4 de setembro de 2019

Contos Escolhidos - Machado de Assis

Tempo de leitura:
Literatura Brasileira
Editora: Martin Claret
Edição de: 2012
Páginas: 375

Sinopse: Machado de Assis é um dos mais renomados contistas da literatura brasileira. Transitando entre os diversos tipos de contos - do tradicional ao moderno -, seus textos são originais e complexos. São contos cheios de acontecimentos intensos - quase sempre envolvidos num clima de tensão -, repletos de personagens polêmicos e ambíguos e de jogos e armadilhas textuais que induzem à dúvida, relativizando a maior parte das ideias e levando o leitor a refletir sobre suas "certezas". Contos escolhidos é uma seleção baseada em antologias preparadas pelo próprio autor, com seus contos mais marcantes, quais sejam: Missa do galo, Conto de escola, Cantiga de esponsais, Teoria do medalhão, O espelho, A cartomante, A causa secreta, Mariana, O enfermeiro, Um cão de lata ao rabo, A chinela turca, Uns braços, Frei Simão, Aurora sem dia, O segredo do bonzo, Verba testamentária, Conto alexandrino, Noite de almirante, Ex cathedra, O caso da vara, Uma noite, Maria Cora, Um homem célebre, Miss Dollar, Marcha fúnebre, Pai contra mãe, Capítulo dos chapéus, Uma senhora, Dona Paula, A igreja do diabo. 



Olá, queridos!

Quem estiver acompanhando meus posts mensais sobre os contos que estou lendo desde o início do ano, vai perceber que esta resenha na verdade é apenas uma junção de todos os comentários que já fiz sobre cada conto presente na coletânea Contos Escolhidos, do Machado de Assis. Ao todo são 30 contos presentes neste livro. Dez deles eu li em 2017 e fiz resenhas individuais, portanto deixarei o link de cada uma delas neste post. Os outros vinte contos eu li agora em 2019 e reunirei aqui todos os comentários que fiz mensalmente. :)

Link das resenhas dos 10 primeiros contos, lidos em 2017:


Todos os meus comentários sobre os demais contos:

Em A Chinela Turca temos um jovem numa noite normal da vida de um moço abastado, cuja maior preocupação é encontrar sua amada num baile. Só que no momento em que ele estava se preparando para sair um amigo de seu pai o visitou, meio que o intimando a ler seu manuscrito, vez que o indivíduo resolvera se tornar escritor de drama. Claro que ele poderia ter dito não, que estava de saída, mas o outro com sua lábia o convenceu a se atrasar para o compromisso. Você pensa que nada de mais vai acontecer. Que é apenas um conto do cotidiano. Só que as coisas dão tal reviravolta que no final ficamos de queixo caído. Pelo menos, eu fiquei.kkkkkkk.. Simplesmente chocada e encantada pela forma como o autor desenvolveu o conto para segurar a surpresa que seria o final. Foi um dos melhores contos que já li do meu amado Machado. 


Uns braços, conta um breve momento da vida do jovem Inácio, rapaz de quinze anos, que foi contratado como uma espécie de ajudante de um solicitador (procurador) e, por conta disso, acabou por se mudar para a casa do patrão, onde já vivia há cinco semanas, não se atrevendo sequer a abrir a boca para falar dentro da casa do homem, que era bastante grosseiro com Inácio. O rapaz passava os seus dias sempre desanimado e se sentindo por demais solitário, o que talvez tenha contribuído para despertar um interesse um tanto quanto estranho. 

É que naquela casa também vivia D. Severina, mulher de seu patrão, uma senhora que não era nem feia nem bonita, mas que fascinava Inácio por conta dos braços que possuía. Braços como ele nunca viu iguais, que estavam sempre descobertos e atraentes, fazendo com que o rapaz pensasse neles dia e noite, dormindo ou acordado. Ele já não conseguia se concentrar em coisa alguma e era difícil manter em segredo o seu interesse, o que não lhe deixava outra opção que não fosse sair daquela casa e abandonar o trabalho. Mas quando pensava nisso... perdia a coragem, porque já não imaginava sua vida sem aqueles braços.rs

- Não canso de me admirar com o talento deste autor, capaz de pegar as coisas mais banais e transformar em contos fascinantes. Vale muito a pena ler esta história e conferir como ela termina. 

