Mostrando postagens com marcador HarperCollins. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador HarperCollins. Mostrar todas as postagens

11 de novembro de 2020

Fique Comigo - Ayòbámi Adébáyò


Literatura Nigeriana
Tradutora: Marina Vargas
Tradução de: Stay with me
Editora: Harper Collins 
Edição de: 2018
Páginas: 240

66ª leitura de 2020 (57ª resenha do ano)

Sinopse: Finalista do Baileys Women’s Prize for Fiction, este romance de estreia inesquecível ambientado na Nigéria dá voz a marido e esposa enquanto eles contam a história de seu casamento ― e as forças que ameaçam destruí-lo.

Yejide e Akin se apaixonaram na faculdade e logo se casaram. Apesar de muitos terem esperado que Akin tivesse várias esposas, ele e Yejide sempre concordaram que o marido não seria poligâmico. Porém, após quatro anos de casamento ― e de se consultar com médicos especialistas em fertilidade e curandeiros, tomar chás estranhos e buscar outras curas improváveis ―, Yejide não consegue engravidar. Ela está certa de que ainda há tempo, mas então a família do marido aparece na sua casa com uma jovem moça que eles apresentam como a segunda esposa de Akin. Furiosa, chocada e lívida de ciúmes, Yejide sabe que o único modo de salvar seu casamento é engravidar. O que, enfim, ela consegue ― mas a um custo muito maior do que poderia ter imaginado. 

Um romance eletrizante e de enorme poder emocional, Fique comigo não apenas debate as questões familiares da sociedade nigeriana, como também demostra com realismo as mazelas e as dificuldades políticas enfrentadas pela população desse país nos anos 1980. No entanto, acima de tudo, o livro faz a pergunta: o quanto estamos dispostos a sacrificar em nome da nossa família?



Ela sempre desejou ser amada... Ter alguém que procuraria por ela se desaparecesse... Que sentiria a sua falta, que se importaria. Filha da segunda esposa de seu pai, que era polígamo e teve quatro ou cinco esposas aos mesmo tempo, mesmo numa família grande Yejide se sentia sozinha, uma intrusa dentro do seu próprio lar e tendo como único "aliado" apenas um pai que insistia em fazê-la recordar que seu nascimento lhe arrancara o grande amor da vida dele. 

Tendo perdido a mãe logo ao nascer, Yejide nunca conseguiu chamar nenhuma de suas madrastas de mãe, sabia que era desprezada por todas elas, que seus próprios meio-irmãos eram ensinados a excluí-la, a fazê-la se sentir sozinha. Pelas costas do pai sempre a tratavam muito mal e tudo o que ela mais desejava era fugir daquela vida. Em seu coração ainda acreditava que teria sua própria família. Que conheceria um homem que se contentaria em ter somente a ela como esposa, que juntos teriam três, quatro filhos e seriam muito felizes. Era o seu sonho. Sua esperança. 

"As coisas que importam estão dentro de mim, encerradas em meu peito como em um túmulo, onde permanecerão para sempre, meu baú de tesouros sepultados."

Ela o conheceu quando estava na faculdade. Como suas madrastas e todo o resto da família acreditavam que ela seria uma fracassada, que nunca conseguiria nada, Yejide lutou para cursar a faculdade. Como a viam como uma "perdida", ela decidiu que se casaria virgem. Sua existência se baseava em provar aos outros que ela não seria o que eles queriam. E Akin se mostrou compreensivo desde o primeiro instante. Eles se apaixonaram praticamente à primeira vista. Ela já tinha sido beijada por outros rapazes, mas somente os beijos dele a atingiam, a faziam sentir coisas que nunca antes experimentara. Ao seu lado ela se sentia amada. Era possível partilhar todos os seus segredos e inseguranças, seus sonhos e medos. 

