Mostrando postagens com marcador Autobiografia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Autobiografia. Mostrar todas as postagens

2 de agosto de 2020

Para Sempre - Kim e Krickitt Carpenter



Literatura norte-americana
Título Original: The vow
Tradutor: Ivar Panazzolo Júnior
Editora: Novo Conceito
Edição de: 2012
Páginas: 144

41ª leitura de 2020 (40ª resenha do ano) 

Sinopse: A vida que Kim e Krickitt Carpenter conheciam mudou completamente no dia 24 de novembro de 1993, dois meses após o seu casamento, quando a traseira do seu carro foi atingida por uma caminhonete que transitava em alta velocidade. Um ferimento sério na cabeça deixou Krickitt em coma por várias semanas. Quando finalmente despertou, parte da sua memória estava comprometida e ela não conseguia se lembrar de seu marido. Ela não fazia a menor ideia de quem ele era. Essencialmente, a "Krickitt" com quem Kim havia se casado morreu no acidente, e naquele momento ele precisava reconquistar a mulher que amava. Para sempre é uma história verdadeira sobre a reconstrução de um casamento depois de um evento traumático que poderia ter feito a maioria das outras pessoas desistir, mas que para eles foi a chance de um novo começo.




Quem olhando para esta capa não se lembra do filme?! A história da moça que ficou com amnésia após sofrer um acidente de carro e que não se lembrava mais que era casada conquistou milhares de fãs logo após seu lançamento. Um filme que eu assistia muito no passado. E que me encantava! Todo o amor do mocinho, seu sofrimento e sua dedicação em reconquistar aquela que tanto o tinha amado... E foi justamente por amar muito o filme que acabei adquirindo o livro, que contaria a história real de Kim e Krickitt Carpenter, que tiveram suas vidas profundamente modificadas após um sério acidente de carro. 

Eu tenho o livro desde 2012 e só agora em julho realizei a leitura.rsrs Não me perguntem os motivos para ter levado oito anos para ler a história, pois nem eu sei explicar!kkkkkk O importante é que finalmente li. 

Kim e Krickitt nunca imaginaram que se conheceriam, muito menos daquela maneira. Através de um telefonema. Para uma loja de produtos esportivos. Kim era técnico de beisebol de uma universidade e estava precisando de uma jaqueta nova, então telefonou para encomendá-la. Krickitt era atendente na referida loja e a conversa que tudo tinha de profissional acabou por encantá-lo. A voz dela... simplesmente mexeu com ele. A partir daquele momento ele sentiu uma necessidade de sempre ligar para a loja, com as mais estúpidas desculpas, só para poder ouvir sua voz... conversar com ela. 

Não demorou para que eles percebessem que aquela situação não poderia continuar. Estava na hora de trocarem os números de telefones pessoais e pararem de fingir que só queriam falar de produtos esportivos. As conversas foram se tornando mais íntimas, não desejavam desligar mesmo depois de horas conversando e o próximo passo seria conhecerem-se pessoalmente. 

Mesmo com a distância e as dificuldades para se verem, o relacionamento prosseguiu, tornando-se cada vez mai sério. Até que eles perceberam que precisavam se casar. Dar o passo que tanto desejavam, já que se amavam e acreditavam que Deus os tinha unido. E, no dia 18 de setembro de 1993, o casamento finalmente aconteceu, um dia que ficaria para sempre na memória de quase todos ali presentes, felizes por aquele casal tão jovem e tão apaixonado. 

12 de fevereiro de 2018

O Outro Lado de Mim - Sidney Sheldon

(Título Original: The Other Side Of Me
Tradutora: Ana Luiza Dantas Borges
Editora: Record
Edição de: 2009)

As memórias de um dos maiores escritores de todos os tempos. 
Detalhes até hoje inéditos, em um livro revelador e sincero. 

Sidney Sheldon é um dos maiores best-sellers de toda a história, já ultrapassou 300 milhões de livros vendidos, em 51 idiomas e em mais de 180 países. 

