Mostrando postagens com marcador Resenhas. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Resenhas. Mostrar todas as postagens

18 de junho de 2024

Noite com o Inimigo - Abby Green



Literatura Inglesa
Título Original: One night with the enemy
Tradutora: Maria Vianna
Editora: Harlequin
Edição de: 2013
Páginas: 183

Sinopse: Madalena Vasquez e Nicolás Cristobal, apesar de pertencerem a famílias inimigas, sentem uma forte e irresistível atração. Mas Maddie é obrigada a rejeitar Nicolás ao saber de um terrível segredo, deixando-o furioso e humilhado.

Ele jamais conseguiu perdoar o que ela havia feito. Nem se livrar do desejo de vingança…
Ao voltar para assumir os negócios do pai, Maddie se vê endividada e a única pessoa que pode ajudá-la é Nicolás. Mas tudo o ele quer é fazê-la pagar por tê-lo feito sofrer!




Queridos leitores, sei que estou sumida. Meu último post data de 16 de março. Sim, é muito tempo! Mas quem me acompanha pelo Instagram conhece alguns dos motivos para eu não estar tão presente no blog, bem como acompanha algumas das minhas leituras. 

Não parei de ler. Na verdade, estou lendo bastante, fazendo várias leituras ao mesmo tempo. Acontece que também tenho estudado muito. Iniciei minha segunda graduação como parte das decisões tomadas este ano pelo bem da minha saúde mental e satisfação pessoal. Meu sonho profissional sempre foi cursar letras. E agora é o que estou fazendo. Estou tão feliz! Tem sido delicioso estar mergulhada nesta nova jornada.

Também estou fazendo alguns cursos de extensão e pós-graduações voltadas para a área do direito (minha primeira graduação), da saúde e da educação. Juntem tudo isso às obrigações profissionais e entenderão por que não estou conseguindo aparecer como gostaria.rsrs

Mas, como eu disse, estou lendo. Livros importantes, reflexivos, que estão me acrescentando muito. Só que... dentre minhas leituras, vocês não encontram muitos romances. Logo eu, que sou uma apaixonada pelas histórias de amor, praticamente não tenho lido nenhum romance. Estou participando de três clubes de leitura, todos eles voltados para livros clássicos, filosóficos, romances de formação e outros gêneros semelhantes. Falarei mais sobre eles no post sobre as leituras concluídas neste primeiro semestre do ano. A questão aqui é: eu estava sentindo falta dos romances para "respirar". Para aliviar meus dias. Para me fazer sonhar. Os romances sempre, sempre, SEMPRE terão um espaço especial em meu coração e em minha vida. Eles são simplesmente essenciais. 

E lá fui eu, numa madrugada recente, caçar na minha biblioteca do Kindle um romance de banca para ler. Confesso que escolhi pelo título, por sempre ter gostado de romances sobre "suposta" vingança.rs Aquelas típicas histórias de "odeio a mocinha por algo que aconteceu no passado e vou me aproximar apenas para fazê-la pagar pelo que fez. Não sinto mais nada. Estou curado, mas meu orgulho precisa da vingança." Aquele blá blá blá conhecido de muitos leitores dos queridos romances de banca. 

Como sempre acontece nestes romances, o que o imbecil do mocinho achava que sabia sobre o passado não era real, ele quebra a cara e precisa se redimir, a gente passa raiva porque ele nunca paga caro o suficiente por sua arrogância, no fim vivem felizes para sempre e partimos para o próximo romance, para passar raiva de novo.kkkkk Eu sentia falta disso. :D

Só que... Em Noite com o Inimigo as coisas são diferentes. E eu amei! Foi uma escolha certa, que me deixou com um quentinho no coração e um sorriso no rosto. Sorriso que veio após eu ter chorado com algumas cenas que me emocionaram. Acho que estava muito sensível no dia.rs

Madalena e Nicolas, como Romeu e Julieta, pertencem à famílias inimigas, que se detestam há gerações e durante a infância e adolescência eram proibidos até mesmo de olharem um para outro. 

Vítimas de lares violentos, acabam por desenvolver interesse um pelo outro, tanto pelo "proibido" quanto por existir semelhanças em suas vidas, pois ambos sabiam o que era não receber carinho dos pais e crescer temendo o próximo golpe. Assim, mesmo com o medo das consequências se fossem descobertos, os dois jovens começam a se encontrar e não demora para que o interesse inicial dê lugar ao amor. Um amor que acaba por destruir seus corações e abalar por completo as duas famílias...

Oito anos mais tarde, agora uma mulher recém-formada na faculdade, apesar da rejeição dos pais que em nada contribuíram para que ela tivesse algum futuro, tendo virado as costas para ela anos antes, Maddie é chamada a regressar a sua cidade natal pelo pai que resolvera se arrepender no leito de morte e pedir que ela resgatasse a propriedade os negócios da família que estavam praticamente arruinados. 

