Mostrando postagens com marcador Literatura Dinamarquesa. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Literatura Dinamarquesa. Mostrar todas as postagens

10 de fevereiro de 2018

Morte Invisível - Lene Kaaberbol e Agnete Friis

(Título Original: Et stille umaerkeligt drab
Titulo americano: Invisible Murder
Traduzido do inglês por: Marcelo Mendes
Editora: Arqueiro
Edição de: 2015)


Série Nina Borg - Livro 2


Em meio às ruínas de um hospital militar soviético no norte da Hungria, Pitkin e Tamás procuram antigos suprimentos e armas que possam vender no mercado negro, até que acabam encontrando algo mais valioso do que poderiam imaginar.

Ali está a esperança dos meninos ciganos de deixar a pobreza, de quitar as dívidas da família, quem sabe de se livrar um pouco do preconceito que sofre o seu povo. Porém, suas boas intenções podem provocar a morte de um número alarmante de pessoas.

Na Dinamarca, a enfermeira Nina Borg também se preocupa com o bem-estar dos desfavorecidos, e por isso colocará sua vida em risco mais uma vez. Chamada às pressas para cuidar de um grupo de ciganos húngaros, ela descobre uma doença misteriosa que se espalha de forma implacável. Ao investigar o caso, percebe que há algo de podre em toda aquela história, um segredo perigoso, guardado a sete chaves pelos imigrantes, que pode envolver terrorismo e fanatismo.

Nesta continuação de O menino da mala, Nina acabará colocando sua família na mira de criminosos e se verá diante de uma crise sem precedentes que mobilizará o país.



Palavras de uma leitora...



Ele só queria mudar de vida...

Ao invadir o que restou de um antigo hospital soviético, Tamás não sabia o que encontraria. Tinha esperança de achar algum objeto de valor, que pudesse vender e assim ter algum dinheiro para levar pra sua família. Tinha apenas 16 anos e embora pudesse ser considerado imaturo para a idade, conhecia muito bem a vida e suas injustiças. Sabia o que era não ter o que comer, passar anos num orfanato, separado de seus irmãos, pelo simples fato de sua mãe ter adoecido. Embora possuísse outros parentes que lutaram para não permitir que os levassem, o governo não quis saber. O sistema odiava os ciganos e aproveitaria qualquer oportunidade para tirar as crianças dessas famílias. 

Desta forma, ele cresceu rodeado pelo preconceito, os olhares de desprezo, a miséria tão arraigada nos ciganos que viviam naquele país. Encontrava nas traquinagens uma forma de fuga, de esquecer por alguns momentos aquela realidade, ao mesmo tempo que entrar naquele hospital o fazia ter esperanças de conseguir dinheiro. Assim, foi um choque e uma alegria enormes descobrir, numa parte isolada do hospital arruinado, algo capaz não só de fazê-lo conseguir alguns trocados, mas de tirar sua família de uma vez por todas daquela miséria. Com a fortuna trazida pela venda daquela coisa, eles nunca mais seriam marginalizados, tudo seria diferente. Os sonhos iam se atropelando em sua cabeça enquanto ele se aproximava de sua fonte de esperança, até agarrá-la e levá-la consigo. Sem saber... Sem ter a menor ideia da destruição que poderia provocar...


Ele só queria esquecer o passado...

Um brilhante estudante de Direito, Sandor preferia passar seus dias trancado no quarto estudando do que saindo com seus colegas de faculdade. Sabia o que era crescer na pobreza, sofrer privações e humilhações por ser metade cigano. Não importava para os outros que seu pai fosse húngaro, eles só enxergavam seus cabelos negros e seus traços mestiços. Fora levado pelo pai, afastado daquela realidade, mudara de nome, mas nada bastou. Ainda recebia olhares de desconfiança nas ruas, não podia sequer entrar num táxi sem que o motorista o visse como um criminoso. Era uma situação insuportável, mas ele encontrava consolo no Direito, no desejo de mudar alguma coisa, de defender as pessoas. Porém, todo o seu futuro vai por água abaixo quando seu irmão aparece em seu caminho, trazendo de volta o passado e a certeza de que não adiantava lutar, que não havia uma saída. 


Ela só queria ajudar as pessoas...

Depois de todos os riscos que correu ao salvar um menino trancado dentro de uma mala, Nina sabia que deveria se afastar do seu trabalho clandestino, que não podia mais ajudar imigrantes ilegais. Deveria seguir em frente como enfermeira na clínica em que trabalhava e deixar para trás a Rede. Não podia arriscar seu casamento e seus filhos. Todavia, a humanidade que a fez entrar naquele esquema perigoso a fazia sempre atender o celular e ir correndo quando seus serviços se faziam necessários. Não podia sair. Porque eram poucos aqueles dispostos a socorrê-los, a ajudar aquelas pessoas que fugiam de seus países na esperança de encontrar uma chance. Que estavam assustadas e não podiam buscar atendimento num hospital. Elas precisavam de Nina e enquanto houvesse alguém que necessitasse de sua ajuda, ela continuaria. Por mais que estivesse colocando em risco tudo o que possuía, incluindo seu marido e filhos. 