 Frei Simão, traz a história de um homem que morreu aos trinta e oito anos, com a aparência de quem tinha cinquenta anos. Era um religioso taciturno, que preferia se manter longe de todos e só saía de sua cela no convento nos momentos das orações e rotinas diárias de quem ali vivia. 

No momento de sua morte, suas últimas palavras provocaram um choque e certo medo nos religiosos ali presentes:

"- Morro odiando a humanidade!"

Pouco tempo depois encontraram as memórias deixadas pelo frei, escritas num conjunto de papéis. É a partir disso que se constrói a narrativa e conhecemos o passado de Simão e a grande tristeza que o tornou a pessoa que ele era. 

Aurora sem dia, traz uma história um tanto divertida e exasperante, de um jovem sonhador que decidiu que iria ser poeta, mas não tinha a menor vocação para isso.rs Seus poemas eram horríveis, mas ele via as críticas como palavras de invejosos e não tolerava que lhe dissessem qualquer coisa sobre o assunto, se não fosse para elogiá-lo. Depois este mesmo rapaz decidirá que sua nova paixão é a política e que "nasceu para isso" (do mesmo jeito que tinha nascido para a poesia). O final é um tanto inesperado.rs

O segredo do bonzo foi o único conto que li do Machado de Assis em abril. Ele traz uma história aparentemente "estranha" e tediosa, mas conforme você vai lendo percebe a intenção do autor. No fim, acabei fascinada pela inteligência de uma obra que faz uma crítica implícita, semelhante àquela presente no conto Teoria do Medalhão. O que realmente importa? Que algo exista ou que um discurso bem feito convença alguém de que certa coisa (que NÃO existe) é real? É isto que é mostrado na história: os charlatões presentes no conto, em busca de um benefício próprio, convencem as multidões a acreditarem em suas palavras, tornando algo real pela opinião construída. Eles sabiam que o que diziam era falso, mas se deliciavam em ver os ingênuos se alimentando de suas palavras e agindo conforme a vontade deles. Este conto parece tanto com a realidade em que vivemos...

Verba Testamentária conta a história de Nicolau, que dispõe em seu testamento como última vontade que seu caixão seja fabricado por Joaquim Soares, alguém considerado por todos como um péssimo profissional. Sua disposição acaba por provocar um grande alvoroço, bem como a indignação (ou inveja) dos outros fabricantes de caixões e a notícia daquela última vontade tão excêntrica percorre uma longa distância, sendo discutida na imprensa, chegando até as províncias... Enfim... As pessoas não o entendiam, mas a maioria considerava a atitude como uma manifestação de bondade. 

Ocorre que Nicolau, segundo o conto, não era um homem normal. Padecia, desde a infância, de uma "falha orgânica" que o tornava extremamente agressivo com os outros meninos, desde que eles tivessem brinquedos melhores, fossem bonitos, tivessem um ar gentil, fossem inteligentes, ou seja, tivessem qualquer qualidade que os tornasse melhores que ele. Era algo que Nicolau não conseguia controlar e seu pai tentou de tudo para corrigi-lo, desde surras até trancá-lo em casa. Mas ele cresceu e a "doença" permaneceu. Todavia, com a maturidade, ele deixou de agredir as pessoas e passou a se consumir com a dor que o sucesso dos outros provocava dentro dele. O tormento não era só emocional, mas também físico e seus únicos familiares vivos (irmã e cunhado) faziam de tudo para tornar sua vida mais suportável. 

