12 de outubro de 2020

De Gateira em Gateira - Jacqueline Gonçalves


Literatura Infantil
Literatura Brasileira
Páginas: 24

56ª leitura de 2020 (51ª resenha do ano)

Sinopse: Serafim era um gato muito amado e bem tratado por Veruska, sua dona. Tudo em sua vida caminhava muito bem, até que ele começou a se sentir traído por ela. Por esta razão, ele decidiu tomar providências. O problema foi que ao invés dele arrumar uma solução, acabou foi se metendo em uma grande confusão.




O fato deste livro ser protagonizado por um gato me "chamou" assim que soube do seu lançamento. Qualquer pessoa que realmente me conheça sabe que sou perdidamente apaixonada por animais, sobretudo gatos. Já tive vários. Houve um período da minha vida em que eu tinha oito gatos em minha casa, eram mais gatos que pessoas (moro com a minha mãe e minha irmã), alegrando os meus dias, enchendo minha vida de amor. 

Hoje em dia eu só tenho uma gatinha, a Luana, que é tão ciumenta quanto o Serafim da história. Até mesmo quando estou "conversando" com o cachorro da minha irmã, ela fica me gritando, pois se sente "traída" se dou atenção para qualquer outro animal. Ela é o amor da minha vida. A minha filha. Como o Serafim, ela foi abandonada na rua e "me encontrou", me escolheu como sua mamãe. Desde aquele dia somos inseparáveis. 

O livro traz a história do gatinho Serafim, que tinha sido abandonado na rua com seus irmãozinhos. Ele nos conta que não sabe o que aconteceu com seus irmãos, mas se lembra do momento em que Veruska o encontrou e levou para casa, onde ele tinha um monte de privilégios.rsrs Sua vida era perfeita, com cama quentinha, suas comidas favoritas e até a caixinha de areia à sua disposição, sem mencionar o afeto que recebia, cada carinho, toda a dedicação de Veruska. Até que as coisas desandaram... Ele jamais imaginou que sua mamãe (prefiro chamar de mamãe, pois a palavra "dona" me causa incômodo) pudesse traí-lo daquela maneira, "despedaçando seu coração" e atingindo, é claro, o seu orgulho de gato-filho-único: ela adotou outro gato. Aquele foi o fim do mundo para o Serafim. De modo algum ele aceitaria dividir suas coisas e sua mãe com um intruso.rsrs

É aí que o Serafim decide tomar uma decisão: encontrar outra gateira (pessoa apaixonada por gatos) para adotá-lo, alguém que não tivesse nenhum outro gato em sua casa (pois a questão toda é que ele queria ser filho único) e lhe desse tudo aquilo com o que ele já estava acostumado. 

E ele encontra uma nova mãe, Dona Dolores, uma mulher que tinha perdido um gatinho e estava com o coração triste. Serafim chega em sua vida levando de novo a alegria e no início tudo corre bem. Até que... Serafim, agora com um novo nome, começa a sentir muita saudade de Veruska. O que fazer se ama Dolores, mas não deixa de pensar em sua outra mamãe?! Ele estava realmente metido numa grande confusão!

Esta história é uma delícia! Eu ria tanto com as travessuras do Serafim, porque além de serem divertidas eram muito parecidas com as coisas que os gatos fazem na vida real. Quem cuida de gatos sabe como eles são traquinas, orgulhosos e ciumentos! A gente pisca e lá estão eles aprontando! É uma loucura! Mas amamos cada momento ao lado deles! 

Claro que senti vontade de dar uma bronca no Serafim pelo susto que ele dá na Veruska, mas é impossível ficar brava com ele por muito tempo.rsrs E no final da história tudo dá certo. Final feliz garantido!

É um livro que me lembrou muito minha infância, pois além de ser um livro voltado para o público infantil (mas que encanta pessoas de todas as idades), também fez eu recordar o primeiro gatinho que eu tive (Miguel) que apareceu no meu quintal quando eu era criança e ficou aqui pelo tempo que Deus permitiu. Ele era bem traquinas, independente e amoroso. O Serafim me fez recordá-lo bastante.

A autora Jacqueline Gonçalves é dona do canal literário Estante Alada. Clique aqui para conhecer!



