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27 de outubro de 2020

O Fantasma de Canterville - Oscar Wilde



Literatura Irlandesa
Tradutor: J. F. Stacul
Editora: POE
Edição de: 2020
Páginas: 42

60ª leitura de 2020 (54ª resenha do ano)

Sinopse: Oscar Wilde foi um dos principais nomes da literatura mundial, responsável por uma produção literária que refletia sobre a sociedade inglesa do século XIX, a partir de um rico universo ficcional. Em O fantasma de Canterville, o autor desenvolve uma sátira bem humorada da aristocracia inglesa e um debate profícuo sobre as diversidades culturais existentes entre os Estados Unidos e a Inglaterra. Além disso, Wilde reconstrói as narrativas de terror, por meio de uma divertida paródia.




Vocês já devem ter percebido que este mês resolvi fazer leituras mais temáticas, tanto pelo mês das crianças quanto pelo mês das bruxas. E nada melhor do que encerrar o mês com uma boa história sobre fantasmas, né?! (se bem que pretendo, se der tempo, publicar a resenha de Frankenstein no dia 31) Só que esta história de fantasma é um tanto diferente.rs

Aqui não temos um conto com o intuito de assustar o leitor, mas sim fazê-lo rir com uma divertida paródia das típicas histórias de terror. O "terrível" fantasma de Canterville, que durante séculos aterrorizava os moradores daquela propriedade e seus visitantes, acaba provando do próprio veneno quando uma peculiar família americana compra a propriedade, com fantasma e tudo, e não demonstra um pingo de medo das diversas tentativas do perverso de transformar suas vidas num inferno. Pelo contrário! Cansados das "gracinhas" do intruso, eles decidem dar-lhe umas tantas lições. 

O Sr. Otis, um americano de posses, decide comprar Canterville Chase, mesmo contra os conselhos de seus amigos, que achavam aquilo uma grande tolice, já que a propriedade era conhecida por ser assombrada. Na verdade, o antigo dono também tentara deixar claro que existia um fantasma habitando aqueles cômodos e que nem mesmo ele e seus parentes conseguiram viver no local. Mas o Sr. Otis não se importou, pois não tinha medo de coisas sobrenaturais. 

Logo, ele se muda com toda sua família, e o fantasma não demora a começar o seu "trabalho", mas é surpreendido pelo comportamento inacreditável dos novos moradores. Nunca, em todos os seus séculos de morto, tinha sido tão ofendido! Sempre conseguira enlouquecer as pessoas de medo, levando-as muitas vezes à morte, mas agora se via ridicularizado e atormentado, sem saber o que fazer de sua morte e sem ter para onde ir.

O conto é bem engraçado em diversos momentos e somente numa determinada cena sentimos um pouco de tristeza, quando descobrimos as circunstâncias da morte do homem que agora era aquele fantasma. Mas não pensem que ele era um pobre coitado, um inocente injustiçado! Ele tinha sido um homem perverso, que assassinou a própria esposa e depois de alguns anos "desapareceu". Mas mesmo enquanto fantasma, seguia sendo cruel, fazendo as pessoas sofrerem e ficando satisfeito quando conseguia fazê-las se matar ou as levava a completa loucura. 

O final é bem satisfatório, algo que eu não esperava, mas que fazia sentido. A personagem Virgínia, filha do Sr. Otis, no início parece que não terá um papel muito importante na história, mas ela tem destaque nos acontecimentos finais. 

É um conto bem curtinho e que recomendo! Nos traz um outro lado do escritor famoso por sua perturbadora obra O Retrato de Dorian Gray



-> DLL 20: Um livro de autor irlandês


5 de setembro de 2020

Livros lidos e não resenhados (julho/agosto de 2020)

Olá, queridos!

Às vezes acontece de eu ler um livro e, por um motivo ou outro, não conseguir fazer a resenha. Felizmente, isso aconteceu muito pouco ao longo dos mais de dez anos do blog. Mas 2020 está sendo atípico. Um ano digno de ser considerado um pesadelo. E claro que isso afetou as minhas leituras. Existem momentos nos quais não sinto vontade de ler, passo dias sem tocar em livro algum (lembrando que a leitura é minha maior paixão) ou não sinto vontade de fazer resenhas. E tudo bem. Porque ler e/ou resenhar não é para ser uma obrigação, mas sim um prazer. 

