30 de janeiro de 2018

Sorrisos Quebrados - Sofia Silva

Tempo de leitura:
(Título Original: Sorrisos Quebrados
Editora: Valentina
Edição de: 2017)


Série Quebrados - Livro 1


- A escuridão nos ajuda a falar o que na luz temos receio.
- Por que motivo?
- A verdade reluz, mas durante o dia seu brilho não é forte o suficiente para fazer as pessoas olharem para ela. É na penumbra que a verdade é soberana. E mesmo quem não quer ver é obrigado, pois é a única que brilha.




Palavras de uma leitora...



- Foram muitas as vezes em que ouvi falar desta história. Sobretudo no final do ano passado, quando acompanhei as listas de melhores do ano de blogueiros e youtubers e vi este livro ser muito mencionado. Pensei: "O que será que ele tem de tão especial? Por que tantas pessoas o amam?" Então esbarrei na história um dia e, impulsivamente, decidi que iria lê-la. Porque eu também queria me apaixonar. Também queria sentir a emoção que o livro havia provocado nos outros leitores. Queria conhecer todas as cores de Paola e André. Mergulhar no mundo deles. 

Quem conhece a história sabe que caí de cabeça. Que foi uma queda bem feia, sobretudo no início. Que me machuquei, me feri profundamente com a dor dos protagonistas. Que sofri com eles. Que não havia outra opção. 

"Como alguém vai acreditar em mim se ele parece ser um príncipe: alto, louro, olhos claros e sorriso apaixonado? As mesmas fotografias em que, se alguém analisar com atenção, perceberá que o meu sorriso, com o passar do tempo, vai diminuindo e a mão dele na minha cintura vai aumentando, apertando, sufocando... Esmagando.
Matando."

 Aos 18 anos de idade, Paola acreditava que estava vivendo seu próprio conto de fadas. O homem que ela amava e poderia ter escolhido qualquer pessoa entre todas as suas amigas que nutriam uma paixonite por ele, também estava apaixonado por ela. A escolhera quando ninguém julgava que isso fosse possível. Nunca imaginou que pudesse ser tão feliz. Mas viveu um dos momentos mais especiais de sua vida quando ele a pediu em casamento. Quanto romantismo! Quanto carinho e atenção! Todos a parabenizaram por sua sorte. E ela, loucamente apaixonada, acreditou que aquele era o início de toda uma vida de amor e felicidade. Que juntos construiriam uma família e se apoiariam em seus sonhos. Nunca passou por sua cabeça que ao lado dele, daquele príncipe encantado de sorriso e olhos amorosos, mergulharia no inferno... e por suas mãos morreria. 

"Passei a ter receio de respirar perto dele, ou parar de respirar nas mãos dele."

O conto de fadas chega ao seu fim ainda na lua de mel. Paola não entendia por que ele se comportava de maneira tão estranha, como se não a quisesse, como se não a desejasse. Tentando compreendê-lo, ela vai relevando seu comportamento e não demora para que pedidos aparentemente provocados por ciúmes normais de um homem apaixonado sejam feitos: não saia hoje, fique comigo. Não vista essa roupa. Não prenda o cabelo assim... Pedidos que se tornam exigências. Palavras de carinho que se tornam agressões verbais até que o primeiro tapa vem. Logo os socos, os chutes, a vida de medo. 

Ela percebe que está presa num relacionamento abusivo. Que o homem que ela amava e um dia a tratou com carinho, não existia mais. Ou, talvez, jamais tivesse existido. Era obrigada a esconder as marcas da família, dos amigos. Não sabia como pedir ajuda, não ia a lugar algum sem ele, pois quando não estava, Roberto soltava os cachorros.... que não hesitariam em atacá-la se ela tentasse sair. Como escapar? Como deixar aquela vida de tormento? Sabia que o tempo estava contra ela. Que não demoraria para que ele resolvesse matá-la. 

"Choro com a certeza de que estes são os meus últimos minutos de vida. Vou morrer. Meu Deus, vou morrer pelas mãos do homem que amei."

Sem saber mais o que fazer, temendo cada passo, cada respiração, cada palavra que pudesse sair de sua boca e provocar novas agressões, Paola resolve fugir. Estava apostando muito, tudo na verdade. Mas continuar não era possível. Com o coração quase saindo pela boca, ela entra no carro... faltava tão pouco! Mais alguns segundos e estaria livre... Só que, o que era para ser o fim de tantos anos de sofrimento, desencadeia acontecimentos que destroem o que restava de sua vida. 