-> DLL 20: Um livro que lembre a infância


10 de outubro de 2020

O Homem de Giz - C. J. Tudor



 Literatura Inglesa
Título Original: The Chalk Man
Tradutor: Alexandre Raposo 
Editora: Intrínseca
Edição de: 2018
Páginas: 272

55ª leitura de 2020 (50ª resenha do ano)

Sinopse: Assassinato e sinais misteriosos em uma trama para fãs de Stranger Things e Stephen King


Em 1986, Eddie e os amigos passam a maior parte dos dias andando de bicicleta pela pacata vizinhança em busca de aventuras. Os desenhos a giz são seu código secreto: homenzinhos rabiscados no asfalto; mensagens que só eles entendem. Mas um desenho misterioso leva o grupo de crianças até um corpo desmembrado e espalhado em um bosque. Depois disso, nada mais é como antes.

Em 2016, Eddie se esforça para superar o passado, até que um dia ele e os amigos de infância recebem um mesmo aviso: o desenho de um homem de giz enforcado. Quando um dos amigos aparece morto, Eddie tem certeza de que precisa descobrir o que de fato aconteceu trinta anos atrás.

Alternando habilidosamente entre presente e passado, O Homem de Giz traz o melhor do suspense: personagens maravilhosamente construídos, mistérios de prender o fôlego e reviravoltas que vão impressionar até os leitores mais escaldados.




Pensando bem aqui enquanto começo a escrever esta resenha chego à conclusão de que fui muito generosa ao dar 3 estrelas a este livro...

Esta história fez muito sucesso poucos anos atrás e claro que eu fiquei com vontade de ler (porque thrillers me atraem), mas decidi esperar o hype passar e só agora resolvi arriscar a leitura. Esperando, sinceramente, que fosse gostar. Que seria uma história que me perturbaria e até mesmo provocaria medo (não é à toa que a deixei para o mês do horror). Todavia, o livro se mostrou uma grande decepção. 

Nele temos Ed Adams como protagonista, um homem de 42 anos, que nunca esqueceu os acontecimentos de 30 anos atrás. A história inteira é contada pela perspectiva dele, o que contribuiu para o tédio que senti durante a maior parte da leitura. Ed não é um personagem muito objetivo. Ele dá muitas voltas e se repete até chegar a algum lugar, ou até levar nós leitores a algum lugar nesta história tão... previsível. 

Ed estava levando sua vida normalmente, bebendo cada vez mais (e mentindo para si mesmo ao dizer que não tinha problemas com bebida) e relembrando um passado que marcou a vida de seus amigos e dele, um passado nunca fechado, pois faltavam respostas que nem todos se preocupavam em descobrir. Até que Mickey, um dos seus amigos de infância, reaparece na cidade, após tantos anos, para uma visita aparentemente motivada pela saudade daqueles que foram seus companheiros de aventuras. 

Mas logo após a chegada de Mickey, um comentário do visitante desencadeia uma série de acontecimentos na vida de Ed e ele decide encontrar todas as respostas antes que fosse tarde demais. Quem realmente tinha matado aquela garota, trinta anos antes, e desmembrado seu corpo? Será que o assassino ainda estava vivo? Seria ele o responsável pelo envio misterioso do desenho de giz macabro que seus amigos e ele receberam? Será que ele... mataria novamente? 

A história tinha potencial. E isso é o que torna a experiência de leitura ainda pior, pois a história tinha tudo para ser do tipo de tirar o fôlego, mas (na minha opinião, claro) a autora se perdeu na narrativa e criou uma trama muito previsível e cansativa, com um protagonista que dava voltas e voltas e parecia ele próprio cansado, entediado. Ed contava os acontecimentos, intercalando presente e passado (ano de 2016 e 1986), como se estivesse com vontade de dormir. Sério! Era essa a impressão que eu tinha. Um personagem que não foi muito bem construído e contribuiu bastante para o tédio que o livro me provocou. 

Eu reconheço que o prólogo é muito envolvente, do tipo que nos faz querer devorar o livro para obter todas as respostas. Mas logo que terminamos a leitura do prólogo e passeamos pelos acontecimentos do ano de 2016 e o Ed nos leva a 1986, sempre intercalando presente e passado, as coisas começam a desandar. Apenas na reta final o livro ganha fôlego, as cenas ficam frenéticas e pensamos "agora sim vai acontecer algo incrível, agora sim a leitura vai valer a pena!", mas o Ed é tão imbecil que os acontecimentos finais acabam por ser mais do que decepcionantes. 

Como eu disse, as coisas são muito previsíveis neste livro. Eu já tinha adivinhado a maioria dos segredos bem antes do final, até mesmo quem era o assassino de trinta anos atrás. Estava óbvio demais, inclusive a motivação. Porque a autora deu excessivas pistas do que havia se passado, quem tinha feito e o motivo. Estava mais claro que água. Mas claro que o Ed demorou uma eternidade para descobrir. E por falar nele, a autora seguiu o padrão de alguns suspenses: criou um personagem não confiável. Ed não é nada confiável, tanto por seus problemas de memória (que são muitos) quanto por suas "manias", que ele carrega desde a infância. E foi graças a essas "manias" que a autora entregou um dos acontecimentos do prólogo logo de cara. Assim que descobrimos o que o Ed costumava fazer na infância já percebemos muita coisa. Enfim, tudo é óbvio neste livro. 