Porém, daquela vez foi diferente. Ao receber a ligação de seu contato na Rede, Nina hesitou. Por mais que seu coração dissesse que ela deveria ir, um instinto mais forte a fazia perceber o perigo mais palpável do que em qualquer momento anterior. O mais sensato seria recusar, ir para o acampamento com seu filho pequeno e esquecer toda aquela história. Mas existiam crianças doentes e jamais se perdoaria se elas morressem porque ela se negou a ajudar. 

Ao chegar na oficina em que um grupo de ciganos se escondiam, vindos da Hungria para a Dinamarca, ela foi recebida com hostilidade e desconfiança. Já tivera problemas com pacientes ciganos no passado e não simpatizava muito com eles. Não eram capazes de receber socorro com gratidão, vendo sempre nos outros uma ameaça. Mesmo assim, pensando nas crianças, ela entrou. 

O quadro não parecia tão mal como seu chefe a fizera pensar. As crianças estavam doentes, isso era um fato, e existia um bebê que estava pior do que os demais, mas nada que pudesse ser considerado sério. Provavelmente elas tinham contraído uma virose estomacal que passaria sozinha após alguns dias. Necessitavam de hidratação e alimentos. Logo estariam bem. 

Todavia, os dias se passam e mais pessoas adoecem. O bebê não apresenta melhoras e o vômito começa a conter sangue. Que doença seria aquela? O que estaria acontecendo ali? Tudo se agrava quando a mãe do menino, também doente, lhe mostra o vômito que era puro sangue de alguém que não estava mais ali. Olhando para aquele líquido escuro, Nina poderia imaginar o que teria acontecido com aquela pessoa. Se ainda estivesse viva não seria por muito tempo. 

Após o contato direto com aqueles ciganos, sintomas semelhantes começam a aparecer em Nina. Ao perceber que provavelmente contraíra a mesma doença que eles, Nina toma a decisão de levar as crianças para um hospital, não importando o fato de serem ilegais no país. Algo sério estava se passando e já não era possível esperar. Mas ao tentar convencê-los da gravidade da situação, é ameaçada pelos ciganos e obrigada a fugir às pressas do local. 

Quando um corpo em péssimo estado é encontrado dentro de um tanque, o que era só um caso de imigrantes com uma doença misteriosa e contagiosa, se transforma em caso de Estado. O que quer que estivesse acontecendo colocava em risco a segurança nacional e a vida de milhares de pessoas. 

Doente, sendo interrogada por policiais e perseguida por criminosos, Nina necessitará de toda sua força de vontade para sobreviver e salvar sua família. 

"Se no mundo ainda houvesse quem se oferecesse para salvá-lo, ótimo. O mundo andava mesmo precisando de salvação."

- Após ler O menino da mala, eu fiquei com vontade de ler a continuação da série, embora o título me deixasse com um pé atrás.rsrs Morte Invisível somado à capa que contém objetos cirúrgicos e sangue não era lá muito animador. Por isso, evitei a história, pois temia o que pudesse encontrar. Mas a verdade é que o livro é bem diferente do que eu pensava. 

Eu simpatizei muito com a Nina quando a conheci no livro anterior. Me angustiava a maneira como a família dela a rejeitava só por ela ajudar outras pessoas. Reconheço que ela se arriscava, que não era um trabalho fácil, mas ela estava sendo humana. Socorrendo pessoas que necessitavam muito de ajuda e não tinham com quem contar. Como ela poderia simplesmente olhar para o ouro lado, fingir que não via? Quando seus conhecimentos de enfermagem poderiam salvar aquelas vidas!

No fim do primeiro livro, as coisas não estão muito boas entre a Nina e o marido. Sabemos que só seria necessário um pretexto para o casamento desmoronar de uma vez por todas. Nossa protagonista também era consciente disso e ela realmente tenta se afastar da Rede, dedicar-se unicamente ao trabalho na clínica e à sua família. Mas tudo foge ao seu controle e, neste segundo livro, ela acaba envolvida em algo maior, muito mais sério e letal. E se o casamento estava em crise na história anterior dá para vocês terem uma ideia do que se passou nesta história. :(

- Não há muito que eu possa falar sobre o livro sem acabar revelando demais. As autoras nos trazem a realidade de minorias marginalizadas, abusadas de diversas formas, humilhadas por não serem de uma etnia "aceitável". Elas nos fazem encarar a situação desesperadora de ciganos húngaros, a enorme pobreza e desesperança, as escolhas ruins que se veem obrigados a fazer para tentar uma mudança. Também nos trazem de volta o abuso sexual que uma personagem suportava na primeira história só para não ser deportada. Nos mostram o desfecho da vida dessa personagem e nos fazem encarar que muitas vezes o sistema judiciário é parcial, funcionando para quem bem entende. 