Todavia, não é só por isso que alguns livros não serão resenhados de agora em diante. Toda vez que eu não fizer a resenha de alguma história que tiver lido, irei explicar os respectivos motivos. 


Literatura norte-americana
Título Original: The good daughter
Tradutor: Zé Oliboni
Editora: HarperCollins
Edição de: 2018
Páginas: 464

40ª leitura de 2020 

Sinopse: Charlotte e Samantha eram apenas adolescentes quando invadiram sua casa em Pikeville à procura de seu pai Rusty, um advogado de defesa odiado por algumas pessoas da cidade que o viam como "a mão direita do Satanás" por defender todo tipo de criminosos.

Ele estava no fórum quando dois homens descontaram seu ódio na família - matando sua esposa, atirando na cabeça de Samantha, deixando-a à beira da morte, e aterrorizando Charlotte.

Afetadas pelo trauma, as irmãs precisam se reencontrar após um crime hediondo em uma escola. Charlotte é a primeira a chegar ao local do crime e revive a violência de seu próprio passado. Após tantos anos de segredos e silêncio, a família é obrigada a lidar com o caso em uma história de intrigas e reviravoltas que mostra que nem tudo é o que parece.




A Boa Filha foi minha penúltima leitura de julho e a 40ª do ano. Um livro que li numa leitura coletiva e amei cada momento (menos o final da história). É um livro que nos envolve desde o prólogo, quando sofremos um choque muito grande com a violência presente nas cenas, a crueldade enorme de que Samantha, Charlotte e a mãe delas são vítimas. É um início que nos rouba o fôlego e viramos as páginas com ansiedade, desejando saber tudo o que ocorreu depois, como conseguiram superar e seguir em frente. 

Eu tinha que terminar a leitura do livro Para Sempre para um desafio e terminei de ler os dois quase ao mesmo tempo, dando prioridade para a resenha da outra história, o que acabou prejudicando esta, vez que o mês de julho terminou sem que eu tivesse conseguido começar a resenha de A Boa Filha. Assim, ao iniciar as leituras de agosto já não havia tempo para me dedicar como sempre me dedico na hora de escrever sobre um livro. Vários dias já tinham se passado. :(

Esta não é uma leitura fácil, mas depois de Flores Partidas (outra história da mesma autora), eu já estava preparada para tudo. Acho que nenhum livro conseguiria ser mais pesado que aquele. 

Durante a leitura coletiva foram realizados dois debates e ambos foram maravilhosos! Como vocês já sabem, amo ler em conjunto, pois é possível conversar e desabafar sem medo de estragar a leitura de ninguém com spoilers.rsrs

É um livro que recomendo muito, mas para quem já conhece os livros da autora ou está acostumado a ler livros fortes. 




Literatura Irlandesa 
Título Original: The picture of Dorian Gray 
Tradutor: Jorio Dauster
Editora: Folha de São Paulo
Edição de: 2016
Páginas: 176
43ª leitura de 2020

Coleção Folha Grandes Nomes da Literatura #6

Sinopse: Escrito em 1890, este romance de Oscar Wilde talvez seja até mais atual do que em seu lançamento. O culto à aparência física e à eterna juventude deixou de ocupar apenas alguns estetas e aristocratas, como ocorria no fim do século XIX, para se transformar em fenômeno de massa. 

No esplendor da juventude, Dorian Gray posa para um quadro, e lamenta que, com o passar dos anos, perderá a beleza ali retratada. Ou será que não? Um pacto diabólico está em curso. 




Este é um livro que resolvi não resenhar por um simples motivo: já tem resenha dele no blog. Sim. Porque o li pela primeira vez em 2018 e vocês podem ter acesso à resenha clicando aqui

Na época, eu jurei que nunca iria reler esta história. Que nunca mais permitiria que o livro me causasse todo aquele tormento, aquele desgaste emocional tão grande. Lendo a resenha vocês poderão entender um pouco do que estou falando. O Retrato de Dorian Gray é um livro completamente digno de 5 estrelas, mas é uma história que tem como personagens principais dois homens podres, cruéis. Que sentem prazer na maldade. É uma história que faz com que nos sintamos mal. Pelo menos, foi assim que me senti da primeira vez que li. E o sentimento permaneceu na releitura. 

