26 de agosto de 2018

Lucíola - José de Alencar

Tempo de leitura:

Na melhor tradição romântica, Lucíola é um livro onde se debatem paixões tórridas e contraditórias e no qual o amor não resiste às barreiras sociais e morais. Conheça o romance da bela Lúcia, a mais cobiçada cortesã do Rio de Janeiro, e Paulo, um jovem modesto e apaixonado. Um romance que sacode a corte e provoca uma grande excitação e falatório. Emocione-se com a história da mulher que, sendo de todos, dizia não querer ficar presa a homem algum e do homem que lutava contra o amor e o preconceito. 



Palavras de uma leitora...


- A sinopse acima encontra-se no final da edição que li (sim, a capa é bem feia, mas é a edição que li!rsrs), no "Convite à leitura". Como não gostei muito dela coloquei apenas um trecho. 

Não sei se estou em condições de escrever esta resenha. Terminei a leitura ontem à noite e desde então sempre que recordo como tudo aconteceu me pego chorando outra vez. É uma história que mexeu profundamente com as minhas emoções. Que acabou comigo. Nunca na vida serei capaz de esquecer a Lúcia. Nunca mesmo. 

Tanto pela sinopse quanto pelas "palavras finais" contidas nesta edição consigo perceber a ideia que muitos na época, e talvez até nos dias atuais, tiveram da história. Que ela tinha a intenção de moralizar. Que esse foi seu objetivo. Eu, por outro lado, não concordo. É, para mim, um livro que deu voz a uma mulher desprezada pela sociedade, julgada e condenada sem que sequer soubessem o que a levou a ser o que era. Sem que a reconhecessem como um ser humano que sofria e que um dia também teve sonhos. O livro coloca em destaque um tipo de mulher com o qual nem mesmo a literatura parece se importar muito. Afinal de contas, quantas vezes você já leu um livro protagonizado por uma prostituta? Pouquíssimas vezes, com certeza. Regra geral, quando aparecem numa história elas são as destruidoras de lar, as imorais. As que gostam da perversão e não se importam com nada nem ninguém. Quando penso em alguém que enxergou numa prostituta um ser humano, que compreendeu e não julgou, penso em Jesus. O único que realmente possuía o direito de julgar, mas enxergou além da aparência. E nós, cheios de erros e defeitos, adoramos apontar o dedo como se fôssemos os donos da razão e da moral. Vi em Lúcia um ser humano muito melhor do que muitas pessoas que conheço, incluindo eu mesma. Mesmo sendo uma "pecadora" existia nela uma nobreza que muitos passam pela vida sem conhecer. Enquanto os outros se sentiam dignos em condená-la ela era, na realidade, muito superior a todos eles. 

É meio difícil dizer que darei "spoiler", uma vez que Lucíola é um livro muito trabalhado nas escolas. Mesmo que não recordasse tudo sobre a obra, lembrava de ter muitas vezes feito estudos, interpretações de texto em cima desta história. Mas caso alguém se sinta incomodado, como se eu estivesse revelando algum segredo do livro, adianto, então, que farei isso sim. Será uma resenha com spoiler. E, é claro, a resenha será longa. Não me privarei de falar de uma história que mexeu com minha estrutura. Que tocou profundamente meu coração e alterou minha vida. 

"Escrevi as páginas que lhe envio, as quais a senhora dará um título e o destino que merecerem. É um perfil de mulher apenas esboçado."

- Como costume em suas obras, José de Alencar começa a história como se estivesse falando com alguém, contando acontecimentos que seus personagens presenciaram ou dos quais até participaram na qualidade de pessoas reais. É como se não fosse ficção. Ele dá um tom de realidade ao livro. E nesta história temos o Paulo, protagonista, como um narrador-personagem, que conheceu a Lúcia, de quem o livro trata, e por ela se apaixonou. É ele que tece seu perfil. Apenas um esboço, como ele próprio diz. Algo incompleto, bem longe de poder possibilitar ao leitor conhecer todos os pormenores, mas o suficiente para nos mostrar quem foi a mulher da qual ele não era capaz de esquecer. Paulo não é um personagem perfeito. Muito pelo contrário! Terminei a leitura sem sentir pena dele. Porque, durante boa parte do livro, ele é tão baixo e sujo quanto outros personagens que protagonizaram certos acontecimentos, me provocando verdadeiro desprezo. Não fui capaz de perdoá-lo ou sentir um pingo de simpatia por ele. 