Se recomendo a leitura?! Não. Mas minha opinião é apenas isso: simplesmente minha opinião sobre a leitura e nada mais. Não sou crítica literária. E gosto é muito pessoal. Sei que existem muitas pessoas que amaram a história, que consideram o livro um dos seus favoritos. A história não funcionou para mim, mas pode perfeitamente te agradar. 



-> DLL 20: Um livro de capa preta



2 de outubro de 2020

Livros lidos e não resenhados (setembro de 2020)

 

Literatura Colombiana
Título Original: El Amor en los Tiempos del Cólera
Tradutor: Antonio Callado
Editora: Record
Edição de: 2019
Páginas: 431

53ª leitura de 2020

Sinopse: O amor nos tempos do cólera não é apenas uma simples história, mas um grande tratado do amor. O tratado nunca escrito por Florentino Ariza, que guardava em três volumes três mil modelos de cartas para namorados, nos quais estavam todas as possibilidades do amor. O amor apaixonado da adolescência, o amor conjugal, o clandestino, o tímido, o amor sexual ou libertino. O tédio do amor, suas lutas, esquecimentos, metamorfoses, suas deslealdades e doenças, triunfos, angústias e prazeres. O amor por carta, o despertar desse amor, próximo ou distante, o amor louco. O amor de meio século, que encontra os amantes septuagenários se tocando pela primeira vez. O amor que se guarda e espera, enfim, sua realização.



Este é um dos livros mais famosos e amados do Gabriel García Márquez, mas eu não posso dizer que comecei a leitura cheia de expectativas. Como já tinha lido dois outros livros do autor, já até imaginava que ele abordaria temas que me desagradariam. Ainda assim, foi uma surpresa que a leitura tenha sido tão intragável, com personagens que me despertaram um desprezo intenso. 

É um livro do qual eu decidi que não valia a pena fazer resenha. Já bastava o fato de ter perdido meu tempo lendo suas mais de 400 páginas, acompanhando a obsessão do personagem principal e os preconceitos da sua suposta "amada". Eu realmente não gastaria meu tempo fazendo uma resenha desta história, quando tudo que eu queria era esquecer que a li. 

O que muitos consideram uma história de amor eu vi como uma história de obsessão. Florentino Ariza passou a maior parte de sua vida obcecado por uma mulher que o rejeitou na juventude. Aí ele passou a acompanhar a vida dela, tudo o que acontecia, os lugares que ela frequentava, sempre como uma sombra à espera de um dia ser notado, de um dia conquistar o lugar que o marido dela ocupava. E ele tinha como certo que uma hora aconteceria, não importando se seria no final de sua vida. Ele não descansaria enquanto não a tivesse. Para mim isto não é amor, mas loucura, doença. 

Ele é o tipo de personagem pelo qual é impossível torcer. Eu não aguentava mais acompanhar a vida desse indivíduo, suas inúmeras conquistas (ele tinha cadernos e mais cadernos com as suas "conquistas"), seus pensamentos distorcidos, mas o que mais pesou contra o personagem foi o que ele fez com a menina América, uma adolescente de quatorze anos, de quem ele se tornou tutor através da confiança que os pais da menina depositaram nele. A forma como ele a envolveu, como a usou, como a convenceu de que aquele absurdo era uma relação normal. Eu senti nojo e muito ódio desse personagem. O que ele fez com essa menina não tem perdão. E eu cansei das obras do autor, sinceramente. Só vou ler mais uma hstória dele poque já tenho o livro. Depois não comprarei ou lerei mais nenhuma história do Gabo. Eu estou cansada de ele sempre trazer personagens pedófilos, de mostrar como "histórias de amor" coisas que não são amor. 