Tomar a decisão de retornar é muito difícil para nossa mocinha, que não só teria que lutar para salvar um legado que só lhe trouxe dor, mas também reencontrar o seu amor do passado, dono de quase todas as terras daquela região. E que jamais a perdoara pela forma como a história deles terminou. 

Quando Maddie chega para aceitar a última vontade do pai, já não consegue vê-lo com vida, pois ele só se arrependeu e lembrou de sua existência realmente no último momento e não teve forças para esperar pela sua chegada. Maddie desembarca direto para o cemitério e depois tem que encarar sozinha a longa batalha que lhe espera, pois para lutar por uma propriedade e uma vinícola em ruínas, precisa conseguir investidores num local dominado pelo nome da família do homem que a odeia. 

Então, temos uma história que gira inicialmente em torno de um reencontro de duas pessoas que se amaram no passado, mas que hoje se detestam e que, imaturos, em vez de enterrar o que passou, decidem conduzir cada passo baseados no ressentimento. Mas o livro não demora nada para tomar um rumo diferente 

Como posso explicar? As coisas não aconteceram como eu esperava. Embora o Nicolas tenha o passado bem vivo em seu coração e queira sim se vingar, reencontrar a Maddie traz de volta um sentimento que ele jurava que tinha destruído. Ele vai jurar para si mesma que já não a ama, mas a maior parte das atitudes do nosso mocinho serão evidentemente guiadas pelo amor que ele diz não sentir. 

Ele vai provocar a Maddie, falar coisas desagradáveis, mas em cada momento o leitor é capaz de perceber a dúvida, a preocupação, o carinho, a proteção e a necessidade de estar próximo dela. O Nicolas podia pensar o que fosse da mocinha, mas ele não se deixava cegar por isso, sabe? Ele alimentava o rancor, mas ao mesmo tempo enxergava o presente e o que estava acontecendo e se perguntava se realmente tudo o que achava que sabia... era real.rs 

Eu amei acompanhar como as coisas se desenvolvem entre eles. Os dois não tinham mais ninguém de suas famílias, mas seguiam carregando aquele peso do ódio de gerações, um peso sufocante. Quando estavam juntos, mesmo se escondendo por trás de desculpas, eles ficavam bem. Como se o peso sumisse. E a escritora foi brilhante em nos transmitir essa sensação, de nos fazer sentir o que se passava internmente com os personagens. 

Em muitos momentos, o Nicolas, que supostamente pretendia terminar de enterrar o nome da família da Maddie, foi justamente quem a ajudou.kkkkkk Ele cuidava dela quando deveria era ficar feliz por suas dificuldades, inexperiência e falta de apoio e recursos para salvar a propriedade e a vinícola, mas em vez disso ele acabava tomando decisões que em nada contribuíam para fazê-la desistir de cumprir a última vontade do pai. E, sinceramente, a Maddie não tinha condições nenhuma de salvar nada daquilo. Ela era recém-formada, não tinha realmente experiência, não tinha investidores, recursos financeiros e a região era toda dominada pelos negócios do Nicolas. Dizer que o fato de ela ser uma guerreira seria suficiente para fazê-la ser bem sucedida seria utopia. Então, eu ficava sim muito feliz quando ele a ajudava, mesmo que ele mentisse para si mesmo e dissesse que a ajuda fazia parte da vingança.kkkkkkk Ele não sabia nem mentir para si mesmo!

O que realmente se passava nestes momentos era o passado... Sabe aquele passado que os marcou e afetou toda sua vida? É o mesmo passado no qual estão guardados muitos momentos bons que eles viveram. Nicolas sabia que a menina que a Maddie um dia foi amava demais aquele lugar e sempre quis que o pai reconhecesse seu amor e lhe desse uma chance, em vez de rejeitá-la por não ter nascido homem. No fundo, apesar de todo o rancor, ele queria ajudá-la a realizar o sonho da menina que ela tinha sido e que ele ainda amava. Então, ele inventava desculpas para ajudá-la e mentia, inventando desculpas para a contradição entre suas palavras e atitudes.rs 

Maddie e Nicolas me fizeram muto bem. Me devolveram o romance que eu sentia falta nos livros. Pude rir e chorar com a história deles. Sonhar e desejar que eles fossem muito felizes e enterrassem para sempre todo o ódio que as duas famílias nutriram. Que destruíssem todo aquele legado de dor com a união dos dois e os filhos que nasceriam desse amor. Eu simplesmente amei esta história!

Se recomendo? Claro que sim! Apenas leiam!

Até breve, queridos!

