24 de março de 2019

Legado do Deserto - Maisey Yates

Tempo de leitura:

Título Original: Heir to a Desert Legacy
Tradutora: Celina Romeu
Editora: Harlequin
Edição de: 2013
Páginas: 204 (eBook Kindle)
Série Herdeiros Secretos de Homens Poderosos - Livro 1
Onde comprar: Amazon


Sinopse: Chloe carregou em seu ventre o futuro sheik de Attar. Quando Sayid, tio da criança e atual regente do reino, descobre, decide fazer de tudo para proteger o sobrinho. Mas ela não abrirá mão do bebê, e o casamento parece ser a única solução.



Se olhássemos apenas para a capa deste livro não imaginaríamos quão quebrados estão os personagens da história. A sinopse também não nos diz muita coisa. Parece apenas mais um livrinho do gênero, uma leitura para passar o tempo e nada mais. Certo?! Errado. 

"Posso lhe dizer desde já que há coisas demais no mundo que não fazem sentido e jamais farão. A ganância, o desejo pelo poder levam homens a fazer coisas terríveis."

Chloe James estava tentando concluir seu doutorado em física e se tornar a cientista que tanto sonhava. Queria dar aulas em grandes universidades, testar teorias... ter uma vida inteira voltada aos estudos. Marido e filhos não estavam nos seus planos. Porque queria manter o controle de sua própria vida. Sem nenhuma emoção que a tornasse fraca. 

Sua lembrança mais antiga era de quando tentara pegar algo na geladeira e não alcançara. Devia ser pequena demais, embora não recordasse quantos anos tinha na época. Mas lembrava com clareza de que fora atrás da mãe para pedir um lanche e encontrara o pai agredindo-a. Muitas recordações semelhantes foram se gravando em sua mente conforme crescia. As surras que deixavam sua mãe inconsciente, a recusa dela em largar o marido mesmo quando as agressões se tornaram mais violentas. Com tais experiências, Chloe cresceu sabendo o que não desejava para si mesma. 

Ao deixar a casa dos pais, anos mais tarde, jurou que não retornaria. Que se libertaria das amarras que tanto mal tinham lhe causado. Dedicou-se de corpo e alma aos estudos e manteve distância dos homens. Talvez fosse irracional culpar todos pelos erros e a falta de caráter do pai. E, de fato, não os culpava. Só não desejava arriscar. 

Todavia, sua vida sofreu o primeiro grande abalo quando sua meio-irmã, que ela sequer sabia que existia, procurou por ela. Casada com o sheik de um país distante, Tamara quis estabelecer contato com sua única irmã. E a relação não teria provocado grandes complicações se ela não tivesse sofrido mais um aborto, fazendo com que seu sonho de ser mãe se tornasse mais distante. Desesperada por um bebê, implorou a Chloe que a ajudasse, carregando o filho dela e do marido em seu ventre. Geneticamente, a criança pertenceria a Tamara e ao sheik, mas o útero que o acolheria seria o de Chloe. 

Ela não saberia dizer por que aceitara ajudar Tamara. Talvez fosse pelos laços de sangue ou o desespero evidente no olhar daquela que até pouco tempo antes não passava de uma desconhecida. Mas uma coisa era certa: tinha acreditado que tudo seria fácil. Que ao fim dos nove meses, entregaria o bebê à irmã e voltaria para a rotina de seus dias. 

"É claro, quando o enjoo matinal começara, a coisa 'fácil' parecera muito distante, risível. Então houve o ganho de peso, os seios doloridos, as marcas no ventre. E, é claro, o trabalho de parto e o nascimento. Nada tinha sido fácil."

E tudo apenas se complicou de uma forma muito dolorosa quando a irmã e o marido morreram num acidente a caminho do hospital no qual Chloe daria à luz. Transtornada pela dor e ainda em choque, ela fez de tudo para conseguir lidar com a perda e a certeza de que nada mais seria igual. O que faria com o bebê? Deveria entregá-lo ao tio? Seu cérebro dizia que era a coisa certa a se fazer, pois o bebê era herdeiro do reino de Attar e deveria ser criado ali. Mas seu coração... Como negar que os laços que a prendiam ao recém-nascido eram mais fortes do que ela jamais imaginara ser possível? Como admitir que só queria segurá-lo em seus braços e escondê-lo do mundo? Não era seu filho. Não biologicamente. Mas seu corpo... seu coração... gritavam contra aquela verdade. 