Mas por que decidi reler? Porque, através do projeto de leitura coletiva da Mell do canal Literature-se, eu fiquei sabendo que a versão que li em 2018 é a autocensurada pelo próprio autor e contendo 7 capítulos a mais que a versão original. Isso acontece porque este livro do Oscar Wilde causou muitos problemas ao autor em sua época. O livro sofreu censura pelo próprio editor dele, pelo que entendi, e mesmo assim recebeu duras críticas. O autor, então, autocensurou o próprio texto e acrescentou mais sete capítulos. Todavia, de nada adiantou. O livro chegou a ser usado como prova contra o autor, que foi condenado a dois anos de prisão e trabalhos forçados por ter tido relações com rapazes, ou seja, por ser homossexual. Isso era considerado crime. E o livro foi usado como prova contra o autor! Sim! Inacreditável!

Este foi meu motivo para reler. Já que eu tinha lido a versão censurada e contendo 20 capítulos, quis ler a versão original, sem censura e com seus 13 capítulos. Confesso que não notei grandes diferenças. Cheguei a comparar em vários momentos as duas versões, mas as diferenças são mínimas, pelo que pude perceber. A maior diferença é que uma versão tem 20 capítulos e a outra tem 13. 

Como eu disse, meus sentimentos pela história permanecem os mesmos. Sigo detestando profundamente o Dorian. Sigo sentindo asco do Henry. Eles são ainda mais cruéis do que eu me lembrava!


Literatura Brasileira
Editora: Companhia das Letras
Edição de: 2009
Páginas: 280

48ª leitura de 2020 

Sinopse: Clássico absoluto dos livros sobre a infância abandonada, Capitães da Areia assombrou e encantou gerações de leitores e permanece hoje tão atual quanto na época em que foi escrito. A história crua, comovente, dos meninos que moram num trapiche abandonado e vivem de pequenos furtos e golpes causou impacto desde o lançamento, em 1937, quando a polícia do Estado Novo apreendeu e queimou inúmeros exemplares do livro. Longe de manifestar piedade por suas pequenas criaturas, Jorge Amado as retrata como seres dotados de energia, inteligência e vontade, ainda que cerceados pelas condições sociais hostis em que estão inseridos. Com sua prosa repleta de verve e humor, o escritor baiano nos torna íntimos de cada um desses personagens e nos contagia com sua obstinada gana de viver. 




Eu demorei a publicar este post (pretendia publicá-lo no dia 31 de agosto) porque passei todos estes dias sem decidir se iria ou não fazer a resenha de Capitães da Areia, um livro que bagunçou minhas emoções, me provocou uma angústia enorme e se tornou um dos meus preferidos da vida. 

Acontece que não consegui, simplesmente não consegui escrever a resenha. Não sou capaz de falar sobre este livro, de expressar sequer um terço de tudo o que sinto, de como ele se cravou profundamente em meu coração.

Como falar dessas crianças abandonadas, morando nas ruas e sobrevivendo de furtos para ter o que comer e o mínimo para vestir (muitas vezes vestindo farrapos)? Como expressar a dor que me consumiu ao conhecer a história de cada uma delas, sem poder fazer nada para salvá-las, para tirá-las daquelas condições antes que fosse tarde demais?!! Eu ficava "sufocada" durante a leitura, imaginando o terror que era viver daquela maneira, sendo desprezadas pela sociedade e pelo Estado que eram os verdadeiros culpados por elas estarem ali, naquelas condições miseráveis. Um Estado que "lavava as mãos" e empurrava aquelas crianças e adolescentes para um destino aparentemente sem volta. Uma sociedade hipócrita que queria torná-las invisíveis. Eu senti tanta raiva, tanta revolta! E muito desespero. 

"No reino do céu seriam iguais. Mas já tinham sido desiguais na terra, a balança pendia sempre para um lado."

A maneira como essa crianças eram tratadas me fazia desejar entrar no livro e espancar aqueles seres que não mereciam ser considerados humanos! Até mesmo quando tentavam vender algumas coisinhas ou fazer desenhos para conseguir algum dinheiro para comer, as crianças eram humilhadas e agredidas! Como não se revoltar?! Como não alimentar o ódio no coração se por todos os lados tentavam impedi-las de sobreviver?! 