O conto é muito interessante e cheguei a sentir pena do Nicolau, pois ele parecia realmente doente, de tão extrema que era a inveja que sentia, provavelmente fruto de um complexo de inferioridade que se agravou e deu origem a outra doença com o passar dos anos. Na vida adulta, ele muitas vezes sofria em silêncio e tentava se afastar das pessoas bem-sucedidas para diminuir sua própria dor. E mesmo quando ficou seriamente doente se recusou a ser atendido por ótimos médicos, só aceitando receber medicação se o enganassem dizendo que era algo na verdade prescrito por um ignorante qualquer. Sim, ele preferia morrer a receber tratamento de bons médicos! Não sei qual foi a intenção do autor ao escrever este conto, e acredito que ele possa ser interpretado de várias formas, mas, na minha opinião, Nicolau estava psicologicamente muito doente. 

Conto Alexandrino me deixou horrorizada. Desde o início, quando aqueles dois "estudiosos" resolveram torturar um monte de ratos (e ainda pretendiam fazer o mesmo com outros animais, como cachorros, por exemplo) em nome da ciência, eu fiquei furiosa e nauseada. Segundo eles "os deuses puseram nos bichos da terra, da água e do ar a essência de todos os sentimentos e capacidades humanas". Assim, um deles queria provar ao outro que através do sangue de ratos, por exemplo, poderiam transformar uma pessoa em ladra. E testam a teoria em si mesmos, ingerindo o sangue daqueles animais que eles torturaram. Era uma crueldade tão grande que eu quase parei de ler o conto, de tão mal que me sentia lendo aquilo tudo. Mas continuei, pois queria saber como as coisas terminariam... e realmente não podia esperar por um final como aquele. O autor conseguiu me deixar chocada e aterrorizada. Nem sei o que sinto em relação ao final do conto. 

Em Noite de Almirante temos um conto bem curtinho sobre o amor arrebatador entre um marujo e uma mocinha de vinte anos. Eles se conhecem e se apaixonam repentinamente, mas ele precisa passar muitos meses longe por conta do trabalho, deixando a garota sozinha. Desesperados pela longa separação, eles decidem fazer um juramento de que esperariam um pelo outro, que ficariam juntos. Quando o marujo retorna da viagem disposto a reencontrar sua amada, o conto toma determinado rumo e fiquei até com medo de descobrir como as coisas terminariam.

Ex cathedra é uma história um tanto romântica, que nos deixa com um sorriso no rosto no final. Fulgêncio era um homem completamente obcecado pela leitura e o estudo de tudo. Era formado em Direito, mas lia as mais variadas coisas, de forma excessiva. Passava praticamente vinte e quatro horas de cada dia lendo e estudando, para desespero de sua afilhada, que vivia em sua casa e temia por sua sanidade mental. Segundo a opinião das mucamas da casa, ele já estava um tanto louco. Caetaninha, a afilhada, tentava impedi-lo de ler tanto, mas sem sucesso. Por essa época também, ela já tinha entrado na adolescência e sonhava com uma vida mais movimentada. Foi quando um sobrinho de seu padrinho chegou para viver com eles. O rapaz tinha apenas quinze anos, idade próxima de Caetaninha (que tinha quatorze) e o padrinho da menina resolveu que os dois iriam, futuramente, se casar. Foi uma decisão de seu íntimo, não revelando suas intenções aos dois jovens. Para tanto, temendo que eles acabassem se apaixonando por outras pessoas, decidiu que iria ensiná-los a amar, já que era um intelectual, um estudioso. Então, ele prepara cuidadosamente as aulas e após todos os ensinamentos, seus dois protegidos entenderiam profundamente de amor e ficariam juntos.rs

O caso da vara é um conto que nos mostra como os seres humanos costumam pensar no próprio umbigo... sempre! Damião era um jovem que não desejava ser padre, mas o pai e o padrinho o queriam obrigar a seguir esse caminho, custasse o que custasse. O garoto, então, foge do seminário e vai buscar refúgio junto à Sinhá Rita, uma viúva de grande autoridade, de quem ele pretendia obter compaixão, já que a mulher possuía grande influência sobre o padrinho de Damião. A história se desenrola em torno disso e chegamos até a sentir pena do rapaz, que estava sendo obrigado a ser o que não queria apenas por vontade dos outros. Todavia, quando a história chega ao fim a compaixão que sentíamos se esvai com a atitude dele. Eu fiquei com muita raiva. 