14 de fevereiro de 2024

Os Abismos - Pilar Quintana



Literatura Colombiana
Título Original: Los abismos
Tradutora: Elisa Menezes
Editora: Intrínseca
Edição de: 2022
Páginas: 272

Sinopse: Novo livro da autora de A cachorra aborda, pelos olhos de uma criança, a solidão feminina e as imposições sociais na vida de mulheres.

Claudia mora com os pais em Cáli, na Colômbia, em um apartamento tomado por plantas e rodeado por precipícios físicos e metafóricos. O ambiente, exuberante e bem-cuidado, é um contraste, uma oposição à mãe indiferente e apática que está em conflito com os caminhos escolhidos e impostos para a própria vida. Como muitas famílias, a de Claudia passa por uma crise, e basta o casamento de seus pais estremecer para que ela comece a entender a fragilidade dos limites que mantêm a previsibilidade do cotidiano.

A partir da expectativa e de seu olhar agudo e ao mesmo tempo inocente de criança, é a menina que narra os acontecimentos que abriram as fendas por onde entraram seus piores medos, aqueles que são irreversíveis e podem levar à beira dos abismos. Nos últimos anos da infância, Claudia percebe que a vida chega ao fim e que essa ruptura pode ser uma escolha pessoal. É pelos relatos da mãe, obcecada por revistas de celebridades ― em especial pelas figuras femininas com finais trágicos, como Grace Kelly ―, que ela faz a correspondência entre a morte e as escolhas e passa a temer pelas decisões de sua progenitora.

Em meio à beleza e à violência da natureza, confrontando desejos inconfessos, criança e mãe se encontram e, assim, o destino da mais velha parece se debruçar sobre o abismo contra o qual tantas outras mulheres também já se depararam.



"Aos poucos o apartamento foi se enchendo de plantas até se transformar numa selva. Sempre pensei que a selva eram os mortos da minha mãe. Seus mortos renascidos." 

Impacto. Dor. Desespero. Reflexão. Certeza da brevidade da vida e de como escolhas podem nos abrir portas ou nos colocar num precipício, lutando entre a vontade de viver e de simplesmente acabar com tudo. 

Quando iniciei esta leitura não tinha sequer noção do que encontraria. O livro me atraiu pela capa e por seu título que te faz pensar de que tipos de abismos a história tratará... Isto porque o livro estava embalado e eu nunca tinha visto ninguém falar sobre ele. Comprei primeiro para só depois ler a sinopse e entender que ele acabaria por abordar transtornos psicológicos através da visão e narrativa de uma criança. 

"Pensei nas mulheres mortas. Debruçar-se em um precipício era olhar em seus olhos."

A leitura fluiu bem, mas foi bastante difícil justamente pelos temas abordados e por tudo ser mostrado através do olhar de uma menina, que entende o que os adultos se esforçam em negar: sua mãe estava doente, caindo lentamente num abismo do qual ela talvez não conseguisse tirá-la. É doloroso acompanhar o dia a dia dela na casa, rodeada pelas plantas (que são os mortos de sua mãe, como ela diz), tendo que lidar com os altos e baixos de sua genitora enquanto o pai prefere fingir que nada está acontecendo, preso em seu silêncio e em seu trabalho. 

Claudia, que tem o mesmo nome de sua querida mãe, é uma menina solitária e observadora. Tudo o que mais deseja da vida é receber da mãe a atenção que tanto tenta atrair. A atenção que ela dava para as plantas... que dava para suas revistas sobre celebridades e que dedicava aos finais trágicos de outras mulheres. Sua mãe mergulhava naqueles assuntos, como se ansiasse estar no lugar das mulheres cuja vida acabou tão de repente, de um golpe, deixando no ar a suspeita (mas nunca a confirmação) de suicídio. 

Através dos fragmentos que obtém do passado de sua mãe, e da relação existente entre ela e a avó, Claudia, com tão pouca idade, traça um paralelo com sua própria vida e a relação com sua mãe. Os erros cometidos por sua avó e repetidos em sua mãe, que jura que jamais seria como a outra, mas repete os mesmos comportamentos e palavras como se num ciclo inquebrável. 

"Fechei os olhos e surgiu um precipício. Abri e continuei vendo."

A Claudia mãe é uma mulher triste, que não admite para si mesma o quanto a tristeza a está consumindo. As escolhas de seus pais, o quanto não teve coragem para enfrentá-los e realizar seus sonhos. Como deu ouvidos somente para o que esperavam dela e se conformou com um casamento sem amor e em ser mãe quando na verdade não era o que queria. O que sonhava viver. Estar presa naquela vida era sentir-se morta. Amava a filha, mas gostaria de poder voltar no tempo... Teria aceitado o que aceitou? Novamente teria abandonado seus sonhos? Ou teria ido embora sem olhar para trás? Teria cursado a universidade? Teria fugido com o rapaz que amava? Queria apenas poder voltar e descobrir se tudo poderia ter sido diferente. 