Todos os 18 romances do autor alcançaram a lista dos mais vendidos do New York Times. Sheldon assinou obras-primas como O outro lado da meia-noite, A herdeira, A ira dos anjos, Juízo final, entre outros. 

Revelações sobre a vida do autor em Hollywood, ao lado de estrelas como Cary Grant, Marilyn Monroe, Judy Garland, Frank Sinatra e Doris Day. 

Sheldon foi vencedor do Oscar com o filme Solteirão cobiçado, além de criador da série de sucesso internacional Jeannie é um gênio.

Os detalhes sobre a vida pessoal do autor: a infância em Chicago, em um ambiente familiar instável com as constantes discussões dos pais; a revelação de ser portador da psicose maníaco-depressiva.




Palavras de uma leitora...


- Quem me conhece certamente sabe que Sidney Sheldon é o meu autor preferido de toda a vida. Se alguém me conhece e não sabe disso só acha que me conhece.rsrs

Se estivesse vivo, ontem ele teria completado 101 anos de idade. Seria um feito e tanto, claro! Mas não deixou de ter uma vida incrível, longa e maravilhosa que ele aproveitou para encantar a todos que tiveram o prazer de conhecê-lo e nós leitores que crescemos como pessoas ao ler suas histórias. Ele faleceu em 30 de janeiro de 2007, aos 89 anos de idade, bem perto de completar 90 anos. 

Infelizmente, só conheci seus livros cerca de dois anos após sua morte. Dá uma dorzinha no coração quando penso nisso. Embora não soubesse inglês naquela época e tampouco saiba agora, minha paixão pelo autor é tanta que eu teria pedido a algum amigo para traduzir uma carta escrita por mim e enviá-la a ele... na esperança que ele lesse e entendesse o quanto seus livros significam para mim. Invejo (uma inveja branca, óbvio) todos os leitores que tiveram essa oportunidade que eu não tive. Quando amamos muito um autor queremos senti-lo próximo de nós. Já escrevi para a Florencia Bonelli (minha autora preferida) e não dá para colocar em palavras a emoção de ter uma mensagem respondida, de dizer para seu autor querido o quanto você o admira e a importância que a escrita dele tem para você. É uma emoção que não dá para medir ou explicar. 

Eu apenas estava descobrindo os livros. Faziam alguns poucos anos que começara a ler romances e tinha pouquíssimos em casa. Então, naquele dia em que estava de molho em casa (estava doente há alguns meses, tinha sido hospitalizada diversas vezes, fiquei internada, quase fui operada e tive que ficar em casa em "repouso" sem ir à escola por todo um bimestre, estudando à distância e indo somente fazer as provas) e querendo fazer alguma coisa para afastar a depressão que estava tomando conta de mim, a síndrome do pânico que comecei a desenvolver por causa do medo que os problemas de saúde e as palavras dos médicos provocavam em mim. Eu vivia uma fase terrível. Tinha apenas 15 anos e meu mundo estava desmoronando. Pairava sobre a minha cabeça a possibilidade de nunca poder ter filhos, pois os problemas de saúde poderiam tornar isso quase impossível. Eram as palavras dos médicos. Não seria tão grave para a cabeça de uma adolescente se esse não fosse seu maior sonho desde que ela se entendia por gente. Dizer que fiquei no fundo do poço seria um eufemismo. 

E naquele dia eu estava deprimida, como já era normal. Não tinha livros suficientes em casa. Nem saía de casa (passei a ter medo de tudo) e todos os que os vizinhos e amigos me emprestavam já tinham sido lidos. O que eu tinha? Internet.

Pesquisei nos sites de livros e esbarrei em títulos do SS. Nunca tinha lido nenhuma resenha de suas histórias. Não sabia quem ele era ou sobre o que seus livros falavam. Eu li os títulos. Cliquei e baixei. Não consigo recordar qual li primeiro: A Outra Face, Nada Dura para Sempre ou Se Houver Amanhã. Só o que sim sei é que li os três naquela mesma semana. Um após o outro. Surgia ali mais uma fã deste grande mestre. Os livros foram essenciais naquela fase da minha vida. E os do SS tiveram uma importância especial. 

