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18 de julho de 2022

Leituras concluídas - Junho/2022



Olá, queridos!

Em junho, para minha surpresa, eu consegui ler cinco livros. Dois deles eu resenhei: A Casa do Penhasco, livro fantástico da rainha do crime, Agatha Christie. E Cartas a um jovem poeta, de Rainer Maria Rilke, livro este que me provocou um grande impacto, se tornando um dos meus preferidos, por sua capacidade de despertar reflexões profundas e mexer com nossas estruturas. 

Este post aqui é para falar dos livros que li em junho, mas não resenhei. 






 Literatura Colombiana
Título Original: Crónica de una muerte anunciada 
Tradutor: Remy Gorga, Filho
Editora: Record
Edição de: 2019
Páginas: 160

Sinopse: O narrador imediatamente sentencia: “No dia em que o matariam, Santiago Nasar levantou-se às 5h30 da manhã.” Fatalidade, destino, o absurdo da existência humana. O que explica a tragédia que se abateu sobre o protagonista de Crônica de uma morte anunciada?

Nesta trama curta de construção perfeita, García Márquez monta um quebra-cabeça cujas peças vão se encaixando pouco a pouco, através da superposição das versões de testemunhas que estiveram próximas a Santiago Nasar no último dia de sua vida.

Em que e em quem acreditar? Como descartar a parcialidade das versões e “o espelho quebrado da memória” dos envolvidos.

É isso que o leitor vai descobrir ao longo da narrativa sóbria e direta, cuja estrutura toma emprestado o rigor jornalístico da reconstituição dos fatos tão caro a García Márquez. Todo o tempo, porém, o autor mantém a poesia, a sensualidade e a beleza de sua história e de seus personagens.

Gabriel García Márquez publicou Crônicas de uma morte anunciada em 1981, um ano antes de receber o Prêmio Nobel de Literatura que o consagrou definitivamente como um dos mais importantes autores contemporâneos.




Durante muito tempo eu quis ler este livro. E, ao mesmo tempo, o temia. Porque minha experiência com o autor não é totalmente positiva. Sinto uma mescla de amor e ódio por suas obras e, por vezes, o ódio prevalece.rs

Mas eu tinha imensa curiosidade em relação a esta história, já que ela inicia com a morte do "protagonista", por assim dizer, para nos contar tudo o que se passou antes do momento fatal. Um dos amigos dele, daquela época, resolve colher o testemunho de todas as pessoas que encontraram Santigo no dia de sua morte e que poderiam ter impedido a tragédia, mas por um motivo ou outro acabaram não fazendo nada. 

Quando iniciei a leitura (com um pé atrás, como eu disse, por causa da minha experiência por vezes negativa com as obras do autor) eu realmente não sabia bem o que esperar, mas com certeza não era o que encontrei: um livro extraordinário, que me deixou tensa do início ao fim, e me fez ansiar por fazer alguma coisa para impedir o desfecho que já conhecia, anunciado desde o título: a morte de Santiago. 

Fiquei tão chocada com a história, tão... Nem sei como nomear! Que pretendia fazer a resenha do livro. Mas, infelizmente, no final de junho eu tive um episódio de dor que fez o médico achar que eu tinha que ficar afastada do trabalho por uns dias para repousar e isso me deixou tão estressada (vocês sabem que desde que perdi a Luana ficar em casa muitos dias não me faz bem, é justamente o contrário, já que tudo aqui me faz recordá-la e eu preciso de um ambiente diferente para conseguir suportar o transcorrer do dia) que não tive ânimo para nada e não conseguia me concentrar para escrever a resenha. 

Aí voltei para o trabalho e poucos dias depois comecei a passar mal. Achei que era uma gripe, já que os sintomas me faziam acreditar nisso, mas eu achava estranho o fato de estar tendo muita febre. E então fiz o teste para Covid-19 e, para minha surpresa e angústia, deu positivo. Existiram dias nos quais me senti tão mal que acreditei que não aguentaria, pois era uma dor e um cansaço que me faziam ter dificuldades até para levantar da cama. Então, depois de me recuperar, desisti de vez de fazer a resenha de Crônica de uma morte anunciada. Já tinha se passado muito tempo desde a leitura e eu realmente não sentia mais a mesma vontade de falar sobre o livro, embora tenha se tornando um dos meus preferidos da vida. 

"Ela o viu da mesma rede e na mesma posição em que a encontrei prostrada pelas últimas luzes da velhice, quando voltei a este povoado abandonado, tentando recompor, com tantos estilhaços dispersos, o espelho quebrado da memória."

O trecho acima é um dos que mais me marcaram ao longo da leitura. Pensar naquela mãe que perdeu seu único filho, assassinado de modo tão brutal, ainda tão jovem... me causa um nó na garganta. Imaginar quantas vezes ela o recordava... Como os anos se passavam e ela voltava ao dia de sua morte... e ao fato de que não conseguiu salvá-lo. Como se o destino estivesse decidido a levá-lo e tirasse dela a última chance de impedi-lo. 