Com a indiferença de um marido que só viu nela a sua beleza e a desejou como uma esposa "perfeita", padrão, e as obrigações da maternidade, Claudia encontra refúgio nas tragédias de outras mulheres... até que isso deixa de ser um escape. Então, seu humor começa a subir e descer de forma descontrolada, mas com alegrias bem fugazes e momentos prolongados de depressão, quando viver parece o pior dos castigos. 

A Claudia filha tenta conseguir a ajuda do pai, da tia... mas ninguém acredita que sua mãe está doente. Não era algo que se falasse, era mais confortável negar. E a menina precisa lutar para não permitir que sua mãe vá... que encontre o precipício, ao mesmo tempo que também só quer ser criança, estudar e brincar. Mas o abismo da mãe começa a invadir e destruir sua infância, transformando sonhos em pesadelos, brincadeiras em medos. 

"- Mamãe...
Não se via nada. 
- Mamãe!
[...] Quis me jogar no chão e começar a chorar. Parar de procurá-la. Que ela se jogasse do precipício e não voltasse. Que me deixasse sozinha com meu pai, afogada com ele no seu mar de silêncio."

Este é um livro muito sensível. Realmente impactante. Ainda não li A cachorra, o livro aclamado da escritora. Os Abismos foi meu primeiro contato com sua escrita e foi um início que me marcou e me fez desejar ler todos os seus escritos. Ela escreve com um cuidado, uma delicadeza que transborda pelas páginas. Conseguimos nos colocar no lugar da mãe e da filha e temer pelo final da história. Temer que seja uma luta perdida, até porque nenhuma das duas tem alguém que lhes estenda a mão, que as ajude naquele momento tão frágil.

Durante a leitura eu senti raiva. De todas as personagens que contribuíram para que mãe e filha chegassem àquele ponto. É verdade que a Claudia mãe fez as suas escolhas. Mas seus pais tiveram grande participação nisso. Ela estava sufocada. Eu sentia a agonia daquela mulher. Lendo era como se eu própria me sentisse presa naquela situação, na vida não desejada, condenada a seguir somente pelas obrigações. Ninguém queria que ela fosse ela de verdade. Tinha que ser o que esperavam dela. E ponto final. Como escapar? 

"Então eu o vi em seus olhos. O abismo dentro dela, igual ao das mulheres mortas [...], uma fenda sem fundo que nada pode preencher. 
- Este lugar é perfeito para desaparecer."

Ao mesmo tempo você sabe que existe amor entre mãe e filha. Ambas perdidas naquela situação. Com a filha em muitos momentos tendo que ocupar o lugar de mãe, tendo que cuidar daquela que lhe deu a vida. Quando a menina sentia medo de perdê-la, eu sentia uma dor dentro do meu peito. Sem saber como tudo terminaria, com medo do fim. Com medo de que nada fosse suficiente. 

É um livro que merece cinco estrelas e passagem direta para os favoritos. Me atingiu em cheio. Me fez refletir muito e de certo modo contribuiu para que eu dissesse "não" para certas situações que estava aceitando em minha vida. Viver é um privilégio. Mas a vida... ela é fugaz. Tudo pode acabar de um momento para o outro. E no que dedicamos os nossos dias? Em realizar nossos sonhos ou em ser o que esperam de nós, nos anulando pelos outros?

"Queria guardar aquele cheiro dentro de mim [...] O cheiro da minha mãe, para que eu nunca esquecesse. Acariciei sua testa e depois seus cabelos. Desembaracei os fios com os dedos até deixá-los lisos e brilhantes. Dei um beijo na sua testa e me deitei ao seu lado."


22 de fevereiro de 2023

Vida em Leilão - Barbara Delinsky


 
Título Original: Finger Prints
Tradutora: Elsa Joana Frezza
Editora: Nova Cultural
Edição de: 1986
Páginas: 258

Sinopse: Uma espessa neblina cobria as ruas de cinza, ocultando perigos, fazendo Carla tremer de medo, o coração batendo forte no peito. Não havia dúvida: alguém a seguia em meio à névoa, certamente o assassino que a iria punir por ter delatado um homem poderoso. Não adiantara disfarçar-se e trocar de nome; ele a encontrara! Desesperada, Carla apressou o passo, ouvindo ainda atrás de si a respiração ofegante de seu perseguidor. E chegou a seu prédio quase sem sentir, para encontrar ali um desconhecido que a amparou nos braços. Oferecia-lhe proteção ou... morte?

A luta de uma mulher para recuperar sua identidade, seu direito de amar. 