SPOILER SOBRE ALGUNS LIVROS DO AUTOR: Em O amor e outros demônios há a história de uma menina de doze anos por quem um padre acredita estar apaixonado, então ele trai a confiança da criança (e de nós leitores) e envolve a menina, tenta convencê-la de seus sentimentos, como se aquilo tudo fosse certo. Em Cem Anos de Solidão, temos aquele desgraçado do coronel Aureliano que "se apaixona" por uma menina de nove anos, se casa com ela pouquíssimos anos mais tarde e é responsável pela morte dela, já que a engravida e a menina acaba morrendo. E agora temos aqui neste livro o protagonista de mais de setenta anos de idade convencendo uma menina de quatorze (que estava sob sua responsabilidade) de que era certo ele ter relações com ela, que aquilo tudo era normal e estavam apaixonados. Tudo isso é desprezível, é desumano. Em todo livro do autor vai ter sempre a mesma coisa?! Eu não tenho estômago para esses tipos de livros. O desprezo que eu já sentia pelo Florentino, em O Amor nos Tempos do Cólera, se transformou em profundo ódio quando ele fez tudo aquilo com a menina América. E o desgraçado ainda tem final feliz no livro! 



Literatura Brasileira
Editora: Nova Fronteira
Edição de: 2015
Páginas: 245

54ª leitura de 2020



Sinopse: O melhor de Caio Fernando Abreu faz parte da coleção que apresenta aos leitores o que nomes consagrados da literatura brasileira publicaram de mais instigante e significativo nos gêneros conto e crônica. Foram justamente esses gêneros os mais explorados pelo escritor gaúcho que soube mesclar com tanta destreza o viço inefável da vida e o seu mofo. 




Este é um daqueles livros que lemos bem aos poucos, nos quais sentimos que podemos nos refugiar. Eu levei mais de um ano para concluir a leitura, pois geralmente pegava um conto ou uma crônica para ler só quando sentia que precisava um pouco da escrita profunda e envolvente do Caio Fernando Abreu, que mexeu muito comigo, sobretudo através de suas crônicas. 

O livro possui 18 contos e 18 crônicas e não me lembro de nenhuma história que tenha me desagradado. Existram umas das quais gostei menos, mas todas foram interessantes, que me faziam ficar pensando vários minutos depois de fechar o livro.rs Todavia, como eu disse, as crônicas me apaixonaram mais, tiveram um significado maior na minha vida. Eu me identificava com algumas situações, alguns sentimentos e marquei vários trechos que às vezes sinto vontade de reler. 

"A memória tem sempre essa tendência otimista de filtrar as lembranças más para deixar só o verde, o vivo. Antigamente, sempre era melhor, ainda que não fosse."

Ano passado eu cheguei a fazer alguns posts falando sobre as crônicas presentes no livro, mas não me considero capaz de fazer uma resenha sobre esta obra.rs Só digo que é uma coletânea que recomendo muito. E quero demais ler outros livros do autor!


30 de setembro de 2020

Vidas Secas - Graciliano Ramos


Literatura Brasileira
Editora: Record
Edição de: 2020
Páginas: 176 

52ª leitura de 2020 (49ª resenha do ano)




Ano passado eu li O Quinze, da Rachel de Queiroz. Um livro que mexeu com minhas estruturas, que abalou minhas emoções e me deixou realmente muito mal. Com uma sensação de agonia. É, sem sombra de dúvidas, um livro que jamais esquecerei. Assim, quando a Kelly, do canal Aventuras na Leitura, colocou Vidas Secas, do Graciliano Ramos, entre os livros a serem lidos no clube de leitura que ela criou no Telegram, eu fquei dividida entre a grande vontade de ler a história e o medo enorme de ficar tão destroçada quanto fiquei com O Quinze

Todavia, Vidas Secas não me provocou o mesmo impacto. Sim, me fez sofrer. Sim, me fez pensar demais no desespero imenso das pessoas que passaram pela seca, das vidas que foram perdidas (tanto de pessoas quanto de animais) e toda a desigualdade social abordada no livro. Mas o estilo narrativo do autor e sua mania de repetição acabou por tornar o livro algo diferente do que eu esperava. Foi sim uma leitura importante e com cenas de abalar qualquer pessoa, mas eu não apreciei a escrita do autor e a forma como ele construiu a história e, sobretudo, os personagens. 

Em suas 124 páginas (minha edição tem 176, mas a história só vai até a página 124), o autor conta a história de Fabiano, sua esposa sinha Vitória, seus dois filhos e a cachorrinha Baleia. 

Descendente de uma família de vaqueiros, Fabiano não teve a oportunidade de estudar, repetindo o destino de seu avô e de seu pai. Vivendo em condições bastante humildes e sob a autoridade de patrões que exigiam tudo de suas forças, mas o enganavam na hora do pagamento, sempre pagando menos do que o devido e ele tendo que aceitar calado para não ser dispensado. 

"Era uma sorte ruim, mas Fabiano desejava brigar com ela, sentir-se com força para brigar com ela e vencê-la."