Por isso, quando Sayid surge em sua porta, exigindo a criança, Chloe toma a decisão de ir junto... mesmo que fosse como babá. Uma separação definitiva era mais do que ela suportaria naquele momento. Só precisava de tempo...

"Não tem um único sentimento, nem um pingo de emoção. É claro que é fácil para você. Mas eu tenho um coração, o que torna tudo confuso, doloroso. Não ouse presumir que sabe o que sinto quando não sabe o que é sentir."

Embora o passado da Chloe nos entristeça e nos faça lamentar por ela, pois é evidente que é algo que ainda afeta profundamente as suas escolhas e o medo que ela tem de relacionamentos, na verdade é o passado do Sayid o que mais pesa em nós leitores. Um peso que parece que vai nos sufocar, que causa um nó na garganta. :(

Neste livro você não vai encontrar um mocinho poderoso, podre de rico e que deseja a mocinha e aí faz de tudo para tê-la e viverem felizes para sempre. As coisas aqui são mais complexas. Sayid tem dinheiro, tem poder, mas o que ele não tem é uma vida. Seu coração está em pedaços. E ele já não acredita possuir quaisquer sentimentos. 

O pior é quando descobrimos o quanto são fortes os motivos dele para ser um homem fechado, sempre com um olhar vazio e que se recusa a estabelecer qualquer tipo de laço com alguém. Ele quis levar o sobrinho para seu país, mas apenas por um senso de dever. Se mantinha o mais longe possível da criança, era temido por seu próprio povo e passava seus dias tendo como única companhia a si mesmo. Porque tinha aprendido, da maneira mais brutal, o quanto as emoções podiam ser uma fraqueza. E que nunca poderia se permitir amar. Não uma segunda vez...

"Pensar no casamento o lembrou de outro tempo, de uma linda garota com olhos castanhos e um brilhante sorriso. Da mesma garota, pálida e aterrorizada, enquanto era obrigada a entrar num carro. Tirada dele."

As circunstâncias em que o Sayid perde a mulher amada (não é spoiler dizer que ele perdeu alguém que amava, pois isso é revelado logo no início, embora não em detalhes) são terríveis. Eu fiquei arrasada por ele e por aquela moça. Tanta injustiça, tanta maldade me deixou angustiada. E ao saber mais coisas... pude entender perfeitamente os motivos que ele tinha para ser tão duro, tão vazio e infeliz. No lugar dele acho que jamais me recuperaria. 

Ao contrário do irmão mais velho, que foi criado com amor ao lado dos pais, Sayid foi obrigado a partir ainda criança. E tinha apenas sete anos quando sentiu na pele a crueldade das outras pessoas. Como segundo filho, deveria ser treinado para se tornar soldado. Desde muito cedo. Tinha que entender que não podia amar. Que já não possuía família, que deveria ser uma máquina de defesa do país. E as "lições" foram ensinadas com surras e torturas. Com agressões físicas e psicológicas. Ele deveria se acostumar com a dor, com a ausência de afeto, libertar-se de todo e qualquer sentimento. Esposa e filhos não eram para ele. E desafiar tais regras teria um preço muito alto. 

"- Fui trenado para ser um soldado, Chloe. Para carregar em mim o sonho de outros. Proteger as expectativas, as vidas de outros. Não há espaço para mim dentro de mim mesmo."

Quando ele propõe casamento à mocinha não é levado por nenhuma grande paixão, nenhuma loucura de tê-la ao seu lado. Nada disso. Com a morte do irmão, ele se tornou regente e guardião do futuro rei, que era o seu sobrinho recém-nascido. Como o povo não confiava nele e não o considerava a pessoa certa para criar o herdeiro, Sayid viu como solução aquele casamento, já que Chloe era considerada uma heroína pela população, uma vez que tinha protegido a vida do bebê. 