Não me lembro do dia em que comprei este livro. A data anotada na primeira folha informa que o adquiri em 23.01.2014, mais de nove anos atrás. E somente no mês passado tive vontade de apostar nesta leitura. O que se mostrou uma ótima escolha, pois é um livro que me fez muito bem, num momento da minha vida em que me sinto sobrecarregada, por todos os lados. Invadida por um estresse que tem prejudicado, inclusive, a minha saúde. 

Sei que preciso relaxar mais (falar é fácil!), manter a calma diante das situações que me tiram o sossego e adquirir equilíbrio emocional. Mas na prática tudo é mais complicado, ainda mais quando lido há tantos anos com o transtorno de ansiedade generalizada. Quem sofre do mesmo mal com certeza me entende. Cada dia é uma luta. Tudo é mais difícil, mais desgastante. Para estar bem é preciso lutar muito. E a luta constante é imensamente cansativa. 

Assim, na tentativa de melhorar o meu emocional, que vem afetando muito a minha saúde física, eu decidi ler um romance que aparentava ser "leve", diferente dos livros que eu vinha lendo nos últimos meses. Também resolvi assistir a série Diários de um Vampiro, que marcou a minha adolescência, apesar de naquela época eu não ter passado da primeira temporada. Mas eu queria finalmente assistir, até o final. Era uma lembrança do passado, da minha adolescência, de um período que eu queria recordar. 

Vida em Leilão foi uma leitura que deu certo. Que funcionou perfeitamente para mim, apesar de ser uma história bem simples, sem grandes reviravoltas e acontecimentos impactantes. Era justamente o que eu precisava. Um romance leve e fofo, para "sonhar acordada". 

Nele conhecemos Carla Quinn, uma jovem professora de 29 anos, que vive uma vida de mentiras.... de disfarce. Seu nome verdadeiro era Robina Hart e ela era repórter em Chicago, até testemunhar um terrível incêndio e que um dos principais responsáveis era um homem extremamente poderoso. 

Seu testemunho poderia colocá-lo na cadeia por muitos anos, e, disposto a impedir que isso acontecesse, o referido homem não hesitou ao contratar um assassino de aluguel para eliminar "o problema". 

Após a tentativa de assassinato, Carla foi colocada no programa de proteção às testemunhas, e teve que largar toda a vida que conhecia até então, incluindo sua família e amigos, e mudar de cidade, de aparência, de profissão. 

Tudo era muito triste e solitário. Ela não conseguia aceitar sua nova vida, todas as mentiras que precisava contar todos os dias... sem mencionar o medo terrível que nunca a deixava. Não suportava mais aquela situação, estava à beira do limite... e então ele apareceu. 

Ryan era um advogado de sucesso, mas todo o êxito em sua vida profissional custou caro. Seu casamento não sobreviveu ao excesso de trabalho, de horas extras, de compromissos e reuniões. Talvez tudo tenha dado errado porque não estava realmente apaixonado pela mulher com quem dividia o lar. Talvez tivesse tentado mais se a amasse... pois assim que conheceu Carla, soube que jamais se permitiria perdê-la. Que não repetiria os mesmos erros. Que seria feliz. Ao seu lado. 

Como eu disse, este é um romance leve, apesar do tema de proteção à testemunhas, incêndio e assassinato. O livro não foca muito nos temas pesados, preferindo girar em torno do romance entre a Carla e o Ryan. As mentiras, os segredos, com certeza serão um problema no relacionamento dos dois, e claro que tentarão matar a mocinha novamente, mas nada disso torna a leitura angustiante. Segue sendo um romance bem fofinho, que nos faz suspirar e desejar um Ryan para nossa vida.kkkkk

O romance entre o casal me fazia sorrir, mesmo quando eu não estava muito feliz. Eu me pegava sorrindo feito boba no ônibus (ainda bem que sigo usando máscara no transporte público!), desejando que tudo desse certo entre eles, que nada os separasse. Que conseguissem lidar com as mentiras que a Carla teve que contar, pois eram necessárias e ela não tinha outra opção no início do relacionamento deles. Que pudessem superar todos os obstáculos e serem felizes. Ansiava muito pelo final feliz!rs

E o livro conseguiu me encantar até o fim, apesar de eu ter ficado um tanto triste com certos acontecimentos e personagens. Não posso dizer que não era esperado, mesmo assim desejei que fosse diferente. Mas, como na vida real, é preciso assumir as consequências das escolhas feitas. E, infelizmente, alguns personagens fizeram péssimas escolhas, com consequências terríveis. 

A história tem final feliz, graças a Deus! E não considero isso spoiler.rs Amo romances que terminam bem, que nos fazem acreditar que coisas boas podem acontecer...

Recomendo bastante esta história para quem quer ler um romance leve e muito agradável!


Bjs, queridos! Até breve!


14 de dezembro de 2022

Lírios de Sangue - Carmem O.