Não desprezei nem julguei nenhuma daquelas crianças e adolescentes, pois eram o que o Estado as tornou, o que os privilegiados poderiam ter evitado, mas nada fizeram, pois pensavam apenas no próprio umbigo. E eu me pergunto: o que mudou? Hoje em dia temos o Estatuto da Criança e do Adolescente, a proteção integral da infância, algo que não existia quando Capitães da Areia foi escrito. Todavia, realmente mudou alguma coisa? Nenhuma criança está desamparada pelas ruas, tendo sua infância arrancada e um destino de sofrimento? Eu reconheço a importância enorme do ECA, ele representou um marco, um reconhecimento verdadeiro dos direitos humanos das crianças e adolescentes, mas muita coisa ainda precisa ser feita. Capitães da Areia segue sendo um livro muito atual. Existem muitas crianças desamparadas ainda nos dias atuais, existem muitas infâncias sendo perdidas, das mais diferentes formas. 

Este foi um livro lido para o Clube de Leitura - Clássicos da Literatura Nacional criado pela Kelly, do canal Aventuras na Leitura. Para saber como participar basta clicar AQUI. Agora em setembro leremos Vidas Secas, do Graciliano Ramos. 



15 de abril de 2018

O Retrato de Dorian Gray - Oscar Wilde

(Título Original: The Picture of Dorian Gray
Tradutor: João do Rio
Editora: Martin Claret
Edição de: 2014)

Escrito em 1890, este romance revela almas que se entregam a paixões e que são atormentadas por seus próprios pecados. Dorian Gray e Lord Henry mostram ao leitor duas faces diferentes de pecado e purificação. É considerada a mais intrigante obra de Oscar Wilde.



Palavras de uma leitora...


- Está aí uma sinopse que nada diz da história.rs Mas como a edição que possuo não vem com sinopse tive que colocar essa que encontrei no site da própria editora. 

Eu tinha toda a intenção do mundo de ler este livro até a quarta-feira passada e depois me dedicar a um romance ou um suspense. Apenas desejava cumprir meu Desafio Mensal. Se eu dissesse que estava ansiosa para ler este livro estaria mentindo descaradamente: eu não estava. Sabia que era uma história perturbadora e que iria provocar um nó na minha cabeça. Eu já tinha todos os spoilers do livro e me julgava preparada para o que encontraria, mas não ansiava pelo momento. 

Todavia, como a semana foi muito corrida e fiquei de lá para cá mal tendo tempo de respirar, não passei da página 40. Assim, tive que ler todas as outras 212 páginas do livro no sábado. O resultado foi que não tive um dia agradável e cogitei a possibilidade de ir até o latão de lixo e jogar o livro lá. Pensei seriamente em fazer isso. Por que a história é ruim? Longe disso! É um livro fantástico, muito bem escrito, único, para o qual dei 5 estrelas no Skoob (embora tivesse hesitado um pouco.rs). A questão é que é uma história podre, sórdida, maquiavélica. E não poderia ser diferente já que adentra pelo psicológico, mostrando com maestria a natureza humana, o comportamento patológico de certas pessoas que tendem para o que é destrutivo e que sentem verdadeiro prazer em desgraçar os outros. Se tem uma história que não te provoca nenhum sentimento bom com certeza é esta. E eu que achava que não poderia encontrar clássicos mais "sórdidos" que O Morro dos Ventos Uivantes e As Relações Perigosas!

- A história começa antes mesmo de conhecermos o jovem cujo quadro dá título ao livro. Primeiro conhecemos seu pintor, aquele para quem ele posava e nutria pelo modelo de suas obras um amor cada vez mais profundo, uma espécie de adoração... como se Dorian Gray tivesse se convertido em seu deus. 

Naquele dia em particular, conversava com seu amigo, lorde Henry, sobre o Dorian e num impulso lhe confessara seus sentimentos pelo rapaz. Intrigado pela paixão contida nas palavras de Basil, a quem julgava insípido e incapaz de despertar interesse em qualquer pessoa, mais quis saber sobre a obra-prima inspiradora de tão peculiar comportamento. 

"Subitamente, eu me encontrei face a face com o jovem cuja personalidade me havia tão singularmente intrigado; quase roçamos um no outro e, de novo, nossos olhares se cruzaram."

- Ao colocar os olhos pela primeira vez em Dorian Gray, Henry soube que aquele rapaz seria seu. Sua beleza era fascinante, mas o que despertava verdadeiramente a sua cobiça era ver naqueles olhos a pureza que se encontra naqueles que ainda não foram manipulados. Dorian era como uma página em branco na qual Henry poderia escrever o que bem quisesse. Ele ainda não possuía mácula. Cabia às suas mãos hábeis estragá-lo... e ele se divertiria muito no processo. Todavia, mais que as mãos ele utilizaria as palavras. Afinal de contas, existiria maneira mais eficaz de envenenar alguém? 

