6 de janeiro de 2020

As Mil Partes do meu Coração - Colleen Hoover

Tempo de leitura:
Literatura norte-americana
Título Original: Without Merit
Tradutora: Ryta Vinagre
Editora: Record
Edição de: 2018
Páginas: 336

1ª leitura de 2020
Sinopse: Nem todo erro merece uma consequência. Às vezes a única coisa que ele merece é o perdão. Os Voss são uma família peculiar e cheia de segredos. Eles moram em uma antiga igreja, batizada de Dólar Voss. A mãe, curada de um câncer, vive no porão, e o pai e o restante da família, no andar de cima. Isso inclui sua nova esposa - ex-enfermeira da ex-mulher -, o pequeno Moby, fruto desse relacionamento, o filho mais velho, Utah, e as gêmeas idênticas Merit e Honor. E, como se a casa já não estivesse cheia o bastante, ainda chegam o excêntrico Luck e o misterioso Sagan. Mas Merit sente que é o oposto de todos ali, que sempre está fazendo algo de errado e, consequentemente, que algo ruim está acontecendo com ela. Além de colecionar troféus que não ganhou, Merit também coleciona segredos que sua família insiste em manter. Assim, começa a acreditar que não seria uma grande perda se um dia ela desaparecesse. Mas, antes disso, a garota decide que é hora de revelar as verdades mais sombrias da família e obrigá-los a, enfim, encarar o que aconteceu. 
No entanto, seu plano não sai como o esperado e ela deve decidir se pode dar uma segunda chance não apenas à sua família, mas também a si mesma. As mil partes do meu coração mostra que nunca é tarde demais para perdoar e começar a construir pontes. 



As Mil Partes do meu Coração não estava nos meus planos de leitura de janeiro, mas como resolvi participar do Desafio Literário Livreando 2020 e estou fazendo parte do grupo no WhatsApp, acabei sabendo da leitura coletiva deste livro e, no fim das contas, li este antes mesmo de ler o primeiro do DLL 2020.rsrs

"Será que a morte é assim? Apenas um... nada?"

Esta foi minha primeira experiência com a escrita da autora. Há tempos vejo leitores falando extremamente bem dela, do quanto seus livros os transformaram, de que não conseguem ficar sem ler nada da Colleen. E confesso que eu morria de curiosidade. Ao ponto de adquirir dois livros dela e ficar morrendo de vontade de descobrir o que ela tem de tão especial para encantar tanta gente, de considerar passar o livro na frente de vários outros, como de fato fiz.rs

Logo de início me vi envolvida pela história. Só o primeiro capítulo já nos mergulha na vida e nos pensamentos da protagonista, a jovem Merit, de dezessete anos, que coleciona troféus que nunca ganhou (sempre que algo ruim acontece em sua vida, ela compra um troféu), possui uma irmã gêmea que não faz a menor questão de ser sua amiga, um irmão mais velho que odeia em segredo há anos, um pai que despreza por ter traído sua mãe quando ela estava lutando contra um câncer, uma madrasta que ela faz questão de infernizar, uma mãe agorafóbica que vive no porão da casa do ex-marido traidor, e um irmãozinho chamado Moby, fruto da traição do seu pai e o único membro daquela casa que ela não detesta. 

"O que as pessoas não sabem é que não existe família perfeita, por mais branca que seja a cerca."

Criada num lar onde todos parecem se importar apenas com a própria vida e insistem em comportamentos egoístas que acabam por afetar os outros membros da família, Merit, ao iniciarmos a leitura, já chegou a um ponto em que a dor se transformou em indiferença... ou, pelo menos, é nisso que ela acredita. Já não se importa com a distância e a imaturidade do pai. Não se importa se sua irmã gêmea prefere ser próxima apenas de Utah, seu irmão mais velho, e fazer de conta que ela não existe. Não a afeta que Utah também pareça considerá-la invisível e nunca a convide para suas saídas. Pouco lhe interessa que sua madrasta continue ocupando o lugar que um dia foi de sua mãe e que, sua mãe, por sua vez, esteja há mais de dois anos sem sair do porão que transformou em casa e há muito tenha deixado de desempenhar o papel que lhe cabia. Merit sabia que só podia contar consigo mesma. Fazia séculos que desistira daquela família.