Nunca esqueci essas três histórias e como uma fã eu queria os livros. Ler na internet não era suficiente. Nem fazia ideia que isso era "ilegal", era apenas uma menina ainda. Mas eu sabia que desejava ter os livros em papel, comigo, na minha casa, para abraçá-los, cheirá-los, saber que eram meus.kkkkkkk... E assim, passada a fase de pesadelo que vivi naquele ano e no ano seguinte, comecei a comprar os livros dele. E não lia suas histórias se não as tivesse em papel. Resistia e batia o pé (risos), pois precisava comprá-las. Naquela época já sabia que ele não estava mais vivo (quando li os três primeiros não sabia), no entanto, isso não diminuía a minha vontade de ter todos os livros que ele tivesse escrito. Hoje em dia tenho todos os romances que ele escreveu (devidamente lidos, claro!) e faltam apenas alguns infantojuvenis que ainda não encontrei. :D

Ainda duvidam que ele é o meu amor?! :)

- Quando decidi participar do Desafio 12 Meses Literários deste ano e vi o tema de fevereiro, pensei no SS. Não tinha certeza absoluta que o aniversário dele era neste mês, mas achava que sim. Fui verificar e acertei: era no dia 11. Não existia outro autor que eu quisesse ler para este tema. E na hora de escolher o livro (um infantojuvenil ou sua autobiografia) foi fácil me decidir pela autobiografia. Embora já tivesse lido sobre o autor na internet e conhecesse um pouco da sua vida, queria saber mais através de suas palavras. Foi uma experiência única!

"Não sabe o que pode acontecer amanhã. A vida é como um romance, não é? Está cheia de suspense. Você não faz ideia do que vai acontecer até virar a página."

O Outro Lado de Mim nos mostra exatamente um outro lado do escritor que amamos. O conhecemos como autor de livros de enorme sucesso, lidos pelas gerações passadas e pelas atuais. Mas são poucos aqueles que sabem que, antes de dedicar-se aos livros, ele foi roteirista, produtor e diretor de cinema. Que escreveu peças de teatro, filmes e séries, que passou boa parte de sua vida vivendo do cinema e não da literatura. Embora tenha desejado ser escritor desde sempre. 

Sidney Sheldon não cresceu no luxo, longe dos problemas reais e de uma vida de privações. Muito pelo contrário. Passou sua infância e adolescência mudando-se de um lugar para outro, sendo arrastado pelas ilusões de seu pai, que acreditava que um dia se tornaria milionário através de seus negócios. Claro que isso não aconteceu e a família ia de cidade para cidade, vivendo em apartamentos deprimentes, mal tendo o que comer ou vestir. Ainda bem novo, Sidney percebeu que necessitava trabalhar para ajudar em casa e assim passou a desdobrar-se em vários empregos ao mesmo tempo. Se trabalhava num lugar durante o dia, isso não o impedia de estar em outro à noite e mais outro nos finais de semana. Mesmo assim, por mais que se esforçasse e tivesse planos para o futuro, nada parecia suficiente. O dinheiro não entrava, não tinha condições para cursar uma faculdade e quando olhava ao seu redor se perguntava de que valia a sua vida. 

"Queria um futuro maravilhoso e não existia nenhum futuro maravilhoso. Tinha grandes sonhos, mas no fim do dia, era um entregador trabalhando numa drogaria."

Aos 17 anos de idade, cansado de tanto sofrer, ele tomou a decisão de terminar com tudo de uma vez. Iria se suicidar. Seu trabalho numa drogaria facilitaria as coisas, pois ele teria acesso aos medicamentos necessários. Aguardou com paciência e num dia em que sabia que ninguém estaria em casa, preparou as coisas e colocou sua decisão em prática. Mas o destino tinha planos bem diferentes para ele. Não era o seu momento. Não seria assim que sua vida terminaria. 