"- Quem é esta senhora? perguntei a Sá.
A reposta foi o sorriso inexprimível, mistura de sarcasmo, de bonomia e fatuidade, que desperta nos elegantes da corte a ignorância de um amigo, profano na difícil ciência das banalidades sociais. 
- Não é uma senhora, Paulo! É uma mulher bonita."

- Paulo estava há pouco tempo na corte do Rio de Janeiro. Aos 25 anos de idade e vindo de um local diferente, um tanto provinciano, demorou para compreender que a mulher que tanto o fascinava era uma cortesã. Mas nem mesmo quando seu "amigo" fez questão de corrigi-lo ele foi capaz de livrar-se da atração que ela lhe despertava. Havia em Lúcia algo de distinto. E não podia deixar de pensar que já a conhecia. Ao serem apresentados, com Sá desempenhando com perfeição o papel de um completo lixo, Paulo comportou-se educadamente, embora pensasse que a imagem exterior que ela mantinha, que poderia confundi-la com uma "mulher de bem", escondia a podridão do seu interior. E não demorou a acreditar que possuía direitos. Porque uma vez que ela era de quem pagasse também poderia ser dele. 

"Se eu amasse essa mulher, que via pela terceira ou quarta vez, teria certamente a coragem de falar-lhe do que sentia; se quisesse fingir um amor degradante, acharia força para mentir, mas tinha apenas sede de prazer;"

- Inicialmente, a dignidade que parecia vir de algum recanto daquela mulher, o obrigou a comportar-se de uma forma bem diferente da que desejava. Não conseguiu ser direto, indo visitá-la como quem faz a corte a uma jovenzinha casadoura. Todavia, a vergonha por estar agindo de uma maneira que ela não merecia o faz explodir e exigir dela o que realmente queria, tomando liberdades que ela não tinha lhe dado, mostrando para ela que o teatro que até aquele momento ele fizera apenas estava adiando suas reais intenções. Embora em segredo, Lúcia já o amava e lhe magoou profundamente que ele fosse só mais um... apenas mais um que a via como objeto. No fundo do seu coração ela desejara o impossível. Quis acreditar que seria diferente. Que ele a enxergaria como realmente era. Que, talvez, apenas talvez, a amaria. E quando ele a tocou de uma forma que não tocaria uma mulher "decente", a dor em seu coração tornou impossível conter as lágrimas. 

"Duas lágrimas em fio, duas lágrimas longas e sentidas, como dizem que chora a corça expirando, pareciam cristalizadas sobre a face, de tão lentas que rolavam."

Então ela foi o que ele queria. Desempenhou o papel que desde os quatorze anos era obrigada a representar. Foi a mulher que os homens buscavam. A perdida. A sem honra ou sentimentos. Que via no dinheiro a sua paixão. E que por ele seria capaz de fazer o que quisessem. Foi o que o Paulo desejou, embora seu coração se despedaçasse, embora algo em seu interior, que durante tanto tempo agonizara, finalmente morresse. 

"Mas a senhora lê e eu vivia; no livro da vida não se volta, quando se quer, a página já lida, para melhor entendê-la; nem pode-se fazer a pausa necessária à reflexão. Os acontecimentos nos tomam e nos arrebatam, às vezes, tão rapidamente que nem deixam volver um olhar ao caminho percorrido."