É inacreditável o modo como quase todo mundo sabia que Santiago iria ser assassinado e ninguém chegou até ele para contar. Os assassinos gritaram para quem quisesse ouvir o que eles iriam fazer e as pessoas simplesmente deixaram acontecer. Os assassinos QUERIAM ser impedidos, mas as pessoas não os impediram. Só em alertar Santiago, elas já poderiam salvá-lo. Mas ficaram caladas. 

Estou sendo injusta, na verdade. Algumas pessoas, de fato, tentaram fazer alguma coisa, embora de modo bem fraco, insignificante. E o que mais me revolta é que algumas delas passaram ao lado dele bem antes do crime. Estavam com ele diante de seus olhos e poderiam ter falado e ficaram caladas. Umas porque acreditavam que era só um boato, "zoeira". Outras, porque não tinham coragem de dar a "má notícia". E ainda existiram os casos daquelas que queriam vê-lo morto e estavam mais do que ansiosas pelo momento. 

"Não é justo que todo mundo saiba que vão matar o seu filho, e seja ela a única que não sabe."

Quando as pessoas mais próximas de Santiago finalmente ficaram sabendo o que estava para acontecer (essas pessoas foram as últimas a saber), já era tarde demais. Me emocionei muito com a cena do amigo dele correndo desesperado para tentar encontrá-lo antes que o pior acontecesse. Ele estava com Santiago minutos antes, mas como o imbecil que o alertou, só o fez depois que Santiago foi embora, ele perdeu a chance de salvar o amigo. Mas ele tentou. Tentou muito! Fez de tudo para ajudar Santiago, mas já era tarde. 

A cena da mãe dele nem vou comentar, pois não aguento. :( Era como se o destino tivesse marcado aquele rapaz. Como se tivesse decidido que ele iria morrer e ninguém conseguiria impedir, não importando o quanto tentasse. A morte de Santiago é horrível, gente! Horrível demais. E pelas mãos de pessoas que ele jamais imaginaria que pudessem fazer aquilo com ele. O modo como ele chega a sair caminhando enquanto agonizava... Meu Deus! Quero esquecer essas cenas!

"Nunca houve morte mais anunciada."

O inacreditável no livro todo é justamente isso: a morte de Santiago foi imensamente anunciada, pois, como eu disse, os assassinos queriam ser impedidos. Então, eles trataram de anunciar o que iriam fazer, porque não era possível que ninguém tentaria impedir a morte de um jovem que tinha crescido ali, que era conhecido de todos e amigo da maioria. Eles acreditavam que não precisariam matar Santiago, pois alguém, entre as autoridades e as pessoas comuns, os prenderia ou alertaria sua vítima. 

Mas Luna, se eles não queriam matar a vítima, então era só não matar, certo? Infelizmente, a questão era muito mais complexa. Não posso contar o motivo, pois seria spoiler, mas aquelas pessoas estavam praticamente obrigadas a fazer aquilo. E só lendo para entender. 

"[...] Principalmente, nunca achou legítimo que a vida se servisse de tantos acasos proibidos à literatura para que se realizasse, sem percalços, uma morte tão anunciada."

Embora eu não tenha feito a resenha do livro, dá para vocês perceberem como esta história mexeu comigo, certo? Eu ainda penso nela, quase um mês após lê-la... Fico lembrando dos acontecimentos e sentindo a mesma incredulidade e desespero. Tenho que reconhecer: Gabriel García Márquez era um excelente contador de histórias. Suas narrativas são sempre impecáveis. A pessoa pode até odiar algum dos seus livros, mas não sai ileso de nenhuma leitura. Ele tinha o dom para criar histórias impressionantes e contá-las de um jeito único. É uma pena que tenha insistido em alguns temas que me incomodaram muito e me fizeram ter um relacionamento quase que de ódio com suas obras. Crônica de uma morte anunciada, de certa forma, resgatou o autor para mim, quando eu já estava decidida a nunca mais ler nenhum dos seus livros. Depois desta história, eu reconsiderei a decisão de não ler mais suas obras. Resolvi lhe dar mais uma chance. 







 Literatura Irlandesa
Título Original: The Arabian mistress 
Tradutora: Celina Romeu
Editora: Harlequin
Edição de: 2015
Páginas: 256 

Sinopse: A última coisa que Faye precisava era ter que implorar pelo perdão do príncipe Tariq Shazad ibn Zachir. Fazia mais de um ano que não se viam. Mais precisamente, desde o dia em que se casaram. Mas o irmão de Faye fora feito prisioneiro no país de Tariq, e apenas ele poderia libertá-lo. Faye sabia que o reencontro seria difícil, mas acabou sendo surpreendida pela proposta de seu marido. Ele libertaria o irmão de Faye se ela aceitasse ser sua amante...




Este é um livro que reli após doze anos... Lynne Graham, mais de uma década atrás, costumava ser minha autora favorita dos livros de romances. Eu acredito que já li todos os livros dela que foram publicados no Brasil e foram MUITOS. Dezenas! Devo ter lido fácil, fácil, uns 60 livros da autora. Houve um tempo em que tinha isso anotado, mas no momento não sei onde está.rs Na época, eu era tão fã da autora que lia até mesmo os livros que ainda não tinham chegado ao Brasil, algo semelhante ao que fazia também em relação a minha querida Candace Camp e outras autoras amadas. 

