27 de fevereiro de 2019

Contos e crônicas lidos - Fevereiro/2019

Tempo de leitura:

Olá, queridos!

Eu tinha prometido que este ano tentaria arriscar mais a leitura de gêneros que não aprecio. Sair profundamente da minha zona de conforto, sabe? Então, pela primeira vez na vida li um conto do Edgar Allan Poe. Ano passado adquiri tanto esta coletânea de contos de terror do autor quanto um box lindo contendo três livros do Bram Stoker (autor de Drácula), para já me preparar para leituras mais assustadoras.rs Vocês sabem: fujo de histórias de terror. Tanto em livros quanto em filmes. Evito o máximo que posso sempre. É óbvio para qualquer pessoa que ler terror não vai dar certo na minha vida.rs Insônia, pesadelos, sustos por nada... serão frequentes nos meus dias.kkkkkkkkk... Vamos ver por quanto tempo aguentarei. Ou se de fato acabarei me acostumando com este gênero. 

Comecei por Berenice. Sei que em algum momento da minha vida eu assisti um filme inspirado numa obra do Edgar Allan Poe. Era um filme que tinha alguma coisa de corvo, mas não lembro bem da história. Enfim... Sabia que os contos dele eram assustadores, mas quando comecei a ler Berenice pensei que não tinha terror nenhum, era só conversa. E aí fui chegando perto do final e suspeitando de uma coisa. Mas pensei: "Não! Ele não faria isso!". Pois bem. O protagonista perturbado deste conto, obcecado pela prima Berenice, com a qual cresceu, fez exatamente o que eu temia que ele fizesse. E claro que a cena me deixou arrepiada dos pés à cabeça. Senti um frio dentro de mim. E fechei os olhos tentando me livrar da imagem daquela cena. O grande vilão deste conto é o próprio protagonista e é ele quem narra toda a história. Ele é um ser humano extremamente doentio. Alguém que eu jamais iria querer que cruzasse o meu caminho. 

Minha segunda aposta do mês foi um conto do Nelson Rodrigues. Nunca li nada do autor, mas adquiri no final do ano passado a coletânea A Vida como Ela é... em 100 inéditos. Estou querendo ler mais contos, então, nada melhor do que um livro com 100 deles.rsrs Li este mês o primeiro conto da coletânea intitulado O homem do cemitério. Pelo que entendi o Nelson Rodrigues foi um grande autor de teatro, contista e cronista (existindo diversas adaptações de suas obras) e publicou mais de 300 textos em algumas colunas de jornais. Não fiz nenhuma pesquisa profunda sobre o autor (embora saiba por alto que alguns posicionamentos dele eram polêmicos), então, vou me limitar ao conto.rs Ele é bem curtinho e nos traz a história de um viúvo chamado Maviel, que ficou destroçado com a morte da esposa. Mas não uma dor normal e sim algo extremo, ao ponto de se temer que ele cometesse suicídio, vez que "se apaixonou pela dor, pelo próprio sofrimento". Ele gostava de estar sofrendo, é o que o autor dá a entender. Se regozijava com a dor e a simpatia que isso despertava nos outros, a atenção que recebia. O final do conto é previsível para quem não se deixa enganar pelo personagem, mas pode surpreender algumas pessoas. 

Voltando para o terror resolvi ler um conto da coletânea Contos Estranhos, do famoso Bram Stoker. Em vez de seguir a ordem escolhi um conto ao acaso e foi A profecia da cigana. Embora a obra do Edgar Allan Poe tenha me deixado bem chocada foi esta história do autor de Drácula que realmente me deixou tensa. Ele manteve um suspense forte até o final e meus nervos ficaram à flor da pele, temendo pela forma como tudo poderia terminar. E confesso que fiquei bem surpresa com a conclusão da história.rs

Em A profecia da cigana temos dois jovens amigos que decidem aproveitar a bela noite de verão para sair por aí e acabam indo até um acampamento cigano para que fosse feita a leitura da mão, para que descobrissem algo sobre seu futuro. Nenhum dos dois acreditava naquilo, mas era uma forma de se divertirem. Enquanto Gerald era solteiro, Joshua era casado com o grande amor de sua vida, a bela Mary. Ocorre que a cigana que leu a mão do Joshua o informou que se ele amava mesmo a própria mulher deveria ir para bem longe dela, pois de suas mãos escorreria o sangue da mesma. Ele estava destinado a matar a própria esposa. A partir daqui não digo mais nada, pois vale muito a pena descobrir por conta própria como as coisas irão se desenvolver. Apreciei demais esta história! Fiquei tensa, agitada, mas no fim gostei muito.rs


As pombas (da Catedral) de St. Paul é o sexto conto presente no livro Contos Peculiares, e o segundo que eu leio. Em janeiro apostei em A princesa da língua bifurcada e gostei tanto que resolvi continuar lendo esta coletânea. 