Elas também falam de tráfico de pessoas e exploração sexual neste livro, mas o enredo gira em torno dos ciganos, da doença misteriosa, terrorismo e fanatismo religioso. E o final da história não é imprevisível. O livro contém suspense, claro, mas é muito fácil perceber a ligação entre os personagens e quando descobrimos do que se tratava a tal doença tudo se resolve perfeitamente em nossa mente. Muito antes das autoras revelarem nós já sabemos quem estava por trás de tudo aquilo e qual era o motivo. 

- Dei 4 estrelas ao livro no Skoob, mas a verdade é que tive muitas dúvidas. Não conseguia decidir se a história merecia 4 ou 3 estrelas.rsrs Não é de modo algum ruim. Admiro as autoras por terem tocado em temas que muitos escritores evitam. Elas costumam escrever sobre situações que se passam no país delas, na Dinamarca. Trazem para a ficção a realidade. Todavia, tive que tentar sair das primeiras páginas do livro umas três vezes antes de finalmente conseguir. O livro não te prende no início, ele demora muito para envolver. Além disso, não gostei muito da falta de profundidade que foi dada a certos personagens. Eles ficaram "rasos", tinham participação importante, mas foram pouco desenvolvidos. E isso acabou prejudicando o livro, na minha opinião. 

Isso não significa que pararei de ler a série. Sigo gostando muito da escrita dessas autoras e a protagonista Nina me encanta! Quero saber como se resolverão as coisas na vida dela nos próximos livros. 


Livro anterior:

O Menino da Mala

25 de dezembro de 2017

Conto de Fadas: A Pastora e o Limpa-Chaminés - Hans Christian Andersen (extra: O Anjo)



- Olá, meus queridos!

Então é Natal! :D E eu disse para vocês que apareceria aqui, lembram? A semana passada foi extremamente corrida, uma loucura, e por esse motivo não consegui vir ao meu cantinho. Mas irei compensar minha negligência aparecendo mais vezes nesta semana. Ou tentando, pelo menos.kkkkkk... 

Como vocês bem sabem, estou viciada em contos. Este foi o ano em que li mais contos em toda minha vida e foi uma experiência fantástica, realmente maravilhosa! Quero seguir assim em 2018. :)

E entre os meus contistas preferidos está o Hans Christian Andersen, um dos grandes autores de contos infantis de todos os tempos, que escrevia contos variados e chegou a apostar em contos de fadas com finais nada felizes e que não consigo encarar como histórias para crianças. Porém, mesmo as histórias dele que me fazem chorar conseguem me encantar de uma forma incrível. Ele tinha magia em suas palavras, era capaz de nos envolver logo na primeira frase e prender nossa atenção até o desfecho desejável ou não

Neste dia de Natal eu lhes trago a resenha de A Pastora e o Limpa-chaminés, um conto que li às cegas, pois nada sabia da história. Até já vi mencionarem este conto em algum desenho ou série, mas não sabia absolutamente nada sobre ele. Confesso que tive medo. Estava receosa do final ser infeliz como o de A Pequena Sereia, por exemplo. Felizmente, as coisas são distintas neste aqui.rs

Era uma vez uma linda pastorinha de porcelana. Uma boneca delicada e frágil, apaixonada por um limpa-chaminés que conhecia de toda sua vida e de quem se fez noiva. 

"Passavam o tempo um com o outro. Eram gente nova, eram da mesma porcelana e ambos igualmente quebráveis."

Porém, a beleza dela logo despertou o interesse de alguém mau, que já possuía onze esposas que mantinha trancadas e queria para si a pobre pastorinha, não se importando com o fato dela já ser comprometida e não desejá-lo. Aproveitando-se da influência de um chinês que se considerava avô da jovem menina de porcelana, ele tenta convencê-lo a forçar a pastora a se casar com ele. O chinês, tomado pelo interesse, obriga a menina, jurando que ela irá casar-se com o sargento mau e rico, querendo ou não. 

Desesperada, a pastorinha pede ao seu amado que fuja com ela, que a acompanhe pelo mundo afora, onde pudessem ser felizes juntos, longe daqueles que desejavam separá-los. Apaixonado, o limpa-chaminés aceita fugir com sua noiva, disposto a sustentá-la com sua profissão, lutando pelo amor dos dois. 

E... Será que o casal conseguirá escapar daqueles que desejam separá-los por cobiça? E o mundo que os aguarda? Será menos ameaçador?

- A história é bem curtinha e se eu falasse mais acabaria contando tudo.rsrs Por isso, preferi parar. É um conto tão fofo que vale a pena ser lido. A pastorinha não é uma heroína das mais corajosas. Muito pelo contrário.kkkkkkk.. Todavia, penso que no lugar dela eu também teria medo. Consigo compreendê-la.rs


O Anjo é o conto extra que li e não tinha muita certeza se comentaria ou não. Difícil decidir se ele teve um final feliz. Hans Christian era um autor brilhante, crítico quando queria, dando grandes lições em suas histórias, mas também amante de finais dúbios ou infelizes. 