E hoje em dia? Ainda sou tão fã da autora? SIM! A Lynne Graham sempre terá um lugar querido em meu coração. Todavia, ser fã da autora não significa necessariamente que se lesse certos livros dela hoje em dia "isso daria certo".kkkkkkkkk Se naquela época eu já me estressava com seus "mocinhos", que muitas vezes eu considerava verdadeiros vilões, atualmente sou ainda mais crítica. E com motivos!

Apesar de ter gostado da história, da escrita da autora que sempre me cativa e considerá-la digna das quatro estrelas que dei ao livro, eu não curti tanto assim o romance entre o casal. Na verdade... Me perguntei se eu poderia matar um personagem. No caso, o tal mocinho da história.rs

Tariq me irritou. Muito. MESMO!  A desigualdade da relação entre os dois, o desequilíbrio... E principalmente o fato de ele se aproveitar justamente disso. 

Aqui temos uma mocinha que cometeu o grande pecado de se apaixonar por um homem um pouco mais velho e, ingênua como era na época, ter mentido sua idade na intenção de pelo menos sair com ele, nem que fosse uma vez. Ela sabia que se ele soubesse que ela tinha apenas 19 anos, não iria lhe dar atenção. Ela errou? Claro. Mas isso não o autorizava a tratá-la como a tratou quando certas coisas aconteceram e eles tiveram o casamento mais curto da história. O casamento só durou o tempo de dizer "sim" e então tudo acabou. Enfim...

O que me irritou tanto no livro? Como eu disse, o desequilíbrio. Ver alguém numa posição de superioridade tanto pela experiência quanto pela situação financeira se aproveitar de alguém que não tinha nem metade da experiência dele e muito menos o dinheiro. E como ele se aproveitou? Se interessando por ela? Não. Sabendo o poder que tinha, ele se aproveitou de uma situação horrível pela qual ela passou para conseguir o que queria, pois era "superior" a ela. Tinha o poder e o dinheiro que ela não tinha e, assim, poderia fazer o que bem entendesse. Como humilhá-la diversas vezes na história

Faye, cerca de dois anos após o término do seu casamento relâmpago, se viu na situação de ter seu único irmão preso por dívidas num país árabe, onde as leis eram muito diferentes daquelas que ela conhecia. O fato de seu irmão ter falido era motivo para ele ser preso e somente se ela tivesse a quantia necessária para quitar suas dívidas é que ele poderia ser solto e voltar para casa, para os filhos pequenos e a mulher que não sabia como lidar com todo o sofrimento causado por sua prisão. Que o irmão dela foi um grande imbecil, eu não nego! Mas é justamente dessa situação que o Tariq vai se aproveitar e foi isso que tanto me incomodou na história. 

Por que dei quatro estrelas ao livro se tive sérios problemas com a história? Não sei!kkkkk Estou brincando. A verdade é que as estrelas foram mais pela autora que tanto admiro e pela nostalgia. Por ter sido um livro que li doze anos atrás, quando eu ainda era uma menina de 16 anos... e ter sido uma história que, naquela época, eu encontrei motivos para amar. 






 Literatura Inglesa
Título Original: Hansel & Gretel
Tradutor: Augusto Calil
Editora: Intrínseca 
Edição de: 2015
Páginas: 54

Sinopse: O prestigiado escritor Neil Gaiman e o brilhante ilustrador Lorenzo Mattotti se encontram para recontar o clássico João e Maria. Familiar como um sonho e perturbador como um pesadelo, o conto narra a saga de dois irmãos que, em tempos de crise e falta de esperança, são abandonados pelos próprios pais e precisam enfrentar com coragem os perigos de uma floresta sombria.

Em um texto poético, Gaiman revive a tradição dos contos de fada, dando profundidade à aventura dos irmãos, mas sem abandonar a autenticidade e o talento único de mesclar realismo e fantasia que o transformaram em um dos maiores autores de sua geração. Mattotti, por sua vez, dá um ar inteiramente novo ao clássico. Seus traços criam um jogo de luz e sombra, permitindo que o leitor desvende aos poucos a imagem, assim como os segredos da história de João e Maria.






Esta não é a versão que eu conhecia do clássico João e Maria.rs A da minha infância também tinha a questão sombria da bruxa que devorava crianças, mas não tinha o abandono dos pais. Isso eu tinha encontrado num outro conto de fadas que li alguns anos atrás chamado, se não me engano, o pequeno polegar

O conto narrado pelo Neil Gaiman é muito triste e doloroso. Fiquei tensa a leitura inteira, com medo da forma como ele terminaria, se seria a versão "feliz" que eu conhecia ou algo diferente. Ver as crianças serem abandonadas daquela maneira pelos pais, que sabiam que não havia outro destino para elas que não fosse a morte naquela floresta, me provocou revolta e muita tristeza. Eles estavam passando fome, mas nada justifica tamanha crueldade. Nunca amaram os filhos, pois quando amamos alguém fazemos até o impossível para protegê-lo. 

Não foi um conto que me fez bem, mas sem sombra de dúvidas é uma história que atravessou os séculos e, contada e recontada, segue sendo cheia de importantes lições. 



