23 de julho de 2018

Outros jeitos de usar a boca - Rupi Kaur

Tempo de leitura:
(Título Original: Milk and honey
Tradutora: Ana Guadalupe
Editora: Planeta
Edição de: 2017)

outros jeitos de usar a boca é um livro de poemas sobre a sobrevivência. sobre o amor, o sexo, o abuso, a perda, o trauma, a cura e a feminilidade.

o livro é dividido em quatro partes, e cada uma delas serve a um propósito diferente. lida com uma dor diferente. cura uma mágoa diferente.

outros jeitos de usar a boca transporta quem o lê em uma jornada por momentos amargos da vida e encontra uma forma de tirar delicadeza deles. 

publicado inicialmente de forma independente por rupi kaur, poeta e artista plástica nascida na índia e que vive no canadá, o livro se tornou o maior fenômeno do gênero nos últimos anos nos estados unidos, com mais de 1 milhão de exemplares impressos. 



Palavras de uma leitora...


- Hoje enquanto escrevo é sábado... Um dia que amanheceu lindo, mas que depois ficou deprimente quando escureceu mais cedo e uma ventania fez questão de encher tudo de poeira.rs Eu estava estressada por conta das leituras obrigatórias (para o TCC) e só queria ler algo que me fizesse bem. Que me acrescentasse algo. Não que enchesse meu cérebro com as informações essenciais para um bom trabalho e para a vida como profissional, mas algo que fizesse bem a mim, como pessoa, como mulher

O livro outros jeitos de usar a boca estava na minha lista de futuras leituras há algum tempo. Desde que ouvi falar maravilhas dele, do quanto era forte e incrível, do impacto que tinha provocado na vida de outros leitores. Mas com tantos livros para ler em 2018 e sem tempo algum para me dedicar a todos não fazia parte dos meus planos lê-lo ainda este ano. Além do mais, eu nem sequer tinha um exemplar dele. Ainda não tinha conseguido comprar, embora estivesse entre os que eram prioridade. Mas ontem, enquanto andava com a minha irmã, resolvi parar na livraria e comprá-lo. Trazê-lo para casa. Para o lugar que o esperava. Para minha vida. 

Foi inevitável começar a namorá-lo assim que o tive em minhas mãos. Ontem mesmo o folheei, cheirei, abracei, desejei mandar tudo para o inferno e mergulhar nas suas páginas. Queria sentir o que as outras pessoas tinham sentido. Queria que os poemas falassem comigo. Mas nada, absolutamente nada que eu pudesse imaginar, se compara à confusão de sentimentos que me invadiram quando li cada um dos poemas que compõem este livro. Foi uma experiência tão única, tão... Não tenho nem palavras. Só posso dizer que quero ler tudo o que essa poetisa escrever. Já sou sua fã incondicional. A Florbela Espanca sempre será a minha poetisa preferida, mas a Rupi Kaur conseguiu um lugar lado a lado com ela no meu coração. 

"é o seu sangue 
nas minhas veias
me diz como eu 
poderia esquecer" [Página 14]

- O livro é dividido em quatro partes: a dor, o amor, a ruptura, a cura. Cada uma delas agrupando poemas que não consigo definir de outra forma que não seja impactantes. A primeira parte, a dor, já começa nos dando um baita soco no estômago. São poemas que sangram, que te machucam pela quantidade de realidade que possuem. Falam de agressão, de estupro, de pedofilia, de violência doméstica, abandono... de puro sofrimento. Eu precisava respirar fundo depois de ler alguns deles. Sentia as lágrimas me cegando, conseguia visualizar aquelas cenas tão terríveis que os poemas desenhavam. Tantas vozes caladas, tantas pessoas sofrendo em seus próprios lares... em sua própria família. Eles me feriram muito. Mas não me arrependi nem por um segundo de lê-los. O talento dessa escritora é impressionante. A sua maneira crua e simples de falar... de mostrar situações que muitas vezes queremos ignorar. Em poucas linhas ela falava muito, tudo

"estremeço quando você me toca
temo que seja ele" [Página 41]

- A segunda parte, o amor, é como um alento. Conseguimos tomar fôlego, respirar normalmente, depois de todas as pancadas que levamos com a dor. São poemas lindos, que evocam lembranças de anos passados... de momentos preciosos. Que te recordam algo que você foi... que você teve. Que te fazem sorrir, sonhar, lembrar... desejar. Que fazem até mesmo você olhar para si mesma com outros olhos. Enxergar-se como a mulher que é, mas tenta esconder, uma vez que o mundo insiste em querer te diminuir e você faz a vontade dele. 

"Estou aprendendo 
a amá-lo
me amando" [Página 55]

- São poemas que falam, obviamente, de amor, mas não só do amor pelo outro, mas também do amor por si mesma. De encontrar-se para só então permitir que um outro alguém te possua. De entregar-se sabendo que continua no controle de si mesma, do seu corpo, da sua mente, do seu eu. Que falam sobre feminilidade, paixão, entrega, conquista, raiva, briga, reconciliação. 

- A terceira parte, a ruptura, não golpeia tão forte como a primeira, mas ainda assim nos atinge. São páginas que trazem lágrimas provocadas pela decepção, pela separação... por descobrir que o que dávamos como certo não era. Que o amor que acreditávamos existir nunca esteve ali. Às vezes saltamos com a fé em alguém, acreditando que essa pessoa irá nos segurar, que impedirá a queda, ou que, pelo menos, irá segurar forte a nossa mão quando estivermos no chão. Mas, não. Ela nem sequer estará mais presente. Já terá ido embora. 