Este conto nos traz a história do ódio que existiu, durante séculos, entre os humanos e as pombas peculiares. No início, as pombas os toleravam por conta dos restos de alimentos que eles deixavam cair e serviam de comida para elas. Todavia, quando os humanos resolveram investir em construções que invadiam o espaço das pombas com seus prédios cada vez mais altos, elas convocaram uma reunião e milhares delas concordaram que a melhor forma de detê-los era declarando guerra. Qualquer construção com mais de dois andares seria destruída. E assim elas fizeram, provocando incêndios cada vez mais graves. Ao se darem conta de que tais destruições eram um ato de vingança das pombas, os humanos revidaram, assassinando muitas delas. E, desta forma, a guerra durou anos, com perdas de ambos os lados. 

Achei a história muito interessante, sobretudo pela forma como as coisas se modificam quase no final e entendemos o sentido do título. Continuo preferindo o conto anterior, mas este também é muito bom. 

Uns braços, presente no livro Contos Escolhidos do meu amado Machado de Assis, conta um breve momento da vida do jovem Inácio, rapaz de quinze anos, que foi contratado como uma espécie de ajudante de um solicitador (procurador) e, por conta disso, acabou por se mudar para a casa do patrão, onde já vivia há cinco semanas, não se atrevendo sequer a abrir a boca para falar dentro da casa do homem, que era bastante grosseiro com Inácio. O rapaz passava os seus dias sempre desanimado e se sentindo por demais solitário, o que talvez tenha contribuído para despertar um interesse um tanto quanto estranho. 

É que naquela casa também vivia D. Severina, mulher de seu patrão, uma senhora que não era nem feia nem bonita, mas que fascinava Inácio por conta dos braços que possuía. Braços como ele nunca viu iguais, que estavam sempre descobertos e atraentes, fazendo com que o rapaz pensasse neles dia e noite, dormindo ou acordado. Ele já não conseguia se concentrar em coisa alguma e era difícil manter em segredo o seu interesse, o que não lhe deixava outra opção que não fosse sair daquela casa e abandonar o trabalho. Mas quando pensava nisso... perdia a coragem, porque já não imaginava sua vida sem aqueles braços.rs

- Não canso de me admirar com o talento deste autor, capaz de pegar as coisas mais banais e transformar em contos fascinantes. Vale muito a pena ler esta história e conferir como ela termina. 

O jardineiro Timóteo, presente no livro Negrinha de Monteiro Lobato, é um conto que me deixou muito triste, o que já era de se esperar, pois todo conto deste autor termina mal. Não é nem segredo mais. A pessoa já começa a ler preparada para o pior. 

Traz a história do velho Timóteo, que trabalhava há mais de quarenta anos no casarão, pertencente a ex-senhores de escravos. O Sinhô-velho tinha sido seu "dono", mas por terem se tornado muito amigos, Timóteo acabou por ser alforriado antes da Lei Áurea e preferiu seguir trabalhando na propriedade, dedicado de corpo e alma ao seu amado jardim. Da mesma forma outros ex-escravos fizeram, pois seus patrões (segundo eles) eram bons e não podiam deixar sua Sinhazinha, filha do falecido patrão. 

Timóteo passava muitas horas do seu dia cuidando do jardim da propriedade e fazendo poesia com as flores. Enquanto tantos outros poetas preferiam escrever versos, Timóteo os plantava e via florescer. Aquele jardim lhe era sagrado e representava todas as pessoas que viviam ou já tinham passado pela propriedade. Até mesmo os animais eram representados por alguma espécie de flor e ele conversava com cada uma delas como se pudessem lhe responder. Ele não tinha família, não tinha nada, e fez daquele jardim o seu lar, a sua família amorosa. E, como eu disse, as coisas não terminam bem. 

Não fiquei apenas triste com o final do conto, mas também muito revoltada. Tão boazinha era a sinhá que o Timóteo tanto idolatrava que nem se preocupou com o que seria dele, tão dedicado à família dela há décadas! Ela parecia vê-lo como um bichinho doméstico, carente de amor, e no qual bastava fazer um afago que estava tudo bem. Eu fiquei com muita raiva dessa garota! 