2 de outubro de 2020

Livros lidos e não resenhados (setembro de 2020)

 

Literatura Colombiana
Título Original: El Amor en los Tiempos del Cólera
Tradutor: Antonio Callado
Editora: Record
Edição de: 2019
Páginas: 431

53ª leitura de 2020

Sinopse: O amor nos tempos do cólera não é apenas uma simples história, mas um grande tratado do amor. O tratado nunca escrito por Florentino Ariza, que guardava em três volumes três mil modelos de cartas para namorados, nos quais estavam todas as possibilidades do amor. O amor apaixonado da adolescência, o amor conjugal, o clandestino, o tímido, o amor sexual ou libertino. O tédio do amor, suas lutas, esquecimentos, metamorfoses, suas deslealdades e doenças, triunfos, angústias e prazeres. O amor por carta, o despertar desse amor, próximo ou distante, o amor louco. O amor de meio século, que encontra os amantes septuagenários se tocando pela primeira vez. O amor que se guarda e espera, enfim, sua realização.



Este é um dos livros mais famosos e amados do Gabriel García Márquez, mas eu não posso dizer que comecei a leitura cheia de expectativas. Como já tinha lido dois outros livros do autor, já até imaginava que ele abordaria temas que me desagradariam. Ainda assim, foi uma surpresa que a leitura tenha sido tão intragável, com personagens que me despertaram um desprezo intenso. 

É um livro do qual eu decidi que não valia a pena fazer resenha. Já bastava o fato de ter perdido meu tempo lendo suas mais de 400 páginas, acompanhando a obsessão do personagem principal e os preconceitos da sua suposta "amada". Eu realmente não gastaria meu tempo fazendo uma resenha desta história, quando tudo que eu queria era esquecer que a li. 

O que muitos consideram uma história de amor eu vi como uma história de obsessão. Florentino Ariza passou a maior parte de sua vida obcecado por uma mulher que o rejeitou na juventude. Aí ele passou a acompanhar a vida dela, tudo o que acontecia, os lugares que ela frequentava, sempre como uma sombra à espera de um dia ser notado, de um dia conquistar o lugar que o marido dela ocupava. E ele tinha como certo que uma hora aconteceria, não importando se seria no final de sua vida. Ele não descansaria enquanto não a tivesse. Para mim isto não é amor, mas loucura, doença. 

Ele é o tipo de personagem pelo qual é impossível torcer. Eu não aguentava mais acompanhar a vida desse indivíduo, suas inúmeras conquistas (ele tinha cadernos e mais cadernos com as suas "conquistas"), seus pensamentos distorcidos, mas o que mais pesou contra o personagem foi o que ele fez com a menina América, uma adolescente de quatorze anos, de quem ele se tornou tutor através da confiança que os pais da menina depositaram nele. A forma como ele a envolveu, como a usou, como a convenceu de que aquele absurdo era uma relação normal. Eu senti nojo e muito ódio desse personagem. O que ele fez com essa menina não tem perdão. E eu cansei das obras do autor, sinceramente. Só vou ler mais uma hstória dele poque já tenho o livro. Depois não comprarei ou lerei mais nenhuma história do Gabo. Eu estou cansada de ele sempre trazer personagens pedófilos, de mostrar como "histórias de amor" coisas que não são amor. 

SPOILER SOBRE ALGUNS LIVROS DO AUTOR: Em O amor e outros demônios há a história de uma menina de doze anos por quem um padre acredita estar apaixonado, então ele trai a confiança da criança (e de nós leitores) e envolve a menina, tenta convencê-la de seus sentimentos, como se aquilo tudo fosse certo. Em Cem Anos de Solidão, temos aquele desgraçado do coronel Aureliano que "se apaixona" por uma menina de nove anos, se casa com ela pouquíssimos anos mais tarde e é responsável pela morte dela, já que a engravida e a menina acaba morrendo. E agora temos aqui neste livro o protagonista de mais de setenta anos de idade convencendo uma menina de quatorze (que estava sob sua responsabilidade) de que era certo ele ter relações com ela, que aquilo tudo era normal e estavam apaixonados. Tudo isso é desprezível, é desumano. Em todo livro do autor vai ter sempre a mesma coisa?! Eu não tenho estômago para esses tipos de livros. O desprezo que eu já sentia pelo Florentino, em O Amor nos Tempos do Cólera, se transformou em profundo ódio quando ele fez tudo aquilo com a menina América. E o desgraçado ainda tem final feliz no livro! 



Literatura Brasileira
Editora: Nova Fronteira
Edição de: 2015
Páginas: 245

54ª leitura de 2020



Sinopse: O melhor de Caio Fernando Abreu faz parte da coleção que apresenta aos leitores o que nomes consagrados da literatura brasileira publicaram de mais instigante e significativo nos gêneros conto e crônica. Foram justamente esses gêneros os mais explorados pelo escritor gaúcho que soube mesclar com tanta destreza o viço inefável da vida e o seu mofo. 




Este é um daqueles livros que lemos bem aos poucos, nos quais sentimos que podemos nos refugiar. Eu levei mais de um ano para concluir a leitura, pois geralmente pegava um conto ou uma crônica para ler só quando sentia que precisava um pouco da escrita profunda e envolvente do Caio Fernando Abreu, que mexeu muito comigo, sobretudo através de suas crônicas. 