A história mal começa chega ao seu final. É realmente algo que lemos em aproximadamente cinco minutos de tão rápido que é. 

"Cada vez que uma criança morre, desce um anjo de Deus à Terra, toma-a nos braços, abre as grandes asas brancas, voa sobre todos os lugares de que a criança gostou, e colhe toda uma mão-cheia de flores, que leva a Deus, para aí florirem ainda mais bonitas do que na Terra."

Este conto nos fala da vida após a morte das crianças que partem cedo demais, seja pelo motivo que for. Crianças que estavam doentes, crianças que como nossa Pequena Vendedora de Fósforos, morreram vítimas da fome ou de outras situações. O conto não se concentra na causa, mas sim no momento de partida, quando um anjo vem do céu e as leva em seus braços, envolvendo-as em suas asas e passando pelos lugares preferidos delas, levando consigo recordações e flores. 

Lá no céu, elas são recebidas por Deus para uma vida de felicidade, onde não existe dor. Onde tem música e beleza, onde não falta amor. 

Em uma de suas inevitáveis viagens à Terra para buscar mais um pequeno que partia cedo demais, um determinado Anjo pega em seus braços a criança que partia, a beija e juntos escolhem as flores que seriam levadas. Flores machucadas, esquecidas e abandonadas pelos homens eram as mais escolhidas, pois no Céu teriam de volta a vida, seriam tratadas com carinho por Deus. 

"A criança ouvia-o como num sonho, enquanto iam passando sobre jardins com lindas flores, e lugares onde, em vida, brincara."

Naquela ocasião em particular, o Anjo demorou a voltar ao Céu. Necessitava fazer algo antes. Buscar uma flor especial. Uma flor que possuía uma história. E então... ele conta à criança que coisas aquela flor havia testemunhado. Uma história de dor, mas também de amor... de beleza nas simples coisas da vida. 

"– Mas como sabes tudo isso? – perguntou a criança ao anjo que a levava para o Céu.
– Sei-o! – disse o anjo. – Era eu próprio o rapazinho doente que andava de muletas! Conheço bem a minha flor!"

- O desfecho deste conto é muito lindo, por mais que nos dê algo em nosso coração. Deixou uma mensagem de esperança, de enxergar o que importa na vida, o que vale a pena. De acreditar que existe algo além. Que o final não é realmente o fim. É um dos contos mais bonitos que já li. 




Feliz Natal, queridos!

Que seja um dia de amor, paz, união e felicidade! Que recordem o verdadeiro sentido deste dia tão especial e mágico. Do dia que simboliza o nascimento de Jesus Cristo. Natal não é Papai Noel ou ganhar presentes, vestir roupas novas e comer todas as guloseimas que evitamos o ano inteiro (risos). Claro que podemos fazer todas essas coisas sem problema algum. Eu própria vesti minha gatinha de Gata Noel (e ela ficou linda!!!), mas não podemos esquecer o significado real deste dia. É um dia mágico! É um dia de Amor. Não deixem o aniversariante de fora da festa! Amo vocês! :) 

Bjs!

15 de dezembro de 2017

Conto de Fadas: A Pequena Sereia - Hans Christian Andersen



Ao ler o título deste conto você provavelmente pensou imediatamente na sereia mais conhecida do mundo! E não é a Iara, claro (apesar de eu amar essa lenda folclórica! Amo folclore!!!)! Estou falando da Ariel, nossa pequena sereia da Disney, tão querida, divertida, bondosa e bela! Que vive grandes aventuras pelo amor do seu príncipe querido e é recompensada ao vê-lo se apaixonar por ela, quebrando o feitiço da bruxa e vivendo felizes para sempre. Ah, que belo conto de fadas! Um dos meus preferidos da infância. Via muitas e muitas vezes. E podia jurar que conhecia de cor e salteado a história. Afinal de contas, eu li o conto quando mais nova. Ledo engano! O que eu tinha lido e não fazia ideia foi a versão romantizada da Disney. Uma versão bem mais leve e com final feliz garantido. Uma versão que não é a verdadeira. 

Escrito no século XIX por um dos meus contistas preferidos, A Pequena Sereia está longe de ser aquele tipo de conto que nos deixa com o coração leve e um sorriso sonhador nos lábios. Muito pelo contrário. Terminei a leitura com os olhos cheios de lágrimas, uma raiva intensa e a certeza de que o autor estragou para sempre a lembrança linda que eu tinha da versão da Disney. Se eu decidir ler todas as histórias deste autor, certamente passarei a ver os contos de fadas com outros olhos. :(

Quer conhecer a história original? Eu te contarei, mas saiba que isso significa que a resenha terá spoiler. Fica o aviso!

No fundo do mar, além dos olhos humanos, existe um reino habitado por diversos seres do mar, que vivem suas próprias vidas de maneira semelhante e ao mesmo tempo distinta dos seres humanos. O Rei dos Mares é já um senhor, que há muito tempo ficara viúvo e cuidava das seis filhas com a ajuda de sua mãe, uma sereia majestosa que apesar de amar a vida no mar muito conhecia do mundo dos homens. Um mundo que apresentaria para sua neta mais nova sem ter ideia das escolhas fatais que aquela pequena sonhadora faria. Se soubesse talvez jamais lhe tivesse contado nada. Se soubesse... Talvez a tivesse impedido. 