- Por mais que não entendesse o que a fizera chorar e não estivesse sequer disposto a analisar as contradições daquela mulher, Paulo ficou um tanto perturbado, o que não o impediu de ter o que tanto quis. Ela agiu como ele esperava... lhe deu o prazer inesquecível, que a tornara sua obsessão. Porque quanto mais tinha dela mais queria e sentia ciúmes e queria ser o único em sua vida, ao mesmo tempo que temia que seu interesse tão claro por Lúcia o tornasse objeto de chacota dos seus iguais. A via em segredo, como algo sujo. E se os outros lhe perguntassem fingia sequer conhecê-la. Mas especialmente Sá, quem ele tanto chamava de amigo, começa a juntar as peças e ver naquela relação um espetáculo que ele não perderia a oportunidade de apreciar. Então planeja um jantar no qual faria os dois "se conhecerem melhor". E embora Paulo imaginasse que seu amigo convidaria a Lúcia e que algo tinha em mente, não podia sequer suspeitar tudo o que se passaria naquela noite. 

Lúcia estava esplêndida como sempre, ofuscando as outras cortesãs presentes no jantar. Tudo começaria tarde e iria até a alta madrugada. Em seus olhos ele podia notar alguma coisa que não conseguia distinguir. Ela estava um tanto diferente. Mais amarga, mais sarcástica. Como se quisesse lhe dizer algo, mas ainda não tivesse a coragem ou não valesse a pena. Quando sentado ao seu lado, ele desabafa que gostaria de estar em qualquer outro lugar com ela, Lúcia lhe responde amargamente, dizendo ser apenas uma mulher, como outra qualquer, da qual ele poderia obter o prazer anonimamente. Como quando aprecia alguma iguaria da qual desconhece até mesmo o nome. Que importava que fosse ela? Ela não era mais que um objeto comum, segundo as palavas dela. 

"[...] Demais, quando tiver bebido alguns copos de clicot e sentir-se eletrizado, saberá o senhor de quem são os lábios que toca? Qual? É uma mulher! Uma presa em que ceva o apetite! Que importa o nome? Sabe porventura o nome das aves e dos animais que lhe preparam esta ceia? Conhece-os?... Nem por isso as iguais lhe parecem menos saborosas.

Estas palavras, assim lidas friamente, nada são comparadas com a voz amarga e sibilante que as pronunciava. Soltavam-se de seus lábios, e caíam no meu espírito, tão impregnadas de ondas de sarcasmo, que deixavam passando uma impressão cáustica e dolorosa."

- Esta noite é um marco na "relação" entre os dois. Tudo que se passa... altera o rumo das coisas. De um lado, ele sentia ainda mais desprezo pela mulher que o enfeitiçava e por outro sentia pena, de quão baixo ela tinha chegado, do ponto de degradação que tinha atingido. Mas quando a segue e a vê sozinha e tão desamparada, colocando para fora a dor que sentia, não consegue evitar tomá-la em seus braços, desejando consolá-la, oferecer o conforto que ela não era capaz de encontrar em ninguém. 

"Aproximei-me então, e tomei-a nos braços; metiam dó as contrações nervosas que crispavam seu belo corpo, e os soluços de angústia que lhe partiam o seio e cerravam a garganta, sufocando-a. Penou assim um tempo longo, em que receei por vezes que não expirasse sobre o meu peito."

- A partir daquele instante o relacionamento entre os dois se torna mais sólido e conturbado, recheado de altos e baixos, de humilhações, de ofensas e arrependimentos, de entrega e renúncia. De amor... da parte dela. Era, sobre muitos aspectos, uma relação abusiva, na qual, atormentada por um amor do qual não conseguia se livrar, Lúcia se sujeitava ao tratamento que Paulo lhe dava. Dando a ele um poder que jamais outro homem teve sobre ela. Um relacionamento que não tinha maneira de terminar bem...

- A verdade é que nem sei bem como organizar meus pensamentos e sentimentos sobre este livro. Tornou-se minha história preferida do autor. Aquela que amo profundamente. Que nunca esquecerei. Tenho duas edições do livro (uma antiga e em capa dura que reúne outras duas obras: Senhora e Diva) e pretendo adquirir, pelo menos, mais uma.rs É um livro que bagunçou por completo minhas emoções. Que me provocou muita raiva e revolta em diversos momentos e uma dor terrível no final. Que me deixou aquela sensação de injustiça. Aquele sentimento que fica quando alguém que não merecia sofre demais na vida e tem um fim inaceitável. Lúcia marcou a minha vida. 