Uma noite é um conto bem triste. O tenente Isidoro, em plena Guerra do Paraguai, conta para seu amigo quais os motivos que o levaram a participar daquela guerra, alegando que não foi nem o patriotismo e nem a ambição, mas sim uma alucinação. Então viajamos junto com suas palavras para conhecer o seu passado e o seu amor por uma jovem chamada Camila. A história dessa moça é perturbadora e o conto acaba de um jeito que nos deixa muito tristes. 

Maria Cora traz a história de um solteirão que considerava quase impossível se apaixonar e muito menos casar. Gostava da vida como ela era... até conhecer uma mulher pela qual ficou fascinado. Acontece que a tal senhora era casada, o que dificultava bastante as coisas, uma vez que ele não imaginava que ela pudesse ser infiel ao marido, embora eles estivessem separados de fato. Mas tão fortes eram seus sentimentos por Maria Cora que ele estava disposto a fazer qualquer coisa para conquistá-la. Este é um dos contos mais longos da coletânea e um dos que menos gostei.rs

Um homem célebre conta a história de um compositor que era muito querido, mas que estava insatisfeito consigo mesmo. Ele só conseguia compor polcas (tipo de música da qual eu nunca tinha ouvido falar) quando na verdade sonhava em ser como os compositores clássicos que tanto admirava. Assim, ele acaba levando uma vida muito triste, estando sempre amargurado, desejando algo que não tinha, em vez de valorizar o talento que possuía e que encantava as pessoas. É aquela coisa de "nunca estamos satisfeitos com o que temos". 

Em Miss Dollar, conhecemos a cadelinha cujo nome dá título ao conto. Apesar de sua participação ser importante, ela não é a real protagonista, mas sim o Dr. Mendonça, um homem apaixonado por cachorros e que dá abrigo para a pequena Miss Dollar, até que descobre quem são seus verdadeiros donos. Então, se colocando no lugar daquelas pessoas que estavam infelizes sem a cadelinha amada, ele vai até a residência delas e lhes entrega a pequena. Acontece que isso o faz conhecer Margarida, uma jovem viúva pela qual ele se apaixona perdidamente. Aqui temos Machado de Assis no seu melhor (e raro) estilo romântico.rs

Marcha Fúnebre traz a história de um homem que recebe a notícia da morte de seu inimigo. Embora não gostasse do falecido, ele não deixa de sentir certa compaixão e fica pensando no fato do outro ter sofrido muito antes de morrer, vez que vinha definhando há tempos. Ele então fica com isso na cabeça, pensando que desejaria para si mesmo uma morte súbita, algo que mal sentisse. E o conto vai se desenvolver em torno das reflexões dele.

Pai contra mãe é um conto que li pela primeira vez na faculdade, alguns anos atrás. Tínhamos que lê-lo e debater sobre os assuntos abordados na história e o importante título, que por si só já chamava a atenção. 

Lembro que tive certa dificuldade com o texto, pois acredito que era minha primeira experiência de leitura completa de um texto do autor.rs Mas agora, ao relê-lo, a leitura fluiu de forma tranquila, embora siga sendo um dos contos mais marcantes que já li do Machado de Assis. 

Temos como protagonista/antagonista deste conto, Cândido Neves, um vagabundo, por assim dizer, que nunca parava em emprego algum porque inventava várias desculpas para não ficar. 

Acontece que o sujeito resolve se casar com uma jovenzinha chamada Clara, mesmo não tendo condições de sustentá-la. Pior que isso, contra todos os conselhos, resolvem ter um bebê, sem ter dinheiro para alimentá-lo.

"Vocês, se tiverem um filho, morrem de fome - disse a tia à sobrinha."

Ele, então, decide que tem o "dom" para pegar escravo fugido e faz disso o seu oficio. E tudo ia bem no início, recebia muitas gratificações por capturar escravos, só que, com o tempo, o dinheiro deixou de chegar.  