Em pouco tempo estavam casados. Tudo era perfeito. Ela tinha sua profissão e ele também era bem-sucedido. Tinham seu lar, eram compatíveis de muitas formas e se divertiam com as tentativas de seus parentes de interferirem em suas vidas. Eram cúmplices, verdadeiros companheiros... pelo menos era nisso que Yejide acreditava. Foi nisso que ela acreditou por quatro anos. Que ninguém seria capaz de separá-los, que não existiam segredos entre os dois, que sempre poderia confiar no homem com quem se casara. Isso até aquela mulher ser levada até sua casa e apresentada como a segunda esposa de Akin.

"Hoje digo a mim mesma que foi por isso que me esforcei para aceitar cada nova humilhação: para ter alguém que procurasse por mim caso eu desaparecesse." 

O golpe foi forte demais. O choque, a descrença, a angústia... Não. Akin jamais teria a coragem de fazer aquilo com ela. Ele sabia o que ela tinha passado na infância, como odiava a poligamia, que não se casaria com um homem que quisesse ter mais de uma esposa. Ele sabia. Então, não podia ser verdade. Akin não poderia ter se casado com outra mulher, muito menos pelas suas costas. Devia ser uma brincadeira. Uma piada de mau gosto. 

Mas era verdade. De um momento para o outro, a vida de Yejide vira um inferno. Tudo o que ela dava como certo desmorona. Ela lutava desde o início do seu casamento para poder engravidar. Tinha tentado de tudo e os exames diziam que não havia nada de errado em seu corpo, que nada a impedia de engravidar. Então, embora sofresse por ainda não ter conseguido dar um filho a Akin, nunca passou pela sua cabeça que ele buscaria outra mulher. Que apenas por ela não ter engravidado nos quatro primeiros anos de casamento, ele se acharia no direito de quebrar todas as promessas e traí-la daquela forma. E o pior era vê-lo agindo como se tudo estivesse bem. Como se o que fez fosse algo absolutamente normal e aceitável. Como se ela não tivesse motivos para se sentir traída e em pedaços. 

"Não me sentiria melhor durante muito tempo. Já estava me desfazendo, como um lenço amarrado às pressas que se afrouxa e cai no chão antes que o dono perceba."

No entanto, mesmo destroçada ela ainda o amava. E precisava salvar seu casamento. A única maneira de impedir que a segunda esposa roubasse de maneira definitiva o homem que ela escolhera para estar ao seu lado por toda a vida... era engravidar. Ela precisava dar-lhe um filho. Deus teria piedade dela. Ele lhe daria o seu milagre, o seu bebê. Desistir não era uma opção. Ela salvaria seu casamento. 

Apenas lembrar deste livro já me deixa péssima. Com um aperto no peito, uma angústia enorme. Me arrependo muito de tê-lo lido, confesso. Preferia nunca ter conhecido esta história. Nunca ter mergulhado na dor da Yejide e em toda a violência que é cometida contra ela. 

Não. Não darei spoiler. Dizer que a protagonsta sofre violência em diversos níveis não é spoiler. Vocês precisariam ler para compreender, pois as coisas não são explícitas. E a autora cria um drama tão forte, "pinta" alguns personagens como pobres coitados que se "sacrificavam" por amor, que somente com muita atenção é que conseguimos perceber a violência... em suas mais diversas formas. Eu chorei muito com e pela Yejide. Sua dor atingiu um ponto vulnerável dentro de mim, de alguma maneira me identifiquei com ela... com sua solidão, seu desejo de ser amada e a traição que ela sofre daqueles que deveriam protegê-la. Em muitos momentos eu desejei sacudi-la, fazê-la acordar, parar de acreditar que as pessoas mudariam, que ainda era possível salvar o que estava perdido desde o começo. O sofrimento dela me marcou demais. Sinto como se eu própria mergulhasse num abismo quando recordo tudo o que se passou neste livro. É uma história que me fez muito mal. Que me deixou apenas dor. E por isso eu preferia nem ter lido. 

"Quando o fardo é pesado demais e o carregamos por muito tempo, até mesmo o amor se verga, racha, fica prestes a se despedaçar, e às vezes se despedaça de fato."