Sua esposa e seus filhos, bem como sua cachorrinha, tinham acabado de sobreviver a uma terrível seca. Passaram fome, caminhando até passar mal, em busca de algum lugar onde pudessem ter o mínimo para viver, onde ele conseguisse um emprego, um canto para dormir, uma esperança. Foi quando chegaram naquela fazenda e ele conseguiu convencer o dono a contratá-lo. O pior tinha passado, mas a ameaça de outra seca persistia. Era um destino cruel e tudo o que Fabiano gostaria era de poder lutar contra aquela realidade. Mas não tinha forças. Não tinha os meios necessários. Sem alternativas, precisava se submeter e ensinar seus filhos a aceitarem o mesmo. Um dia eles cresceriam e precisavam aprender a fazer o mesmo serviço que o pai, a aceitar a autoridade dos patrões e do governo, a se conformar. 

"Sabia perfeitamente que era assim, acostumara-se a todas as violências, a todas as injustiças."

E o livro vai girar em torno dessa família. Seu destino e seus questionamentos, a situação de miséria na qual vivem e a impossibilidade de mudarem de vida, por mais esperança que alguns deles tenham. Conhecemos um pouco de cada um deles, mas a história acaba por se concentrar mais no Fabiano, um personagem pelo qual até agora eu não sei o que sinto. Terminei a leitura no domingo, hoje já é quarta-feira, e sigo sem saber se gosto ou não do personagem. Acho que nunca saberei. 

A sinha Vitória, esposa dele, foi uma personagem pela qual senti uma mistura confusa de sentimentos. Existiram momentos nos quais admirei sua força, sua esperança, sua vontade de ter uma vida diferente e ir em busca disso. Mas em outros momentos eu senti raiva do seu comportamento, a falta de paciência com os filhos e com a cachorrinha. Ela chegava ao ponto de ser violenta tanto com os filhos quanto com a cachorrinha Baleia e isso me incomodava bastante. Não gosto desse tipo de cena. Eu entendo o contexto, a situação em que viviam e que nenhum ser humano é perfeito, que criar os filhos não é fácil, ainda mais numa realidade como aquela. Sei que ela amava as crianças e a cachorrinha, mas as cenas de agressões me incomodaram muito. E o Fabiano não agia diferente. Na verdade, o comportamento dele era ainda pior. Daí eu dizer que não sei o que sinto por ele, pois na maior parte do tempo ele me provocou raiva. 

Outra coisa que me desagradou na história foi a maneira como queriam condicionar as crianças a terem o mesmo destino, a seguir o mesmo caminho. Quem mais fazia isso era o Fabiano, a sinha Vitória até queria um futuro diferente para os filhos, mas ele parecia entender que deveria educar os meninos a serem como ele, a ter a mesma vida de sofrimentos e submissão. Mais uma vez eu digo que compreendo o contexto da história, mas eram situações que me incomodavam, pois se as crianças faziam perguntas, questionavam, eram silenciadas, os pais se sentiam irritados por elas quererem saber. No entanto, existiram momentos nos quais o próprio Fabiano, em seus pensamentos, desejou que os filhos pudessem ter a oportunidade de estudar. Ele não acreditava que isso fosse mesmo possível, mas desejava. 

"Os meninos eram uns brutos, como o pai. Quando crescessem, guardariam as reses de um patrão invisível, seriam pisados, maltratados, machucados por um soldado amarelo."

A história não aborda só a seca, a miséria, a fome e as gritantes desigualdades sociais, mas também a violência policial e a arbitrariedade do Estado através de cenas que nos provocam muita revolta. Ver pessoas serem tratadas como se fossem "nada" só porque não sabiam se defender, não tinham ninguém por elas, não possuíam estudos ou recursos, me fazia sentir uma imensa raiva e uma sensação de impotência. O tempo passa e nada muda realmente. Porque mesmo nos dias de hoje ainda vemos situações como as vividas neste livro.


"Muito bom uma criatura ser assim, ter recurso para se defender. Ele não tinha. Se tivesse, não viveria naquele estado."

O que mais mexeu com minhas emoções, mais me abalou, foi o que se passou com a cachorrinha Baleia. Não posso falar sobre o assunto para não dar spoilers, mas foi algo que me deixou em estado de choque. Se eu fosse falar tudo o que penso sobre aquilo não só soltaria vários spoilers, como acabaria usando várias palavras de baixo calão para expressar o ódio que senti com aquelas cenas. 

Apesar de ser um livro importante e de ter sim mexido bastante comigo, como eu disse antes, não apreciei a escrita do autor. Não gostei da construção dos personagens e da história e certamente passará um longo tempo até eu dar outra chance aos seus livros. 



-> DLL 20: Um livro nacional
 


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