Literatura Brasileira
Editora: Novo Século
Edição de: 2016
Páginas: 144

Sinopse: Até onde vai sua dor? Sua percepção da realidade? Seu lirismo?
Despretensiosamente, Lírios de sangue é o relato simples e talvez poético daqueles que estão no momento mais crítico de suas vidas: o confronto com a doença, com as fraquezas do corpo, com nossa mente desnuda de defesas. Nossa fragilidade exposta, escancarada. 

São relatos de quem vive diariamente essa condição humana. 

Há uma entrega, uam aceitação dos dois lados. O paciente e o médico. Aprendizado mútuo de ambos. No final, cúmplices, querem o mesmo objetivo: VIVER. 

E cada um, inevitavelmente, levará um pouco do outro por onde for. 





Um dia, hace años, eu contei aqui como um determinado livro me "atraiu", me "escolheu" num momento da vida em que tanto necessivava das palavras que transbordavam de suas páginas. 

Tardes de Maio é o nome dele.... Do livro que falava de dor, perdas, recomeços... Da poesia que está em tudo, até na morte. Da passagem, do adeus, mas também da vida. Naquele momento, minha Luana ainda estava viva. Não havia doença. Não havia desespero. Não sentia o gosto amargo do imenso pânico de perdê-la. Nem as facadas do luto. 

Agora... Aconteceu de novo. A Carmem O. passou novamente por minha vida, com seus textos tão impactantes. Lírios de sangue... Faz sentido, né? Que às vésperas do mês de dezembro, às vésperas do primeiro ano de morte da minha princesa, este livro tenha esbarrado em mim. Não foi coincidência. Foi o destino falando. Outra vez. 

"Há analgésico para essa dor
Há paz para o seu conflito
Pena que você sorri tão pouco"

Era noite de 29 de novembro de 2022... Só Aquele que me roubou minha pequena sabe como eu estava me sentindo, atormentada pelo fato que o mês de dezembro estava chegando... As lembranças não paravam de me golpear com força, com crueldade. Imagens que só quem já presenciou a morte de uma pessoa ou animalzinho querido consegue entender... Eu estava desnorteada. Estava no ônibus, voltando do trabalho e sentindo que não conseguiria sequer chegar em casa antes de desabar em prantos. 

Foi quando desci do ônibus e em vez de pegar o próximo na rodoviária, caminhei para o shopping... querendo apenas andar e andar. Parei numa feira de livros localizada no térreo. E meus olhos imediatamente foram atraídos pela cor vermelha. Ele estava ali, me esperando: Lírios de sangue

"A vida sempre será um sopro
Um sopro difícil de entender."

Lembro que peguei o livro e o apertei contra o peito antes de ir até o caixa para pagar. Sentia uma necessidade urgente de abri-lo e iniciar a leitura. De encontrar nele o conforto que eu estava buscando. Queria ser confortada, sentir-me "abraçada" pelas palavras... sentir que alguém compreendia o que eu estava sentindo. O vazio. O medo. A dor...

Concluí a leitura em 30.11.22. Acho que chorei com quase todas as crônicas e poesias presentes no livro. Me emocionei demais com as diversas histórias de pessoas lutando pela vida ou simplesmente entendendo que o momento chegara, que era hora de partir... Nossa! Este livro me "quebrou" em pedacinhos, mas também me fez um bem tão grande que eu não saberia como expressar em palavras. 

"Teve que se fechar em si mesma por puro mecanismo de defesa. E assim construiu seu Muro de Berlim, de onde via, espectadora, sua guerra fria entre a vida e a morte."

Como eu disse ao fazer a resenha de Tardes de Maio em setembro de 2019: A autora desta coletânea de crônicas e poemas é uma cardiologista que trabalha com pacientes críticos, alguém que já esteve em contato muitas vezes com a dor e a morte. Através de sua própria experiência de vida e relembrando pacientes que teve a oportunidade de conhecer, nos traz esses textos tão simples, mas tão profundos ao mesmo tempo. Muitas das crônicas tratam de pacientes, de momentos vividos no hospital, vidas que se foram, outras que possivelmente se recuperaram... Cada texto tem algo que nos cativa, que nos provoca uma confusão de emoções. Você não sabe sequer explicar o que sente... é algo que toma conta do seu coração e te faz pensar e pensar em muitas coisas.

O que eu disse naquela época se aplica tambem ao livro Lírios de sangue, pois são crônicas e poemas baseados na experiência da autora como médica que lida diariamente com pacientes em estado grave, e tem a oportunidade de testemunhar diversas histórias, e de aprender muito com aqueles que estão quase de partida. 

"Saudades. Tenho de tudo. Do que foi, do que poderia ter sido e do que ainda será. Tenho saudades hoje dos que vejo todos os dias e daqueles que nunca mais verei."