"[...] O que é este corpo que lhes mostrei há pouco, e que lhes tenho mostrado tantas vezes! O que vale para mim? O mesmo, menos ainda, do que o vestido que despi"

- Embora o autor demore para revelar o passado da Lúcia, é possível imaginar que algo bem doloroso se escondia em suas lembranças. Que algo sério a levara àquele ponto. Eu tentava descobrir o que tinha acontecido, conforme ela ia soltando lentamente algumas informações. Uma protagonista incrível, construída de maneira maravilhosa pelo autor, que permitiu que ela ganhasse as páginas da história... que mesmo tendo sua vida contada por outra pessoa conseguia se mostrar como era. Nos permitindo enxergá-la... conhecê-la de verdade. 

Lúcia tinha apenas 14 anos quando sua família foi vítima da febre amarela que aterrorizou a região em que morava. Inocente, sem nada saber da vida ou do mundo, entrou em completo desespero quando seus pais, seus irmãos e tia caíram gravemente doentes e ela foi a única a permanecer de pé. O dinheiro tinha acabado. Não tinha como pagar por remédios, por comida, por nada. Pedia aos outros. Suplicava na porta de casa por algum auxílio enquanto a morte parecia certa para todos os que ela tanto amava. Um dia ele passou... o homem que a fez conhecer a realidade do ser humano. O quão sujo alguém pode ser. Ela pediu que ele lhe desse algo para ajudar sua família. Ele foi "bondoso". Falou para acompanhá-lo até sua casa e lhe ofereceu o dinheiro do qual ela precisava. Sentindo esperança pela primeira vez em muito tempo, Lúcia aceitou, mas então ele a beijou. 

Assustada, sem entender direito o que ele queria, mas sentindo o perigo, ela fugiu. Só que antes de entrar em casa lembrou-se da desolação que encontraria. Da ajuda que não traria. Então voltou... e permitiu que ele tivesse o que fosse que desejava para lhe dar o dinheiro. Mesmo depois que ele terminou, ela seguiu sem compreender direito o que se passara. 

Sua mãe e seu pai, bem como sua irmãzinha caçula, se recuperaram. Seus dois irmãos, não. E quando o pai lhe perguntou como ela conseguiu o dinheiro que lhes tinha ajudado, Lúcia inocentemente contou a verdade. Da maneira que ela conseguia entender. E ele não hesitou em jogá-la na rua. Estava vivo porque ela pagou com o próprio corpo o socorro que ele obteve e mesmo assim a abandonou sem ter a quem recorrer, sem saber como sobreviveria. Com 14 anos de idade. 

Perdida nas ruas recebeu auxílio de alguém que também quis receber algo em troca. Assim são as relações humanas, certo? Nenhuma bondade é de graça. Ela foi apresentada ao mundo no qual estava quando conheceu o Paulo, cinco anos depois. Quando aos dezenove anos de idade se sentia suja e podre. Sentia que não valia nada. E os sonhos que um dia teve estavam enterrados. Mas ao conhecê-lo... ao vê-lo pela primeira vez quando ele a enxergou sem saber quem ela era... sentiu vontade de viver outra vez. De ser a menina que um dia tinha sido. Por isso seu coração se fez em pedaços quando ele se mostrou só mais um. 

"Se naquela ocasião me viesse a ideia de estudar, como hoje faço à luz das minhas recordações, o caráter de Lúcia, desanimaria por certo à primeira tentativa. Felizmente era ator neste drama e guardei, como a urna de cristal guarda por muito tempo, o perfume de essência já evaporada, as impressões que então sentia. É com ela que recomponho este fragmento de minha vida."