O livro possui 18 contos e 18 crônicas e não me lembro de nenhuma história que tenha me desagradado. Existram umas das quais gostei menos, mas todas foram interessantes, que me faziam ficar pensando vários minutos depois de fechar o livro.rs Todavia, como eu disse, as crônicas me apaixonaram mais, tiveram um significado maior na minha vida. Eu me identificava com algumas situações, alguns sentimentos e marquei vários trechos que às vezes sinto vontade de reler. 

"A memória tem sempre essa tendência otimista de filtrar as lembranças más para deixar só o verde, o vivo. Antigamente, sempre era melhor, ainda que não fosse."

Ano passado eu cheguei a fazer alguns posts falando sobre as crônicas presentes no livro, mas não me considero capaz de fazer uma resenha sobre esta obra.rs Só digo que é uma coletânea que recomendo muito. E quero demais ler outros livros do autor!


31 de maio de 2020

Cem Anos de Solidão - Gabriel García Márquez

Literatura Colombiana
Título Original: Cien Años de Soledad
Tradutor: Eric Nepomuceno
Editora: Record
Edição de: 2019
Páginas: 448

28ª leitura de 2020

Sinopse: Neste que é um dos maiores clássicos da literatura, o prestigiado autor narra a incrível e triste história dos Buendía – a estirpe de solitários para a qual não será dada “uma segunda oportunidade sobre a terra” e apresenta o maravilhoso universo da fictícia Macondo, onde se passa o romance. É lá que acompanhamos diversas gerações dessa família, assim como a ascensão e a queda do vilarejo. Para além dos artifícios técnicos e das influências literárias que transbordam do livro, ainda vemos em suas páginas o que por muitos é considerado uma autêntica enciclopédia do imaginário, num estilo que consagrou o colombiano como um dos maiores autores do século XX.





Olha, eu não sei nem o que começar a falar desta história pela qual senti coisas tão distintas, tão contraditórias. Ao mesmo tempo que digo que é um livro que não tem nenhuma chance de entrar para os meus preferidos e que não sentirei falta de personagem algum... também digo que jamais esquecerei esta história e que todos os membros da família Buendía conseguiram marcar a minha vida... de uma forma ou de outra.

Mas antes de tentar colocar em palavras a confusão de sentimentos que tomou conta do meu interior, preciso avisar que a resenha poderá conter SPOILER. E mais do que isso, que existem gatilhos no livro. Avisos dados, prosseguirei.

*Gatilhos: Pedofilia, incesto, exploração sexual, violência, assassinatos. 

Quando você lê um suspense ou um livro de terror, ninguém precisa te avisar que poderá conter cenas pesadas, pois você já espera que coisas assim se passem naqueles gêneros. Mas quando se trata de um livro assim, com capa bonitinha e colorida, aparentemente mais leve de ler, acho importante avisar. 

"Os filhos herdam as loucuras dos pais."

Nesta história acompanhamos sete gerações de uma mesma família. Suas dores, sua solidão, seus erros, seus pecados, suas conquistas e perdas... Uma família, de certa forma, amaldiçoada, condenada pelo destino a viver uma série de repetições. E do destino não era possível escapar.

Tudo começa quando dois primos, José Arcádio Buendía e Úrsula Iguarán decidem se casar, mesmo que existisse na família a lenda de que casamentos entre parentes resultassem em filhos que nasciam com partes de animais, sobretudo rabo de porco. Ainda que tomada pelo medo de vir a ter filhos que não seriam totalmente humanos, Úrsula acaba se casando, mas se recusa a entregar-se ao marido, o que acarreterá na primeira grande tragédia a perseguir a família: sofrendo com o deboche de alguns homens da cidade, um dia José Arcádio Buendía perde a cabeça e acaba assassinando um vizinho. Acontecimento este que o atormentará até o fim de sua vida.

Após o assassinato, perseguidos pelo fantasma do morto, que não os deixava em paz, José Arcádio e Úrsula partiram, dispostos a reconstruírem a vida em outro lugar. Diversos vizinhos resolveram acompanhá-los, acreditando numa vida melhor, e assim fundaram, no meio do nada, a aldeia que ficaria conhecida como Macondo, onde nenhum morador era melhor que ninguém, onde todos viviam de maneira igualitária e construíam com as próprias mãos o necessário para mobiliar suas casas, arrumar a aldeia e criar seus filhos.

12 de julho de 2018

Do Amor e Outros Demônios - Gabriel García Márquez

(Título Original: Del Amor y Otros Demonios
Tradutor: Moacir Werneck de Castro
Editora: Record
Edição de: 2016)


Em 1949, o então jovem repórter Gabriel García Márquez acompanha a remoção das criptas do convento histórico de Santa Clara, e o túmulo de uma menina o faz lembrar as lendas contadas por sua avó. Segundo ela, no Caribe, havia uma marquesinha que tinha uma "cabeleira que se arrastava como a cauda de um vestido de noiva". Venerada por seus milagres, ela foi mordida por um cachorro e morreu de raiva. Seria ela ali enterrada? García Márquez conta a história da filha única de um marquês, criada no convívio de escravos e orixás, e um padre incumbido de exorcizar os demônios que se acredita terem possuído a pequena, cujos cabelos só seriam cortados em seu casamento.