Já li muitos livros pesados, de fazer os olhos ficarem inchados de tanto chorar, mas a maioria deles, como O Caçador de Pipas e Corações Feridos, por exemplo, me deixou algo de bom, mesmo no meio de todo o inferno que os personagens viveram. São livros que me acrescentaram de alguma maneira, que me deixaram lições, que mesmo me fazendo mal também me fizeram bem. Fique Comigo não me deixou nada de positivo. Eu fiquei depressiva depois de concluir a leitura, chorando de um jeito como se eu própria tivesse sentido tudo no lugar da protagonista. Fiquei péssima, com um mal estar muito forte, como se estivesse ficando doente. Cheguei a decidir que não faria resenha, que não suportaria sequer falar deste livro. Mas mudei de ideia hoje, pois desde que terminei de lê-lo não consigo me concentrar em nenhum outro livro. Então, resolvi fazer a resenha na tentativa de me libertar um pouco da Yejide, da sua dor e todos os acontecimentos de sua vida. 

A história é contada em forma de carta. Na verdade, não são cartas trocadas entre os personagens nem nada, mas a narrativa nos faz sentir como se os protagonistas Yejide e Akin estivessem escrevendo um para o outro, entende? Eles estão contando a história deles para nós leitores, mas a sensação que fica é que estão falando um com o outro, que é algo particular, íntimo, que nos exclui. Em alguns momentos, também parece uma conversa com eles mesmos. Sabe quando falamos sozinhos?rsrs Ou quando escrevemos num diário, confessando coisas para nós mesmos. É uma narrativa diferente. Bem íntima e muito intensa. Mergulhamos profundamente nos sentimentos dos protagonistas, como se estivéssemos passando por tudo aquilo. Quer dizer... Mergulhamos nos sentimentos da Yejide. Nos do Akin, não. Sobre este personagem me recuso a falar senão vou começar a explodir aqui e não conseguirei parar. Apenas digo isso: eu o odeio. Com todas as minhas forças. 

"Talvez, quando pedimos ao Senhor que nos livre do mal, estejamos na verdade pedindo que nos livre de nós mesmos."

O livro começa pelo ano de 2008 e o que é narrado neste início nos confunde e preocupa. Já começamos a leitura em tensão, imaginando o que aconteceu para que as coisas chegassem àquele ponto. Então, logo em seguida a autora nos leva ao ano de 1985 para nos contar o que deu errado, para nos contar a história dos dois do ponto de vista deles. 

É uma história que nos rouba a energia. Eram dementadores, certo? Os monstros que provocavam pavor no Harry Potter? Que tiravam a felicidade e deixavam somente escuridão e desespero. É meio assim que me sentia enquanto lia este livro. Que ele estava me roubando o ânimo, a alegria e deixando somente dor. Só isso já mostra o talento da autora. Porque um autor conseguir envolver tanto assim os leitores é muito difícil. Não é qualquer autor que consegue fazer você sentir tanto assim uma história. 

Mas mesmo reconhecendo o talento da autora, a escrita maravilhosa e envolvente, vai demorar muito até eu ter coragem de ler outra história dela. Não quero ficar tão destroçada como fiquei com este livro. Tudo o que quero agora é conseguir esquecer que o li. Mas já sei que será impossível. 



-> DLL 20: Um livro de autor africano



10 de maio de 2019

Flores Partidas - Karin Slaughter


Título Original: Pretty Girls
Tradutora: Carolina Caires Coelho
Editora: HarperCollins
Edição de: 2016
Páginas: 464
Onde comprar: Amazon

Sinopse: Irmãs. Estranhas. Sobreviventes. Quando Lydia contou para a irmã que o cunhado havia tentado estuprá-la, Claire não acreditou. Dezoito anos depois, porém, tudo o que Claire achava saber sobre o marido se prova uma mentira. Quando vídeos escondidos no computador de Paul mostram uma face terrível do homem que ela julgava conhecer, Claire percebe que o drama de sua família tem muitas camadas que precisarão ser descobertas antes que a assustadora verdade por fim venha à tona. 