"Se quer realmente se suicidar, Sidney, eu compreendo. Mas odeio vê-lo fechar o livro tão cedo e perder toda a emoção da página seguinte, a página que você vai escrever."

Não se pode dizer que tudo resolveu-se por mágica após aquele dia. Embora tenha desistido de se matar, a tristeza ainda se fazia presente. Ele tentava, arriscava, apostava e muitas vezes via o seu esforço não valer nada. Dedicou-se à composição e escrevia coisas muito boas, chegando a ter uma de suas músicas interpretadas em diversos lugares, embora a promessa de gravação não tenha passado disso: promessa. O cantor soube muito bem usar sua canção até a exaustão, mas nunca recordou que deveria tê-la gravado. Apenas um dos aproveitadores que aparecem no caminho de qualquer pessoa. 

Foram muitos anos de tentativa, sucessos e fracassos. Outro no seu lugar talvez tivesse desistido. Se entregado à psicose maníaco-depressiva (conhecida hoje em dia como transtorno bipolar) com a qual ele foi diagnosticado anos mais tarde, mas ele não. Por mais que muitas vezes tenha pensado em retornar para Chicago, onde nascera, e jogar fora todos os seus sonhos, ele levantava-se após cada fracasso e voltava a escrever seus roteiros, indo atrás de quem quisesse contratá-lo. Após os sucessos, ele era parabenizado e adorado por seus chefes e desejado por outros estúdios, mas quando a crítica o massacrava por algum filme, aquelas mesmas pessoas que tanto diziam admirá-lo lhe viravam as costas. Assim era o mundo do cinema. 

O livro nos faz viajar pela vida do autor, conhecer um pouco de sua infância, adolescência, como era o relacionamento com seus pais, seus sonhos e decepções, todos os anos em Hollywood, convivendo com atores e atrizes, produtores, diretores e outras estrelas deste mundo tão cheio de glamour, mas também de espinhos, de veneno. Nos mostra seus sucessos, uns esperados e outros nem tanto, seus fracassos sempre guiados pelas críticas. Sua vida amorosa e como ele conheceu Jorja, com quem foi casado por mais de trinta anos e que lhe deu duas lindas filhas. Sofremos com o autor a dor pela morte de sua segunda filha, ainda um bebê e vítima de uma deformidade fatal. Nos emocionamos com a escolha de adotar uma criança e temos o coração partido quando, quase seis meses depois, a mãe biológica, protegida pela lei que lhe concedia tal direito, resolveu pegar a bebê de volta, sem se importar com o dano que causaria ao casal e a filha que já se acostumara a ter uma irmã. O autor nos mostra seus sentimentos e pensamentos mais profundos e é uma viagem inesquecível. 

"De todos os tipos de texto que escrevi ao longo dos anos - para cinema, teatro, televisão, romances -, o romance é o meu preferido. Romances são um mundo diferente, um mundo da mente e do coração. Em um romance, criamos personagens e lhes damos vida."

- Embora tenha se tornado mundialmente conhecido por causa de seus livros, foi somente em 1970, após décadas dedicadas ao cinema e ao teatro, que ele publicou seu primeiro romance, A Outra Face. Com esse livro ele recebeu o cobiçado prêmio de literatura policial e de mistério: o Edgar Allan Poe. O livro não foi um sucesso financeiramente, mas após essa premiação e a paixão que a escrita lhe provocou (lembrando que seu sonho de infância era ser escritor) ele decidiu continuar escrevendo e então veio O Outro Lado da Meia-Noite e com ele o sucesso. O livro ficou na lista de mais vendidos por mais de 50 semanas e seus livros seguintes não foram menos importantes. Logo ele foi traduzido para muitos países, chegando a ser considerando, oficialmente, o autor mais traduzido do mundo. :)  