Timóteo nunca se livrou das amarras da escravidão. Sempre manteve aquela submissão tão triste, se vendo como uma pessoa inferior aos patrões, se diminuindo o tempo inteiro e vendo seus próprios semelhantes (outros ex-escravos) também como seres humanos inferiores aos brancos. Era aquela vida que ele conhecia, estava acostumado com aquela posição e acreditava que tudo tinha que ser exatamente daquele jeito. Fiquei arrasada com a história dele. 



Depois de seis contos resolvi ler um pouco de crônicas e voltei para o Caio Fernando de Abreu com Amizade Telefônica. Nela o autor fala de como são diferentes as amizades "físicas" e as por telefone e como a segunda é mais preciosa, necessária, bem-vinda. São amigos raros, daqueles que se guarda num lugar especial do coração. Para os quais você pode falar aquilo que é indizível cara a cara. Os silêncios por telefone nunca são desconfortáveis, o outro te compreende, consegue falar através de sua respiração que está ali, te ouvindo, esperando que você esteja pronto para continuar. Agora tais silêncios numa conversa cara a cara são constrangedores. 

Ele diz que antes do telefone existiram as cartas e ele teve "amigos-por-carta" e também eram maravilhosos. Assim, o autor me fez pensar nas redes sociais, nas conversas por e-mail, WhatsApp, Messenger. Substitutos das cartas e do telefone. Quantos amigos "virtuais" você tem e são tão queridos? Com os quais você pode conversar por horas sem se ver e confessar seus segredos mais íntimos, confiando 100% naquela amizade? Existem amigos virtuais que são mais importantes na nossa vida do que aqueles que vemos no nosso dia a dia. 

Tempo de dantes foi a segunda crônica que li no mês e minha primeira experiência com o autor Mário de Andrade. Eu gostei bastante, embora no início tenha estranhado um pouco por se tratar de uma crônica narrativa, contada em 3ª pessoa e se assemelhando mais a um conto. Como as crônicas que lia eram mais líricas ou dissertativas, fiquei um pouco confusa com este estilo diferente. 

Nesta crônica temos um casal que está tendo alguma espécie de crise no casamento, pois a mulher deseja viajar para ver uma apresentação e o marido disse que se ela quisesse ir que fosse sozinha. Interessante que a "discussão" entre eles se dá através de uma outra pessoa, chamada de "negrinha" na história. O que quer que Clotildes quisesse dizer ao marido Antônio, ela o fazia através da menina e assim vice-versa. Eles não se falavam diretamente. 

Ocorre que Clotildes viajou sem o marido, mas determinada a retornar apenas se ele fosse buscá-la. Ela não voltaria se o infeliz não se desse ao trabalho de ir até ela para trazê-la para casa. E o outro, por sua vez, estava determinado a deixar que ela voltasse por conta própria, senão poderia por lá ficar.rs A história nos provoca uma crise de risos com o final. Foi um choque divertido.rs

É isso, queridos! Espero que tenham gostado! Estou apreciando muito estes posts mensais sobre contos e crônicas. E conhecendo histórias e autores incríveis! 

Bjs!

Leitora apaixonada por romances de época, clássicos e thrillers. Mãe da minha eterna princesa Luana e dos meus príncipes Celestino, Felipe e Damon (gatinhos filhos do coração). Filha carinhosa. Irmã dedicada. Amiga para todas as horas. Acredita em Deus. E no poder do amor.

13 comentários:

  1. Oi,

    Nos últimos meses também estou saindo um pouco da minha zona de conforto, peguei pra ler o livro "Cemiterio Maldito", do Stephen King, que vai virar filme esse ano.
    Eu sei que o terror é um pouco assustador nos filmes, agora na minha mente, nossa! Mas confesso que estou adorando a experiencia, e nas próximas leituras espero poder colocar alguma biografia.

    Alias, adorei o formato do post. ;),

    Abs

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  2. OLA BOA TARDE
    gostei do seu post, leu bastante hein?
    NÃO conhecia nemhum desses contos e cronicas que voce mencionou
    ME interessei por tres deles A PROFECIA CIGANA ,TEMPO SE DANTES ,AS POMBAS ,UNS BRAÇOS esse livro de MACHADO DE ASSIS parece bem estranho diferente nunca vi alguem se apaixonar por um braço QUANDO gente pensa que já leu de tudo eis que aparece alguem que se apaixona por um braço kkk
    NÃO SOU de ler livros de terror inclusive eu comprei por impulso um livro do STHEPEM KING chamado DESESPERO ai emprestei mesmo sem ler para uma amiga e ela disse que tinha ficado deprimida depois que leu o livro ai eu perdi a coragem de ler o livro MEU FILHO havia visto o livro aqui em casa a quis ler e eu menti dizendo que tinha jogado fora FIQUEI COM TRAUMA DO livro ,mas o livro está escondido em algum lugar e quem sabe um dia au e meu filho leia o dito cujo
    MAS ESSE QUE voce leu A PROFECIA CIGANA parece bem interessante
    DICAS ANOTADAS BJS














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    1. Olá, Eliane!