Eu não deveria estar escrevendo esta resenha hoje, pois estou tão triste que até escrever é difícil. Me sinto meio entorpecida, como se meu corpo estivesse tentando se manter longe de tudo mesmo com todo este peso emocional em cima de mim. São muitos problemas na família. Problemas sérios, a maioria de saúde. Tudo aconteceu de uma vez e como são pessoas da minha família, que eu amo, acabo sendo atingida fortemente pela dor e pela preocupação. Tentando manter a fé em Deus, de que tudo ficará bem. Mas é difícil. Muito difícil. 

"Aquela era a maneira como um ser humano ficava quando partia para um mundo que não o valorizava, não o amava, não queria que ele voltasse para casa. Sua mãe estava certa. Os detalhes acabaram comigo."

Claro que não era o momento certo para ler um livro de suspense tão forte e doloroso. Mas eu estava querendo mergulhar numa história que me fizesse pensar apenas nos problemas dos personagens e esquecer os meus próprios. De certa forma funcionou. Enquanto lia esquecia minha própria vida. Todavia, esta história acabou por me fazer pensar em outras vidas. Em outras famílias.... Nas milhares, talvez milhões, de pessoas desaparecidas neste mundo imenso. Quantas devem ter desaparecido hoje? Quantas vão sumir amanhã e depois, depois, depois... Quantas estão presas em algum lugar neste exato instante, implorando por uma ajuda que nunca irá chegar? Sabemos que pessoas que somem raramente são encontradas com vida. Existem muitas famílias espalhadas pelo mundo que nunca tiveram o consolo de um corpo sobre o qual chorar, de um túmulo para visitar, pois seu ente querido nunca foi encontrado. Isso dói na alma. Se você possui um coração com certeza não consegue se manter indiferente a tanto sofrimento. Quase todos os dias da minha vida eu penso nas pessoas que estão sofrendo aí fora, sendo maltratadas e assassinadas por algum monstro chamado de ser humano. Deixei de assistir jornais, por não suportar mais tanta crueldade. Fico pedindo para minha família não comentar comigo sobre as notícias que viram ou leram, tenho tentado me afastar desta realidade tão brutal em que vivemos, num mundo em que você sai sem saber se vai voltar, um mundo no qual o medo vem fazendo parte da vida das pessoas. 

21 de maio de 2018

A Filha - Jane Shemilt

(Título Original: Daughter
Tradutora: Carolina Raquel Caires Coelho
Editora: HarperCollins
Edição de: 2015)


A NOITE DO DESAPARECIMENTO
Ela me contava tudo

A polícia, a foto dela. Isso vai ajudar.
Mas a foto não mostra como seu cabelo brilha como ouro sob o sol. 
Ela tem uma pintinha bem embaixo da sobrancelha esquerda.
Ela tem um leve perfume de limão.
Ela rói as unhas.
Ela nunca chora.
Ela ama o outono, eu quis contar aos policiais. 
Ela coleciona as folhas que caem, como uma criança. Ela é só uma criança. 
POR FAVOR, ENCONTREM MINHA FILHA.

UM ANO DEPOIS

Naomi permanece desaparecida. Jenny, sua mãe, está obcecada. A família se despedaçou. Será que descobrir a verdade sobre Naomi é a única forma de salvar essa família? Ou a verdade vai destruí-la de vez?




Palavras de uma leitora...



