Mostrando postagens com marcador Victor Hugo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Victor Hugo. Mostrar todas as postagens

27 de maio de 2020

O Último Dia de um Condenado - Victor Hugo

Literatura Francesa
Título Original: Le dernier jour d'un condamné
Tradutor: Paulo Neves
Editora: L&PM Pocket
Edição de: 2017
Páginas: 96
27ª leitura de 2020

Sinopse: Quais as sensações e os sentimentos de um prisioneiro que sabe que seu destino é ser executado? "Condenado à morte!" É assim que começa a história, narrada pelo próprio personagem, dos derradeiros dias de um homem que não nos diz seu nome, nem o crime que cometeu, mas que tem uma única certeza: a de que logo sua cabeça será ceifada. Ou caberá a ele um indulto? O condenado se vale da escrita como meio de escape, retratando a mudança psicológica, quase física, que vivencia no corredor da morte. Ao leitor, cabe prender o fôlego para acompanhar o que se passa na cabeça do protagonista. Autor de Os miseráveis, entre várias outras obras de grande envergadura, e um dos maiores nomes da literatura do século XIX, Victor Hugo mostra aqui sua faceta ativista e política, fazendo deste romance, publicado em 1829, um protesto contra a pena de morte.



Só o título desta história já te indica o que irá encontrar... Um livro que acompanha os últimos momentos de um homem que foi condenado à morte. Com a clara intenção de criticar a pena de morte, o autor nos possibilita mergulhar na mente do condenado, sentir com ele seu desespero, a angústia por saber que sua vida lhe seria arrancada por determinação da lei, da Justiça. 

"Condenado à morte! Há cinco semanas vivo com esse pensamento, sempre sozinho com ele, sempre gelado por sua presença, sempre curvado sob seu peso!"

Em nenhum momento ficamos sabendo qual foi o crime cometido pelo protagonista e nem mesmo qual é o seu nome. Mas ele próprio admite que é culpado, que é justo ser julgado pelo crime que cometeu, pelo sangue que derramou... o que nos indica que talvez ele tenha assassinado alguém, mas em que circunstâncias não fazemos ideia. 

Também somos informados que ele é um rapaz bem jovem, pai de uma menina de apenas três anos e responsável tanto por ela quanto pela esposa e pela mãe, e que as três ficariam desamparadas quando ele fosse executado. Mas a maior preocupação do condenado é com sua pequena menina, que pagaria para sempre por um erro dele, que seria desprezada pela sociedade, que talvez nem conseguisse chegar à idade adulta, por conta das privações pelas quais poderia passar, sem ele ali e com uma mãe que estava com a saúde muito debilitada. Isso consome o personagem. O medo pelo futuro de sua Marie. E é isso também que mais atormenta nós leitores: saber que aquela criança inocente estava marcada pelos crimes do pai, numa sociedade que não a perdoaria mesmo ela sendo inocente. Eu senti muito pela pequena Marie e isso me fez sentir raiva do protagonista, embora eu não saiba se ele realmente matou alguém e se não foi, por acaso, em legítima defesa. 

"Admito que sou justamente punido; mas essas inocentes, o que fizeram? Não importa; estão desonradas, arruinadas. É a justiça."

Embora soubesse que o julgamento tinha prosseguido de maneira "correta", foi um choque imenso para o protagonista receber a sentença de morte. Ele sabia que o risco era grande, mas seu advogado tinha esperanças e, no fundo, ele também imaginou que pudesse se salvar. Então, quando as horríveis palavras foram pronunciadas ele sentiu um imenso desespero, como se sufocasse. Porque até aquele momento não tinha entendido como tudo era definitivo, como sua vida jamais seria como antes. Estava com os dias contados. A guilhotina o esperava. 

"Até a sentença de morte, eu me sentia respirar, palpitar, viver no mesmo meio que os outros homens; agora, distinguia claramente como uma barreira a me separar do mundo."

Numa última tentativa de adiar o inevitável, mesmo sabendo que as sentenças dificilmente eram reformadas, o protagonista resolve recorrer e assim ganha mais seis semanas de vida. Período que ele passa dividido entre a angústia, a leve esperança de ser absolvido e a escrita... Como meio de colocar seus pensamentos no papel... de desabafar seu sofrimento, ele passa a escrever tudo o que está passando, como sofre por sua família, como pensa na morte... se irá doer, se será rápido... Enfim... Ele pensa em muita coisa... Relembra sua infância, sua adolescência... Momentos que não voltariam nunca mais. 