Aos dez anos de idade, a pequena sereia, a mais nova das seis irmãs, era uma menina calada e aparentemente triste que sonhava com o mundo que existia para além das águas do seu reino. Ela desejava intensamente ver as coisas que as outras sereias já tinham tido oportunidade de ver, mas somente quando completasse 15 anos poderia realizar o seu sonho. 

O tempo parece não passar, mas quando finalmente o seu dia chega, sua avó a prepara e nossa sereiazinha vai a superfície e seus olhos enxergam pela primeira vez o mundo dos humanos. Aquele mundo que ela tanto tinha desejado. Dividida entre o encantamento e o medo, ela vislumbra um navio próximo onde os marinheiros comemoravam o aniversário de alguém. Logo ela percebe que era um príncipe que estava fazendo aniversário. A criatura mais linda que já vira. Sem saber ao certo o que seu coração sentiu ao vê-lo, ela não consegue retornar para casa. Fica presa a ele, de uma maneira que destruiria toda a sua vida. 

Enfeitiçada por sua beleza, seu riso, sua voz... Inicialmente, a sereiazinha fica feliz ao notar a aproximação de uma violenta tempestade, mas logo sua felicidade dá lugar ao medo, porque acaba lembrando-se que os humanos não conseguem respirar debaixo d'água, que se afundasse o seu príncipe morreria. Disposta a fazer o que fosse preciso para salvar sua vida, ela nada ao seu encontro e o resgata da morte. O leva até um mosteiro e fica escondida esperando que alguém o encontre e o leve para dentro. Quando finalmente retorna para o mundo do qual não deveria ter saído, a pequena sereia não consegue se livrar da imagem dele, da dor que sentia no coração. Ela queria fazer parte da sua vida. Queria o seu amor. 

Após ouvir uma história, quase uma lenda, contada por sua avó, descobre o que precisava fazer para estar ao lado do seu amor. Ela vai até a bruxa dos mares e sacrificando a sua voz, o dom mais bonito que possuía, passa a ter pernas humanas no lugar da cauda e a oportunidade de poder ir ao mundo dele, de permitir que ele a conheça. Todavia, como diria um certo personagem de Once Upon a Time, toda magia tem um preço. Além de perder a voz, a vida da sereia também corria riscos. Porque se seu príncipe não se apaixonasse por ela, o seu próprio coração pararia de bater e ela morreria. 

Apaixonada, acreditando que ele poderia amá-la, ela larga a sua casa, sua família que tanto a queria e vai embora sem olhar para trás. Estava disposta a morrer, se fosse preciso. Porque o que não suportaria seria uma vida sem ele. 

"Neste momento passeia de barco, certamente, aquele a quem quero mais do que a minha mãe e a meu pai, aquele que é o meu único pensamento e em cujas mãos deporia o destino da minha vida."

Ela acredita. De todo seu coração. E paga caro demais por isso...

- Esqueçam aquele príncipe apaixonado do filme da Disney. Neste conto, o que vocês conhecem é um homem egoísta, que estava acostumado a ter todas as suas vontades satisfeitas e que quando encontra nossa sereia ingênua caída, a leva para seu palácio, mas não porque se apaixona à primeira vista, mas sim para ter mais uma escrava lhe servindo. 

A veste belamente, claro. Ela era sua escrava de luxo. E ele era até bondoso ao ponto de permitir que ela dormisse à porta do seu quarto! Para onde fosse a levava com ele. Ficava fascinado com a sua submissão, com a maneira como ela o idolatrava, mas não passava por sua cabeça amá-la e muito menos casar-se com ela. Gostava dela, a beijava e não pensava em um dia mandá-la para longe, mas era outra que escolheria como esposa. E a mulher que possuía seu coração era aquela que ele acreditava que tinha lhe salvado a vida. 

Sem voz por conta da escolha que fizera para estar ao lado dele, a sereia não podia lhe confessar a verdade. Que tinha sido ela quem tinha salvado sua vida. Mas, mesmo que tivesse voz, permaneceria em silêncio, pois nada seria capaz de fazer para aborrecer ou entristecer o homem que amava. Dele suportava tudo, acreditando sempre que em algum momento ele olharia para ela e perceberia que a amava. Nem mesmo quando ele viaja para conhecer sua futura noiva, ela desanima. 

- Esta história não termina bem, queridos. Quando o príncipe desgraçado deste conto olha para sua prometida, ele a reconhece como a donzela do mosteiro, a mulher que ele acreditava que tinha lhe salvado. Maravilhado, ele casa-se com ela, feliz da vida, sem nunca sequer pensar naquela que o seguia por todas as partes, que fazia suas vontades, que ele sabia que o amava. Não. Ele ainda quer que ela fique feliz por ele, justamente por amá-lo! Dá ou não dá vontade de matar o miserável?! 