"- Por favor - peço entre lágrimas e choro, sem nunca parar de tentar sair daquele cárcere infernal. 
Desespero e medo. Dor e falta de esperança desabam sobre mim."

O homem a quem ela tinha dado tudo, se entregado por inteiro e aberto mão de sonhos, naquele dia resolveu roubar também a sua respiração. Por mais que implorasse, que gritasse e tentasse fazê-lo pensar, Paola sabia que morreria. Que ele estava decidido, que não existiria piedade. Mas ela luta até o fim. Cada golpe, cada sangue derramado a aproximava mais da morte, porém em nenhum momento ela deixou de tentar escapar, de tentar sobreviver. Até seu coração falhar uma batida e parar. 

"Hoje, cada passo dói. Talvez a dor seja maior porque é aniversário da minha morte."

Seis anos tinham se passado... Seis anos desde o momento em que seu coração parou e os médicos consideraram um milagre que ela tenha voltado, que tenha sobrevivido a todo dano que Roberto causara ao seu corpo. Finalmente estava livre. Não apanhava mais, não vivia presa dentro de sua própria casa. Todavia, agora enfrentava uma prisão diferente. Porque não era possível livrar-se dos fantasmas do passado e de todas as marcas físicas e emocionais que ele lhe deixara. 

Ela tinha apenas vinte e quatro anos quando ele a matou. Agora, com trinta anos de idade, vivia num quarto dentro de uma clínica que cuidava de pessoas que possuíam problemas como os dela, que carregavam cicatrizes de uma vida passada... marcas que recordavam a dor que o amor podia provocar, o dano que tal sentimento causava. Estava naquela clínica porque não tinha coragem de atravessar seus muros e retomar as rédeas de sua vida. Criara um mundo próprio ali, onde as pessoas não ficavam assustadas com sua aparência, onde era compreendida. Onde ninguém podia machucá-la. 

Naquele dia, aniversário de sua morte, a dor estava especialmente mais forte. Tantas lembranças... tanto desespero trancado dentro de si mesma... tentando sair, tentando encontrar consolo. Então ela foi fazer o que sempre lhe dava paz: pintar... colorir a tela com as cores que gostaria de ter em sua vida. Passar para a tela o que sentia. 

"Pinto e grito.
Passado muito tempo, paro.
Fico respirando fundo, olhando para tudo, e rio alto. Não consigo parar de rir. Rio com tanta força que acabo chorando ainda mais descontroladamente. 
Choro e rio ao mesmo tempo.
Sou livre, mais neste dia estou mais presa a ele."

É quando ele a vê pela primeira vez... André convivia com seus próprios demônios e conhecia bem aquela clínica, pois nela sua filhinha de quatro anos passava bastante tempo. Doía até mesmo recordar... saber o que levara seu bebê, sua preciosa menina, a necessitar de tratamento. Sentia o golpe de cada uma das suas falhas, de como não estivera presente quando ela mais precisou. Agora, sua garotinha não era capaz de conviver com outras pessoas, de ser uma criança normal. Vivia com medo, trancada dentro de si mesma. Será que algum dia seria diferente? Ela poderia ser curada? 

Naquele dia, perdido em seus próprios pensamentos, ele mal conseguiu acreditar no que via. Uma mulher estava no jardim da clínica, gritando e jogando tinta sobre si mesma. A cena era perturbadora, mas quando ela o viu, algo ainda mais chocante aconteceu: ela desmaiou. 

Sem saber o que fazer e não tendo ninguém próximo para pedir ajuda, André se aproxima e a pega nos braços, tentando despertá-la. Não consegue perceber que fora a causa do seu desmaio. Que, por algum motivo, ela entrara em pânico ao vê-lo. 

"- Eu não vou te fazer mal. Não sou mau. Não tenha medo. Está tudo bem. Respire. Não vou te fazer mal. Nunca te faria mal."

Aquele era para ser o fim de algo que sequer começara. Por tudo o que tinha passado, Paola instintivamente sente pavor do André ao conhecê-lo. Associá-lo ao Roberto era inevitável. Quanto mais perto ele ficava pior era a sensação de que, a qualquer momento, ele a atacaria e terminaria aquilo que seu marido iniciara. André, por sua vez, quando finalmente entende os sentimentos que provoca naquela desconhecida, se afasta, disposto a nunca mais encontrá-la em seu caminho. Tinha seus próprios dramas e realmente não necessitava fazer mal a ninguém. Porém, a vida tem seus próprios planos e não demora para o caminho dos dois se cruzar novamente... 