- Foi enorme a minha angústia conforme via a mulher forte, que sobrevivera a tanta coisa, se submeter ao tratamento que o Paulo lhe dava. Ela era uma cortesã, mas escolhia seus amantes e não lhes dava nenhum controle sobre sua vida. A casa era dela. E ela decidia quando a "relação" começava ou chegava ao fim. Se decidia não mais atender algum homem não existia nada que ele pudesse fazer para convencê-la a voltar atrás. E não desnudava sua alma diante de nenhum deles. Assim conseguira sobreviver, mas quando o Paulo entrou em sua vida tudo mudou. Embora ele fosse a motivação para fazê-la acreditar que merecia uma segunda chance, que podia sim sair do fundo do poço no qual se encontrava, ele também foi seu castigo. Seu tormento. Eu sentia meu sangue ferver quando o via menosprezá-la diante dos outros. Quando interpretava qualquer afeto dela como fingimento ou excesso, quando lhe dizia coisas humilhantes, quando a ofendia e se sentia no direito até mesmo de odiá-la, pois ela era uma prostituta e culpada por seu interesse. Senti repulsa por esse homem desgraçado! Senti ódio por ele se aproveitar do amor que sabia que ela sentia. Nesses momentos eu sentia vontade de rasgar as páginas do livro como a Lúcia rasgou a do livro A Dama das Camélias. Porque quando eu rasgasse as páginas imaginaria que estaria rasgando a cara do miserável! E falando em lixos em forma de gente não posso deixar de mencionar o Sá, o tal que organizou o jantar que mencionei no início da resenha. Ele foi o primeiro personagem que desejei matar na história. Logo que ele apareceu, com seu tom de deboche e a maneira como falava da Lúcia, como se ela fosse a sujeira debaixo de seu sapato, meu sangue já ferveu. Mas depois daquele maldito jantar eu quis que o sangue dele escorresse no livro tal foi o meu ódio. Não era a Lúcia a pessoa vil, baixa, nesta história, eram eles. Os homens que a tinham usado. Que se aproveitaram da situação dela. E o autor mostra isso de maneira perfeita! Talvez não tenha sido sua intenção já que dizem que era um homem tradicional e moralista, defendendo inclusive a escravidão. Talvez a protagonista tenha ganhado vida própria como tantos personagens que surpreendem seus autores e vão além do que eles pretendiam. Ou quem sabe realmente fosse o objetivo dele compreender a alma de sua personagem, colocar em palavras seus sentimentos e mostrar a baixeza dos homens. Na realidade, eu acredito que foi sim proposital. Porque muitos dos pensamentos do próprio Paulo tornavam isso evidente, quando refletindo sobre suas atitudes, sobre as palavras ferinas que dirigia a ela, ele próprio percebia o quanto era um canalha, o quanto era podre. Ela era boa, era nobre. Uma pessoa que apanhou da vida e só recebeu julgamentos e condenações. Sendo usada por qualquer um que passasse por sua vida... que nunca enxergava o ser humano por trás da imagem bela e distante. Ela tinha valor, era uma pessoa inteligente e solidária, estendendo a mão até mesmo para aqueles que um dia tinham pisado nela. E não tem como ter sido "acidental" o autor ter mostrado isso tudo. Tenho certeza que ele quis mesmo mostrar a imensa contradição: uma prostituta era mais nobre que aqueles que se julgavam nobres do alto de seus poderes e privilégios. Ele inverteu as coisas. Inclusive a ideia que muitos têm que uma prostituta ou amante é uma destruidora de lares. Há uma cena em que o autor mostra que canalha foi o homem que deixou a mulher sozinha em casa enquanto ia buscar os "favores" da Lúcia. E como ela reagiu quando viu aquela mulher triste, desprezada pelo marido. Ele colocou tanto a mulher "honrada", que era a esposa, quanto a Lúcia numa posição elevada enquanto mostrava a baixeza daquele traste de marido. Foi um homem que escreveu este livro, gente! E de uma maneira! Realmente estou fascinada!

"Às vezes lia para ela ouvir algum romance, ou a Bíblia, que era o seu livro favorito. Lúcia conservava de tempos passados o hábito da leitura e do estudo; raro era o dia em que não se distraía uma hora pelo menos com o primeiro livro que lhe caía nas mãos."