Ocorre que o nascimento da criança não demoraria a acontecer. E o que fariam sem dinheiro e trabalho? Para a tia de Clara, o melhor era deixar o bebê na Roda dos enjeitados. É quando ele vê a sorte lhe sorrir com o anúncio de boa gratificação pela captura de uma mulata... E aí se desenrolam os acontecimentos que dão sentido ao título. Recomendo muito este conto! É uma história muito dura, cruel e impregnada da ironia tão frequente nas obras do autor, como bem podem ver no primeiro trecho que destaquei. 

Em Capítulo dos chapéus conhecemos Mariana, uma mulher casada que sempre se mostrou muito dócil e submissa ao marido, satisfeita com sua casa, que amava como se cada móvel fosse um filho. Não gostava muito de sair, se sentindo bem apenas naquela residência, levando uma vida cuja rotina lhe era importante, uma vida pacata, como era de se esperar de uma mulher "decente". Mas tudo muda após uma visita de seu pai, que estava indignado com o genro, por usar, ano após ano, um chapéu que não condizia com sua posição social e sua carreira de advogado. Mariana, então, resolve pela primeira vez enfrentar o marido, disposta a fazê-lo entender que precisava se livrar daquele chapéu horroroso. Ocorre que o marido, pego de surpresa pela súbita exaltação de sua tímida esposa, faz pouco caso de seu pedido. É a partir daí que a história se desenvolve, terminando de uma maneira inesperada.

Uma senhora traz a história de D. Camila, uma mulher belíssima, bem ciente da admiração e da inveja que provocava nas outras pessoas, e que temia profundamente envelhecer. Embora não aparentasse a idade que tinha, fazia de tudo para retardar o crescimento de sua filha, que já era adolescente e não demoraria a alcançar a idade adulta, o que de fato se passou. Sabendo que com o casamento da filha viriam os netos, algo que lhe dava pavor, fez o máximo possível para ver em cada pretendente defeitos insuperáveis.rsrs Este é outro conto divertido e que nos faz refletir sobre a passagem do tempo... Como nada é eterno e a vida passa para todo mundo.

Dona Paula é um conto profundamente envolvente. A protagonista, cujo nome dá título à história, num determinado dia resolve visitar sua sobrinha tão preciosa e a encontra em prantos, após uma discussão violenta com o marido, que tinha inclusive falado em separação. Pensando em acalmar os ânimos, ela vai até o escritório do sobrinho e o aconselha para que seja mais paciente com a esposa, que é jovem e comete erros comuns à idade. Ela faz ainda um acordo: levaria a jovem para passar um tempo ao seu lado, onde poderia exercer sua influência para fazê-la criar juízo. Até aí não sabíamos bem que rumo a história iria tomar, mas conforme as coisas se desenrolam somos envolvidos pelas lembranças de D. Paula, pelo que ela viveu no passado e quase não recordava mais...

"Que esta é a particularidade das folhas, as gerações que passam contam às que chegam as coisas que viram, e é assim que todas sabem tudo e perguntam por tudo. Você lembra-se do outro tempo?"

A igreja do diabo é o último conto deste livro e um dos mais importantes, provocando uma profunda reflexão sobre a natureza humana e suas contradições. Nele, o diabo decide que está cansado da maneira desorganizada como foi construído o seu "mundo" e a imagem que as pessoas têm dele. Então, tem a brilhante ideia de fundar uma Igreja e atrair para si aqueles que seguiam diversas religiões diferentes, bem como os que se encontravam perdidos. Por suposta lealdade, vai até Deus comunicar sua decisão, não sendo impedido de forma alguma. Contente, julgando antecipadamente que tinha conseguido vencer Deus, pois a partir daquele momento seriam pouquíssimos os que chegariam a entrar nos céus, visto que a religião criada pelo diabo os afastaria definitivamente das influências divinas.

"Há muitos modos de afirmar; há só um de negar tudo."