Não sei dizer qual crônica me emocionou mais... Eram tantas realidades diferentes. Dores dos que vão, dos que ficam e precisam lidar com a saudade... Lutas diárias contra a depressão, contra o lúpus, contra o diabetes, o câncer... Perdas e vitórias. Sorrisos e lágrimas. Eu chorava até mesmo quando a autora terminava uma crônica com um "final feliz", quando determinado paciente conseguia sobreviver. Me dava uma emoção tão grande, pois era uma segunda chance. Era precioso saber que alguém tinha recebido uma segunda chance. 

Carmem O. tem o dom de nos tocar profundamente com suas palavras, de nos golpear com realidades duras e terríveis, ao mesmo tempo em que nos faz valorizar o sol, a chuva, o vento que bagunça nossos cabelos. Valorizar o fato de respirarmos. De ainda estarmos aqui, por mais difícil que seja a vida. 

Nunca vai ser fácil viver. Sempre existirão perdas. É inevitável. Mas o sol sempre nascerá depois da tempestade, não é verdade? Ainda que demore um pouco. Ele vai nascer. Belo, iluminando nossos dias cinzentos. 

"Viver é flertar constantemente com nossa fragilidade
Escancarada em nossa cara, luminosa, como um letreiro de motel. 
Não somos especiais. 
Super-heróis de ninguém
Carne
Ossos 
Dor.
Aproveite. 
Amanhã
Pode não chegar."

Ler este livro quando eu estava cheia de dor foi um presente da Vida, do Destino e, quem sabe, de Deus, por mais que meu relacionamento com Ele não esteja muito bom. Sei que este livro não surgiu em meu caminho à toa. Eu precisava dele. Precisava do seu conforto.

Escolhi o dia de hoje, 14 de dezembro, para publicar esta resenha. O motivo vocês podem imaginar: hoje completa um ano que minha princesa se foi. Que partiu deste mundo e me deixou sozinha. 

Sabe no que quero acreditar hoje? Que ela me vê do Céu. E que está feliz. Que não há nenhuma dor. Que ela brinca e pula com outros gatinhos enquanto Jesus olha sorrindo. Que ela dorme do lado dEle, como sempre dormiu do meu lado na cama. 

Há quem não entenda este amor todo que sinto pela minha princesa. "Era só uma gata, um animal, não era gente." Já ouvi muito isso. E eu não sinto raiva de ninguém que não compreende o que sinto. Não preciso que entendam. Não escolhi amar minha pequena filha. Ela me escolheu e preencheu minha vida com tanto amor, que seria impossível não amá-la com todas as minhas forças. Sempre irei amá-la. Sempre sentirei sua falta. Mas quero estar bem. Porque eu prometi, um ano atrás, enquanto ela partia, que ficaria bem. Que seria feliz para que ela pudesse estar em paz. E que um dia estaríamos juntas de novo. Sei que estaremos. Um dia, quando minha hora também chegar, eu irei para junto dela. E nunca mais haverá uma separação. Nunca mais haverá dor. 

Um ano sem você, minha filha... Apenas sem sua presença física. Porque dentro de mim você sempre estará viva. Nunca esquecerei os lindos momentos que vivemos juntas. Você sempre será o meu anjo. Te amo. Para sempre. 



27 de junho de 2022

Cartas a um jovem poeta - Rainer Maria Rilke

 

Literatura austríaca
Título Original: Briefe an einen jungen Dichter
Tradutor: Pedro Sussekind
Editora: L&PM Pocket
Edição de: 2006
Páginas: 96

Sinopse: Paris, fevereiro de 1903. Rainer Maria Rilke recebe uma carta de um jovem chamado Franz Kappus, que aspira tornar-se poeta e que pede conselhos ao já famoso escritor. Tal missiva dá início a uma troca de correspondência na qual Rilke responde aos questionamentos do rapaz e, muito mais do que isso, expõe suas opiniões sobre o que considerava os aspectos verdadeiros da vida. A criação artística, a necessidade de escrever, Deus, o sexo e o relacionamento entre os homens, o valor nulo da crítica e a solidão inelutável do ser humano: estas e outras questões são abordadas pelo maior poeta de língua alemã do século XX em algumas das suas mais belas páginas de prosa. 




Estou apaixonada. Como é incrível descobrir-se amando assim, do nada! E logo depois de conhecer o objeto do seu amor, aquele que despertou suas emoções... Eu o conheci faz menos de uma hora e já o quero comigo até o fim da minha existência aqui nesta Terra. Preciso comprá-lo. Tê-lo como meu, para carregá-lo comigo sempre que precisar

Estou falando do livro Cartas a um jovem poeta, do autor austríaco, Rilke. Não estava em minhas metas. Na verdade, nunca tencionei lê-lo. Mas hoje, enquanto passeava pelo site da Amazon, o livro apareceu como indicação e resolvi lê-lo, assim, de impulso. Peguei emprestado pelo Kindle Unlimited e fui arrebatada logo nas primeiras páginas. 