- Sabe aquele livro que você compra por impulso, sem nunca sequer ter ouvido falar? Foi bem o que aconteceu quando vi A Filha pela primeira vez. Não fazia ideia se era um livro querido ou não pelos leitores. Esbarrei nele. Sua capa me chamou a atenção ao indicar um suspense e aí li a sinopse. Confesso que a sinopse em si não me animou muito (achei confusa), mas comprei mesmo assim. Era um suspense sobre o desaparecimento de uma adolescente. A curiosidade e o meu fascínio por thrillers venceram.rs

Ainda estou um tanto em choque pelo final. A ficha está demorando para cair. Quando iniciei a leitura acreditei que descobriria o que tinha acontecido fácil, fácil. Ou que, pelo menos, chegaria bem próximo. Afinal de contas, já estou tão acostumada com esse gênero que ao prestar atenção aos detalhes e as pistas dadas pelos autores passo bem perto da verdade, isso quando não acerto. Pensei mesmo que seria igual. Ledo engano!kkkkkkkkk... E olha que a autora realmente dá pistas! Só que ela constrói a teia de tal maneira, intercalando passado e presente, em capítulos curtos, mostrando tudo do ponto de vista da protagonista... num emaranhado de segredos que vão sendo revelados lentamente... que acabamos não prestando atenção em tudo ou achamos que tal coisa não é importante. Que foi apenas algo jogado no livro para encher as páginas. Que nada! Eu fui muito ingênua e por isso fiquei de queixo caído quando as peças do quebra-cabeça foram se encaixando. Eu não pude prever aqui. E mesmo quando a verdade foi se desenrolando eu segui estando despreparada para a maneira como tudo terminaria. 

"As sextas-feiras ainda machucam."

Quando ela saiu pela porta naquele dia, uma quinta-feira, Jennifer não se preocupou. Era a penúltima noite de apresentação. Sua filha era a atriz principal da peça de teatro interpretada no colégio. Naquela quinta-feira seu pai não a buscaria, pois ela voltaria em grupo com amigos. Iriam jantar antes e ela estaria em casa às onze e meia da noite. Não havia motivos para preocupação. Só que Naomi não voltou. 

"E durante todo o tempo, eu ouvia seus passos; ela poderia chegar a qualquer momento, com uma desculpa pronta, surpresa com a comoção. E tudo isso desapareceria como um pesadelo."

Enquanto aguardava a filha, Jennifer acabou adormecendo. Estava esgotada após mais um dia difícil na clínica e embora tivesse toda a intenção de estar desperta quando Naomi chegasse o cansaço acabou por vencê-la. Acordou por volta das duas horas da madrugada de sexta-feira. E sua filha não estava em casa. 

Com o pânico acelerando seu coração e tentando bloquear as imagens ruins que começaram a se formar em sua mente, Jennifer tenta localizá-la através de amigos, o que não dá em nada. Sem outra alternativa senão acionar a polícia, ela vê sua vida até então perfeita transformar-se num verdadeiro inferno. Onde ela estaria? O que teria acontecido com sua menina? Ela só tinha 15 anos. Não podia estar perdida por aí, longe da segurança de sua casa. Alguém precisava encontrá-la! Ela precisava da sua filha! Queria sua menina de volta!

"Eu queria morrer, mas sabia, naquela época, como agora, que um dia eu poderia olhar para a frente e ela estaria ali, na porta."

As buscas começam. A polícia, a mídia, todos são envolvidos. Todos no colégio foram interrogados. Amigos, professores, vizinhos, a família... A investigação cobria todos os cantos, mas não avançava. Quanto mais o tempo passava pior era a possibilidade. E um ano mais tarde Naomi ainda não havia sido encontrada. 

"Seria possível que ela tivesse percebido no fim, se tivesse havido um fim, que seu coração estava desacelerando? Há sangue suficiente num cérebro agonizante para registrar que o coração parou?"

Tudo ruiu com ela, no momento do seu desaparecimento. Tudo o que Jennifer tinha e dava como certo desabou. Ao longo dos meses de investigação e procura ela percebeu que não conhecia de verdade as pessoas a sua volta. Nem mesmo sua própria família. Porque nunca notara os sinais... De que todos estavam mentindo. 

