17 de março de 2021

A Garota do Lago - Charlie Donlea

Tempo de leitura:


Literatura norte-americana
Título Original: Summit Lake
Tradutor: Carlos Szlak
Editora: Faro Editorial
Edição de: 2017
Páginas: 296

6ª leitura de 2021 (6ª resenha do ano)

Sinopse: ALGUNS LUGARES PARECEM BELOS DEMAIS PARA SEREM TOCADOS PELO HORROR...


Summit Lake, uma pequena cidade entre montanhas, é esse tipo de lugar, bucólico e com encantadoras casas dispostas à beira de um longo trecho de água intocada.
Duas semanas atrás, a estudante de direito Becca Eckersley foi brutalmente assassinada em uma dessas casas. Filha de um poderoso advogado, Becca estava no auge de sua vida. Era trabalhadora, realizada na vida pessoal e tinha um futuro promissor. Para grande parte dos colegas, era a pessoa mais gentil que conheciam.

Agora, enquanto os habitantes, chocados, reúnem-se para compartilhar suas suspeitas, a polícia não possui nenhuma pista relevante. 

Atraída instintivamente pela notícia, a repórter Kelsey Castle vai até a cidade para investigar o caso.

... E LOGO SE ESTABELECE UMA CONEXÃO ÍNTIMA QUANDO UM VIVO CAMINHA NAS MESMAS PEGADAS DOS MORTOS...

A selvageria do crime e os esforços para manter o caso em silêncio sugerem mais que um ataque aleatório cometido por um estranho. Quanto mais se aprofunda nos detalhes e pistas, apesar dos avisos de perigo, mais Kelsey se sente ligada à garota morta.

E enquanto descobre sobre as amizades de Becca, sua vida amorosa e os segredos que ela guardava, a repórter fica cada vez mais convencida de que a verdade sobre o que aconteceu com Becca pode ser a chave para superar as marcas sombrias de seu próprio passado...



Esta é uma resenha que eu realmente acreditei que não fosse escrever. Mesmo agora enquanto estou sentada na frente do computador, com a intenção de finalmente colocar em ordem meus pensamentos sobre a história, ainda não sei se conseguirei escrever algo coerente. E nada disso é culpa do livro, mas dos problemas que estou enfrentando (problemas de saúde na família) e que afetaram até meu prazer pela leitura. Os livros sempre funcionaram como refúgio na minha vida, mas são tantas coisas ao mesmo tempo que nem a leitura está conseguindo me tranquilizar, me dar a paz que sempre deu. 


Terminei de ler este livro já faz cerca de duas semanas e é sempre difícil falar de uma história depois que passou tanto tempo. Mas o li numa leitura coletiva e ontem consegui umas horas de "respiro" para fazer o debate com os outros leitores. Isso serviu para refrescar também minha memória sobre os acontecimentos do livro e considerar tentar escrever a resenha. Eis aqui minha tentativa.rs


Becca Eckersley era uma linda estudante de direito de vinte e dois anos, cursando a pós-graduação, como era desejo de seus pais, que sonhavam em ver a filha ser bem-sucedida na vida. Agradável, sorridente e gentil, mantinha fielmente seu núcleo de amizades conquistada logo no início da faculdade, e que não admitia a entrada de nenhum novo membro, por mais que eles tivessem outros amigos "por fora". O quarteto inseparável era composto por Becca, Gail, Brad e Jack, e causava admiração nos demais estudantes que entre eles não houvesse nenhum romance, pois era inviável que homens e mulheres conseguissem ser apenas amigos, ainda mais convivendo de maneira tão próxima (era comum as meninas dormirem, apenas dormirem, com os meninos em seu apartamento ou vice-versa) e compartilhando segredos e todos os momentos importantes. 


Todos os quatro tinham grandes planos para o futuro. Terminariam a faculdade com ótimas notas, cursariam a pós-graduação, alcançariam todo o sucesso sonhado. Mas tudo terminou de maneira violenta para Becca, na noite do dia em que chegou na casa de férias de seus pais, para passar um período sozinha, dedicado exclusivamente aos estudos. Naquela noite, após voltar de um café e passar algumas horas sentada na cozinha estudando, ela abriu a porta para o seu assassino. Para o homem que destruiria sua vida. Que a violentaria e agrediria, deixando-a largada para morrer, numa casa em que ela tinha vivido tantos momentos bons. Num lugar que ela considerava um refúgio. Jamais poderia imaginar que iria até ali apenas para ser assassinada. E muito menos que seria por ele... por alguém em quem confiava. 


"Ao longe, uma sirene ecoou na noite, baixinha no início, e depois, mais alta. A ajuda estava chegando, embora ela soubesse que era muito tarde."


A história começa de maneira brutal, com a cena da morte de Becca, assassinada em 17 de fevereiro de 2012. Quando eu disse que ela foi assassinada por alguém que conhecia e em quem confiava, é porque o livro deixa isso claro para a gente, logo nas primeiras páginas, pois ela sorri ao vê-lo aparecer, desliga o alarme e abre a porta para ele entrar. Era alguém de quem ela jamais esperaria uma traição tão grande, o que torna tudo pior para nós leitores. Porque nos apegamos muito à Becca e sentimos como se fosse com a gente a traição que ela sofre. Fico imaginando como seu coração despedaçou enquanto era atacada por alguém que ela deixou entrar, por alguém em quem tanto confiou. Sempre digo que a traição é o pior dos pecados. É da traição que parte todo mal. 