Só que, num determinado dia, ela simplesmente cansa. De continuar. Os dias perdem a graça. Decide que não vale mais a pena ir à escola. Que importava que era o último ano? Não tinha vontade de ir. Quem sabe no dia seguinte mudasse de ideia... Seus períodos de sono sofrem grandes alterações, seu apetite, sua interação com as pessoas e o mundo ao redor. Se sentia esgotada, sem energia para nada e se tornara um hábito roubar os comprimidos da mãe e escondê-los dentro de uma bota em seu quarto, por mais que não soubesse ao certo por que fazia aquilo. Passava por cada dia como se não estivesse realmente ali. 

"- Descobri que a depressão não significa necessariamente que a pessoa está infeliz ou é suicida o tempo todo. Ser indiferente também é um sinal de depressão."

Sofrendo de depressão sem entender o que de fato se passava em seu interior, e vivendo numa casa onde ninguém seria capaz de notar os sinais nem mesmo se eles batessem em suas caras, Merit não demoraria a seguir um caminho sem volta... isso se em sua vida não aparecessem dois garotos que, de uma forma ou de outra, alterariam o rumo dos acontecimentos. 

Antes de pegar este livro para ler eu não sabia ao certo do que se tratava. Achava que era um romance, daqueles juvenis e um pouco mais dramáticos, considerando a capa e o título em português do Brasil. Foi só quando li a sinopse e busquei a tradução do título original Without Merit, cujo significado é Sem Merit, que percebi que a história ia muito além do que eu esperava. Que a autora arriscaria falar de depressão e, mais ainda, de suicídio. Não é spoiler, gente. O título original e a sinopse deixam isso bem claro. Então, antes de iniciar a leitura eu já sentia um certo medo das coisas caminharem para um final que meu coração não aceitaria. Felizmente, todos os meus medos foram infundados, já que a intenção da Colleen não foi criar uma história que destruiria nossos corações, mas sim uma ficção familiar que provocaria identificação e reflexões, que nos "acordaria" para temas que não devem ser tratados como tabus e nem as pessoas estigmatizadas. 

"Não viemos para essa terra para ser cópias dos nossos pais."

Acredito que é impossível dizer que existe uma família "perfeita". A grama do vizinho é sempre mais verde, como dizem. Sempre consideramos a vida do outro melhor que a nossa, os problemas dos outros menores que os nossos. Mas a verdade é que todos passam por situações ruins, problemas e dores neste mundo. O que não significa que devemos menosprezar o sofrimento de ninguém, pois só quem passa por uma dor sabe o que sente. Duas pessoas podem passar por um mesmo acontecimento desgastante e terem reações bem diferentes; uma pode continuar seu caminho como se nada tivesse acontecido ou como se aquele acontecimento fosse apenas mais um obstáculo a ser vencido, enquanto a outra pessoa pode sofrer um grande trauma a partir daquilo e sua vida nunca mais ser a mesma. Cada dor é pessoal, individual. E precisar de ajuda psicológica para lidar com determinada situação ou sentimento não é vergonha, não te torna mais fraco que ninguém. Algo que Merit, por ter apenas dezessete anos e estar acostumada a ser isolada por todos, vai demorar um pouco a perceber. 

"Muita gente que sofre de depressão nem sabe que tem. É uma transformação gradual. [...] Antigamente eu sentia que estava no topo do mundo. E, então, um dia, percebi que não parecia mais estar lá. Eu só flutuava dentro dele. E um dia parecia que o mundo estava por cima de mim."

Embora toque em temas fortes, a escrita da autora é extremamente leve e delicada, fazendo com que a história não seja pesada, não provoque aquele peso dentro de nós. A leitura flui muito bem e nos pegamos rindo com os personagens e torcendo para que aquela família problemática e cheia de mágoas e segredos consiga atingir um equilíbrio, que os pais daqueles adolescentes percebam o quanto estão ferrando com a vida dos próprios filhos, antes que seja tarde demais para qualquer salvação. Eu sei que pais também cometem erros, pois são humanos, mas são responsáveis por seus filhos, e suas atitudes atingem sim (e em cheio, com toda a força) a vida daqueles que dependem deles e para quem deveriam ser exemplos. Muitos traumas da vida adulta são adquiridos na infância, isso é inegável. E por mais que a Merit estivesse sofrendo de depressão e precisasse de ajuda psicológica, a mudança precisava começar em sua casa, pois dali vinham suas maiores mágoas. Eram as pessoas de sua própria família que mais a feriam e deixavam doente. Não adiantaria de muita coisa ela fazer terapia se o ambiente familiar continuasse tão tóxico. 

"Suas emoções e reações são legítimas, Merit. Não deixe que ninguém lhe diga outra coisa. Você é a única que as sente."