O que mais posso dizer?! Amo tudo o que ele escreveu. Amo saber que um dia ele existiu e que mesmo com todos os altos e baixos, viveu momentos que levou consigo, conheceu pessoas que o apoiaram, casou-se com uma mulher maravilhosa que só a morte pôde separar e que depois a vida colocou em seu caminho alguém para apaixoná-lo outra vez. Amo saber que ele viveu. E que nos deixou tantas histórias maravilhosas. O que odeio? O que não suporto? Que aquela garota, Tilly não sei o quê, se ache no direito de escrever histórias utilizando o nome dele. Não me importa que ela tenha a autorização de sua família. Antes de ler este livro, já me posicionei muitas vezes contra o fato dessa escritora utilizar o nome do meu autor para construir sua carreira. Após ler O Outro Lado de Mim minha raiva dela só aumentou. Ele galgou cada degrau sozinho. Sem nunca se aproveitar de ninguém. Sem nunca utilizar o nome ou o sucesso de seus amigos. Viveu em dificuldades quando poderia ter pedido ajuda para um amigo, mas sempre preferiu correr atrás dos seus objetivos. Não se utilizava das pessoas. É imperdoável que a Tilly se utilize do legado dele dessa maneira. 

Sempre desejei que as pessoas queridas que se foram pudessem nos ver, saber como estamos seguindo, o amor que ainda sentimos por elas. Mas sabe de uma coisa? Espero que o SS não possa ver, que não veja o que essa autora está fazendo com suas histórias, sobretudo com Se Houver Amanhã. Sei que ele sofreria. É sua obra, um de seus maiores sucessos. Quem ela pensa que é para escrever duas continuações que ainda por cima matam a essência dos personagens? Isso é atitude de fã? Para mim, não. 

"Acho preciosa a emoção da volta na montanha-russa que foi a minha vida. Foi uma jornada excitante e maravilhosa. Sou grato a Otto, que me convenceu a continuar virando as páginas, e a Natalie, por sua fé inabalável em mim. 

Tive uma carreira incrível com grandes sucessos e imensos fracassos. Quero partilhar minha história com vocês e agradecer - pois vocês, leitores, sempre me apoiaram. Sou profundamente grato a todos vocês."

- Nós é que agradecemos SS. Muito. 



Assim como no mês passado, eu acertei em cheio na minha escolha. :D Vocês já sabem por que escolhi o SS, então não preciso dizer de novo.kkkkkkkkk... 

Para conhecer todos os livros que escolhi para me acompanhar durante os 12 meses de desafio, clique aqui

O Outro Lado de Mim também foi o meu escolhido para abrir a Maratona Literária de Carnaval. Restam dois livros! Minha próxima leitura? O thriller psicológico Entre Quatro Paredes - B. A. Paris. 

28 de janeiro de 2018

Coragem de Mãe - Marie-Laure Picat

(Título Original: Le Courage d'une Mère
Tradutora: Inez Cabral
Editora: Fontanar/Objetiva
Edição de: 2010)


Em parte uma carta de amor, em parte o testemunho de uma vida de muita superação, Coragem de Mãe narra a luta de uma mulher que, condenada a morrer dentro de alguns meses, fez de tudo para encontrar uma família para seus quatro filhos. Sua história de vida, seu bom humor, sua convicção e sua força de espírito diante da adversidade já comoveram milhares de pessoas.




Palavras de uma leitora...



- Se você me perguntar como este livro veio parar em minhas mãos não saberei lhe responder. Não consigo recordar! Já tentei várias vezes e não me lembro. Acho (não tenho certeza) que o troquei quando fazia curso na rua em que existia uma loja onde você levava um livro e o trocava por outro. Não eram vendidos livros lá. Você simplesmente deixava um livro no lugar daquele que desejava. Sei que encontrei verdadeiros tesouros naquele lugar, mas a verdade é que não lembro de jeito nenhum se foi assim que encontrei Coragem de Mãe. Mas uma coisa é certa: jamais esquecerei esta história. Por mais que minha memória esteja uma grande porcaria, os anos poderão passar e nunca poderei deixar para trás todas as coisas que aprendi com a protagonista, com sua história real, com sua força. 