"- Porque considero que influir sobre uma pessoa é transmitir-lhe um pouco de sua própria alma. Esta pessoa deixa de pensar por si mesma, deixa de sentir suas paixões naturais. Suas virtudes não são mais suas. Seus pecados, se houver qualquer coisa semelhante a pecados, serão emprestados. Ela tornar-se-á eco de uma música estranha, autora de uma peça que não se compôs para ela."

- Pressentindo o perigo que seu objeto de adoração passava a correr por ter despertado a atenção do lorde Henry, Basil tenta apelar para qualquer vestígio de humanidade que exista em seu "amigo", implora que ele se mantenha afastado de Dorian, porque sua influência seria nociva. Mas mesmo antes de abrir a boca sabia que era em vão, embora, no fundo, desejasse acreditar que nada poderia roubar a beleza que Dorian possuía, algo que ia além da simples beleza física. Henry poderia tentar, mas certamente não o corromperia. 

"Ele tentaria dominá-lo, como aliás, já havia feito."

Determinado a iniciar o jogo que o divertiria nos próximos meses, Henry não espera um só segundo para atrair a sua presa. Hábil com as palavras como poucos, sabia exatamente o que dizer para provocar sedução, para que Dorian quisesse estar ao seu lado, aprender o que só ele poderia ensinar. E não demorou para acontecer. Acompanhou com prazer as transformações que ocorriam no rosto do rapaz enquanto o mesmo experimentava novos sentimentos e uma deliciosa confusão. 

"Ele apenas lançara ao ar uma flecha. Esta alcançara o alvo?"

Naquele dia tão decisivo para tantas vidas, Dorian posou mais uma vez para Basil, só que tudo foi diferente. Contaminado pela admiração que começava a sentir pelo lorde Henry, seduzido pelo que quer que existisse no outro, ele possibilitou ao artista pintar o mais magnífico retrato. Era como se sua alma tivesse sido transferida para o retrato. Nunca ninguém criou uma obra tão bela. 

Com as palavras do outro correndo por seu corpo como sangue, Dorian olhou para o próprio retrato e enxergou nele tudo o que deixaria de ser um dia. Uma forte inveja de si mesmo tomou conta dele. Por que aquele retrato possuía o direito de ser imutável enquanto ele estava condenado a envelhecer, definhar e morrer? Por que não poderia conservar-se belo para sempre? Parar no tempo como aquele quadro? 

"[...] Ah! se fosse possível mudar os destinos; se fosse eu quem devesse conservar-me novo e se essa pintura pudesse envelhecer! Por isto eu daria tudo!... Nada há no mundo que eu não desse... Até minha alma!...

Voltado para si mesmo e para a paixão por sua própria aparência, mal é capaz de notar que seus pensamentos já não são seus, que suas escolhas não são suas. Que tudo o que julgava acreditar na verdade era resultado do que Henry acreditava. Ele era uma marionete, um brinquedo para alguém experiente e astuto, que nutria um desprezo por tudo o que fosse bom e abraçava o que era perverso. 

Com o passar do tempo, Henry passa a ser o centro da vida de Dorian. Onde quer que um estivesse o outro também estava. Como consequência, ele se afastava cada vez mais de Basil e da inocência que um dia possuiu. Porém, embora já não se sentisse capaz de resistir à influência do outro enxergava que seu "amigo" seria sua ruína, que já mal conseguia reconhecer-se na pessoa que era. E é quase com desespero que ele busca uma saída... uma chance de escapar do mundo no qual estava mergulhando. E é quando ele a encontra

Sibyl Vane, uma atriz de dezessete anos, era tudo o que Dorian gostaria de ser. Bela, bondosa, dona de uma alegria e pureza emocionantes, ela lhe provocava sentimentos que ele nunca antes experimentara. Era como um anjo. Disposto a agarrar-se com força à sua oportunidade de salvação, ele acredita estar apaixonado por ela e promete-lhe casamento. Sabia que ao seu lado teria forças para se afastar de Henry, para ser o que era antes, para reencontrar sua própria alma. 

E o que será mais forte? A bondade de Sibyl que o faz querer ser melhor ou a depravação que Henry lhe apresenta e parece tão impossível de resistir? Ainda existia realmente alguma chance? 