Com o coração em pedaços, nossa protagonista se conforma com o seu destino. Porque quando o dia amanhecesse, sua vida terminaria. Sabia o preço que teria que pagar pelo feitiço que a levou até ele. Mas não se arrependia. 

Pouco antes do amanhecer, suas irmãs surgem da água, com os lindos cabelos cortados, outro sacrifício de amor. Elas, desesperadas, tinham ido até a bruxa em busca de uma alternativa. Uma maneira de salvar a irmã do seu destino e em troca de uma resposta a bruxa ficou com os cabelos delas. Existia uma forma da sereiazinha livrar-se da morte. Era muito simples (para não dizer todo o contrário): bastava que ela cravasse a faca que a bruxa entregou às suas irmãs no coração do príncipe. Porque quando o sangue dele fosse derramado, ela estaria livre.

- Não é preciso dizer que ela jamais faria algo assim e a bruxa bem sabia disso. Ela sacrifica-se outra vez. E ao amanhecer sua vida termina. Uma vida desperdiçada por um amor que nunca foi correspondido. Por alguém que jamais a mereceu. 

Bem... Não há dúvidas que a Ariel teve um destino muito diferente da sereia inocente e cegamente apaixonada que a inspirou. 

"A sereiazinha, toda vestida de ouro e prata, segurava a cauda da noiva, mas os seus ouvidos não ouviam a música festiva, os olhos não viam a cerimônia religiosa: pensava apenas na noite da sua morte e em tudo o que havia perdido neste mundo."

- Existem imensas diferenças entre a versão original e a versão "realmente infantil". Há muita dor neste conto aqui. A sereia não perde a voz simplesmente porque a bruxa fez um feitiço e transferiu sua voz para ela. Não. É bem pior que isso. E ao trocar a cauda por pernas, nossa protagonista era obrigada a suportar dores terríveis, como se facas cortassem suas pernas durante todo o tempo. E ela tudo aguentava por amor. É a Amélia do conto de fadas, sem dúvidas. 

A situação da nossa altruísta, abnegada mocinha, me fez pensar em tantas e tantas mulheres que largam toda a sua vida por um homem, pelo "seu grande amor". Elas dão às costas para a família, amigos, largam os estudos, o trabalho, tudo por eles. Se apanham suportam, porque não podem estar sem eles, porque acreditam que eles irão mudar e que se batem nelas é porque se importam. Absurdo, não é mesmo? Mas existem muitas mulheres cegas assim. Se eles as traem, elas choram em silêncio porque no fim das contas eles continuam querendo-as, são elas que estão ao seu lado, que vivem com eles. Se voltam para elas é porque as amam. Pelo menos, é nisso que preferem acreditar. Quanto mais eu lia sobre as coisas que a mocinha suportava pelo homem que ela amava, ao ponto de estar disposta a morrer se não tivesse o seu amor, mais chocada eu ficava. Sobretudo porque a história lembra muito a vida real. As mulheres que entregam tudo por homens que não as merecem. 

O final do conto não é nada inspirador. Alguns podem dizer que ela teve um final feliz, pois foi presenteada com a POSSIBILIDADE de vir a ter alma dali a trezentos anos depois de morta.kkkkkkkk... Sério, isso parece piada! 

Deixa eu explicar para vocês. Segundo o conto, sereias não têm alma. Não importa o quanto sejam boas, quando morrem viram espuma do mar e ponto final. Não existe uma vida depois. Uma alma que sobreviva ao corpo. Mas a sereia desta história desejava muito ter uma alma. Não era justo que os humanos pudessem ter uma vida após a morte e ela não. Então, como recompensa por seu bom coração, ao morrer ela não vira espuma do mar e sim uma Filha do Ar, um tipo de anjo que guarda as crianças. E se ela fizesse bem seu trabalho dali a trezentos anos poderia ir para o céu. Porém, se ela encontrasse crianças malcriadas em seu caminho mais distante se tornaria tal chance. 

"Pelo contrário, se se nos depara uma criança malcriada e má, vertemos lágrimas de tristeza e por cada lágrima vertida é aumentado em um dia o nosso tempo de prova."

Aí percebemos que tal final servia para assustar as crianças que ouvissem esse conto e assim elas se comportassem para que as Filhas do Ar pudessem ir logo para o céu e serem felizes. Definitivamente, está aí um conto de fadas que eu jamais contaria para um filho meu ou qualquer outra criança. Que elas mantenham a linda ilusão do conto da Disney. É mais saudável. 

11 de dezembro de 2017

Conto: A Pequena Vendedora de Fósforos - Hans Christian Andersen

Google Imagens


Têm pessoas que temem tanto o inferno... Que dedicam-se a ser religiosas, seguirem as leis das Escrituras para poderem ir para o céu... Teme-se um inferno de fogo, mas, muitas vezes, o inferno se vive aqui. Neste mundo mesmo. 