O que realmente acontecera com Naomi? Existia a chance de que alguém conhecido fosse o responsável? Por que sentia que Nkita, melhor amiga de sua filha, estava escondendo alguma coisa? E Ed, seu filho, por que seu comportamento se alterara tanto? Onde realmente Ted, seu marido, estava na noite em que a filha desapareceu? E Theo? Havia realmente inocência nas fotos que ele tirara de Naomi, sua irmã, para uma exposição artística? Eram muitas perguntas. Várias dúvidas. Em quem acreditar? O que não estava enxergando? 

"Fiquei na cozinha sozinha e ele veio. O medo forte, repentino e devastador."

A história começa no ano de 2010, doze meses após o desaparecimento de Naomi. A polícia parecia andar em círculos, não chegando a lugar algum. E o tempo era implacável, levando Jennifer, nossa protagonista, ao completo desespero. Porque quanto mais os meses se passavam maiores eram as chances de que sua filha estivesse morta. Não saber era o pior de tudo. Porque dava a sua mente a oportunidade de criar diversas imagens, umas mais assustadoras do que outras. Ela morria aos poucos imaginando as diferentes formas que sua menina poderia ter morrido... ou vendo imagens dela presa em algum lugar, assustada e sentindo dor. Precisava saber. Tinha que saber o que havia acontecido com ela ou enlouqueceria. 

"Quando a bile subiu pela garganta e pelo nariz, pensei de repente que aquele podia ser o momento em que ela estava morrendo, e por isso eu tinha a sensação de estar morrendo."

No intuito de aumentar o suspense e ir desvendando os segredos do livro camada por camada, além de nos levar à loucura, a autora vai intercalando, cuidadosamente, acontecimentos do passado e do presente. Os capítulos são curtos. Ora acompanhamos a vida da Jennifer atualmente, em 2010, ora voltamos ao ano de 2009. Caminhamos da noite do desaparecimento para trás, voltando, inclusive, dezessete dias antes. 

"No dia 2 de novembro, um ano atrás, eu não tinha como saber que tínhamos apenas mais dezessete dias."

Ingenuamente podemos pensar que essa volta no tempo não é tão importante assim para o livro. Dezessete dias antes? Mostrando cenas aparentemente normais, de dias quaisquer? Que importância isso poderia ter? Eu fui tão tonta!kkkkkk... Não notei. Passei longe de perceber o quanto cada instante era significativo para fazer e desfazer a trama... eu pensava que a intenção da autora era aumentar o número de páginas e ao mesmo tempo ir revelando segredos da família e das pessoas à volta. Não imaginava qual era a grande verdade escondida naquelas semanas que antecederam o desaparecimento de Naomi. 

"Em algum lugar, ela podia estar sussurrando meu nome."

Este livro é um thriller psicológico top de linha, gente! Eu até mesmo demorei um pouco a considerá-lo realmente um thriller psicológico, por ser de certa forma bem diferente daqueles que eu estava acostumada a ler. Todavia, por ter os elementos esseciais de tal gênero o considerei como tal.

Tudo é narrado em primeira pessoa pela Jennifer, mãe da menina desaparecida. E isso nos coloca em contato direto com seus pensamentos e sentimentos. O que abala nossas estruturas. Foi bem difícil acompanhar a dor dessa mãe, a sensação de culpa e impotência... a forma como ela deixa de viver, de sentir prazer em qualquer coisa, pois passa dia após dia esperando que sua filha volte, que esteja bem... mesmo sabendo, nos momentos de maior dor, que isso é praticamente impossível. Que as chances são mínimas. 

"O que eu tinha perdido? Quais pistas eu precisava entender antes que fosse tarde demais?"

A construção da história e dos personagens foi primorosa. Embora vejamos tudo do ponto de vista da Jennifer, os demais membros da família, bem como outros personagens, têm papéis significativos e personalidades próprias perfeitamente moldadas pela autora. Porque tudo precisava estar em seus devidos lugares para criar o que ela pretendia. E ela foi muito bem-sucedida. 