- Outro ponto que não posso deixar de comentar: se não estou enganada foi numa festa religiosa que a Lúcia e o Paulo foram apresentados pelo Sá. O rato do Sá inclusive debocha do fato de ela estar naquele tipo de festa considerando o que ela era. E desde o início o autor mostra a realidade da nossa protagonista e vai construindo a personalidade dos demais personagens. Ele teve a intenção de moralizar como algumas pessoas defendem? Moralizar os homens, talvez?rs Lúcia não foi convertida, mesmo quando ela mudou de vida na última parte do livro. Ela sempre foi aquela pessoa. E o autor é claro ao mostrar isso pro leitor. A profissão dela não matou sua essência, embora tenha atormentado sua alma e destroçado seu coração, por mais que tenha lhe provocado um grande sofrimento. Em sua essência ela sempre foi a menina da qual tanto sentia falta. Quem foi transformado no livro????!!! O Paulo!!! Foi ele que teve que sofrer uma enorme transformação, tornando-se alguém melhor, me mostrando pela primeira vez que realmente agora a amava. Se o autor quis moralizar alguém foi seu protagonista e os homens canalhas que pudessem um dia parar para ler este livro.

- Não consegui perdoar o Paulo. Reconheço que ele mudou. Não nego que se arrependeu e se apaixonou pela mulher que antes era sua obsessão, um lugar no qual ele buscava alívio para as necessidades de seu corpo. Mas depois de tudo o que a minha protagonista querida sofreu eu não tive ânimo para perdoá-lo. Não fui capaz. 

- Eu teria muitas coisas para falar sobre o livro ainda. É aquele tipo de história que nos possibilita um longo debate, que nos dá muito sobre o que conversar. A construção psicológica dos personagens, os momentos em que a Lúcia dizia certas coisas e parecia distante da realidade, perdida em algum lugar do passado... isso daria muito conteúdo de estudo para psicólogos, inclusive. Gosto tanto disso nos livros clássicos! Muitos deles têm essa questão psicológica, como As Relações Perigosas (do Choderlos de Laclos), O Retrato de Dorian Gray (do Oscar Wilde) e até mesmo o meu preferido O Morro dos Ventos Uivantes. É algo que me encanta, confesso.

"Sucede com as feridas d'alma o mesmo que às feridas do corpo: é quando elas esfriam, que a dor se torna aguda e lancinante."

- Não contarei o final do livro. Não por que ache que já dei muito spoiler (risos), mas sim porque sei que cairei em prantos de novo. Foi uma luta ontem para conseguir parar de chorar. Parecia que toda aquela dor era em mim. Senti o sofrimento da Lúcia. E o final da história me destroçou. Não aguento lembrar. Já sinto aquele nó na garganta outra vez, por isso paro aqui. Não quero sentir tudo aquilo de novo. 

Se recomendo o livro? MUITO!!! É o melhor livro do José de Alencar para mim. Uma preciosidade. Favorito com toda certeza do mundo! Mas é necessário maturidade para lê-lo. Se eu tivesse lido na minha adolescência não seria capaz de compreendê-lo, mas isso é muito relativo. Existem adolescentes que carregam uma bagagem literária grande, que já leram muito e podem sim ter adquirido a maturidade necessária para entender o livro. Por isso, recomendo para todos. 

- Talvez muitos aqui saibam que a Record TV está reprisando a novela Essas Mulheres. Eu nunca assisti, mas sei que ela foi inspirada nos Perfis de Mulher, a trilogia do autor composta por: Senhora, Diva e Lucíola. Diva é a única obra dessa coleção que não li, mas, como eu disse, tenho um exemplar que reúne as três histórias e provavelmente a lerei no próximo ano. Não sei se algum dia assistirei a novela ou alguma adaptação cinematográfica desta minha história querida porque tenho muito medo de não serem capazes de transmitir a essência do livro e da Lúcia. Não quero me decepcionar com as adaptações. Eu acabaria ficando furiosa. 

É isso, queridos! Não sei vocês chegaram ao final da resenha.kkkkkk... Mas uma resenha breve não seria suficiente para mim. Eu precisava falar... necessitava desabafar. 

Leitora apaixonada por romances de época, clássicos e thrillers. Mãe da minha eterna princesa Luana e dos meus príncipes Celestino e Felipe (gatinhos filhos do coração). Filha carinhosa. Irmã dedicada. Amiga para todas as horas. Acredita em Deus. E no poder do amor.