Palavras de uma leitora...


- Não faço ideia de como começar a falar desta história tão perturbadora. Eu bem sabia que tinha razão ao fugir tanto dos livros do Gabriel García Márquez. Para o bem da minha saúde mental

Alguns anos atrás, eu ganhei uma edição de Cem Anos de Solidão e Lolita (o segundo livro não é do Gabriel, mas de outro autor que também evito). Como já tinha ouvido falar dos livros do autor e tinha medo dele me convenci que o melhor era me desfazer da obra, pois "não fazia meu gênero".kkkkkkk... Lolita eu troquei porque o tema da história me enojava e eu me negava a ler um livro narrado por um pedófilo (estou falando que o personagem principal é um pedófilo, não o autor da obra). Enfim... Nunca me arrependi de ter me desfeito de Lolita, mas o livro do Gabriel, Cem Anos de Solidão, eu gostaria de ainda ter, pois faz parte dos livros que pretendo ler no futuro. Isso se tiver coragem de encarar outra vez uma obra dele.rsrs

Do Amor e Outros Demônios entrou na minha lista de leituras do ano por causa do Desafio 12 Meses Literários. O tema de julho era ler um livro publicado no ano em que nasci. E como foi difícil!kkkkkkk... Como esta história do autor estava entre os livros lançados naquele ano resolvi adquiri-lo e apostar nele. Afinal de contas, era uma narrativa curta. Apenas 191 páginas. Não existia muita chance do Gabo (como os fãs gostam de chamá-lo) me traumatizar. Ledo engano!kkkkkk

- Quando terminei a leitura, já extremamente angustiada com a quantidade de crueldades e misérias encontradas na história, cheguei à conclusão que praticamente todos os personagens eram loucos. E que eu estava ficando bastante perturbada também.rs... Sério! O livro me deu vários socos no estômago, me provocou náuseas, revolta, desespero, vontade de esmurrar determinados personagens que mais pareciam ter um pacto com o coisa ruim, como, por exemplo, a abadessa preconceituosa que via o demônio em tudo e usava isso como desculpa para seu comportamento vil. Como eu odiei essa mulher! Víbora! Escória! Ela é que merecia ser tratada como tratou a Sierva María, a menina de doze anos protagonista do livro. Uma desgraçada que apenas PENSAVA que servia a Deus. Eu diria que ela servia a outra coisa! Ninguém que trate uma criança como ela e suas noviças trataram a menina pode se considerar servo de Deus. A vontade que tenho é de xingá-las de todos os nomes nos quais consigo pensar. Faz horas que terminei a leitura, mas continuo muito furiosa. 

Mas tenho que respirar fundo para que possam compreender do que se trata o livro...

- No dia 26 de outubro de 1969, um dia sem grandes notícias, Gabriel García Márquez, um jovem jornalista, recebeu a informação de que estavam esvaziando as criptas funerárias do antigo convento de Santa Clara, que cerca de um século antes tinha se transformado num hospital e agora daria lugar a um hotel cinco estrelas. Naquelas criptas estavam enterradas gerações de bispos e abadessas e outras pessoas importantes. Valia a pena acompanhar a retirada do que restara dessas pessoas há tanto tempo falecidas. 

"Quase meio século depois, ainda sinto o estupor que me causou aquele terrível testemunho da passagem devastadora dos anos."

Por mais que os anos tenham se passado desde o fatídico dia em que acompanhara a retirada dos ossos e pertences daquelas pessoas, Gabriel jamais conseguiu esquecer o acontecido. Ficou nele uma forte impressão, sobretudo por conta de uma misteriosa menina. Que o fez recordar uma antiga lenda, contada por sua avó. A história de uma marquesinha que era venerada por acreditar-se que operava milagres. Sua cabeleira era impressionante e nunca tinha sido cortada por causa de uma promessa. Seus cabelos só deveriam ser cortados após seu casamento. Que nunca ocorreu, pois a criança morreu aos doze anos de idade, vítima da mordida de um cachorro contaminado pela raiva.  

"No terceiro nicho do altar-mor, do lado do Evangelho, é que estava a notícia. A lápide saltou em pedaços ao primeiro golpe da picareta, e uma cabeleira viva, cor de cobre intensa, se espalhou para fora da cripta."

Na pedra estava escrito o seu nome: Sierva María de Todos los Ángeles. Claro que a história contada pela avó do autor era apenas uma lenda, não existia nenhuma ligação entre a criança da cripta e a marquesinha que teve um fim tão trágico. Todavia, na mente do autor se construiu uma história... E utilizando o nome real gravado na lápide ele escreveu Do Amor e Outros Demônios, uma obra de ficção chocante, que mostra a loucura da obsessão, do desamor, do fanatismo religioso e tantos outros males que os seres humanos insistem em manter em suas vidas não para destruir apenas a eles próprios, mas também para prejudicar outras pessoas. 

"A ideia de que aquele túmulo pudesse ser dela foi a minha notícia do dia, e a origem deste livro."