"E nesse registro por escrito do pensamento agonizante, nessa progressão sempre crescente de dores, nessa espécie de autópsia intelectual de um condenado, não haverá mais de uma lição para os que condenam?"

O autor foi muito claro ao criticar a pena de morte, bem como os trabalhos forçados perpétuos, deixando evidente que não queria simplesmente que os criminosos fosse inocentados, mas sim que as penas não fossem cruéis, desumanas. Criticou a sociedade da época que vibrava de felicidade com cada execução, ficando insensível para o fato de que era um ser humano que estava sendo executado. Criticou as leis e a maneira como mesmo ao cumprir suas penas (no caso daqueles que eram condenados a trabalhos forçados por alguns anos e depois eram libertados), a pessoa não tinha a oportunidade de recomeçar, pois todas as portas de emprego ficavam fechadas para ela e era preciso escolher entre passar fome ou fazer qualquer coisa para sobreviver. 

É um livro duro. Muito difícil de ler, pois ficamos mergulhados nas dores de uma pessoa que sabe que vai morrer, que vai ser executada por causa das leis de sua época. Sua tristeza toma conta de nós e tudo que desejamos é que um milagre aconteça e sua pena seja substituída por uma mais humana. Se ele era culpado, então que pagasse por seus crimes, mas a pena de morte era cruel, desumana. E era isso que o autor queria mostrar. Acredito que ele foi bem-sucedido, pois é impossível ficar indiferente aos sofrimentos do personagem. Impossível não refletir sobre a crueldade de uma pena que tirava a vida de alguém. 

Lembrando que no livro O Corcunda de Notre Dame, o autor volta a abordar o mesmo assunto só que, diferentemente de O último dia de um condenado, na história de Quasímodo e Esmeralda inocentes eram condenados à morte, forçados por tortura a confessar crimes que não cometeram



-> DLL 20: Um livro com duas cores na capa


4 de novembro de 2019

O Corcunda de Notre Dame - Victor Hugo

Literatura Francesa
Título Original: Notre-Dame de Paris
Tradutor: Jorge Bastos
Editora: Zahar
Edição de: 2015
Páginas: 624


Sinopse: Na Paris do século XV, a cigana Esmeralda dança em frente à catedral de Notre Dame. Diante da beleza da jovem, curvam-se o poeta Pierre Gringoire, o arquidiácono Claude Frollo, o disforme sineiro Quasímodo e o capitão Phoebus de Chânteaupers. Neste grande clássico do romantismo francês, Victor Hugo vai muito além de um amor impossível, não correspondido e trágico, O corcunda de Notre Dame retrata uma Paris ainda gótica que testemunha o fim de uma época e o início de outra. 



Estou aqui sentada na frente do computador sem saber por onde começar a falar deste livro. Minhas emoções ainda estão bagunçadas. Estou perdida entre o ódio, a revolta, a dor, o amor pelos personagens e uma horrível sensação de injustiça. Não imaginava que o livro fosse mexer tanto comigo. 

"Desde os seus primeiros passos entre as pessoas, ele se viu e se sentiu conspurcado, machucado, rejeitado. A palavra humana, para Quasímodo, sempre fora de deboche ou de maldição. À medida que crescia, ele encontrava apenas ódio à sua volta."

Não tenho dúvidas de que O Corcunda de Notre Dame provocou (e ainda provoca) os mais diversos debates, estudos e pesquisas. São muitas as interpretações possíveis para esta história e fica evidente para qualquer leitor que ao escrever este livro o autor, Victor Hugo, tinha todo o objetivo de chamar a atenção dos leitores da época para a Catedral de Notre Dame de Paris, embora seja possível perceber também que ele não tocou em certos temas sociais e fez críticas políticas à toa. Mas deixo que os especialistas, os críticos literários, se aprofundem em tais assuntos. Nesta resenha falarei apenas dos personagens e como suas histórias de vida mexeram com meus sentimentos, me marcaram de uma forma que é praticamente impossível colocar em palavras. 

"Adquiriu a maldade ambiente. Apossou-se da arma com que o feriam."

Neste livro temos três personagens principais: Claude Frollo (que eu chamo "carinhosamente" de demônio em forma de gente), Quasímodo e Esmeralda. O destino desses três personagens se entrelaça de tal forma ao longo da história que até mesmo o leitor mais distraído consegue perceber que nada de bom poderia sair dali. Sentimos que uma grande tragédia acabaria por marcar suas vidas, por mais que no fundo do nosso coração torcêssemos para que houvesse uma esperança. Uma saída. 
Topo