Enquanto existiam várias religiões que, em sua essência, afirmavam a mesma coisa, buscavam um mesmo fim, adoravam um mesmo Deus, ainda que nomeado de outra forma, a religião criada pelo diabo seria única ao negar tudo isso. Ao negar tudo o que fosse bom, provocando uma inversão de valores. Com sua lábia, chamaria a atenção das pessoas e as convenceria de que o mal era melhor que o bem, que as virtudes eram tolices, que os pecados capitais deveriam ser incentivados, que era abominável se importar com o próximo, que sequer existia um próximo! Para manipular todas as pessoas e atraí-las para o seu controle, romperia com a solidariedade, com o amor, eliminaria sentimentos que pudessem fazer as pessoas cogitarem abandonar a nova doutrina. E ele conseguiria. Fácil, fácil. Porque o homem naturalmente busca aquilo que atenda aos seus próprios interesses.

Acontece que... o conto vai tomar determinado rumo... e é isso que provoca as maiores reflexões, na verdade fortalecendo um pensamento que tenho: que ninguém é completamente bom ou mau. Somos as duas coisas. Ninguém é tão bondoso que não possa fazer algo bem ruim. Do mesmo modo que ninguém é tão cruel que em toda sua vida não seja capaz de um ato bom. Assim é a natureza humana.

Espero que tenham gostado! :)

Bjs!

Leitora apaixonada por romances de época, clássicos e thrillers. Mãe da minha eterna princesa Luana e dos meus príncipes Celestino e Felipe (gatinhos filhos do coração). Filha carinhosa. Irmã dedicada. Amiga para todas as horas. Acredita em Deus. E no poder do amor.

6 comentários:

  1. Oi Luna, tudo bem?
    Eu li apenas um livro do Machado, mas foi na época de escola (e já fazem muitos anos) e confesso que nem lembro muito da escrita ou da história. Ando numa vibe de tentar ler mais clássicos, e na verdade seu post me inspirou a tentar começar por contos por ser histórias mais curtas e que mostram diferentes facetas do autor.
    Adorei a dica.
    Abraços.

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  2. Oi, Luna!
    Acho que, de todos os livros e coletâneas de contos do Machado, este é um dos mais populares né, quase todo mundo que conheço já leu haha Gosto muito do Dona Paula, adoro como ele consegue nos envolver na narrativa e o quanto a personagem consegue nos surpreender. Estou usando o Memórias Póstumas nas aulas do curso que estou ministrando, mas vou acrescentar uns contos, porque eles são sempre incríveis.
    Beijos!

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  3. Eu gosto muito de A igreja do Diabo, O Enfermeiro e O Espelho. Mas, no fim das contas eu preciso dizer que eu AMO muito Machadão. Eu sou fã da escrita dele, da capacidade de me fazer sentir dentro da história. E me surpreendi em como são bons os seus contos!!!
    Adorei que você decidiu fazer uma junção dos seus comentários a respeito de cada conto. Eu nunca resenhei um livro de contos comentando cada conto do livro. Ficou muito legal! Parabéns.

    Beijos

    Carol, do Coisas de Mineira

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  4. Oi, Luna.
    Eu nunca li os contos de Machado de Assis, até porque não sou muito fã desse gênero. Mas em compensação os romances escritos por ele, eu devorei. Posso dizer que meu amor pela literatura nacional começou com ele. Vendo os seus comentários dá para perceber que nos contos Machado não deixa nada a desejar. Mesmo contos não sendo meu tipo de leitura preferido, vou dar uma chance e procurar os contos dele para ler. Quem sabe não acabo mudando de ideia e gostando?

    Beijos.

    Books and Movies
    www.booksandmovies.com.br/

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  5. Olá, tudo bem? Eu só li um livro do autor, que além de ser um dos meus preferidos da vida me deixou com muita vontade de conhecer outras obras, já vou anotar essa dica!!!
    Um beijo.

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  6. Aurora perdida é um dos meus contos favoritos da vida e por isso, adoro essa coletânea por causa dele. faz tempo que não leio Machado e ler sua resenha me deixou com vontade de reler.
    beijos

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