Há um lindo romance nesta história, que nos toca o coração. Sagan, um rapaz misterioso que Merit conhece num antiquário, surge no livro para nos emocionar profundamente. Durante boa parte da história nada conhecemos de sua vida ou passado, mas quando as coisas finalmente são reveladas, um nó atinge nossa garganta e a vontade de chorar é muito forte. Ele tem que suportar tanta coisa com tão pouca idade (tem apenas 19 anos), que o que mais queremos é protegê-lo do mundo. Mas não pensem que ele é um personagem frágil nem coitadinho. Ele tem uma força interior muito grande e se torna importantíssimo na vida da Merit. Com ele, ela aprende muitas coisas... sobre a vida e sobre si mesma. 

Já Luck, um rapaz excêntrico, também aparece na história para balançar nossas emoções. De início, pensamos que sabemos tudo sobre ele e sua personalidade, mas nos momentos mais intensos do livro acabamos por descobrir que existiam outras camadas, mais profundas, e que ele também tinha coisas para nos ensinar. Gostei muito desse personagem, e ele me fez rir bastante. 

Quem (como eu) detesta triângulos amorosos, não precisa se preocupar: não há triângulo amoroso neste livro. Não é esse o rumo que a relação entre Sagan, Merit e Luck vai tomar. Não é disso que se trata a história, então podem respirar aliviados!rs

Como os personagens aprendem com o decorrer da história: "Nem todo erro merece uma consequência. Às vezes a única coisa que ele merece é o perdão." Isso é verdade. Existem mágoas, dores, que só podem ser curadas quando nos permitimos perdoar. Às vezes aquele que nos feriu sofre tanto quanto nós e só espera pelo perdão para reconstruir a ponte que o seu erro destruiu. E quando se trata de pessoas que são tão importantes para nós, perdoar (se o outro realmente se arrependeu) é a única forma de não romper laços que, se desfeitos, vão provocar um vazio impossível de preencher. 

É uma história que fala de depressão. Mas também fala de família, de perdão e recomeços. De dar uma segunda chance, de reconstruir pontes. De entender que todos nós cometemos erros, mas que se aprendemos com eles ainda temos tempo de salvar um relacionamento que nos é importante. Eu senti muita raiva da família da Merit ao longo da história, mas quando todos os segredos foram expostos e conheci as rachaduras, as feridas de cada morador daquela casa, tudo o que mais senti foi compaixão. Principalmente porque eles acabam aprendendo muito. E porque era uma família que realmente se amava, embora com muitos erros. 

Eu apreciei muitíssimo esta leitura. Terminei o livro feliz com o desfecho que a autora deu à história. O livro só não recebeu 5 estrelas porque senti que a depressão poderia ter sido melhor trabalhada, sobretudo a busca por tratamento psicológico. E também porque certas situações se resolveram rápido demais e outras ficaram muito em aberto quando era importante que fossem bem amarradas. Mas como um todo é um livro incrível, que amei ter lido e que me fez desejar conhecer outras histórias da autora. Tenho aqui em casa "É assim que acaba", que devo ler em breve. :) 



Leitora apaixonada por romances de época, clássicos e thrillers. Mãe da minha eterna princesa Luana e dos meus príncipes Celestino e Felipe (gatinhos filhos do coração). Filha carinhosa. Irmã dedicada. Amiga para todas as horas. Acredita em Deus. E no poder do amor.

16 comentários:

  1. Olá. Esses grupos de leitura são ótimos. Não conhecia o livro, faz tempo que não leio nada de Colleen. Sobre a questão da depressão não ter sido bem trabalhada, não sei opinar bem porque não li a obra para compreender como isso foi trabalhado, então com base em sua percepção, certamente ficaria um pouco irritada. Já que a temática faz parte do livro, que seja bem trabalhada.

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  2. Olá, tudo bem? Só li um livro da autora até o momento, mas pretendo ler vários outros, inclusive essa, que parece ser maravilhoso. Adorei a resenha e dica!

    Beijos,
    Duas Livreiras

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  3. Olá, Luna.