E dói, gente. Dói perceber o quanto o Sayid está ferido por dentro. Que as cicatrizes que carrega no corpo, consequência de anos e mais anos de tortura, não são nada perto das feridas emocionais. Eu me coloquei no lugar dele e só o peso de fazer isso foi demais para mim. É difícil se recuperar de experiências tão dolorosas. Difícil seguir em frente e voltar a acreditar no coração quando foi criado para negar suas emoções, quando sentiu na alma o preço de se rebelar. 

As coisas entre ele e a Chloe não serão nada fáceis. Há química, desejo de estarem juntos, mas isso não basta para solucionar nada. Muita coisa os impede de terem uma relação normal. E a autora soube construir muito bem ambos os personagens, nos fazendo sentir uma conexão com eles. 

"Segurou-lhe a cabeça e lhe beijou o rosto, o pescoço, incapaz de qualquer coisa a não ser tocá-la, viver este momento perfeito. Porque sabia com absoluta certeza que não poderia durar."

- Apesar de ter amado a história e de a recomendar MUITO, eu não posso negar que senti falta de duas coisas. A primeira delas sendo mais cenas envolvendo o bebê. Embora ele apareça e tenha um instante fugaz e importante, penso que mais cenas com ele teriam sido essenciais. A segunda coisa que faltou foi mais cenas entre o casal. Mais cenas profundas. E creio que a gente fica com essa sensação porque o livro é curto demais para tanta história, sabe? A autora trabalhou muito bem as marcas carregadas pelo Sayid e com isso não ficou muito espaço para cenas de maiores envolvimentos entre ele e a Chloe. Isso não estraga o livro nem nada. E as poucas cenas que eles têm são sempre bem intensas. Mesmo assim, preferia que o livro tivesse sido mais longo. 

Um detalhe que não poderia deixar de mencionar: o quanto a Chloe é uma pessoa normal. A autora não colocou uma mocinha "perfeita" na história, que se recuperasse milagrosamente do parto. Lembrando que fazia pouco tempo que ela tinha dado à luz, a autora faz questão de mostrar que ela ainda carrega os sinais da gravidez. O peso que aumentou, as marcas na barriga, o leite nos seios... há inclusive cenas dela amamentando o filho (não importa se não é dela biologicamente, quem deu à luz foi ela). E com isso também vêm as inseguranças normais. Uma mãe de primeira viagem, que não sabe o que fazer e tem medo de cometer erros, que se sente insegura com o bebê nos braços. Ela chega a acreditar que maternidade não é para ela e tudo o que eu via era uma mãe jovem que estava aprendendo, como todas as mulheres que se tornam mães pela primeira vez e também sentem medo de falhar. 

O livro tem um epílogo um tanto diferente de outros que vemos.... Gostei muito. Mas mesmo assim continuo dizendo que o livro teria sido muito melhor se tivesse mais páginas. Faltou espaço para coisas importantes. 



*Eu escolhi a inicial do meu pseudônimo. :D 





Leitora apaixonada por romances de época, clássicos e thrillers. Mãe da minha eterna princesa Luana e dos meus príncipes Celestino e Felipe (gatinhos filhos do coração). Filha carinhosa. Irmã dedicada. Amiga para todas as horas. Acredita em Deus. E no poder do amor.

12 comentários:

  1. OLA
    QUE COINCIDENCIA ESTOU lendo um romance dessa autora chamado CHAVE PARA O SUCESSO, estou gostando embora acho que o romance poderia ser melhor .é uma estoria de reencontro que é um dos meus temas preferidos mas parece que a coisa não sai como a gente quer .FAZER O QUE não é mesmo? reescrever o livro ?
    ESSE que voce leu ainda não li mas pela sua resenha parece muito bom
    JA DEU para perceber que essa autora gosta de escrever romances cujo mocimhos são sofridos .
    dica anotada

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    1. Olá, Eliane!

      Este também é um dos temas dos quais mais gosto. E entendo este sentimento de estar gostando da história, mas acreditar que ela poderia ser melhor. Às vezes as autoras se concentram mais em certas coisas e deixam o romance meio esquecido ou não tão desenvolvido, infelizmente.

      Parece mesmo que ela gosta disso!kkkkkk... Só li uma história dela, mas pretendo ler outras.

      Bjs!