Poderiam dois corações quebrados voltar a amar? É possível confiar outra vez quando ainda carregamos as feridas causadas por uma decepção? E seria o amor suficiente para arriscarmos de novo? Para saltarmos mesmo sabendo que talvez não sobrevivamos à queda? 

"Posso estar sendo uma mulher que comete erro atrás de erro, mas há algo nele que vejo em mim. Algo quebrado."

- Não saberia nem como começar a falar desta história. De todos os sentimentos que ela provocou, da enorme angústia que senti ainda nas páginas iniciais quando fui obrigada a assistir tudo o que a Paola enfrentou, sem poder ajudá-la, sem fazer nada para tirá-la dali, para impedir tanta maldade. Eu lia a cena e tremia, sentindo-me no chão, desesperada porque sabia que ninguém a salvaria, que não era possível apagar o que estava acontecendo. Foi horrível. E pensei sinceramente em interromper a leitura. Porque eu não suportei tanta dor. Porque foi uma cena extremamente pesada para mim. 

Porém, se não podia salvá-la, o mínimo que eu poderia fazer pela Paola era acompanhar sua história. Vê-la voltar à vida, renascer das cinzas que o desgraçado, aquele maldito demônio a tornou. Então eu segui em frente com a leitura, mesmo que ainda estivesse trêmula e gelada. E temesse muito o que ainda estava por vir. 

"Será que estamos irremediavelmente quebrados? E se sim, qual dos dois está mais?"

Foi quando eu conheci o André e a pequena Sol... e todo o medo que eu pudesse sentir desapareceu. Sim. Eu sabia que ainda existia a possibilidade de enfrentar cenas traumáticas, de chorar com os personagens, mas estava disposta a suportar tudo se pudesse me encantar mais e mais com a presença deles na vida da Paola. Me angustiou o medo inicial que ela teve dele, embora fosse perfeitamente compreensível. André era um homem forte, de aparência agressiva, embora fosse incapaz de fazer mal para qualquer pessoa. Ela não o conhecia, tudo que via era o seu exterior e isso somado com os traumas que ela carregava era suficiente para fazê-la sentir medo. 

Mas Sol era a ponte para aproximá-los. A garotinha ferida, que não confiava em ninguém, que paralisava sempre que outro ser humano se aproximava dela... esse pequeno anjinho abre seu coração pela primeira vez ao conhecer a Paola. Ao ver as cicatrizes que tomavam um lado inteiro do seu rosto, Sol compreendeu que ela não lhe faria mal... que estava tão machucada quanto ela e se identificou. Enxergou em Paola a si mesma. Embora Sol não carregasse cicatrizes em seu corpo, viu nas marcas dela a sua própria dor. 

O amor entre as duas é natural e inesperado. Forte como se estivessem destinadas a se conhecer e curarem as feridas uma da outra. A inocência com a qual Sol confia nela, desperta em Paola sentimentos há muito adormecidos. Ela se torna responsável não mais apenas por si mesma, mas por outro ser humano, por uma criança que lhe suplicava ajuda. E assim se aproxima também do pai dela, daquele homem que ela temeu, mas estava tão destruído quanto elas duas. Talvez mais, pois a culpa é um dos sentimentos mais destrutivos que existem. 

"Minhas mãos fazem carinho no que alguém quebrou, e digo o que ela precisa ouvir:
- Paola, o lado feio não existe em você. Não para mim."

- É belíssimo acompanhar o relacionamento entre esses três. Lindo e muito emocionante. Nós choramos sem nem percebermos quando a primeira lágrima caiu. Sorrimos em momentos inesperados. Somos atingidos por toda a carga emocional deste livro. 