    Jura que você achou a história leve? Eu achei ela extremamente pesada, não consegui digerir aquela família de forma alguma, o final terminou pior do que quando começou.
    Apesar da minha experiência nem tão boa com esse livro da autora, eu espero futuramente poder ler outros e mudar minha opinião a respeito.

    www.pactoliterario.blogspot.com.br

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  4. Oi, Luna.
    Apesar de sempre ler ótimas críticas dos livros dessa autora, não tenho mais vontade de ler os livros dela. Os que eu li não me encantaram e perdi o pique, sabe?! Por mais que falem bem e que eu pense que pode ser diferente, acabo desanimada e dando chance a autora que me cativam mais!
    Que legal que gostou da leitura, apesar de faltar esse trabalho melhor com o tema da depressão!
    beijos
    Camis - blog Leitora Compulsiva

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  5. Esse foi um livro que me dececionou muito, não tive a mesma experiência que você. Achei q a autora inseriu muitos temas e não trabalhou nenhum deles com a seriedade que eles mereciam.
    Beijos

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  6. Olá...
    Eu já li esse livro, mas, ainda não postei resenha lá no blog!
    Sei que sou suspeita pra falar da CoHo, pois, amoooooo seus livros, mas, em suma, foi um livro que gostei bastante e a autora conseguiu transmitir perfeitamente o fato de que NÃO existe famílias perfeitas.
    Amei sua resenha!
    Bjo

    http://coisasdediane.blogspot.com/

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  7. Oi! Eu amo os livros da Colleen, mas ainda não li os últimos lançados pela GR porque toda santa vez que leio algo que essa mulher incrível escreve entro numa ressaca literária muito forte. Fico feliz que tenha gostado tanto do livro, acho que esse livro aborda temas muito interessantes e importantes (assim como todas as obras dela, para ser bem honesta!).

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  8. Olá, Luna!

    Eu ainda não li os livros da Colleen, mas ela parece ser uma escritora incrível e digo isso pelas inúmeras resenhas e divulgações que já li. Eu gostei da sua resenha e fiquei contente que gostou da leitura. Parabéns pela publicação, tudo muito caprichado!
    Abraço!

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  9. Oii, tudo bem?
    Todos os livros da Colleen Hoover que eu li me fizeram chorar e acredito que com esse não vai ser difente, mesmo antes de começarn o livro já me simpatizei com a protagonista e estou louca para saber quais os segredos que ela guarda.

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  10. Eu li esse livro ano passado e a história entrou para uma das favoritas do ano, gostei muito da forma como a autora retratou a depressão de maneira real e tocante. No momento dessa leitura eu estava passando pelas mesmas emoções que a protagonista e isso me ajudou a procurar ajuda a dizer que eu poderia esta vivenciando a depressão. A questão familiar, o fato de trata de recomeços e segunda chance deixou a trama ainda mais envolvente e sentimental.

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  11. Olá, tudo bom?
    Esse livro está na minha lista de desejados há tempos, mas sempre acabo passando outros na frente. Agora, após ler sua leitura, fico me perguntando porque ainda não o li. Fiquei muito curiosa para saber como temáticas tão importantes vão ser abordadas na trama, principalmente a depressão e essa questão do perdão e da reestruturação. Anotei a dica e assim que possível vou adquirir o livro e realizar a leitura! Ps: Prepare seu coração para É assim que acaba! rs
    Beijos!

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  12. Oi, Luna! Ainda não li nenhum livro da autora, talvez eu comece por esse livro, como vc fez. Só espero gostar muito da escrita da autora, pelo que tenho lido, é muito elogiada, mas existem aqueles que não se identificam com seus livros.
    bjs
    Lucy - Por essas páginas

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  13. Oi Luna!
    Adoro os livros da CoHo ela é magnífica em colocar em palavras os sentimentos e passar para nós leitoras todas essas emoções. Esse livro ainda não li, mas está na minha lista, lendo sua resenha tive vários tipos de conflitos contra os familiares de Merit, estou curiosa sobre a trama e os dois rapazes que entram na história, obrigado pela dica. Bjs!

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  14. Já li algumas resenhas sobre esse livro, a maioria bem positiva. Maa nunca me ativei a lê-lo. Sei lá, o enredo por algum motivo não me atrai a esse ponto, apesar deu gostar do gênero.

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  15. Olá Luna,
    É assim que acaba é maravilhoso, ele está no meu top 1 de livros da autora ao lado de Todas as suas imperfeições. Ainda não li As mil parte do meu coração, mas como costumo gostar de tudo da CoHo, creio que com esse não será muito diferente, já aproveitei suas ressalvas e me preparei para uma boa história apesar de algumas lacunas.

    Abraços!
    Nosso Mundo Literário

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  16. Oie amoreca,
    Que intensa essa história, já estou aqui querendo conhecer um pouco mais de Merit e seus conflitos.Dica anotada!
    Não conhecia a autora, mas gostei do que vi por aqui!
    Beijokas amore!

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