cama. E o que a mocinha da história faz depois? A perdoa!!! E quase pede perdão à mãe por tê-la impedido de transar com o homem que ela amava! Não! Não estou brincando! Isso realmente acontece!

O mais desesperador, que nos faz desejar puxar nossos cabelos, é que o pai do Ben sabia que sua esposa estava tentando seduzir o seu filho. Que ela necessitava ter o Ben aos seus pés. E ele lida muito bem com isso!kkkkkkkkk... Como se fosse perfeitamente normal sua esposa querer "pegar" seu filho.kkkkkkkk... São ou não todos doentes neste livro? Sem sombra de dúvidas! 

Há um momento, quando algo importante acontece, que TODOS ficam com medo da reação da Clea. Porque a pobrezinha iria sofrer! Porque ela teria toda a razão em sentir-se ultrajada, coitada! A família ficou toda pisando em ovos, tentando proteger a florzinha delicada deles e eu quis esganá-los! É simplesmente absurdo demais para minha cabeça!

- Porém, confesso que eu até gostei do livro!kkkkkkkk... Ele mexeu com meus pensamentos, me deixou muito confusa e chocada, conseguiu me provocar uma reação, além de ter me feito rir com tanta loucura e só por isso já valeu a pena. Mas outro ponto positivo é que, apesar de também não serem normais, Ben e Joanne conseguem construir algo mesmo que nada pudesse parecer que ia dar certo. E o Ben reconhece os seus erros, enxerga com outros olhos suas atitudes do passado. E luta pelo que quer. 

- Eu acreditei no amor deles. Era tudo muito complicado, confuso, eles próprios estavam completamente perdidos no meio de suas histórias familiares, mas se apaixonaram sim. A Joanne se tornou a vida dele. Ele a amou mesmo não desejando isso. Só queria que a história tivesse girado mais em torno dos dois, que existisse mais romantismo, mais cenas deles dois juntos e menos Clea. 

- Recomendo ou não a história? Deixo que vocês escolham ler ou não, sem indicação minha!rsrs Não é um romance apaixonante nem nada do gênero. Achei um livro inteligente pela maneira que construiu a personalidade, o caráter dos personagens. A autora trabalhou bastante a construção psicológica de seus personagens, mas acabou por tudo girar em torno disso. Eu queria mais romance entre o casal protagonista, queria que a história fosse mais sobre eles dois. Infelizmente, não é assim. 
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