O suspense do livro quase me matou, claro.kkkkkkk... Os que mais me abalam são justamente os que se desenvolvem lentamente. Quando o livro é mais ágil, corrido, as cenas de ação me provocam um golpe atrás do outro, meu coração acelera e fico agitada, gelada, nervosa querendo saber e ao mesmo tempo temendo o que vem a seguir. Só que em livros em que os autores optam por uma narrativa mais lenta, desconstruindo tudo devagar, pouco a pouco mesmo... eu quase surto. Porque o suspense atinge um nível insuportável para mim.kkkkk... Eu fico mais tensa, temendo até o movimento mais inofensivo de cada personagem, como se a qualquer momento a bomba fosse explodir, entende? É angustiante isso.rs

"[...] o rosto dela está em todos os lugares. Às vezes, a necessidade de saber o que aconteceu é mais forte do que consigo aguentar."

Existem muitas coisas sobre as quais eu gostaria de comentar. Só que sinto que posso acabar revelando demais, uma vez que coisas aparentemente sem importância têm sim motivo para estarem no livro. Isso me limita na hora de escrever a resenha, pois em thrillers psicológicos o suspense é essencial e se eu falar demais estrago tudo. É aquele gênero em que spoiler realmente prejudica. 

- Não amei a protagonista em todos os momentos. Apesar de ter dado 5 estrelas ao livro (seria impossível não fazer isso, pois é maravilhoso!), existiram determinadas cenas em que tive vontade de esganar a Jennifer. Pela maneira como ela ficava apática, aceitando a culpa que lançavam sobre ela. Tudo tinha desmoronado, sua vida era um inferno, só Deus sabia o que tinha acontecido com sua menina, mas os outros estavam preocupados em culpá-la de uma forma ou de outra e ela aceitava isso! Não fazem ideia de quanta raiva eu sentia nesses momentos! Como todo ser humano e todas as mães, Jennifer não era perfeita. Cometia erros sim. E tinha todo o direito do mundo de ter uma carreira, trabalhar fora, ter o próprio hobby se quisesse. Ser mãe não a impedia de ser mulher e ser profissional. Mas todos queriam era jogar sobre seus ombros a culpa por tudo. Porque se ela estivesse em casa, se fosse presente teria evitado a tragédia. Pura hipocrisia isso! Nenhuma mãe é obrigada a abrir mão do trabalho só porque tem filhos. Eu não culpei a Jennifer em nenhum momento. Ela tinha suas falhas, não era uma máquina (sendo que até as máquinas falham), e não enxergava tudo, mas criara três filhos da melhor maneira que conseguiu. Cada qual tinha sua própria personalidade e ela não podia estar 24 horas do dia com eles, para saber tudo, para ver se alguém olhava para um deles de forma diferente, para adivinhar que alguém pretendia fazer algum mal. Como se não bastasse toda a dor que era obrigada a suportar ainda tinha que conviver com a culpa que jogavam sobre seus ombros e ela aceitava. Imaginem como não foram os dias dela! :(

Eu não sei se "amo" (bem entre aspas!) ou odeio com todas as minhas forças o final.kkkkkk... Como eu disse para vocês fiquei em choque. Não que eu não tivesse considerado aquilo. Quando lemos um livro de suspense aprendemos a suspeitar de tudo e todos e imaginar diversos finais. Claro que eu tinha pensado em algo do tipo, ainda assim foi um choque. Eu já tinha aprendido a odiar tal personagem... conforme o livro se desenvolvia, minhas desconfianças sobre o personagem aumentavam. Mesmo assim eu ainda duvidei, pensei que estava pegando implicância à toa. Mas não! Tinha realmente motivos para odiá-lo. Só que a autora solta as pistas tão lentamente e gira em torno de todos que é impossível não ficarmos horrorizados com a maneira como tudo termina, quando há o desfecho. Eu pensei naquela possibilidade, mas não podia prever que seria como foi. 

Já sabem que recomendo, certo? :) Quero ler outros livros da autora!



Com esta leitura cumpri o tema do mês de maio do Desafio 12 Meses Literários. E foi uma excelente escolha! :D
Topo