Como explicar os sentimentos que esta obra de arte epistolar despertou em mim? Não dá! É simplesmente inexplicável. 

"[...] e mais indizíveis do que todos os acontecimentos são as obras de arte, existências misteriosas, cuja vida perdura ao lado da nossa, que passa."

Depois de tudo o que se passou comigo no sábado, perdida em minhas emoções, sozinha com meus pensamentos e dores, este era exatamente o tipo de livro que necessitava ler. 

Não é o que se passa no exterior que vai ditar quem somos. É preciso nos voltarmos para dentro, onde estão todas as respostas que buscamos. Não é o que o outro pensa de nós que importa. Temos que aprender a ignorar as vozes que gritam do lado de fora, com acusações e falsas promessas. Que gritam tanto querendo calar justamente a voz que mais importa, aquela que fala baixinho, quase com timidez, de dentro de nós: a nossa voz interior, a voz da nossa essência. 

No sábado, eu permiti que todas as outras vozes gritassem. Na verdade, venho fazendo isso há muito tempo. Está na hora de parar. Espero encontrar dentro de mim toda a força necessária para ser diferente. Preciso mudar. Está mais do que na hora. 

"Investigue o motivo que o impele a escrever; comprove se ele estende as raízes até o ponto mais profundo do seu coração, confesse a si mesmo se o senhor morreria caso fosse proibido de escrever. Sobretudo isto: pergunte a si mesmo na hora mais silenciosa de sua madrugada: preciso escrever?"

Como pode um livro te despertar do nada? Sempre disse que os livros são mágicos. Que assim como salvaram minha vida treze anos atrás, seguem me salvando dia após dia. Sem a literatura eu já teria retornado ao pó do que qual fui feita, do qual todos fomos criados. Eu já não seria nada. A literatura é parte de mim; necessito dela como do ar que respiro. 

"Não há meio pior de atrapalhar esse desenvolvimento do que olhar para fora e esperar que venha de fora uma resposta para questões que apenas seu sentimento íntimo talvez possa responder, na hora mais tranquila."

O dia de hoje, tão nublado e triste, chuvoso e frio, me presenteou com este livro. Acordei sem saber que o leria. E agora me sinto mais leve, até um tanto feliz. 

E, como eu disse, não dá para explicar o motivo para tanto amor por um livro tão simples, tão curto!

"Obras de arte são de uma solidão infinita, e nada pode passar tão longe de alcançá-las quanto a crítica. Apenas o amor pode compreendê-las, conservá-las e ser justo em relação a elas."

As palavras acima não fariam parte de uma resenha. Foram escritas no meu diário, na data de hoje, 26 de junho de 2022, logo depois de concluir a leitura deste maravilhoso livro. Eu senti a imensa necessidade de compartilhar com alguém tudo o que estava sentindo e que não conseguia explicar... A maneira como as palavras do autor se cravaram em mim. Como me impactaram. E eu sou aquela que, mesmo aos quase 28 anos de idade, tem o hábito de escrever num diário. 

Escrever me faz bem. Escrevo resenhas porque me sinto bem ao falar dos livros que li. Escrevo contos e até já concluí um romance (embora ainda não o tenha dividido com vocês) porque necessito disso. Do mundo das palavras. Da literatura, da escrita. E quando eu abro o meu diário, pego uma caneta e começo a escrever... consigo reorganizar minhas emoções. Me sentir viva de novo. 

Quando comecei esta leitura eu não fazia a menor ideia do que encontraria. Acreditava que era um simples livro em formato epistolar, que nos possibilitaria conhecer as cartas que Rilke trocou com o jovem poeta Kappus ao longo de alguns anos. 

Franz Kappus decidiu um dia escrever ao poeta Rilke, já bastante famoso em sua época, pedindo conselhos para se aventurar pelo mundo da poesia e acredito que nem ele imaginava tudo o que aprenderia com essa correspondência, a maneira como o autor abriria seu coração e compartilharia sua visão sobre diversos assuntos, capazes de despertar inúmeras reflexões em todos nós. E eu não sei, realmente não sei, colocar em palavras a maneira como ele consegue mexer com nossas emoções. Só posso recomendar que você reserve uma hora do seu dia para dar uma chance a este livro. E espero de verdade que ele te faça tão bem como me fez!

"Viva por algum tempo nesses livros, aprenda com eles o que lhe parecer digno de aprendizado, mas sobretudo os ame. Esse amor lhe será retribuído milhares e milhares de vezes, de modo que, seja qual for o rumo tomado pela sua vida, tenho certeza de que ele percorrerá o tecido de seu ser como um dos fios mais importantes entre todos os fios que compõem a trama de suas experiências, decepções e alegrias."





Topo