Então é Natal, não é mesmo? A festa cristã. Uma das minhas datas preferidas. Relembramos o nascimento de Jesus Cristo, do nosso Salvador. Do menino que nasceu humilde, numa manjedoura e nos deu a Maior prova de Amor. Deu a própria vida por nós. É uma data que amo. Mas enquanto escrevo aqui, não consigo parar de chorar. Estou destroçada. Ao ler o conto que estou lhes trazendo hoje, não fazia a menor ideia do que encontraria. E que ele partiria o meu coração assim, em mil pedaços. 

Logo, logo, chegará o novo ano... 2018. Fazemos tantos planos! Será que sermos pessoas melhores está entre eles? Colocamos em nossa listinha de coisas que necessitamos fazer o tópico "ajudar mais o meu próximo", "me importar mais com alguém além de mim?" 

Antes de começar a resenha, deixo aqui o aviso: terá spoiler. Se ainda não leu o conto e tenciona não saber seu desfecho, pare de ler agora!

"Fazia um frio terrível; caía a neve e estava quase escuro; a noite descia: a última noite do ano. 
Em meio ao frio e à escuridão uma pobre menininha, de pés no chão e cabeça descoberta, caminhava pelas ruas."

- O conto nos traz como protagonista uma pequena menina que num frio insuportável, caminhava pelas ruas, sem sequer um calçado. Ela estava com muita fome e tremia. Não tinha agasalho, nada que a protegesse. Era véspera de ano novo e a cidade ainda estava iluminada pelas luzes de Natal. Só que em sua vida não havia luz. Apenas sofrimento. 

"Dentro de um velho avental carregava alguns fósforos, e um feixinho deles na mão."

Naquele dia, o seu último neste mundo, ela não conseguiu vender um fósforo sequer. Era uma pequena vendedora de fósforos e não desejava retornar para casa, pois sabia o que a aguardava. Não importava que não fosse sua culpa que ninguém tivesse comprado nada. Seu pai a castigaria sem importar-se com o fato de que era ele quem deveria colocar o alimento na mesa e não ela, uma criança apenas, andar pelas ruas contando com a piedade de alguém. Uma piedade que não chegou. 

"O pai naturalmente a espancaria e, além disso, em casa fazia frio, pois nada tinham como abrigo, exceto um telhado onde o vento assobiava através das frinchas maiores, tapadas com palha e trapos."

Sentindo cada vez mais frio e sonhando com a ceia que as famílias daquela cidade estariam fazendo naquela véspera de Ano Novo, a menina sentou-se entre duas casas, tentando encolher-se, tentando fazer o frio passar. Mas aumentava. Cada vez mais. 

Num ato de desespero já, ela resolve acender um dos fósforos que não conseguiu vender. E quando a chama ilumina um pouco a parede perto de onde ela estava, a pequena começa a imaginar... sonhar por alguns instantes. E então acende outro fósforo... até que, num determinado momento, as chamas a fazem ver a única pessoa que um dia a amou. Alguém que partiu. Alguém que lhe fazia falta.

"- Vovó! - exclamou a criança. 
- Oh! leva-me contigo! Sei que desaparecerás quando o fósforo se apagar!"

Ela não podia entender, não percebia... que via a avó porque estava morrendo. Porque o frio e a fome a estavam levando. Então sua avó a busca, a pega em seus braços e a leva embora... para onde não existia mais dor ou fome... ou frio. 

"Sua avó nunca lhe parecera grande e tão bela. Tornou a menininha nos braços, e ambas voaram em luminosidade e alegria acima da terra, subindo cada vez mais alto para onde não havia frio nem fome nem preocupações - subindo para Deus."

A pequena vendedora de fósforos nada teve da vida. Apenas colheu as consequências de um mundo de misérias, injustiças e falta de humanidade. Deu seu último suspiro sozinha, num canto qualquer da rua enquanto muitas famílias naquele mesmo instante sorriam, se abraçavam e comemoravam a chegada de um novo ano. 

"O sol do novo ano se levantou sobre um pequeno cadáver. 
A criança lá ficou, paralisada, um feixe inteiro de fósforos queimados."

- Doeu em você ler esta resenha? Eu a comecei em lágrimas e ainda não consegui parar de chorar. É só um conto, verdade? Essa menina nunca existiu, é só ficção, não há motivos pra chorar. Pois pense de novo! Enormes são as chances de que o autor tenha se inspirado em alguém, ainda mais em pleno século XIX. Só que se você pensar ainda mais irá perceber que a criança deste conto representa milhares, provavelmente milhões de crianças espalhadas por este mundo. 

Hoje mesmo talvez você tenha esbarrado em uma delas na rua ao ir para o seu trabalho, sua escola, faculdade... Quantas vendendo balas? Quantas te parando num restaurante ou lanchonete, te pedindo para pagar um lanche, pois estão com fome? Quantas crianças nesta vida desejando tão pouco enquanto reclamamos por banalidades! Reclamamos por tudo sempre. Enquanto isso muitas crianças, e adultos também, desejariam apenas ter um prato de comida e uma cama quente para dormir. Um teto. O mínimo possível para viver. Isso seria um sonho para elas. O que a gente dá como certo todos os dias, a comida que jogamos fora, que deixamos estragar, é o que falta a essas pessoas. É algo que elas não têm. 