18 comentários:

  1. Oi,
    A novela Essas Mulheres é linda, fizeram uma releitura magnifica de obras de José de Alencar, inclusive Lucíola, que para mim é a melhor obra dele.
    Gosto de ressaltar que ela foi uma mulher muito moderna para sua época e muito independente ♥
    Esse livro é maravilhoso, adoro os livros clássicos por que muitos retratam a corte no Brasil.
    Tem um que não me recordo o nome no momento que é maravilhoso e semelhante a Lucíola. Já que gostou tanto do livro pegarei o nome dele para você.

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  2. Olá!

    Pelo visto Lúcia passou mals bocados tanto com sua família, que ela uma coisa grandiosa para ajudar e mesmo assim foi expulsa, quanto com Paulo, a quem ela entregou seu coração e esperava um grande amor. Não é um livro que eu leria, mas da para ver que a protagonista é uma mulher muito forte!

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  3. Oi Luna!

    Tudo bem? Então eu adoro José de Alencar e Lucíola é um dos meus livros favoritos dele!

    Eu lembro como gostei da novela na época que assisti na Record juntando as tres personagens principais dele em uma obra só.

    Tô adorando que você venha comentando cada vez mais sobre clássicos no blog e que esse em especial tenha sido uma leitura tao maravilhosa pra você.

    Beijinhos

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  4. Oi, tudo bem?

    Não li esse livro ainda, na verdade eu acabo não tendo muita vontade de ler. Esse não foi um livro que eu vi na escola, já vi de outros autores, mas não do José Alencar. Eu não assisto a novela Essas Mulheres, deixei de ver novelas há muito tempo, e eu também bem sabia que o canal estava reprisando, mas talvez eu veja depois.

    Beijos.

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  5. Olá
    Primeiramente, essa capa é realmente muito feia, tenho que concordar com você kkk, perdeu toda a magia dele ser um classe da literatura. Segundo,,eu nunca li essa obra acredita, inclusive minha mãe tem uma edição mas nunca me interessei em ler. Adorei poder conferir a sua resenha. Até mais ver
    Bjs

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  6. Esse é um dos melhores clássicos que li no meu colegial e guardo boas lembranças dele.
    É uma pena que as pessoas sejam preconceituosas com essas histórias!
    Ler sua resenha me fez voltar ao passado e relembrar dessa história que mexeu tanto comigo!
    beijos
    Camis - blog Leitora Compulsiva

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  7. Oi Lu! Li esse livro na escola mesmo, tantos anos atrás! Ler sua resenha me trouxe a história toda a mente! Realmente é uma história tocante, ainda que quando eu tenha lido não tenha sentido tanto assim, porque era jovem demais e nem entendia corretamente, eu acho.. Isso da protagonista ser prostituta e o modo que o autor, como você disse, ter escrito esse livro tão carregado é mesmo fascinante! Foi bom ler essa resenha, que deu vontade ler José de Alencar novamente! Obrigada!

    Bjoxx ~ www.stalker-literaria.com ♥

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  8. Oie, tudo bem? Eu sou estudante de letras e me sinto tãããão culpada por não ter lido nada desse autor ainda, de verdade. Meus professores sempre tecem excelentes comentários a respeito, e o fato é que José de Alencar é um dos grandes nomes da literatura e que merece todo o reconhecimento que teve. Pulei algumas partes da resenha pra evitar spoiler, mas pra variar, você me encheu de curiosidade hahah

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  9. Olá!
    Eu nunca li Lucíola na escola e por sua resenha é uma história bem profunda e intensa. Traz a tona uma personagem bem forte e com uma história de vida bem tocante. José de Alencar é um clássico, mas hoje em dia não é o tipo de leitura que opto para conferir.
    Mas sua resenha está muito convidativa.
    Beijos!