"Existem coisas que não mudarão nunca. Mesmo morta, continuarei sendo a mamãe de vocês para sempre."

Esta é a autobiografia de Marie-Laure Picat, uma mulher que, aos 36 anos de idade, descobriu que estava com câncer no fígado. Dona de um otimismo e desejo de viver contagiantes, ela não entregou os pontos de primeira. Lutou contra o câncer. Deu tudo de si para sobreviver. Tinha quatro filhos que dependiam dela e morrer não era bem uma opção. Todavia, após quimioterapias que não produziram o menor efeito sobre a doença e diante da impossibilidade de eliminar o tumor através de uma cirurgia, teve que encarar a dura realidade: não havia cura, ela estava em estado terminal. Os médicos, por mais relutantes que estivessem, tiveram que ser sinceros: ela tinha poucos meses de vida. Não duraria até o próximo ano. Aquele era o ano de 2008. 

"Assim que soube que ia morrer, tive apenas uma obsessão: que suas vidas mudassem o mínimo possível depois que eu partisse, que vivessem juntos, criados pelas pessoas que amam vocês."

Mesmo destroçada por dentro, não foi em si mesma, na injustiça de morrer tão jovem que ela pensou. Seus pensamentos foram para os seus filhos. O que seria deles? Quem cuidaria de suas crianças de 11, 9, 5 e 2 anos quando ela já não estivesse mais ali? Seriam separados? O governo se encarregaria do destino deles? Ela já aceitara o fato de que iria morrer, mas não aceitaria que seus filhos ficassem desamparados. Assim, aproveitou seus últimos meses de vida para buscar um lar seguro para suas crianças e, ao encontrá-lo, viu-se diante de uma porta fechada. Porque o governo e o sistema jurídico do país não permitiam que um pai ou mãe em estado terminal escolhesse com quem seus filhos ficariam. Ela não possuía o direito de decidir qual seria a família adotiva. Tinha encontrado o lar perfeito, mas o governo lhe disse que não. Não interessava que a família estivesse mais do que disposta a receber as crianças e tivesse estrutura para manter os quatro juntos. Tampouco importou o fato daquele ser o último desejo de uma mãe que sabia que iria morrer e tudo que queria era que seus filhos ficassem seguros. A resposta era um simples e terrível "não". 

"Quem melhor que eu podia julgar com que pais meus filhos seriam mais felizes?"

Uma pessoa menos forte talvez tivesse entrado em desespero e tivesse visto naquilo mais um motivo para desistir de tudo, entregar os pontos. Mas não Marie! Era a vida dos seus filhos que estava em jogo e ela faria o que fosse necessário para que eles ficassem exatamente com a família que ela escolhera. 

"A família dos meus filhos já estava escolhida. Julie, Thibault, Matthieu e Margot iriam para lá, ou eu não me chamaria Marie-Laure."

Sabendo que tinha pouquíssimo tempo para assegurar um futuro feliz aos seus filhos, Marie não ficou de braços cruzados. Se a lei e o governo diziam que não, ela levantaria a voz e faria aquele "não" virar um sim e se para isso seria preciso gritar na mídia, não hesitaria. E foi exatamente o que ela fez. De um momento para o outro ela deixou de ser uma "simples" mãe morrendo jovem demais e deixando quatro crianças órfãs e se transformou num caso de interesse nacional. Sua história emocionou e envolveu milhares de pessoas em toda a França e finalmente fez aqueles que não queriam ouvi-la, prestarem atenção. 

"Quando a PMC me disse 'não', vi uma porta se fechar para mim. Decidi arrombar essa porta, porque me pareceu o certo para meus filhos. Ainda não estava morta, podia agir: enquanto há vida, há esperança, não é? Hoje quero dizer a todos os que virem uma porta se fechar para não desistirem, para insistir, continuar a lutar."