"[...] quero gritar e berrar que somos nós seu idiota. somos as únicas
pessoas que podem nos unir novamente. mas em vez 
disso eu sento quieta. sorrindo de leve pensando
entre lábios trêmulos. é ou não é uma coisa trágica. 
quando você vê tudo tão claro mas a outra pessoa
não vê nada." [Página 84]

- A quarta e última parte, a cura, embora nos passe a ideia de poemas que vão reconstruir, cicatrizar feridas, também dói. Talvez porque o processo de cura nunca é fácil. É preciso fechar com pontos, se reerguer, dar um passo em frente mesmo achando que vai cair... É algo lento, mas progressivo. 

São páginas que te atingem no âmago, que te passam uma mensagem, que te dizem verdades. Não exatamente o que você quer ler, mas sim o que necessita. No fim fica um gosto agridoce. Você sorri em meio às lágrimas. Sente uma pressão no peito, mas também alívio e... paz. Se sente bem

"não procure cura
aos pés daqueles
que te machucaram" [Página 155]

- Devorei as páginas deste livro em pouco mais de uma hora. E isso porque precisava parar... porque ficava pensando, refletindo sobre o que tinha lido... viajando para dentro de mim mesma. Foi a escolha certa. Ler outros jeitos de usar a boca era tudo o que eu precisava para me enxergar outra vez como pessoa. Ultimamente tenho me visto mais como uma máquina que não pode parar, que precisa estar sempre trabalhando, estudando, sendo eficiente. Mas eu sou gente. Preciso parar e respirar. Sou mulher... e preciso me sentir como tal.  Me importar mais comigo mesma. Me amar antes de amar o outro. Me aceitar antes de querer que o outro aceite. Me olhar no espelho e enxergar mais do que a imagem refletida nele.

Se recomendo este livro?! De olhos fechados! É uma leitura que... nem sei como dizer. O que nos provoca é difícil de expressar. Mas é algo que nos faz bem. E isso basta. 

Leitora apaixonada por romances de época, clássicos e thrillers. Mãe da minha eterna princesa Luana e dos meus príncipes Celestino e Felipe (gatinhos filhos do coração). Filha carinhosa. Irmã dedicada. Amiga para todas as horas. Acredita em Deus. E no poder do amor.

9 comentários:

  1. Oiee! Nossa, faz muito tempo que não leio poemas, mas li muitas resenhas positivas da obra!! Gostei da divisão e gostei bastante dos temas. parece uma ótima leitura mesmo, repleta de sentimentos!

    Bjs, Mi

    O que tem na nossa estante

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  2. Ahhh que livro lindo!
    Eu como vc tb devorei o livro em poucas horas e sempre deixo ele perto pra ler a qualquer hora alguma coisa, abro em qualquer página e sempre leio algo.
    Maravilhoso demais, nunca imaginei que um livro de poesias fosse me tocar tanto.
    Amo muito Outros jeitos de usar a boca e recomendo mto tb.
    Beijos.

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  3. Com esses quotes, esse livro irá arrancar suspiros de quem estiver lendo. Anotada a indicação aqui.

    Gustavo
    http://www.leituraenigmatica.com

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  4. Tenho lido muitos elogios quanto a escrita dessa autora e saber que o os poemas dela são impactantes reforçam minha vontade de ler. Falar de amor próprio é o que mais me chama atenção, pois acho que falta isso em nós. Quero ler e espero devorar as páginas desse livro.

    Abraços.
    https://cabinedeleitura0.blogspot.com/

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  5. Oi, Luna!
    A Rupi é muito maravilhosa. É bem como você disse, os poemas conseguem chegar fundo na gente e precisamos ficar remoendo, refletindo sobre cada um deles. Espero que você consiga ler O que o sol faz com as flores em breve, porque é tão maravilhoso quanto Outros jeitos de usar a boca.
    Beijos!

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  6. Olá, tudo bom?
    Esse livro também falou tanto comigo! Foi uma leitura que foi conversando comigo, com meus sentimentos e foi simplesmente incrível. É uma leitura dura em algumas vezes, acalentadora em outras, mas completamente necessária em todos os sentidos. Amei a resenha! ♥
    Beijos!

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  7. Olá!
    Pelo visto a leitura foi muito prazerosa e enriquecedora pra ti. Não é o tipo de leitura que me atraia, mas de vez enquando gosto de sair da zona de conforto.
    Quem sabe mais pra frente eu dê uma oportunidade.
    Beijos!

    Camila de Moraes

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  8. Tem livros que encontram a gente na hora certa, não é mesmo?! Nos encantam e envolvem de um jeito único. Que bom que gostou tanto da experiência de leitura dos poemas da Rupi! Esse não é meu estilo favorito de poesia, então acabei não gostando tanto, mas ainda assim reconheço a força das palavras dela e a beleza dos textos :)

    Beijos!

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  9. É incrível como com tão poucas palavras e tanto sentimento, uma poesia pode nos emocionar tão profundamente. Que resenha linda e me senti tocada pela forma como você a colocou.
    Beijos

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