- Publicado em 1994, o livro já começa nos mostrando o momento em que Sierva María, nossa pobre protagonista, é mordida por um cachorro raivoso, que ainda atacou outras pessoas que cruzaram seu caminho antes de morrer. Como a ferida era muito pequena e quase insignificante, a criada que a acompanhava não deu muita importância ao caso. Limpou o machucado e seguiu em frente com os preparativos do aniversário de doze anos da menina que seria comemorado entre os escravos, sua verdadeira família. 

"Naquele mundo opressivo em que ninguém era livre, Sierva María o era: só ela e só ali. Por isso era ali que se celebrava a festa, em sua verdadeira casa e com sua verdadeira família."

Embora fosse branca, uma marquesa de nascimento, Sierva María conhecia o abandono desde o instante em que sua mãe lhe deu à luz. Odiada pela mulher que a pariu e tratada como se não existisse pelo pai, a pequena encontrou refúgio entre os escravos que a acolheram de braços abertos. Como não recebeu uma educação padrão já que seus pais preferiam fazer de conta que não tinham filha alguma, foi pelos escravos que foi educada, aprendendo seus costumes, música, religião. Sua língua era a língua deles. Seus hábitos também. Tudo o que ela tinha de branca, conforme sua mãe dizia nas poucas vezes que a mencionava, era a cor. De resto, ela era africana. E a menina, que não deixava de sentir a ausência da família, se sentia orgulhosa de quem era. Quando a dor não a consumia. 

Quando os casos de raiva humana se espalharam e pessoas mordidas por aquele cachorro começaram a enlouquecer e morrer, os escravos se preocuparam e procuraram utilizar seu conhecimento de cura para livrar a menina do mal. Bernarda, a "mãe" de Sierva María, já sabia da mordida que a menina sofrera, pois a criada não demorou a lhe comunicar. Sua única preocupação era a mancha que uma morte por raiva provocaria na honra da família. Ela estava mais do que preparada para fingir um grande luto pela filha que odiava profundamente, mas não queria que a real causa de sua morte fosse divulgada. 

- Ao tomar conhecimento do que acontecia, o pai da menina, o marquês de Casalduero sofreu um grande abalo. Sempre acreditou que odiasse a filha. Não gostava de tê-la por perto, ela não dormia sequer sob o mesmo teto que ele e a esposa. Era com os escravos da propriedade que vivia. Mas ao saber que aquela pequena criatura que levava seu sangue possivelmente estava condenada, ele sofreu uma considerável transformação. Desejou ter um maior contato com ela. Procurar fazê-la feliz. 

Três meses após a mordida, quando todas as demais vítimas já tinham padecido, Sierva María seguia sem apresentar qualquer sintoma da raiva. Seu pai, aliviado pela segunda chance que recebera de ter a filha ao seu lado, estava preparando uma grande viagem para os dois. Todavia, num determinado dia, já bem próximo da viagem, a criança acordou queimando de febre. Todos se desesperaram (menos a mãe dela). E aí começou um verdadeiro inferno na vida da menina: curandeiros, feiticeiros, médicos, o que fosse... Todos queriam tentar algo. Alguma forma de "tirar o mal" de dentro dela. Eram rasgos na ferida, sangrias, bebidas, diversas tentativas de "cura". A ferida que antes estava cicatrizada infeccionou pelos cortes provocados pelos curandeiros. O sofrimento que a faziam passar era tão grande que Sierva María começou a ter crises terríveis, gritando incontrolavelmente, debatendo-se... Para alguns, sintomas inequívocos da raiva. Para a Igreja Católica, evidência de uma possessão demoníaca. 

"No fim de tudo, o mais longe possível e largado pela mão de Deus, havia um pavilhão solitáro que durante sessenta e oito anos serviu de cárcere da Inquisição, e continuava a sê-lo para clarissas desgarradas. Foi na última cela desse recanto de esquecimento que encerraram Sierva María, noventa e três dias depois de ser mordida pelo cachorro e sem nenhum sintoma de raiva."

Intimado pelo Bispo, o marquês foi convencido pelo mesmo e pelo padre Cayetano Delaura a entregar a filha aos seus cuidados, pois através do exorcismo (que bem poderia matá-la) a alma da criança ficaria livre do demônio que a possuía e tentava levá-la para o inferno. Mesmo não acreditando de verdade que a filha estivesse possuída, ele a deixou no convento de Santa Clara, não sem se arrepender. Todavia, não teve coragem de voltar atrás. Deixou a filha à própria sorte. 

E é nesse convento que Sierva María conhecerá tipos diferentes de dor e até onde o fanatismo religioso pode ir... e quanta destruição é capaz de provocar. 

"Às vezes atribuímos ao demônio certas coisas que não entendemos, sem cuidar que podem ser coisas que não entendemos de Deus."