    Camila de Moraes

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  10. Oie amore,

    Nossa tenho uma trava pra esse livro... acho que é porque na escola fui obrigada a ler ele e não queria naquele momento ler aquilo.
    José de Alencar é uma preciosidade, mas não sei se conseguiria um dia ler esse livro.
    Mais um obstáculo pra romper rs.
    Arrasou na resenha, parabéns!

    Beijokas!

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  11. Olá!
    Eu nunca li esse livro, mas é lógico que já o conhecia e são poucas as pessoas que não sabem pelo menos da existência dessa obra. José de Alencar é um autor sem comparações. Suas obras são preciosidades, como você mesmo disse sobre o livro, e com certeza vale a leitura. Eu já tinha vontade de ler, Agora, depois da sua resenha, quero ler ainda mais. Seu entusiasmo com a leitura é instigante.

    Traveling Between Pages

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  12. Oi Luna!

    Faz no mínimo uns 10 anos que li esse livro, ainda na escola, mas me lembro que foi esse livro que tirou o meu ódio do José de Alencar, rs. Eu imagino que você tenha ficado super emocionada, porque essa história tem essa pegada mesmo. Eu não vejo a hora de fazer uma releitura, porque quero sentir tudo isso agora dpeois de adulta e já com uma bagagem literária maior.

    Sua resenha, como sempre, muito completa. Adorei as suas impressões sinceras sobre a trama. Me deu vontade de reler, rs.

    beijos!

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  13. Olá, gostei muito da sua abordagem de Lucíola. Eu ainda não li o livro mas depois da sua resenha até penso em ler. Me parece que o autor construiu bem a personalidade dos personagens, fazendo com que especialmente a de Lucíola se sobressaísse mesmo que ela não fosse a voz ativa da narração.

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  14. Oiie!
    Eu li Lucíola na época da escola, sou tão apaixonada pelos clássicos e fico triste que quase ninguém os leu.
    Sua resenha está magnífica e me fez querer rever Essas Mulheres.
    Beijos
    www.manuscritoliterario.com.br

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  15. Olá!
    Esse é um dos clássicos que ainda não li, acredita?
    Adorei a sua resenha, mostra bem o que esperar do livro e, clássico ou não, sei que é um romance muito envolvente e bem desenvolvido. Vou tomar vergonha na cara e ler, é um desperdício não apreciarmos nossos clássicos.
    Bjs
    Lucy - Por essas páginas

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  16. Eu amo muito este livro, inclusive é muito do verbo bastante... rs E é tão difícil encontrar leitores contemporâneos elogiando e indicando esta história que quando vi o titulo da sua resenha, fiz um carnaval aqui de felicidade. Amei saber que você também gostou. É uma história muito boa, em todos os sentido.
    beijos

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  17. Olá, tudo bom?

    Confesso que demorei, mas li toda a sua resenha. Eu acabo me perdendo em suas palavras e parece que estou conversando com uma amiga sobre as impressões dela de alguma obra lida. Porém, devo dizer que fiz isso para conseguir entender um pouco mais sobre os motivos de você ter gostado tanto e se emocionado com a trama.
    Eu não li esse livro, nem mesmo na época da escola. Na verdade, não consigo me lembrar de nenhum livro do José de Alencar que eu realmente tenha lido. Acredito que, talvez, esse livro possa ser a minha primeira experiência com ele.
    Eu gosto de ler narrativas que tenham diferentes tipos de personagens e realidades, pois eu consigo entrar nesse mundo e entender um pouco mais como funciona - além de aprender a construir a minha empatia. Sei que vou chorar com esse enredo, ficar com raiva dos personagens e suas moralidades hipócritas e, talvez, querer matar alguns deles.
    O autor, pelo jeito, não poupou ao descrever um relacionamento abusivo e eu fico feliz de não ter lido também na adolescência, pois eu acredito que não teria reconhecido a grandiosidade dessa obra. Será uma leitura difícil para mim, mas espero gostar tanto quanto você <3
    Abraços.

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  18. Olá, eu adoro como você consegue trazer os classicos para as nossas mentes novamente, sou apaixonado por livros e romances assim. Luciola foi leitura cativa minha durante minha adolescencia, e você conseguiu despertar novamente essa vontade de uma releitura.

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