- Houve uma época em que ouvia sem parar uma vez mesma música: Destino - Lucas Lucco. Realmente considero a música muito bonita e com aquele "ar triste' que aprecio nas canções.rs Só que o que mais me atraía era o clipe, que mostrava duas vozes falando na cabeça do personagem. Uma, quase inaudível, tentando convencê-lo do que era certo. E a outra, muito mais "viva" e atraente, dizendo exatamente o que ele deveria fazer e ia na contramão do que era bom. Qual foi a voz que o personagem da música Destino preferiu ouvir? É bem óbvio, verdade? 

"Sim, Dorian, tu sempre me amarás; eu te represento todos os pecados que não tiveste a coragem de cometer.."

- Este livro me perturbou muito. Mesmo se eu não conhecesse spoilers da história antes de começar a lê-la seria capaz de prever o rumo que ela tomaria. Quanto mais profundamente conhecemos o Dorian, sua fraqueza de caráter e falta de inteligência própria... E, em contrapartida, observamos Henry, astuto, inteligente e sedutor, mover lentamente as cordas que guiam o protagonista... mais fácil é descobrir o final. 

"Há não sei o quê de fatal num retrato."

Dorian cresce muito ao longo do livro. Melhor dizendo: ele decresce bastante. Não nego nem por um instante que a manipulação do lorde Henry contribuiu e muito para torná-lo o ser baixo e repulsivo que se tornou. Mas há um determinado momento da história em que, estando o protagonista exatamente onde e da forma que ele queria, Henry solta as cordas. E Dorian passa a seguir com as próprias pernas. É possível, então, percebermos que Dorian gostava da podridão que era a sua vida, que ele sentia prazer em fazer com outras pessoas o que seu amigo tinha feito com ele, superando, em vários aspectos, o seu mentor. Embora tivesse "crises de consciência" em que jurava para si mesmo que lamentava profundamente o que acontecera com outros personagens, nós sabemos que é mentira. Que ele desempenhava um papel para si mesmo, tentando convencer-se que nunca tinha a culpa de nada. Não dava a mínima para quantas vidas havia destruído. Já não tinha amor no coração. E não queria ter.

"Um ódio sombrio vivia no seu coração."

- E é aí que entra o quadro, que representa na história a própria alma do protagonista. O retrato de Dorian Gray, pintado na ocasião do primeiro encontro entre o lorde Henry e ele, era uma obra de tirar o fôlego, jamais vista por ninguém. Henry desejou comprá-la de Basil, mas este a deu de presente para seu modelo, apesar da crise de ciúmes e inveja que Dorian teve ao ver a própria imagem, por ser muito injusto o fato da imagem ali eternizada jamais envelhecer enquanto ele, que servira para criá-la, estar condenado ao definhamento e morte. Pois bem... Ao longo da história, conforme o protagonista se corrompe o quadro sofre transformações. Após seu primeiro ato de crueldade, por exemplo, as marcas de perversidade que deveriam estar em seu rosto aparecem no retrato e daí por diante. Quanto mais desumano ele se torna pior fica o retrato e, tomado pelo terror, ele decide esconder o quadro de todos, trancar à chave no local mais afastado na casa, impedindo que outros percebam o que estava acontecendo no seu interior. Ele acredita que lançara uma espécie de "maldição" contra si mesmo ao proferir aquelas palavras quando da pintura do quadro. 

"O que os vermes são para um cadáver seus pecados seriam para a imagem pintada nessa tela."

Não sei o que pensar sobre isso. Ao mesmo tempo que enxergo que o retrato era a representação da alma do personagem, sei que não tenho explicação para certos acontecimentos envolvendo esse quadro. Deixo que os estudiosos encontrem as respostas devidas.kkkkkkkk... 

- Impossível dizer que apreciei esta leitura. Com certeza é um livro que não tenho a menor intenção de voltar a ler um dia!kkkkkk Tudo o que quero é esquecê-lo. Na história, Dorian chega a dizer ao lorde Henry que ele o envenenou através de um livro. Bem... eu não penso em ser intoxicada por esta história.rs

Recomendo o livro? Gente, é um clássico que realmente é digno de ser considerado como tal. O autor foi brilhante ao escrever algo assim e acredito que é válido lê-lo. Só que não é um livro saudável. Recomendo mais para quem estuda Psicologia ou aprecia livros voltados para temas psicológicos. 
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