- Talvez muitos de vocês saibam que sou católica. Desde o ano passado. Minha Crisma aconteceu em maio deste ano e não me arrependo nem por um instante. Fui evangélica a vida quase toda, mas me tornar católica foi uma decisão que tomei com o coração, apesar de toda a resistência que tive na família. De todos os que foram contra.rs 

Na sexta série, nas aulas de História, eu ouvia falar muito sobre a Inquisição, apesar do meu professor ser católico. Ele próprio reconhecia o passado obscuro que a Igreja Católica possuía. Sabia dos crimes cometidos. E não deixava de falar sobre isso para os alunos. Eu nunca esqueci. Lembro até o nome do meu professor. Ele foi um dos poucos a não negar esse passado tão terrível. E em Do Amor e Outros Demônios eu vi bastante desse fanatismo e do poder que a Igreja tinha de condenar quem quer que fosse por coisas que acreditava, por faltas que julgava terem sido cometidas. Pessoas perseguidas por lerem "livros proibidos", chamadas de hereges e sendo assassinadas em fogueiras, doenças que a medicina já conhecia sendo vistas pela Igreja como possessões demoníacas... Isso tudo me fez muito mal. Não era falta de conhecimento. Era querer ver as coisas de determinada maneira para poder julgar as pessoas. Uma criança, gente! Sierva María era uma criança e foi vítima dos preconceitos, do fanatismo religioso, da prepotência e até mesmo do desejo de pessoas que tinham sua vida nas mãos. 

"Mal começaram os curativos, a menina fixou nele uns olhos aflitos e falou com voz trêmula:
- Vou morrer.
Delaura estremeceu."

- Meu coração se partiu em vários pedaços por essa criança. Negligenciada pelos pais, abusada por uma determinada pessoa (conto no spoiler daqui a pouco), torturada pela abadessa, pelas noviças, pelo Bispo e seus cúmplices. Ela nunca foi amada ou compreendida de verdade. Talvez os escravos tenham sido os únicos que lhe deram um pouco de amor, mesmo que vivessem em condições desumanas, mesmo que não fossem livres. Eles a aceitavam. Eles a queriam e respeitavam. Seu pai se arrependeu por sua indiferença, mas de que adiantou? De que valeu se depois lavou as mãos e a entregou ao inferno que era aquele convento?! Antes não tivesse se arrependido. Porque seu passageiro amor apenas deu algo à menina para depois retirar abruptamente. Seria preferível que ela nunca tivesse se apegado a ele. 

"- Estou com medo - disse ela.
Jogou-se na cama e desatou num pranto dolorido. Ele se sentou mais próximo e consolou-a com paliativos de confessor. Só então Sierva María soube que Cayetano era o seu exorcista e não médico.
- Então por que me cura? - perguntou.
Ele falou com voz trêmula:
- Porque gosto muito de ti."

- Este é um livro para pessoas que não se impressionam fácil, para quem tem estômago forte. Não era uma história para mim.rsrs Todavia, não me arrependo de ter lido. É um livro muito bem escrito, que lemos em poucas horas e nos envolve por completo. Só que é uma história que machuca. A criança do livro é vítima de muitos maus-tratos. Não dá para ler algo assim e ficar bem. 

GRANDE SPOILER: No trecho que coloquei logo acima vocês podem ver a conversa entre a Sierva María e outra pessoa. O padre Cayetano, encarregado de exorcizá-la, embora ele não acreditasse que ela estava possuída por demônio algum. Era uma pessoa culta, inteligente, que não se deixava cegar pelas doutrinas da Igreja. E se apegou muito à menina. Eu gostava imenso dele. Achava que ele faria algo pela criança. Que a ajudaria. E ele conseguiu me decepcionar de uma forma... Ainda estou muito arrasada. De pessoa culta, instruída, ele se transformou num homem enlouquecido pelo desejo. Um homem de 36 anos que passou a ver sua protegida como mulher. Que enxergou numa criança de 12 anos alguém por quem tinha se apaixonado. Ele seduz a menina, ele impõe seu "amor" à ela, passa a visitar o convento todas as noites e dormir na mesma cama que a criança. Embora ele não a tenha penetrado, isso não muda o fato de que era estupro e era pedofilia, gente!!! Ele toca nela, ele a beija, fala coisas que não devia. Eu sentia fortes náuseas quando lia essas cenas. Ela era só uma criança. Foi fácil para ele convencê-la de que aquilo era certo. Mas não era! Não posso aceitar algo tão absurdo! 

O autor coloca misticismo na história para explicar a relação que surge entre os dois, mas nada justifica ou torna aceitável algo assim. Sierva María era uma criança. O interesse de Cayetano, que ainda por cima era padre, pela menina é algo criminoso, doentio. Repugnante. Não senti pena alguma dele. O seu final ainda foi pouco. Porque o da menina foi terrível demais. E não. Ela não morre de raiva. Sequer contraiu raiva alguma. E também não estava possuída por demônio. O que entendi é que quando ela teve febre, que poderia ter diversas causas, as pessoas se desesperaram e foi por conta de tantas tentativas de "cura" que ela foi levada ao seu limite e começou a gritar, pois a faziam sofrer com seus experimentos. Enfim... Não houve raiva nem possessão. Ela morreu por outras causas e aos doze anos de idade. :(



Como eu disse, em julho a proposta do Desafio 12 Meses Literários é "ler um livro publicado no ano em que você nasceu". Minha escolha foi um desafio e tanto! Um livro que me provocou tormento, mas que eu não me arrependo de ter lido. Como um todo valeu a leitura.rs Dei 4 estrelas. 
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