Quando pensamos que sobrevivemos ao pior no momento em que acompanhamos o pesadelo da Paola, enfrentamos também tudo o que se esconde no passado do André e da Sol, os tormentos que eles viveram, as marcas interiores que carregavam. Quando a autora finalmente revela o que fez com que uma criança de quatro anos ficasse tão traumatizada... Nossa! A raiva que eu própria senti! A vontade de gritar, de socar alguma coisa! Sempre digo que essa humanidade está perdida. Que esse mundo já não me surpreende. Mas ainda fico chocada ao ler coisas assim, ao ver o quanto o ser humano pode ser perverso e fazer mal até mesmo a uma criança, a um ser que não tem como se defender. Chorei muito pela Sol. E meu alívio era saber que a Paola tinha aparecido na sua vida. Que ao lado do André poderia fazê-la voltar a viver, a ser uma criança saudável de novo, feliz. 

"Beijo suas cicatrizes em vez do outro lado liso. Porque é este que me entende, que vê que, por dentro sou igual."

- O relacionamento entre Paola e André é profundo, real, doloroso e restaurador. Eles estavam intensamente quebrados, em vários pedacinhos. Qualquer um que olhasse de fora diria que seria impossível juntar todas as partes, que não havia conserto. Mas juntos eles se curam. Eram o que necessitavam para recomeçar, para acreditar de novo na vida, no amor, nas pessoas. 

O livro é escrito de maneira belíssima. Dolorosa em alguns momentos, não nego, mas linda. A escrita é poética, como se a autora não estivesse escrevendo de fato, mas pintando as cenas, colorindo como a Paola coloria com o pincel. Nunca li algo tão bonito! As cenas nos "chamam", fazem com a gente se sinta realmente parte da história. É como se estivéssemos lá, acompanhando tudo em primeira mão. E as cores... eu realmente as enxergava. Pura poesia! 

"É no meu encostar de lábios com os dela que a dor some completamente e todo o vazio é preenchido por ela. E só ela."

- Não recomendar este livro seria impossível! Já estou perdidamente apaixonada por esta série, pela escrita incrível da autora, pelo cuidado que ela tem na construção dos personagens, nas doses certas de emoção, no desenrolar dos acontecimentos... Ela criou uma história única utilizando um tema verdadeiro e atual. A violência contra a mulher e contra as crianças. A violência doméstica tão presente em tantos lares neste mundo em pleno século XXI. Quantas notícias não vemos diariamente? Quantas mortes? A autora criou uma personagem que sofre uma violência terrível e a partir disso construiu o seu romance, fazendo nossa protagonista recomeçar do que restou. Dando a ela o final feliz que ela merecia. Fazendo com que ela percebesse que merecia sim ser feliz, que tinha o direito de ser mulher, de ter sonhos, de ter voz e vontades, de dizer sim ou não para quem quisesse. Esta autora é maravilhosa! 

"- Eu sou como aquela Caixa, Paola. Sou grande e dou abrigo a todos que amo, mas sou oco por dentro. Eu era escuro, vazio... até você entrar e me iluminar. E... e eu não quero mais viver sem cor."

- Recomendo MUITO este livro! Não consigo imaginar que alguém possa ler esta história e se arrepender. É aquele tipo de livro que amamos ou amamos. :D 

Estou ansiosa para conhecer as outras histórias da série! Espero que a editora Valentina nos encante logo com o lançamento do segundo volume. Desesperada para lê-lo! 

Leitora apaixonada por romances de época, clássicos e thrillers. Mãe da minha eterna princesa Luana e dos meus príncipes Celestino e Felipe (gatinhos filhos do coração). Filha carinhosa. Irmã dedicada. Amiga para todas as horas. Acredita em Deus. E no poder do amor.

4 comentários:

  1. Esse livro é lindo e o proximo da série é o meu xodó. Amei com força sua resenha! Bjom

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  2. Tenho certeza que irei me apaixonar por toda a série, Flaveth!

    Obrigada! :D

    Bjs!

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  3. Oi Luna!
    Morro de vontade de ler esse livro, mas ainda não tive oportunidade. Acho importantíssimo que os livros falem sobre a violência doméstica e suas consequências, quanto mais pessoas se sensibilizarem com o tema, mais gente lutando contra teremos. Parabéns pela resenha, ficou excelente!
    Bjs!

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  4. Olá, Nina!

    Tenho certeza que você vai amar!

    Concordo. Os livros sempre tiveram grande poder, na minha opinião, e um autor tem a capacidade de provocar sentimentos diversos no leitor, através de sua escrita. Empatia, compaixão, revolta, vontade de mudar algo, de fazer nossa parte. Um livro pode fazer grande diferença. E realmente mudar as coisas.

    Muito obrigada! :)

    Bjs!

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