A Pequena Vendedora de Fósforos não é um conto de fadas. É um conto da vida real. O balde de água fria que muitas vezes necessitamos que seja derramado sobre nossas cabeças, o choque de realidade que precisamos para acordar. 

Mais um Natal se aproxima. Mais do que rezar ou orar, mais do que estar em família celebrando o amor, faça algo por alguém neste Natal! E não só no Natal...

Que todos os pequenos anjos que partiram desta vida estejam descansando nos braços de Deus, é o que eu desejo! Mas desejo ainda mais que o amor seja despertado em nossos corações para que possamos evitar que mais anjos partam prematuramente. Falta demais o amor em nossas vidas, neste mundo. Amar era tudo o que Jesus queria de nós. Só queria que amássemos. Fez tudo por Amor. É hipocrisia celebrarmos o Natal se pensamos apenas em nós mesmos. 

- Recomendo muito que leiam este conto! Que o espalhem por aí, sobretudo nesta época do ano! E que deixem que ele atinja seus corações. 

24 de novembro de 2017

Conto: O Patinho Feio - Hans Christian Andersen



Será que existe alguém que não conhece este conto? Duvido muito! Mesmo que jamais tenha lido certamente conhece a história. 

- Eu podia jurar que já tinha lido O Patinho Feio. Todavia, conforme fui lendo-o hoje, percebi que tudo o que eu conhecia do conto era de tê-lo ouvido e também visto em desenhos animados. Nunca antes tinha realmente chegado a lê-lo. Até agora, claro. 

Era uma vez uma pata que já estava tremendamente cansada de ficar deitada esquentando os ovos que deveria chocar. Queria que seus filhotes nascessem logo para que ela pudesse ensiná-los a nadar e assim voltar a socializar com as demais patas e suas famílias. E, num belo dia, seus filhotes saíram dos ovos, exceto um. Desesperada e um tanto irritada já, voltou a sentar-se, aguardando que esse parasse de preguiça e abandonasse o ovo para unir-se aos demais. Porém...

Quando seu filhote preguiçoso finalmente "nasceu", a mamãe pata não estava preparada para sua feiura. Enquanto todos os seus outros filhos eram belíssimos aquele mal parecia seu. Dividida entre a repulsa e o instinto maternal, ela tentou encontrar nele qualidades que compensassem a visão desagradável que ele provocava. Isso até ela resolver apresentá-lo às outras famílias. 

Assim que surgiu no pátio dos patos, o pobre patinho feio começou a sentir na pele o bullying que sofreria dali para a frente. Todos o maltrataram, agrediram, ofenderam pelo simples fato dele ser diferente. De não ter a beleza que os demais patos e outros animais com os quais convivia consideravam ideal. Nem mesmo sua mãe lhe dava carinho. O instinto maternal do início deu lugar à vergonha que ela sentia por tê-lo na família. Ele era uma mancha, algo que ela gostaria de ter bem longe. 

Sentindo-se muito triste com a vida que levava, recheada de sofrimento e sendo sempre olhado com desprezo, o patinho feio resolveu fugir, ir pelo mundo... em busca de um lugar em que se encaixasse. Um lugar onde fosse aceito. 

Existiria algo assim? Será que o nosso patinho feio encontrará o que tanto necessita? O amor que nunca recebeu? É necessário ler o conto para saber, não acham? :)

- Na verdade, não. Mesmo antes de ler o conto, eu já o conhecia e sabia como ele terminaria. E não é nenhum spoiler dizer que esse patinho tão desprezado por todos se tornará o mais belo dos cisnes. Porque ele nunca foi um pato. Apenas foi chocado no ninho errado e rejeitado por sua diferença. Como a lagarta antes de virar borboleta, ele não possuía nenhuma beleza exterior enquanto pequeno, mas quando a transformação finalmente aconteceu sua beleza impressionou todos que olhavam para ele. Tornou-se querido, amado. 

Não dá para evitar aquela sensação de que mesmo os Cisnes, que eram sua verdadeira família, somente o aceitaram e até mesmo chegaram a venerá-lo porque ele se tornou bonito. Porque na realidade todos os personagens desta história só se importavam com a beleza exterior. Nenhum deles procurou ver o que aquele patinho tinha em seu interior, se ele era bom, se seria um bom amigo, um dedicado filho... Nada. Se ele não tinha beleza exterior então não servia para nada. Deveria ser fortemente rejeitado e maltratado por isso. Isso é horrível! Ninguém nunca pensou na dor desse patinho, nos seus sentimentos. Nem mesmo no final. 

Me partiu o coração ver sua felicidade por finalmente ser aceito. Porque foi uma aceitação superficial, baseada apenas na beleza que ele desenvolveu. Jamais foi aceito por si mesmo. :(

Topo