O interesse da mídia incomodou o governo e o sistema jurídico do país. De repente, o telefone começou a tocar, Marie foi visitada pelo próprio prefeito e promessas de que seus filhos seriam recebidos pela família que ela escolhera foram feitas. A França não queria passar uma imagem errada, uma imagem de pura insensibilidade e falta de importância com o futuro de quatro crianças. Assim, o sistema começou a andar, papeladas foram sendo preparadas e quanto maior era a pressão da mídia e da população mais rápido as coisas corriam. No fim das contas, as crianças foram entregues à família substituta escolhida por Marie, sem terem que mudar de escola, sem terem que abandonar seus amigos e sua cidade. 

"De tanto levantar a voz, fiz com que as coisas se mexessem, burlei todas as regras, passei por cima da lei, essa lei estúpida que diz que é o juizado de menores que decide onde irão viver os órfãos."

Tudo o que essa mãe queria era que a mudança fosse o menos traumática possível, que seus filhos não perdessem os laços que tinham conquistado, que não fossem parar em abrigos e depois adotados em separado. Ela queria manter os quatro juntos e próximos daqueles que os conheciam de toda a vida. Será que era pedir demais? Era algo tão impossível para necessitar se desgastar em seus últimos meses? 

- É revoltante, sinceramente! A história inteira da Marie me causou diversos níveis de revolta e choque, mas senti vontade de gritar com todo o estresse que ela teve que passar porque uma lei estúpida não permitia que ela pudesse escolher a família dos seus filhos. É inacreditável algo assim! A vontade dela não importava, a felicidade de seus filhos era insignificante para aquele sistema. Só queriam seguir as "regras" e que se danasse amor, laços de sangue ou humanidade. Como se não bastasse lutar o máximo para se manter viva por alguns meses, para estar com seus filhos mais tempo e prepará-los para sua partida, Marie foi obrigada a travar uma guerra contra a lei e a política do país. Teve que gritar na mídia para que seus filhos tivessem o direito de permanecer juntos e com uma família em quem ela confiava. 

"Uma mãe ou um pai à beira da morte deveria passar o tempo que lhe resta aproveitando o contato com seus filhos, e não gastando suas forças num combate estúpido."

- Não consigo nem imaginar tudo o que a Marie passou. Me dá um nó na garganta me colocar no lugar dela. Não tenho filhos ainda, mas se um dia os tivesse e de repente me visse diante de uma doença terminal, da certeza de que iria morrer e não poderia criá-los, estar presente quando eles precisassem de mim, certamente enfrentaria a pior dor da minha vida. Uma dor que viria acompanhada de um total desespero, de uma sensação de impotência. Como deixar um filho pequeno sozinho? Como morrer sabendo que não teria ninguém para cuidar dele? Uma mãe jamais deveria passar por algo assim. É muito injusto, uma crueldade sem tamanho. E nenhum filho deveria perder seus pais ainda criança, quando mais necessitava deles, quando dependia inteiramente deles. O mundo é cheio de injustiças assim. Este livro não é ficção. Isso realmente aconteceu com a Marie, com seus filhos, com sua família. Uma doença maldita simplesmente um dia veio e destruiu tudo. Ela teve que fazer o máximo com os cacos que restaram. Teve que lutar para proteger seus filhos mesmo depois de sua morte. 

"O que meus filhos guardariam na memória de todos esses artigos publicados nos jornais? Foi por eles que eu quis dar meu depoimento nestas páginas, para que me conhecessem melhor, para que entendessem minha luta. Quando forem mais velhos, não estarei mais aqui para lhes dizer quem fui, quanto os amei e tudo que fiz por eles."