Após a cena de sua morte, o livro passa a intercalar presente e passado. No presente, duas semanas após o assassinato dela, conhecemos Kelsey Castle, uma jornalista que lidava com os próprios demônios e que foi enviada para a pequena cidade de Summit Lake para escrever sobre aquele chocante crime. Seu chefe não esperava que ela fosse enfrentar tantas complicações ao chegar ao local, incluindo tentativas misteriosas da polícia de abafar o crime e impedir qualquer pessoa de se aproximar da verdade. Tudo era muito estranho e a insistência das autoridades de que se tratava de um roubo seguido de morte era patética e surreal, pois a brutalidade do assassinato e o fato de apenas a bolsa de Becca ter sido levada (quando existiam muitos objetos de valor na casa) colocava em sérias dúvidas aquela tese. 


Ao mesmo tempo em que acompanhamos a luta de Kelsey para contar a história daquela jovem, cuja vida foi interrompida de maneira tão horrível, o autor nos leva ao passado de Becca, quatorze meses antes de sua morte, nos dando a oportunidade de conhecê-la, e de sofrer ainda mais por um destino que não poderíamos evitar. A vontade que temos é de mudar os acontecimentos, de avisá-la para não abrir a porta, de gritar que ela seria traída por alguém que amava. Queremos impedir sua morte, mesmo sabendo que é impossível. E o autor parte dos quatorze meses anteriores à tragédia e vai se aproximando, com o desenrolar da história, da noite de sua morte, para dessa vez revelar quem era o assassino. Essas cenas só se passam no final, claro, mas a repetição das cenas, só que com mais detalhes, causa uma imensa angústia em nós leitores, que somos obrigados a reviver aquele momento, sabendo como tudo terminaria. Isso nos causa muita tristeza.


O autor conseguiu escrever uma história tocante, abordando um tema muito real em nosso país e no mundo: o feminicídio. Mais uma vez digo que não estou falando demais, não é spoiler, pois são conclusões que qualquer leitor consegue tirar das primeiras páginas. Becca foi morta em razão de seu gênero. Foi brutalmente estuprada, agredida e deixada agonizando como se fosse um nada, como se sua vida fosse insignificante. Simplesmente por ser mulher. E isso fica completamente claro na cena inicial do livro, a cena em que ela é atacada e assassinada. 


A partir daquela cena, antes mesmo de conhecer seu passado, começamos a criar teorias. Quem seria o assassino? O pai, o irmão, algum outro parente, algum amigo, um namorado ou ex-namorado? Sabemos que era alguém em quem ela confiava muito e que sabia que ela estaria ali naquela noite. Alguém de quem ela não tinha medo. Que recebeu de braços abertos, sem jamais imaginar as intenções daquela pessoa. 


Digo que não é nada difícil descobrir quem é o desgraçado que a matou. O autor aponta para determinada direção e temos A CERTEZA de que foi tal pessoa. Sabe o que é não ter nenhuma dúvida de que tal pessoa foi o assassino? O autor nos joga na direção do monstro... apenas para confundir nossa cabeça depois. Ele provoca uma reviravolta interessante (e muito inteligente), fazendo com que descartemos nossa teoria e pensemos em outros suspeitos. E a surpresa acaba sendo grande no final. E nos faz refletir também sobre decisões que tomamos e que podem se voltar contra nós. Às vezes ajudamos sem esperar nada em troca. Ajudamos por amor, por nos colocarmos no lugar da outra pessoa. E ajudar é algo maravilhoso, claro. Nosso dever como seres humanos, de não olharmos apenas para nosso umbigo. Só que... às vezes temos que pensar antes de confiar. Antes de sairmos estendendo a mão. Porque pode acontecer de estendermos a mão para alguém que vai nos jogar no abismo depois. 


Este livro mexeu muito comigo e apreciei bastante a leitura como um todo, embora tenha sentido bastante angústia. Mas não pude dar cinco estrelas nem favoritar, pois por mais que seja um livro bem escrito e super envolvente, possui falhas evidentes. A história começa muito bem e de repente fica um tanto parada, apostando em repetições de pensamentos e diálogos que frustram um pouco o leitor. Mas esse não é nem o pior dos problemas, mas sim algumas pontas soltas e a forma como não conseguimos nos conectar com a Kelsey. 


O autor tinha a intenção de contar a história de duas mulheres, ligadas por um pesadelo em comum. Só que ele se concentra tanto na Becca e em nos fazer sofrer por ela, que esquece completamente da Kelsey. Ela parece estar ali apenas para solucionar o crime, quando percebemos pelo desenvolver da história que o autor queria que ela fosse protagonista também, mas não conseguiu nos conectar, nos fazer ter alguma ligação com a personagem. E não fui a única a sentir isso; como eu disse, li o livro numa leitura coletiva e os outros leitores também perceberam esse problema na história. É triste, pois a Kelsey tinha muito potencial e, infelizmente, não conseguimos sentir absolutamente nada por ela. 


Outro problema, tão grande quanto este, foi o fato de o autor, para desviar nossa atenção do assassino, criar situações que ficaram sem explicação, sem sentido. Determinados personagens agem de certa forma, mas no final não há nenhuma explicação. Ficaram pontas soltas, entende? Ficamos nos perguntando quais foram os motivos e a única conclusão é que o autor fez tal escolha apenas para nos desviar, só que ao deixar coisas importantes sem resposta, ele acabou prejudicando um pouco um livro que é muito bom. Mas creio que este é seu livro de estreia e para uma primeira história, sem dúvidas, ele arrasou! Então, crio ainda mais expectativas em relação aos seus próximos livros, que já quero ler!



-> DLL 21: Um livro que comprou pela capa



Leitora apaixonada por romances de época, clássicos e thrillers. Mãe da minha eterna princesa Luana e dos meus príncipes Celestino e Felipe (gatinhos filhos do coração). Filha carinhosa. Irmã dedicada. Amiga para todas as horas. Acredita em Deus. E no poder do amor.

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