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  2. Oi, Luna!
    O livro não chamou a minha atenção, mas admito que achei a ideia da trama bem diferente do que costumo ver por aí. Essa ideia de colocar uma mocinha vivenciando a gravidez e sendo mãe com foco na trama parece bem criativa. Gostei do fato dela ser mostrada como uma mulher normal também, que carrega as marcas da gravidez e tal. Fiquei em dúvida se eu gostaria da personalidade do mocinho, mas fico feliz que você tenha se envolvido por ela. Beijos!

    Jéssica Martins
    castelodoimaginario.blogspot.com

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  3. Olá!

    A primeira coisa que reparei foi a quantidade de páginas, geralmente esses livros de épocas são bem pequenos, o que não deixa espaço para uma história muito grande ser trabalhada.
    É uma pena que a autora não teve como desenvolver tudo, é muito ruim quando no final ficamos com a sensação que faltou algo no livro, estou assim com minha última leitura.
    Mas em um todo, essa fragilização se ambos os personagens me chamou a atenção para a leitura.

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  4. Oi, Luna.
    Só de ler a sua resenha já deu para perceber o quanto essa história é emocionante.
    Adoro esse tipo de leitura e já anotei a dica aqui! Vou procurar por ele.
    Adorei o destaque que você deu para o fato da protagonista ser bem normal. Detesto aquelas personagens perfeitinhas!! Rs...
    Beijos
    Camis - blog Leitora Compulsiva

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  5. Menina, mas que enredo é esse?! Realmente não é mais uma história qualquer... Os dois personagens têm histórias pesadas que os marcaram e ambos carregam as marcas disso.
    Parece realmente ser uma excelente leitura. Fiquei muito interessada.

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  6. Olá!
    Eu sempre fico com a sensação que os livros dessas séries sempre deixam a desejar no quesito Um algo mais. Porque sempre devoramos essas leituras, mas como todo leitor apaixonado queremos mais cenas de determinados personagens.
    Não conhecia essa trama mas gostei muito de saber mais sobre os personagens, acredito que se tivesse oportunidade também me cativaria.

    Camila de Moraes

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  7. Oii, tudo bem?

    Nossa, esse livro parece ser bem intenso. Nem o li ainda e já estou me sentindo triste pelas histórias dos mocinhos. Acho bem interessante o fato de a mocinha ser bem normal, geralmente a quantidade de perfeição colocada nos personagens de alguns livros me irrita, e eu acabo não conseguindo me conectar com a história.
    O único ponto que acho ruim no livro é ele ser tão curto, não peguei para ler ainda, mas já queria que fosse maior.
    Certeza que vou ler, obrigada por compartilhar!!

    Beijinhos!!

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  8. Oie!!!

    Nossa, que história intensa e emocionante! Confesso que a sua resenha despertou a minha atenção, apesar das considerações que você fez. porém, infelizmente é um livro que eu não consigo ler. Sei que eu, Mayara, sou uma idiota por pensar nisso, mas Jesus, tenho um preconceito tão imbecil relacionado aos romances de banca, que não consigo ler nada do tipo.


    beijos

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  9. Olá Luna, eu não conhecia esse livro, mas pelos seus comentários parece ter um enredo bem diferente e cheio de reviravoltas, gostei de saber que a protagonista é uma pessoa normal, com qualidades e defeitos *-* Vou deixar anotado esse livro para quando tiver uma chance lê-lo *-*

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  10. Olá,
    já faz tanto tempo que não leio um romance desses... Geralmente as pessoas se deixam influenciar pelas capas e acabam não dando chance a história e como leitora assídua de romances de banca, sei que já li inúmeras histórias incríveis em livros do tipo. Essa, no entanto, eu não conhecia ainda, mas lendo sua resenha torna-se impossível não querer lê-la. Já vi que ambos os protagonistas possuem histórias de vidas comoventes e já quero saber como foi o processo de recomeço pelo qual ambos passaram.

    Abraços!

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  11. Oi Luna,

    O que mais me chamou a atenção em.sua resenha foi saber que o livro é diferente do que eu pensava e que traz um protagonista que foge dos clichês de mocinhos. A história em si é mais do mesmo, porém existem alguns pontos que me fazem pensar em ler.

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