- Através das páginas deste livro não conhecemos apenas a luta dela pela segurança de seus filhos. Como este livro é uma espécie de lembrança para eles, para que soubessem quem foi a mãe deles quando estivessem mais velhos, Marie começa contando as coisas desde o princípio. Conhecemos a bebezinha abandonada pela mãe, que ficou horas e horas gritando com uma fralda suja que lhe deixou uma cicatriz por conta de uma queimadura provocada pelas horas em contato com sua pele. Conhecemos a infância miserável que ela teve sendo criada por um pai que a ignorava, mas que quando finalmente a notou foi para começar a violentá-la e manter esse padrão durante vários anos. Conhecemos a menina desesperada que confessou o que se passava para uma professora, mas que não recebeu a ajuda de ninguém, nem mesmo da lei e teve que retornar para o lado de um pai que abusava sexualmente dela enquanto a "justiça" fechava os olhos. Também somos levados até o passado de uma jovem que se viu grávida pela primeira vez e foi obrigada a enfrentar a dor de perder o primeiro filho. Conhecemos seus sonhos, suas dores, suas conquistas e perdas. Nos envolvemos profundamente e nos perguntamos como alguém que sofreu tanto, que passou por tantos pesadelos e sofria outro terrível golpe ao ser condenada à morte por uma doença terminal ainda podia sorrir, fazer piadas, ter um bom humor como o dela. Como ela conseguia?! Como tinha forças para tirar o melhor de tudo aquilo e não se entregar nunca? No lugar dela, eu jamais teria conseguido. Não mesmo. 

"Consegui para eles um novo lar e me assegurei de que não fossem separados, que crescessem juntos com pessoas formidáveis, no lugar que sempre conheceram. Essa luta eu a ganhei para eles."

- Marie-Laure Picat foi um exemplo. De mãe. De superação. De ser humano. Um exemplo que todos deveríamos seguir. Cresceu sem mãe, mas aprendeu sozinha a ser a melhor que seus filhos poderiam ter. Lutou por eles até o final. E não se permitiu perder. Foi violentada pelo pai dos 11 aos 14 anos de idade e poderia ter encontrado nessa grande tristeza, nessa monstruosidade motivos para se revoltar, para destruir a si mesma, mas não. Deu a volta por cima e não permitiu que aquele homem que jamais mereceu ter filhos afetasse toda sua vida. Viu o sistema falhar com ela quando procurou uma professora para pedir ajuda e foi obrigada a retornar à casa do seu agressor e viver com ele vários outros anos, mas nem por isso permitiu que aquele mesmo sistema calasse sua voz quando foi para proteger seus próprios filhos. Não pode fazer nada por si mesma quando criança, mas garantiria que seus filhos crescessem seguros, que fossem criados por boas pessoas. Não dá para aceitar, gente! Que alguém assim, que uma pessoa tão incrível e guerreira tenha morrido tão jovem. Por quê? Nunca vou entender. Nunca vou aceitar. Ela morreu em agosto de 2009, com 37 anos de idade. 

- É irônico e revoltante que uma mãe que tudo que desejava era criar seus filhos, amá-los e protegê-los tenha morrido dessa maneira enquanto certas desgraçadas que jogam seus filhos em latas de lixo, os afogam em banheiras ou fazem diversas outras monstruosidades fiquem por aí, muito bem a vida inteira. Que mundo é este?! 


- Com esta leitura eu concluí a Maratona Literária de Verão. Ele foi minha escolha para o terceiro tema que consistia em: ler um livro que aparentemente só você conhece. Como nunca tinha ouvido ninguém falar desta história, me pareceu uma excelente escolha. E realmente foi! Um livro incrível, que nos enche de lições maravilhosas e nos faz perceber o quanto somos ingratos. O quanto não valorizamos a sorte que temos por ter saúde, por ter tempo, por ter oportunidades que outras pessoas não têm. O simples fato de respirarmos, de podermos nos levantar dia após dia já é um privilégio enorme. 

Se quiserem conhecer os quatro livros que li para a maratona, basta clicar neste post aqui. Nele estão os links para todas as resenhas. A maratona possuía dois desafios extras, lembram? Eles não eram obrigatórios, a pessoa lia apenas se quisesse ou tivesse tempo. Os desafios oficiais eram os quatro que cumpri. Mas isso não significa que não lerei a minha escolha. :D Em breve vocês poderão conferir minha resenha sobre Sorrisos Quebrados, livro de Sofia Silva, uma portuguesa muito querida aqui no Brasil, que conquistou milhares de leitores com essa história emocionante. 
Topo