      Também foi a primeira vez que via alguém se apaixonar por braços.kkkkkkkk... Machado de Assis era um autor que escrevia coisas às vezes estranhas.rsrs

      kkkkkkkk... Espero que um dia você consiga ler o livro! Confesso que eu ainda não tenho coragem de ler Stephen King. É um autor que me assusta.

      A Profecia Cigana é muito bom! Surpreendente!

      Bjs!

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  3. Oi!
    Adoro contos e crônicas e principalmente de terror. Gostei muito do seu post e de seus comentários, parabéns pela sua fibra de sair de sua zona de conforto e desafiar a fazer leituras do não está acostumada. Uma dica leia Stephen King pois você precisa comprovar sua escrita, bjs!

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  4. Gosto demais de contos e esse livro do EAP, me chamou muito a atenção, pois não o conhecia. Adorei a capa. Irei ver se tem aqui para vender.

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  5. Oi! Quanto conto bom! Os da Contos Estranhos são sempre ótimos para usar em sala de aula porque fisgam a atenção dos alunos - já usei muito em sala haha Estou pra ler essa coletânea do Caio Fernando há tempos, mas não consegui encaixar ainda, li pouca coisa dele e seu forma de narrar é muito gostosa de ler. Beijos!

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  6. Oi, Luna (ou Bruna, rsrs)!
    Acho crônicas e principalmente contos uma ótima escolha quando não estamos muito no clima de ler um romance, que vai ter mais de 100 páginas (pelo menos). No entanto, não sou a maior fã do estilo. No caso de contos, é sempre muito difícil eu me conectar com as histórias e crônica, para funcionar, tem que ser de um assunto que gosto muito.
    Bjss

    http://umolhardeestrangeiro.blogspot.com/

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  7. Olá Luna!!!
    Monteiro realmente tem um certo problema quando não é com seu Sítio e essa coletânea dele só vim a ter conhecimento quando fui ler o livro de contos/crônicas/artigos do mesmo que é Urupês e que gostei um pouco do mesmo.
    Gostei dessa chance que você anda dando a crônicas e contos, e admito que como você fujo do gênero terror.

    lereliterario.blogspot.com

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  8. Olá!
    Eu ainda não li nenhum desses contos mencionados mas quero muito conhecer a escrita do Poe. Vejo tantos comentários sobre suas obras e algumas edições são tão lindas que estou bem curiosa.
    Espero realmente não me decepcionar.
    Beijos!

    Camila de Moraes

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  9. Caramba, você se empenhou mesmo na missão, né? Hahaha leu coisa demais! Eu amo contos mas confesso que tenho lido com pouca frequência, porém gostei muito das suas dicas e já anotei alguns autores que me chamaram a atenção.

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  10. nossa, eu AMO caio abreu e nelson rodrigues. Não vou nem falar sobre Poe e cia porque sou apaixonada por Terror desde que me entendo por gente hahahaha
    fico feliz que vc tenha gostado de Berenice.
    Machado é outro escritor que está no rol dos meus queridinhos...

    espero que vc vá lendo mais e mais contos, esse ano vou investir com tudo em alguns nacionais que tenho no acervo...[bjs...

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  11. Oi Luna, também amo contos e cronicas e dos livros que estão no post, tenho um carinho imenso com Os Contos Peculiares porque embora eu não curta sobrenatural, eu adorei demais este universo.
    Amei o post.
    Beijos

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  12. Eu acho muito legal sair da nossa zona de conforto, apesar de eu fazer bem pouco. Como você, passo longe de histórias de terror porque minha mente prega várias peças e nunca consigo dormir. Tenho muita curiosidade de ler algo do Poe e de ler os romances mais macabros do King, mas preciso tomar muita coragem ainda. Adoro ler contos e crônicas e sempre que posso coloco na minha lista de leitura.

    Beijos, Gabi
    Reino da Loucura | Instagram

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